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No final do mês de fevereiro, os irmãos gêmeos Wesllysson e Weslley, 21 anos, deixaram Itapeva, cidade que fica quase na divisa entre os estados de São Paulo e do Paraná, em busca de uma vida melhor na cidade grande. Ao chegarem na capital paulista, sem dinheiro algum, voltaram a se encontrar com uma velha conhecida da infância: a fome.

“Já ficamos quatro dias sem comer nada. Quando a gente estava lá em Itapeva e decidimos sair do mato e ir para a cidade, procurar alguma coisa para conseguir chegar em São Paulo, ficamos três dias sem comer, só bebendo água. Passar fome é horrível. É uma sensação horrível. É um jeito muito ruim na barriga. Ficamos meio tontos, dá preguiça, dá moleza no corpo. Você não consegue pensar direito. É ruim”, contou Weslley Santos Silva.

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Mesmo destino encontrou Yara Angel Andrade Lucas, 20 anos, quando deixou a cidade mineira de Poços de Caldas e chegou à capital paulista. Até então, ela desconhecia a fome. “Depois que vim para cá é que conheci essa situação de rua”, contou à reportagem da Agência Brasil.

“Era difícil porque não conhecia esse fato de pedir as coisas. Não era um hábito meu. E começando a viver na rua, a gente aprende. Quando eu cheguei em São Paulo, eu passei fome, mas depois disso, não mais. É uma sensação horrível [sentir fome]. Você estar com fome e não conseguir pedir ou ter vergonha pelo fato de estar naquela situação, isso mexe com nosso sentimento”, explicou.

“Depois, quando a gente recebe um alimento, é um alívio total porque a barriga doía, sentia dor de cabeça. Fora psicologicamente também porque passei por uma situação que não passava antes, de passar fome, que não passa pela cabeça de ninguém”, afirmou.

A cabeleireira Thais Oliveira Cavalcante, 31 anos, moradora da zona leste paulistana, se esforça para que seus quatro filhos nunca sintam a fome que ela vivenciou na infância. “Como eu já passei por isso, tentei ao máximo evitar que eles passassem também”, destacou.

Ela afirma que a vida ficou mais difícil e o dinheiro mais escasso durante a pandemia de covid-19, quando as pessoas deixaram de procurar o serviço de cabeleireira. O salário do marido era suficiente apenas para pagar o aluguel e despesas da casa que, inclusive, chegaram a ficar atrasadas. “Ele segurou o aluguel. Chegamos até a atrasar alguns [meses]”, contou. Mas os filhos [que tem entre 3 e 13 anos] não deixaram de comer nesse período.

“Dificuldade extrema não [tivemos]. Mas às vezes não conseguia comprar tudo e precisava da ajuda de alguém. Chega a ser humilhante, na verdade. A gente sabe que a gente deveria contar com a ajuda do governo já que a gente paga pra isso também. Só que, infelizmente, nem sempre a gente é ajudado. Então, a sensação é bem ruim, é de humilhação mesmo, de impotência”, destacou.

Wesllysson, Weslley, Yara e Thais tem uma história comum a muitos brasileiros: a experiência com a fome. Embora não estejam classificados no nível mais grave de insegurança alimentar, todos eles ainda enfrentam dificuldades e incertezas sobre o futuro. E esse universo é comum à maioria dos brasileiros. Apenas 44% da população brasileira se encontra atualmente em um nível de segurança alimentar, ou seja, com capacidade para se alimentar saudavelmente, podendo comprar os alimentos que quer e fazendo todas as refeições diárias – o que inclui ainda todos os membros de sua família.

“Há três níveis de insegurança alimentar: a leve, a moderada e a grave. A leve é uma família que tem alimentos, mas ela não tem segurança de que vai ter o alimento na próxima semana, por exemplo. A insegurança alimentar moderada é quando não se tem o suficiente para alimentar todos os membros da família, já tem alguma restrição alimentar seja do tipo de alimento seja na quantidade de refeições. O terceiro nível é a insegurança alimentar grave que é o que chamamos de fome, que é a família que não tem alimentos e consegue fazer, no máximo, uma refeição por dia - quando consegue. São famílias que todo dia acordam com dúvida se vão conseguir comer naquele dia”, explicou Rodrigo “Kiko” Afonso, diretor executivo da Ação da Cidadania.

É nesse terceiro nível de insegurança alimentar que se encontram 33 milhões de pessoas hoje no país. “Essa situação é muito grave: é o pior estado de fome da história do Brasil. E, de fato, é algo que precisa de muita força política, mas principalmente, de mobilização da sociedade para que isso seja revertido em curto prazo”, disse Afonso em entrevista à Agência Brasil.

