"Se eu tivesse que decifrá-lo com uma palavra, essa seria 'desequilibrado'". O resumo é feito por Marcelo, empresário de 34 anos, natural de Olinda, que diz já ter sido amigo de Leonardo Emanuel Mendonça Lacerda, o proprietário do Ponto do Açaí. Leonardo foi preso na manhã da terça-feira (12) acusado de mandar incendiar a Casa do Pará, empresa concorrente.
Segundo Marcelo, que prefere não dizer seu sobrenome, Leonardo aplicou golpes em várias pessoas em um período em que permaneceu como imigrante ilegal em Londres. Ele precisou fugir da Inglaterra porque a comunidade brasileira pretendia denunciá-lo às autoridades por causa dos golpes.
##RECOMENDA##O empresário conta que construiu uma amizade com Leonardo em 2006. O Ponto do Açaí era uma pequena sala no Parque da Jaqueira, mesmo endereço onde Marcelo administrava uma empresa de suplementos.
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Em 2007, Leonardo foi para Londres. No ano seguinte, Marcelo também foi. "Ele que me recebeu lá com a sua esposa. Cheguei a ficar morando na casa dele uma semana", lembra Marcelo.
Lá, todos em situação de ilegalidade, trabalhavam com remoção de entulhos, fazendo trabalhos braçais. "Conheci muita gente, conheci muitos inimigos do Leo, que não se davam bem com ele. Eu comecei a achar estranho o fato dele ter tanto inimigo. Foi quando descobri que ele estava pegando dinheiro emprestado com algumas pessoas e não estava pagando", diz. Além disso, Marcelo conta que Leonardo estava sempre tendo discussões com os brasileiros que moravam na capital inglesa.
Robert, natural de Ipatinga-MG, que também trabalhava na empresa de remoção de entulhos, mas que estava em situação legal no país, recomendou que Marcelo deixasse a casa - nessa época eles moravam de aluguel na mesma casa, mas em quartos distintos - porque denunciariam Leonardo.
Marcelo aponta que, como ele era recém-chegado em Londres, seu salário entrava na conta do amigo. Ele também havia pagado o aluguel adiantado. Após decidir se mudar, pediu que o valor do depósito referente aos dias que não mais ficaria fossem devolvidos, valor que também cairia na conta do proprietário do Ponto do Açaí. "Eu disse a ele que voltaria em 15 dias para pegar meu dinheiro. Quando voltei, ele não morava mais lá".
O empresário diz que perdeu em torno de R$ 8 mil, passou necessidades, ficando sem dinheiro até para pagar a tarifa do transporte público. Contou com ajuda de amigos para se estabilizar. "Uma pessoa a quem Leonardo devia descobriu que ele havia fugido com a esposa para Itália. As pessoas procuravam ela também. Soube que uma grávida de oito meses que recebia dinheiro na conta da esposa de Leonardo sumiu com o dinheiro da moça", destaca Marcelo.
Mesmo quando voltou ao Brasil, já sabendo que Leonardo também estava de volta ao país, Marcelo decidiu não cobrar o valor extorquido. "Ele tinha um histórico de ser agressivo. Ele não pode ser contrariado. Se ele for contrariado, fica descontrolado, fora de si". Marcelo lembra de uma vez que Leonardo discutiu com um idoso e tentou agredi-lo com uma pá. Ainda de acordo com Marcelo, quando Robert, o ipatinguense, pediu seu dinheiro de volta, foi ameaçado.
"Leonardo era mau caráter. Eu fiquei muito feliz quando vi que ele foi preso. Um dia ele ia ter que pagar pelo que fez", concluiu Marcelo, que hoje vive em São Paulo.
Defesa - O LeiaJá conversou com o advogado de Leonardo, José Siqueira, que desqualificou a denúncia. "Quanto era que ele devia? Oito mil? Dá vontade de rir, não é? Eu tenho os extratos do meu cliente, ele ganhava R$ 10 milhões por ano e o Ponto do Açaí já é uma empresa poderosa há muito tempo. Ele é um empresário correto", resumiu.
Siqueira acrescentou que seu cliente também não é o mandante do incêndio na Casa do Pará e que a única pessoa que o acusa é o proprietário da empresa concorrente. "Grande injustiça que está sendo feita com este rapaz", finalizou. O advogado entrou com um relaxamento da prisão e um habeas corpus e aguarda análise da justiça.
Na quarta-feira (13), o Ponto do Açaí se posicionou nas redes sociais. A empresa diz que sua rede de lojas é gerida por franquias com gestão independente. "Todas as lojas continuam operando normalmente com o mesmo padrão de qualidade conhecido no mercado", disse a nota.
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