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Após reportagem do jornal Folha de S. Paulo, o Ministério Público junto ao Tribunal de Contas da União, requer que o TCU verifique a prática de um possível crime de responsabilidade do Governo Bolsonaro. A denúncia é de que o Ministério da Cidadania transferiu dinheiro do Bolsa Família/Auxílio Brasil para a compra de tratores. O recurso só poderia ser utilizado para combate aos efeitos da Pandemia de Covid-19.

Segundo o Sub-Procurador Geral Lucas Rocha Furtado, que assina o pedido, o atual governo utilizou, novamente, a aquisição de maquinária agrícola para manter o apoio de aliados, assim como no escândalo que ficou conhecido como “Tratoraço”, denunciado em reportagens do jornal Estado de S. Paulo.

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“Desta forma, a meu ver, o governo novamente age em desacordo com os princípios de deveriam nortear a atuação do administrador público, em especial, confronta os princípios da impessoalidade e da legalidade”, diz trecho do documento.

Para Furtado, a situação requer a atuação do Tribunal de Contas da União no cumprimento de suas competências constitucionais de controle externo de natureza contábil, financeira, orçamentária, operacional e patrimonial da Administração Pública Federal.

“Para que sejam apurados os atos do Poder Executivo que porventura tenham contrariado recomendação contida no relatório referente ao Acórdão 2026/2020-TCU-Plenário e os princípios que regem a administração pública, favorecendo determinados parlamentares aliados ao governo”,

O acórdão citado permitiu que o Ministério da Cidadania utilizasse de dinheiro a partir de sobra do Bolsa Família, “exclusivamente para ações de custeio para enfrentamento pandemia e seus reflexos”, o que não inclui as aquisições dos tratores.

Crime de responsabilidade

Ainda de acordo com Furtado, a prática do Governo Bolsonaro pode ser caracterizada como crime de responsabilidade, por atentar contra a lei orçamentária, nos termos da Constituição Federal.

“Ante o exposto, este representante do Ministério Público junto ao Tribunal de Contas da União, requer ao Tribunal, que adote medidas tendentes a verificar se houve suposto descumprimento de decisão do Tribunal”, completa o Sub-procurador Geral.

Desde que o Supremo Tribunal Federal (STF) liberou a novamente a execução do orçamento secreto, no começo deste mês, o governo empenhou até nesta terça-feira R$ 1,38 bilhão. Ao contrário do que alegou o comando do Congresso ao STF, porém, a saúde e a educação estão longe de ser prioridade. Os ministérios responsáveis por essas áreas receberam apenas 4,6% dos recursos que foram reservados pelo Executivo. A maior parte das verbas (77%) foi para ações orçamentárias ligadas à pavimentação de ruas e à compra de maquinário pesado, como tratores.

Ao longo de 2020 e 2021, o governo reservou para despesas mais de R$ 30 bilhões das emendas de relator, identificadas pelo código RP9. A modalidade está na base do esquema do orçamento secreto, revelado pelo Estadão, e tem sido usada pelo Palácio do Planalto para distribuir indicações entre políticos aliados, em troca de apoio em votações importantes no Congresso.

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Ao defender no STF a liberação das emendas de relator, o comando do Congresso apontou que nessa rubrica havia R$ 7,6 bilhões autorizados no Orçamento, mas não empenhados. Se não for utilizado até o fim do ano, o dinheiro "se perde", ou seja, volta para o Tesouro Nacional. Do montante pendente, R$ 2,4 bilhões são da área da saúde, segundo o Congresso.

O argumento convenceu a relatora do caso, ministra do STF Rosa Weber. "Por ora, entendo acolhível o requerimento (...), considerado o potencial risco à continuidade dos serviços públicos essenciais à população, especialmente nas áreas voltadas à saúde e educação", escreveu Rosa na decisão que liberou os pagamentos.

Até agora, no entanto, o Executivo não priorizou a saúde e a educação na liberação dos recursos da rubrica RP9. Desde terça-feira foram empenhados R$ 1,38 bilhão. Deste total, 78% (ou R$ 1,08 bilhão) foram transferidos para o Ministério do Desenvolvimento Regional (MDR). Comandada por Rogério Marinho, a pasta tem sob seu guarda-chuva orçamentário a Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco (Codevasf) e é responsável pela distribuição de maquinário pesado a municípios. Em seguida vêm os ministérios da Cidadania (R$ 100 milhões empenhados), e da Ciência, Tecnologia e Inovações (R$ 75 milhões).

A reserva de dinheiro para as pastas da Educação e da Saúde foi pequena até agora: R$ 62,8 milhões e R$ 788 mil, respectivamente. Juntos, os dois ministérios perfazem menos de 5% do total. Os dados foram extraídos nesta terça-feira do Sistema Integrado de Administração Financeira (Siafi) pela ONG Contas Abertas.

