O ex-presidente da Petrobras Sérgio Gabrielli defendeu nesta terça-feira a compra da Refinaria de Pasadena, no Texas (Estados Unidos), ao afirmar que foi uma operação "absolutamente normal". Durante quase três horas em audiência no Senado, Gabrielli, no entanto, citou números que não correspondem ao valor pelo qual o negócio foi fechado.
A investigação sobre Pasadena começou no Congresso após reportagem do Broadcast, serviço de notícias em tempo real da Agência Estado, revelar, em julho de 2012, que a estatal gastou na compra da refinaria dez vezes mais que o valor de mercado da unidade. O negócio é investigado pelo Ministério Público Federal no Rio (MPF-RJ) e pelo Tribunal de Contas da União (TCU). A refinaria custou US$ 1,18 bilhão à Petrobras.
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Durante a audiência, ele afirmou que a compra da refinaria, em 2005, foi feita conforme o plano de negócios da companhia, que era de expandir a capacidade de refino no exterior e melhorar a qualidade dos derivados de petróleo brasileiros. O negócio, de acordo com Gabrielli, foi feito segundo a realidade do mercado da época. "Não há nenhum equívoco, nenhum problema", afirmou.
Conforme o presidente da Petrobras, a empresa pagou US$ 360 milhões por 50% de Pasadena em 2006 - US$ 190 milhões pela refinaria e US$ 170 milhões pelos estoques de petróleo e derivados da comercializadora. O custo da refinaria, afirmou, teria sido de US$ 3,8 mil por barril de capacidade de processamento, enquanto a média no mercado era de US$ 9,7 mil. Mas um ano antes, a Transcor/Astra, sócia da Petrobras no negócio, havia comprado todo o negócio de Pasadena por apenas US$ 42,5 milhões.
Em 2008, a Petrobras entrou em litígio com a sócia. Segundo Gabrielli, um tribunal de arbitragem nos EUA definiu em 2010 que a Petrobras teria de pagar US$ 296 milhões pelo restante da refinaria, US$ 170 milhões por estoques e US$ 173 milhões por garantias comerciais dadas pelos bancos para as operações. Ao todo, US$ 639 milhões.
Nas contas do presidente da estatal, o negócio todo custaria US$ 999 milhões à Petrobras - US$ 486 milhões apenas pela refinaria. Mas, em 2012, para encerrar o litígio judicial, a empresa desembolsou US$ 820,5 milhões pela segunda fatia da refinaria. Ao todo, o negócio saiu por 1,18 bilhão. O ex-presidente da estatal não soube explicar a diferença de valores entre o que foi acertado no tribunal de arbitragem - US$ 639 milhões - e o valor que encerrou o litígio - US$ 820,5 milhões. Gabrielli disse que não era mais presidente da empresa quando o acordo foi fechado.
"Estou falando de uma decisão judicial de 2010. Os termos do acordo são de junho de 2012. Eu saí da Petrobras em fevereiro de 2012", disse. "Pode ter sido juros, honorários advocatícios, acordos em razão de outras cláusulas que apareceram. Eu não sei." Na análise do ex-presidente da Petrobras, o valor pago pela refinaria se justificava na época em que foi feita. "O mundo mudou em 2008. Isso estreitou as margens das refinarias", disse. Gabrielli declarou ainda que a descoberta do pré-sal no Brasil, em 2007, também fez com que os planos da companhia mudassem. "Na realidade do mundo pré-2008, foi um negócio adequado. Hoje, a situação é completamente diferente", garantiu, citando que o crescimento do mercado interno fez com que houvesse necessidade de mais refinarias no País.
Gabrielli prosseguiu afirmando concordar com a opinião da presidente da Petrobras, Graça Foster. Em maio, Graça esteve no Legislativo e reconheceu que, caso a Petrobras tivesse todas as informações que possui atualmente, a aquisição de Pasadena não teria sido feita. "Eu concordo com a avaliação da presidente Graça porque ela diz que, se as informações fossem as de hoje, eu estaria fazendo comentários de um jogo de domingo na segunda-feira. Mas fui um técnico que teve de tomar decisões no sábado."
Em maio deste ano, o Broadcast revelou que uma auditoria interna da Petrobras contestou contrato da petroleira com o Grupo Odebrecht de cerca de US$ 840 milhões para serviços em dez países, incluindo trabalhos de manutenção na refinaria de Pasadena. Após análise do órgão interno, o contrato foi reduzido para US$ 480 milhões.