O ex-deputado estadual Edilson Silva anunciou sua desfiliação do PSOL. Além dele, a ex-presidente estadual Albanise Pires e mais três militantes deixam o partido. Em nota divulgada na noite dessa segunda-feira (6), o grupo pontua que a atual direção da legenda, que tem como presidente Severino Biu, está "voltando suas energias para perseguir militantes e lideranças do próprio partido".
No texto, eles alegam que "a intenção com estas perseguições e menosprezo por lideranças que sempre se colocaram à disposição do partido tem o nítido propósito de criar um ambiente inabitável para os que supostamente ameaçam a hegemonia dos que hoje formam o condomínio de poder neste partido no Estado".
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O grupo também faz um balanço das eleições de 2018 e lista que não houve espaço no pleito para nomes como o de Albanise Pires despontar na disputa. Ela concorreu ao cargo de senadora, em uma chapa majoritária formada apenas por mulheres. O comunicado cita também a falta de recursos para a campanha à reeleição de Edilson, que foi o primeiro nome do PSOL a conquistar um mandato no legislativo estadual. Tanto Albanise quanto Edilson são fundadores do partido em Pernambuco.
"Não recebeu da direção estadual nenhum recurso para desenvolver sua campanha, somado ao fato desta mesma direção estadual buscar na Justiça o pagamento de débitos irreais do agora ex-deputado", conta o texto, que aponta ainda a existência de uma resolução que torna Edilson Silva inelegível pela legenda.
"São fatos que demonstram uma mesquinhez que não se coaduna com a palavra de ordem 'ninguém solta a mão de ninguém'. No PSOL em Pernambuco estão decepando mãos. No caso, de referências negras e mulheres", alfineta a nota acrescentando.
Com um tom duro e ácido, o grupo observa ainda que as novas lideranças chegadas ao partido querem "apagar rostos, biografias, estabelecendo narrativas em que jogam na lata do lixo da história os duros momentos de construção deste partido em Pernambuco" e pontua que o partido se tornou um "ambiente tóxico".
Por fim, Edilson, Albanise, Gabrielle Conde, George Souza e Gilberto Borges (Gojoba) - todos ex-membros de Executivas do PSOL - afirmam que vão continuar na luta e anunciam a criação de um coletivo chamado Refazendo para seguir na "resistência popular e encontrando caminhos para a construção de uma democracia adequada ao nosso tempo, uma sociedade humanista e libertária".
Confira o texto na íntegra:
PORQUE SAÍMOS DO PSOL E PARA ONDE VAMOS
Os que assinamos este manifesto somos fundadores/as do PSOL, dirigentes e militantes que nos somamos no transcorrer da caminhada de construção deste partido em nível nacional e em Pernambuco.
No momento em que o PSOL pode e deve exercitar sua máxima generosidade política, frente ao crescimento da extrema direita no país e no mundo, e quando o partido aumenta substancialmente seu fundo partidário e eleitoral, lamentavelmente a direção do partido em Pernambuco faz o oposto, voltando suas energias para perseguir militantes e lideranças do próprio partido. A intenção com estas perseguições e menosprezo por lideranças que sempre se colocaram à disposição do partido tem o nítido propósito de criar um ambiente inabitável para os que supostamente ameaçam a hegemonia dos que hoje formam o condomínio de poder neste partido no Estado.
A falta de espaço no processo eleitoral de 2018, constrangendo uma liderança histórica do partido como Albanise Pires; uma liderança e referência emergente como Gaby Conde; o então deputado Edilson Silva, que teve a aparição de seu nome e número negados pela direção do partido nas propagandas na TV e Rádio e não recebeu da direção estadual nenhum recurso para desenvolver sua campanha, somado ao fato desta mesma direção estadual buscar na Justiça o pagamento de débitos irreais do agora ex-deputado, são fatos que demonstram uma mesquinhez que não se coaduna com a palavra de ordem “ninguém solta a mão de ninguém”. No PSOL em Pernambuco estão decepando mãos. No caso, de referências negras e mulheres.
O balanço eleitoral de 2018, feito pela direção partidária, demonstra também que um dos objetivos desta maioria política que se instalou, em sua amplíssima maioria recém-chegados ao PSOL, é apagar a história do partido no Estado e com isso apagar também a memória das referências políticas desta história. Querem apagar rostos, biografias, estabelecendo narrativas em que jogam na lata do lixo da história os duros momentos de construção deste partido em Pernambuco, quando não se tinha fundo partidário, quando era quase impossível se fazer uma oposição à esquerda à avassaladora hegemonia local da Frente Popular, com lideranças como João Paulo na Prefeitura do Recife, Luciana Santos em Olinda, Eduardo Campos no governo estadual e Lula na presidência.
O PSOL em Pernambuco tornou-se assim um ambiente tóxico para os que estão desalinhados com esta postura. Membros da direção alardeiam que há resolução interna, secreta, pois não publicada, que torna o ex-deputado Edilson Silva inelegível pela legenda.
Diante de tais posturas, principalmente, mas também por compreender que isto revela uma limitação estratégica, de não visualizar os ataques que a extrema direita e a direita tradicional estão desferindo contra o povo, como a reforma da previdência, a guerrilha cultural e institucional contra a educação pública e laica, a reforma eleitoral que estabelece cláusulas de barreira que impõe aos partidos menores zelar pelos seus quadros públicos, dentre tantos outros pontos, decidimos nos afastar do PSOL, nos desfiliando.
Apesar de tudo, deixamos no partido grandes amizades e respeito enorme por muitas de suas lideranças, sobretudo nacionais. E reconhecemos os esforços da Direção Nacional no sentido de dirimir atritos, mas também reconhecemos a sua impotência diante de um partido que se digladia em lutas internas autofágicas, que estão fazendo o partido experimentar perda de quadros políticos importantes. Não fosse o destempero e miopia da direção partidária em Pernambuco, sabemos que teríamos condições de seguir militando, mesmo com diferenças, no PSOL. Por isso seguimos entendendo o PSOL como um partido importante da esquerda brasileira e uma organização com a qual nos encontraremos nas lutas sociais e nos arranjos políticos necessários para a ampla unidade dos que pugnam por justiça social e liberdade.
Seguiremos na luta, pois esta é nossa essência. Vamos sugerir inicialmente aos que conosco caminham a criação de um Coletivo, cuja proposta de nome é COLETIVO REFAZENDO, com o qual seguiremos militando, dialogando com a população, com a militância, produzindo análises, nos somando à resistência popular e encontrando caminhos para a construção de uma democracia adequada ao nosso tempo, uma sociedade humanista e libertária.
A denominação REFAZENDO sugere para nós repensar as estratégias da esquerda diante de uma sociedade que se digitalizou e cuja consequência mais visível até aqui foi colocar em discussão a própria marcha civilizatória da humanidade, com forças de extrema direita emergindo em todos os continentes, o que exige de nós refazer diagnósticos e caminhos. Sugere também refazer posturas na micro e macro política, na disputa de hegemonia, sem os conhecidos preconceitos e arrogâncias das esquerdas mais radicais. Este é o início do debate ideológico e político que queremos e vamos fazer com os que conosco militam e que nos dão audiência.
Recife, 06 de maio de 2019
Albanise Pires - Ex-Executiva Nacional e Ex-Presidente do PSOL PE
Edilson Silva - Ex-Executiva Nacional e Ex-Presidente do PSOL PE
Gabrielle Conde - Ex-Executiva Estadual PSOL PE
George Souza - Ex-Executiva PSOL Recife
Gilberto Borges (Gojoba) - Ex-Executiva Estadual PSOL PE