Prefeituras

As obras de pavimentação e a compra de maquinário pesado para apoiar prefeituras têm sido prioridade para o Executivo desde que o STF autorizou novamente a execução das emendas de relator. As duas ações orçamentárias com mais recursos liberados foram as de Apoio a Projetos de Desenvolvimento Sustentável Local Integrado (código 7K66) e Apoio à Política Nacional de Desenvolvimento Urbano Voltado à Implantação e Qualificação Viária (1D73). A primeira inclui, além da pavimentação de vias, a "aquisição de máquinas e equipamentos de apoio à produção". A segunda diz respeito à "implantação e qualificação de infraestrutura viária urbana". Juntas, as duas ações tiveram pouco mais de R$ 1 bilhão empenhado até agora, ou 77% do total.

O relator-geral do Orçamento de 2021, senador Márcio Bittar (PSL-AC), começou a publicar, nesta terça-feira, nomes e ofícios de congressistas e prefeitos que solicitaram a destinação de recursos das emendas. As informações estão sendo divulgadas pouco a pouco no site da Comissão Mista de Orçamento (CMO), de forma parcial, e não sistemática. Há uma tabela que sistematiza as indicações, mas ela traz algumas anotações incompreensíveis.

"O detalhamento mostra que a ação orçamentária com maiores valores empenhados é a de 'Apoio a Projetos de Desenvolvimento Sustentável Local Integrado', do Ministério do Desenvolvimento Regional. Nesta ação é que se dá a compra de escavadeiras e tratores", afirmou o economista e presidente da Contas Abertas, Gil Castelo Branco.

Transparência

Para o cientista político Marcelo Issa, do Movimento Transparência Partidária, o modelo do RP9 continua tendo problemas, mesmo com a divulgação de alguns responsáveis pelas indicações. "Os dois principais problemas continuam: primeiro, a inconstitucionalidade do uso que está sendo feito (das emendas de relator). Não se prestam a isso, mas simplesmente a corrigir erros e omissões (no texto da Lei Orçamentária). Segundo ponto: a falta de critérios objetivos para a distribuição dos recursos (...). Se o relator começar a receber uma enxurrada de pedidos, vindos de todas as prefeituras do País, qual será o critério para atender ou não? A LDO determina que sejam seguidos critérios socioeconômicos objetivos", afirmou Issa. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Nesta terça-feira (11), o ministro da Secretaria Geral da Presidência, Onyx Lorenzoni, usou suas redes sociais para comentar o caso do “tratoraço”, suposto esquema de corrupção do denunciado pelo jornal Estado de São Paulo. No vídeo divulgado em seu Twitter, Lorenzoni defendeu o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e acusou a mídia de ser “irresponsável”.

“Desmontando fake news dos parasitas saudosos dos governos corruptos e seus papagaios e lacradores mentirosos: desde 1º de janeiro de 2019 o Brasil é comandado por Jair Bolsonaro com zero casos de corrupção, e assim seguiremos, para desespero dessa gente”, disse no Twitter ao publicar nas redes sociais um vídeo no qual fala no telefone sobre a reportagem do Estado de S. Paulo.

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No vídeo, Lorenzoni garantiu que a emenda RP9, chamada de “orçamento secreto”, é uma manobra dentro da legalidade. “O RP9 é uma criação da Comissão do Orçamento em 2019 pelo parlamento brasileiro, que outorga ao relator do Orçamento uma parcela do Orçamento brasileiro para livre destinação deste relator para atender aos interesses do Congresso Nacional. Isso é o RP9”, explicou.

O ministro ainda rebateu comparações feitas entre o esquema denunciado e o caso Mensalão, que ocorreu em 2015 no governo Lula (PT). “É muita cafajestice dizer isso. É falta de vergonha na cara”, disse. Segundo o ministro, o jornalista que escreveu a matéria será processado pela publicação de uma “fake news”. “Primeiro, é a irresponsabilidade do Estadão e falta de vergonha na cara de quem escreveu a matéria. E vai tomar processo”, afirmou no vídeo.

O que diz a reportagem

De acordo com a reportagem do Estado de São Paulo, nos últimos três meses, o governo de Jair Bolsonaro (sem partido) destinou R$ 3 bilhões em emendas para a compra de tratores e implementos agrícolas usados em obras públicas e projetos de cooperativas da agricultura familiar. Os recursos, contudo, não foram solicitados pelos parlamentares nos moldes tradicionais, via inclusão no orçamento da união, mas sim por um “orçamento secreto” (RP9), decidido a portas fechadas, em um suposto caso de corrupção.

O presidente Jair Bolsonaro se manifestou, nesta terça-feira (11), pela primeira vez sobre o esquema montado pelo governo para conquistar apoio por meio de um orçamento secreto de R$ 3 bilhões. Bolsonaro insultou o Estadão por ter revelado o caso.

"Inventaram que eu tenho um orçamento secreto agora. Tenho um reservatório de leite condensado, 3 milhões de latas. Eles não têm o que falar. Como um orçamento foi aprovado, discutido por meses e agora apareceu R$ 3 bilhões? Só os canalhas do Estado de S. Paulo para escrever isso aí", afirmou o presidente a apoiadores no Palácio da Alvorada.

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Embora o Orçamento seja votado anualmente pelo Congresso, a operação montada pelo presidente para aumentar sua base de apoio no Legislativo distribuindo esses recursos foi sigilosa. Como revelou o Estadão, a distribuição dos valores foi negociada em gabinetes do Palácio do Planalto, por meio de ofícios para indicar a aplicação do dinheiro e, em alguns casos, sem qualquer registro por escrito. Deputados ditaram para os ministros para onde enviar os recursos, o que comprar e até mesmo o preço que deveria ser pago.

Na votação do Orçamento, Câmara e Senado indicam o volume de recursos que é destinado aos ministérios por meio de emendas. No caso do orçamento secreto, o dinheiro foi previsto em uma nova forma, chamada de RP9, criada em 2020. Nesta modalidade, os nomes dos parlamentares não aparecem, até porque esse direcionamento fere leis orçamentárias e até mesmo um veto de Bolsonaro. Na ocasião, o presidente alegou que permitir a alocação dessa verba por ordem de congressistas contraria o "interesse público".

Na conversa com os apoiadores na manhã desta terça-feira, Bolsonaro se esquivou de assumir a responsabilidade pelo orçamento secreto e disse que se a verba federal foi aplicada de forma irregular a culpa é dos gestores locais. "Eles batem na tecla de corrupção o tempo todo. Zero corrupção no meu governo, zero. Outra coisa, se alguém na ponta da linha, mandamos dinheiro para Estados, se alguém comprou algo superfaturado, não tenho essa responsabilidade", disse o presidente.

O caso não apenas será alvo de investigação no Ministério Público e no Tribunal de Contas da União (TCU) como parlamentares já falam até mesmo na criação da "CPI do Tratoraço". O Estadão revelou que Bolsonaro entregou para um grupo de deputados e senadores o direito de impor onde seriam aplicados bilhões de reais, provenientes das RP9, que têm a liberação determinada pelo relator do orçamento no Congresso, não por ministros.

O presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), negou, nessa segunda-feira (11), a existência de um esquema capitaneado pelo Palácio do Planalto para conseguir o apoio de parlamentares às pautas do governo. O Estadão revelou no fim de semana que, por meio de um "orçamento secreto", a manobra destinou R$ 3 bilhões a congressistas, num esquema já chamado de "tratoraço".

"Não há orçamento secreto, mas diferentes formas de se fazer emendas", argumentou Lira, em entrevista ao programa Sem Censura, da TV Brasil. O parlamentar disse não acreditar em falta de transparência e fez críticas à reportagem. "Houve excesso por parte do jornalismo", atacou.

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A reportagem do Estadão repercutiu em Brasília nesta segunda-feira. Deputados já articulam a criação de uma "CPI do Tratoraço" para investigar o esquema montado pelo governo de Jair Bolsonaro.

O deputado Marcelo Freixo (PSOL-RJ) revelou ter entrado com uma representação contra o Governo Federal no Tribunal de Contas da União (TCU) nesta segunda-feira (10). O parlamentar pede a investigação de um suposto esquema de distribuição de verbas para governistas membros do Congresso, operado pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido). O caso foi apelidado de “tratoraço” por membros da oposição.

O manejo de R$ 3 bilhões em emendas, boa parte delas destinada à compra de tratores e equipamentos agrícolas com sobrepreço, foi revelado no último domingo (9) em uma reportagem especial do Estadão.

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“Apresentei, enquanto líder do Bloco da minoria na Câmara dos Deputados, uma representação no TCU para que seja investigado o ‘tratoraço’ do governo Bolsonaro, o esquema que supostamente girou, às escondidas, R$ 3 bilhões para compra de apoio de parlamentares e de tratores superfaturados”, escreveu o psolista.

No documento, Freixo pede a investigação de Bolsonaro, do ministro do Desenvolvimento Regional, Rogério Marinho, e do presidente da Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e Parnaíba (Codevasf), Marcelo Moreira. Isso porque, a pasta e a empresa estatal têm sido o atalho preferencial para direcionamento das verbas.

De acordo com a reportagem, as emendas seriam do tipo RP9 (emendas de relator), distribuídas a congressistas para aumentar sua base de apoio. Ainda segundo o jornal, parte dessas verbas teria sido usada para comprar tratores com valores superfaturados. No entanto, a reportagem revela apenas alguns dos repasses vinculados ao MDR. Não há como saber se todas as emendas são de relator ou os valores de todos os pagamentos do tipo.

Os pedidos de dinheiro via emendas RP9 são guardados pelos ministérios correspondentes. Se algum cidadão requer acesso via LAI (Lei de Acesso à Informação), os dados são liberados. Não está claro por que o governo não deixa tudo publicado de maneira proativa, uma vez que não há como legalmente manter as informações em reserva.

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