Sociedade mobilizada

Foi por meio de doações e de trabalhos que são desenvolvidos pela sociedade civil que Wesllysson, Weslley, Yara e Thais conseguiram se alimentar no período de maior dificuldade. Os irmãos, por exemplo, ao chegarem em São Paulo famintos, se depararam com um caminhão que fazia uma distribuição de comida à noite para moradores que vivem sob os viadutos na cidade de São Paulo.

“No primeiro dia em que chegamos aqui [em São Paulo], a gente nem sabia onde estava. Ficamos sem comer. Quando foi à noite, fomos para debaixo de um viaduto e tinha uma pessoa distribuindo comida de um caminhão. A gente estava desesperado de fome. Pegamos comida e comemos”, contou Weslley.

Após se alimentarem, eles tiveram forças para caminhar até a Paróquia de São Miguel Arcanjo, na zona leste, onde puderam encontrar uma figura que já conheciam pela televisão: o padre Julio Lancellotti, da Pastoral do Povo da Rua da Arquidiocese de São Paulo. Foi por meio do padre e do trabalho social que é desenvolvido na paróquia e em outros pontos da cidade que ambos conseguiram um trabalho como jardineiro e uma casa para morar.

Enquanto não iniciam o novo trabalho, eles vão fazendo suas refeições gratuitamente por meio de uma ação que é oferecida pela igreja. “Já passamos bastante dificuldade. Até maus tratos, quando a gente era menor, a gente sofreu. Passar fome é não ter o que comer em casa, às vezes trabalhar só para comer. Mas aqui [na paróquia] é comida boa, de verdade. Dão café da manhã, almoço, café da tarde e janta”, explicou Wesllysson.

Yara também foi beneficiada pelo trabalho do padre Julio. Ela ainda não conseguiu um emprego e vive, atualmente, em um abrigo para pessoas trans, localizado na zona norte da capital. Mas com a ajuda do sacerdote, consegue realizar todas as suas refeições.

“Tem vários núcleos aqui em São Paulo que fornecem alimentos para essas pessoas que estão em situação de rua e onde muita gente tem esse abrigo para poder comer, poder passar um tempo, ver questões de documentos. Em São Paulo tem bastante ajuda, principalmente aqui com o padre Julio, que é uma referência”, disse.

Já Thais, no período de maior dificuldade da pandemia, recebeu ajuda de amigos e de entidades que doavam cestas básicas, como a Ação da Cidadania. É por isso que seus filhos não passaram fome.

“Tive ajuda de ONGs, tive ajuda de amigos, de conhecidos, de família. Nos primeiros meses de pandemia, fiquei praticamente trancada dentro de casa até porque minhas meninas eram bebês na época. Fiquei a pandemia sem passar fome, mas na necessidade”, afirmou.

No momento em que o Brasil volta a ter um grande contingente de pessoas em situação grave de insegurança alimentar, é a sociedade civil que tem atuado mais ostensivamente na ajuda à população vulnerável. Cada uma a seu modo, elas buscam amparar essas pessoas de forma emergencial, na tentativa de cumprir um preceito constitucional que deveria ser assegurado a todos os cidadãos por meio de políticas públicas: o direito humano à alimentação adequada, artigo que foi incluído na Constituição Federal em 2010.

Conheça entidades que atuam no combate à fome Ação da Cidadania

Uma das primeiras organizações a trabalhar com o combate à fome no país é a Ação da Cidadania, criada em 1993, a partir de um grande chamado feito pelo sociólogo Herbert de Souza (1935-1997), o Betinho. 

"A Ação da Cidadania foi, se não a primeira, uma das primeiras organizações da sociedade civil a tratar de maneira específica e profunda a questão da insegurança alimentar”, disse Rodrigo “Kiko” Afonso, diretor executivo da entidade.

“Muitas das legislações que existem hoje são baseadas na luta do Betinho de combate à fome”, acrescentou, lembrando que o sociólogo foi também um dos idealizadores do Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea), órgão criado em 1993 com a missão de auxiliar o governo federal na definição de políticas públicas relacionadas à segurança alimentar e nutricional da população, garantindo o acesso à alimentação saudável e adequada a todos os brasileiros. O Consea chegou a ser extinto em 2019, durante o governo de Jair Bolsonaro, mas foi recriado no fim do mês de fevereiro pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Conhecida principalmente pelas doações de donativos e por campanhas como o Natal sem Fome, Brasil Sem Fome e o SOS Emergências, a Ação da Cidadania atua sem receber quaisquer recursos públicos.

“Nossos recursos vêm de doações de pessoas físicas, de empresas e de organizações nacionais e internacionais. O único recurso público que pode trafegar pela Ação da Cidadania é por lei de incentivo”, disse Afonso.

O trabalho desenvolvido pela organização, no entanto, não se resume a essas campanhas. “Hoje somos uma potência nesse processo de luta contra a fome. A gente não só distribui cestas, que é como normalmente somos conhecidos. A gente é uma das principais entidades brasileiras na questão de políticas públicas e lutas de advocacy na área de segurança alimentar. Também somos uma potência na área de formação de lideranças e agentes públicos na temática de segurança alimentar no Brasil”, ressaltou.

No futuro, destacou Afonso, a organização pretende montar a maior rede de banco de alimentos de cozinha solidária do Brasil.

“A Ação da Cidadania, pela história que tem, conseguiu superar o desafio da sobrevivência. Hoje conseguimos sobreviver com as doações recorrentes que a gente recebe de pessoas físicas e instituições. Além disso, conseguimos criar um fundo patrimonial da Ação da Cidadania, chamado de Fundo Betinho, que consegue garantir a sustentabilidade da organização no longo prazo.”

“O nosso desafio e da sociedade como um todo é chegar a um modelo de captação de recursos e de atuação que garanta a independência da organização para que ela possa atuar em suas temáticas de forma independente e contínua. Nós, felizmente, conseguimos isso”, falou Afonso.

Coletivo Banquetaço

Em outubro de 2017, o então prefeito de São Paulo, João Doria, anunciou que pretendia incluir na merenda escolar a farinata – uma farinha feita com alimentos perto da validade que seriam descartados por produtores ou revendedores. À época, o governo alegou que a farinata era como um “alimento completo”, com proteínas, vitaminas e minerais e que seria oferecida em forma de biscoitos e também usada em pães, bolos e massas. 

O anúncio gerou polêmica e dessas críticas acabou surgindo Coletivo Banquetaço. Formado por pessoas ligadas à área de alimentação, como chefes de cozinha famosos, merendeiras, cozinheiras e pessoas que estudam nutrição e gastronomia, o coletivo surgiu como uma crítica ao projeto de Doria.

“A farinata até poderia alimentar, mas era uma ração. Ela seria só para nutrir o corpo: é como dar uma ração para um passarinho ou para um animal. Vai matar a fome, mas a fome tem muito mais a ver com a necessidade de compartilhamento de mesa, com a qualidade do alimento que se come, em como você come”, explicou Maria Claudia Gavioli, conhecida como Clau Gavioli, assessora de comunicação da organização.

“O Banquetaço é um coletivo para influência de políticas públicas. Ele trabalha com a ideia de fortalecer a defesa do direito humano à alimentação adequada. Quando a gente fala em alimentação adequada, estamos falando de comida e não simplesmente de ingredientes ou alimento. Quando comemos, a gente leva em consideração que existe uma cultura alimentar para que as pessoas comam de acordo com aquilo que elas aprenderam em suas comunidades, com aquilo que faz bem para nutrir o corpo fisicamente e que faça sentido como comida”, disse.

Para lutar contra a ideia da farinata, as pessoas que formam o coletivo decidiram que, em vez de oferecer ração às pessoas, ofereceriam um banquete com “comida, entretenimento e cultura”.

“A ideia do Banquetaço é que não seja oferecida apenas comida de qualidade, ou seja, limpa, justa, com qualidade e vinda do produtor que está próximo, sem ser ultraprocessada ou industrializada. Além da comida, a ideia é promover uma grande confraternização entre as pessoas, compartilhando o alimento e o entretenimento”, afirmou.

As ações promovidas pelo coletivo são pontuais, sem data definida. No mês passado, por exemplo, foi promovido um evento para celebrar o retorno do Consea.

“Quando ele [o ex-presidente Jair Bolsonaro] desfez o Consea, imediatamente as pessoas começaram a se mobilizar e foi apresentada a ideia de realizar um Banquetaço, no dia 27 de fevereiro de 2019, aqui na cidade de São Paulo, na Praça da República. Foi um sucesso. Por isso, nesse ano de 2023, a gente repetiu o mesmo evento, também no dia 27 de fevereiro, e veio a calhar com o presidente Lula [Luiz Inácio Lula da Silva] dizendo que ia reinstalar os Conseas. Então, no último dia 27, fizemos uma festa para comemorar.”

As ações também variam podendo ser um banquetaço ou um marmitaço, dependendo da ocasião. O que elas têm em comum é que sempre são gratuitas, articuladas por grupos no WhatsApp e realizadas por meio de doações.

“É tudo via WhatsApp e cada um no seu pedaço, uma centralização descentralizada: a gente está lá no WhatsApp, mas a gente sai falando com a colega do Piauí, ao mesmo tempo com a do Rio de Janeiro, aqui em São Paulo. Tem muitos homens também. Mas a grande maioria é a mulherada, que quer cozinhar e vai atrás das coisas. