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“O desafio de reduzir as desigualdades entre as regiões do Brasil” foi o tema da prova de redação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), versão digital. Além de elogiar o assunto cobrado neste domingo (31), a professora Lourdes Ribeiro, com exclusividade para o LeiaJá, produziu um exemplo de texto sobre a temática.

Ao analisar o tema proposto, a docente indicou referências que poderiam ser utilizadas pelos candidatos, a exemplo de filmes. Lourdes também formulou algumas propostas de intervenção que cabem no texto.

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A seguir, confira o exemplo de redação produzido pela professora:

Em 2019, um dos filmes mais relevantes da atualidade estreava nos cinemas nacionais e mundiais: Bacurau. O longa se popularizou devido a fidedigna retratação da invisibilidade que grande parte da sociedade vivencia de uma maneira sarcástica, com alguns tons de alívios cômicos. Essa desigualdade não existe de hoje e, alguns fatores tornam essa situação mais difícil de ser minimizada, entre elas está a concentração de renda nas mãos de poucos e o estigma que algumas regiões do país sofre.

Primeiramente, é de conhecimento da maioria que tais riquezas não são distribuídas de maneira equivalente. No filme da Netflix “O poço”, é mostrada uma “prisão” em que as pessoas são separadas por andares e uma plataforma desce com vasta comida. Se as pessoas de cada setor comessem apenas o que precisavam, todos se alimentariam bem. Mas, como esperado, não é isso que ocorre. Quem está acima, além de comer em excesso, ainda inutiliza o que fica para os demais. Segundo pesquisa de 2012 do Banco Mundial de Alimentos, o Brasil é o quarto maior produtor de alimentos, mas de acordo com o levantamento o Índice Global da Fome, o país ainda ocupa posição preocupante.

Além disso, na década de 30, a geração modernista brasileira sentiu a necessidade de tornar a região Nordeste vista, já que a mesma passava por uma severa seca. Apesar do serviço social feito pelos autores, o local ficou estigmatizado e seus moradores ganharam o rótulo de “lutadores e sobreviventes”. Durante anos essa imagem foi repercutida e os estados tanto do Norte quanto do Nordeste foram/são negligenciados. Um exemplo recente dessa conjuntura foi a situação dos hospitais na região Amazônica na pandemia, que foram assistidos por pessoas que não estão no poder público.

Diante dos fatos apresentados, é notório que existem inúmeros desafios para sanar as desigualdades do país. Uma das medidas necessárias para minimizar tais desigualdades, seria a união do Poder Legislativo e Executivo, focando na mudança dos critérios de enquadramento de estados e municípios nos programas integrados de combate à pobreza e a utilização integral dos recursos de emendas ao Orçamento individuais e de bancada em programas que visam à redução da miséria. Dessa maneira, a realidade trazida pelo filme Bacurau, ficaria apenas no âmbito da ficção.

O fechamento das escolas para contingência do novo coronavírus (SARS-CoV-2) impactou diretamente os estudantes que se preparam para fazer o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Longe das escolas e dependendo de meios digitais para estudar, ter atividades, aulas e apoio pedagógico dos professores.

Após um grande movimento virtual, jurídico e político pedindo mudança da data, o Enem enfim foi adiado na tarde desta quarta-feira (20). O LeiaJá ouviu professores para entender o que pensam os educadores da posição adotada pelo Ministério da Educação (MEC). Confira:

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Para o professor de química Josinaldo Lins, o adiamento foi a decisão mais acertada a se tomar nesse momento, diante das circunstâncias causadas pelo coronavírus. “O Enem não é a mais justa das provas, disso poucos talvez discordem. Mas com prazo curto de inscrições num quadro de crise econômica, para quem não conseguiu isenção, e o ponto fundamental: o aluno de escola privada retomou as aulas, ainda que EaD, o da rede pública, por decisões governamentais, não. Manter o calendário atual só tornaria a disparidade existente ainda mais flagrante, a exclusão seria a tônica absoluta dessa prova”, afirmou o professor.

Questionado se o período de adiamento anunciado pelo MEC (de 30 a 60 dias) é suficiente para os alunos, Josinaldo preferiu o termo “adequado”. “Todo um planejamento está sendo refeito nas escolas, nos cursinhos e nas universidades, um adiamento maior que o prazo máximo estabelecido gerará todo um efeito cascata de atrasos não só em 2020, mas por toda uma série de anos. Basta lembrar do que ocorre quando as instituições federais de ensino superior passavam por greves e os semestres eram reorganizados ao final da paralisação, chegando ao fato de ter três semestres letivos em um só ano”, argumentou o professor.

Para o professor de linguagens e redação Diogo Xavier, o adiamento do Enem é importante, mas não vai, necessariamente, configurar um benefício aos estudantes. “É uma tentativa de compensar para aqueles alunos que não têm condições de se preparar adequadamente para a prova, seja por falta de estrutura física, de dispositivos e internet de qualidade, seja pela dificuldade de manter a concentração devido à rotina da casa. Isso sem contar aqueles que, independentemente do poder aquisitivo, têm o psicológico afetado por esse bombardeio de notícias sobre a pandemia e pelo próprio isolamento”, disse ele.

João Pedro Holanda, professor de filosofia e sociologia, também avalia que o adiamento do Enem, embora necessário, não resolve de fato o problema enfrentado pelos estudantes que precisam fazer a prova em 2020 sendo, para ele, uma medida paliativa.

“Alunos de bons cursinhos e escolas particulares com acesso à internet conseguem, mesmo aos trancos e barrancos, manter a sua rotina de estudos razoavelmente confortável. Mesmo assim, sofrem de ansiedade, desesperança e tristeza. A realidade do aluno da escola pública é infinitamente mais desesperadora. Quanto mais tempo a gente passar nessa situação, mais o abismo social e educacional se aprofunda”, afirma o professor.

Benedito Serafim, mais conhecido como Bené, é professor de geografia e atualidades e tem uma posição um pouco diferente. Para ele, o adiamento das provas, mesmo que por um período de 30 a 60 dias, já faz diferença para os estudantes que vinham aflitos com o cronograma anunciado e até então mantido pelo MEC.

“Isso é uma boa proposta e os alunos ganhariam esse tempo a mais para estudar. É de grande importância esse adiamento para esses alunos de periferia, de interior, que não têm acesso à internet, mais afastados das grandes metrópoles, tenham um certo equilíbrio. Dois meses a mais é uma certeza de que vão ter um pouco mais de estudos, e isso ainda não iguala eles aos alunos de grandes metrópoles, de escolas particulares, mas pelo menos ajuda a equilibrar um pouco mais essa balança da desigualdade não só econômica como social em nosso país”, disse o professor.

O professor também contrariou uma fala do ministro da Educação, Abraham Weintraub, afirmando que uma das características do Enem, desde que deixou de ser uma prova apenas avaliativa do ensino médio e passou a também selecionar estudantes para universidades públicas, tem a função de auxiliar na redução de desigualdades sociais do país por meio da inserção de pessoas de mais baixa renda nas universidades.

“É de grande importância esse adiamento para esses alunos de periferia, de interior, que não têm acesso à internet, mais afastados das grandes metrópoles, tenham um certo equilíbrio. Dois meses a mais é uma certeza de que vão ter um pouco mais de estudos, e isso ainda não iguala eles aos alunos de grandes metrópoles, de escolas particulares, mas pelo menos ajuda a equilibrar um pouco mais essa balança da desigualdade não só econômica como social em nosso país”, argumentou Bené.

Cristiane Pantoja, professora de história, julgou a decisão pelo adiamento pertinente. Na opinião dela, os estudantes que conseguirem se adaptar e aproveitar o tempo a mais para estudar, podem se beneficiar. “Em relação ao adiamento eu acho que é pertinente. Faz parte da gestão política do Ministério da Educação (MEC) junto com o Inep e órgãos responsáveis adiar mediante ao atual cenário, em que momentos de transição de aula presencial para aula on-line leva tempo de adaptação. O benefício está se o aluno souber aproveitar o tempo que é dado para o estudo apesar desses momentos de adaptação, se o aluno realmente se empenhar em se adaptar a essas novas condições. Tem muitos alunos que vêm me falar da ansiedade que está aumentada por causa desse calendário”, declarou ela.

Para Thais Almeida, que ensina história, filosofia e sociologia, a mudança no calendário do Enem beneficiará os alunos que têm passado por dificuldades para estudar durante o período de quarentena. “Sabemos que não são todos os alunos que têm acesso a aula on-line e mesmo assim, entre os que têm, nem sempre as aulas ou os professores e as instituições de ensino têm todo o equipamento que possa melhorar o processo de aprendizagem a partir desses métodos digitais. Diante disso a isonomia que é prevista para o exame é quebrada”, afirma Thais.

Para a professora de linguagens e redação Lourdes Ribeiro, apesar de o período de adiamento não ser o suficiente, o fato de ter sido tomada a decisão de mudar a data do exame já configura uma vitória para os estudantes que farão as provas do Enem 2020.

“É uma vitória para os estudantes porque a gente sabe que dentro desse contexto que a gente está vivendo a questão dos privilégios sociais ficou muito mais clara e a maior parte das pessoas que realmente precisam prestar essa prova do Enem e realmente precisam da universidade pública não estão tendo acesso a videoaulas, muitas vezes não têm nem energia em casa. Tem a questão da merenda, falta de comida, ‘n’ fatores que fazem com que essas pessoas não tenham condições de prestar a prova na data que ela tinha sido determinada. É uma vitória, mas ainda assim algo para ser pensado para adiar ainda mais devido ao fato de a gente não ter previsão de quando isso vai acabar. Eu acredito que o mais prudente seria esperar esse cenário passar para poder se pensar em uma nova data, mas a princípio é uma vitória, sim, para esses estudantes que não são privilegiados”, declarou ela.

Já o professor de história Everaldo Chaves vê benefícios para os estudantes na mudança da data pois, para ele, além de questões relacionadas às possibilidades de conexão e acesso à internet, há também muitos alunos que mesmo conectados ainda não se adaptaram ao formato de ensino com aulas não presenciais. “Acho que [o adiamento] é algo benéfico até porque ainda tem aluno que não está conseguindo se adaptar à rotina de aula on-line. A gente precisa lembrar que a nossa cultura, principalmente na educação, é muito conservadora. Então o grande alunado é habituado a assistir aula presencial, sem contar que milhares de alunos não têm acesso à internet, não têm acesso a recursos de aparelho eletrônico, então muitos alunos estão sem aula. Esse adiamento com certeza dará oportunidade a esses alunos que ainda não se adaptaram às aulas on-line e dará tempo para que esses alunos que estão sem aula possam buscar formas e estratégias de tentar superar essa dificuldade”, disse o professor.

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A redação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), iniciado nesse domingo (3), teve “Democratização do acesso ao cinema no Brasil” como tema e deixou muitos estudantes com dúvidas no momento de elaborar uma proposta de intervenção para o problema tratado no texto. O Ministério da Cultura, que foi extinto no início do ano para se fundir à pasta de Cultura, Esporte e Desenvolvimento Social, foi citado por alguns feras na elaboração textual; por se tratar de uma pasta extinta, quem citou perderá pontos ou até mesmo vai zerar a prova? 

Durante a live do Vai Cair no Enem, o LeiaJá ouviu professores de Linguagens e redação que comentaram essa questão para esclarecer as dúvidas e tranquilizar os feras. A professora Lourdes Ribeiro explicou que é possível citar, como proposta de intervenção, a restauração do Ministério da Cultura para garantir a democratização do cinema. No entanto, ela alerta: citar o Ministério sem especificar a sua reabertura, como se ele nunca estivesse sido incorporado por outra pasta, é um problema. Veja o vídeo:

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A professora Josicleide Guilhermino acalmou os feras lembrando que, apesar de ser problemática para a conclusão do texto, a citação a um ministério fechado não zera a redação do aluno, nem causa uma redução grande na nota. “A apresentação do agente (no caso, o Ministério da Cultura) é apenas um elemento dentro da sua proposta de intervenção. Muito provavelmente vai reduzir um pouco a sua nota, mas não chega a reduzir significativamente”, disse ela. 

Thalles Ribeiro, que também é professor de redação, explicou que os estudantes poderiam elaborar propostas que envolvam as pastas de cultura do Poder Executivo fora da esfera federal, por exemplo, baseando a proposta de intervenção em secretarias estaduais e municipais de cultura. “Por exemplo, se tivesse trazido uma tese onde estivesse preocupada com a periferia que estava excluída desse processo de democratização, seria mais interessante a secretaria estadual de cultura do que necessariamente do ministério”, argumentou o professor. 

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