Com 5.524 casos confirmados de covid-19 no Estado e 410 mortes, o Pará entrou nesta quinta-feira (7) em lockdown, bloqueio total de atividades públicas, com uma polêmica nas ruas. No decreto municipal sobre os serviços essenciais que poderão funcionar, o prefeito de Belém, Zenaldo Coutinho, incluiu a atividade das empregadas domésticas. A capital paraense registra 181 mortos pela doença do novo coronavírus, segundo dados de 6 de maio da Secretaria de Estado de Saúde Pública (Sespa).
Em uma rede social, Zenaldo alegou que os serviços de empregada doméstica estão previstos no decreto porque há profissionais de atividades essenciais que precisam de apoio em casa. “Tem pessoas que precisam, pela necessidade de trabalho essencial, ter alguém em casa. Uma médica ou um médico, por exemplo, precisa de alguém que ajude em casa”, escreveu o prefeito.
##RECOMENDA##A medida contraria recomendações do Ministério Público do Trabalho (MPT). No Pará, de acordo com dados do Dieese-PA, há cerca de 200 mil trabalhadores domésticos que terão que continuar indo às ruas em meio à proliferação do novo coronavírus.
Nas redes sociais, viralizaram críticas ao prefeito. A cantora paraense Gaby Amarantos atacou decreto. “O prefeito Zenaldo, de Belém, incluiu as trabalhadoras domésticas nos serviços essenciais, tirando delas o direito de cuidar de seus filhos e de suas mães, e isso é gravíssimo. Mulheres pretas e periféricas são quem carregam esse país nos braços. CHEGA, liberem as domésticas!”, publicou a artista.
Doutora em Comunicação e coordenadora do grupo de pesquisa Comunicação, Política e Amazônia da Universidade Federal do Pará (UFPA), voltadao para o estudo do trabalho doméstico, a professora Danila Cal disse que a medida revela uma cultura da servidão no Brasil.
"A nossa sociedade está acostumada a ser servida, e o trabalho doméstico é considerado um trabalho muito exaustivo, e considerado muitas vezes de segunda categoria por algumas pessoas. As pessoas não querem realizar o trabalho doméstico na sua própria casa, manter limpa, cuidar das coisas que não são consideradas por elas como essenciais", diz Cal.
Na primeira manhã do lockdown, segundo informações da Polícia Militar, o movimento na periferia de Belém continuou intenso. Comércio e feiras livres são os locais mais procurados pela população.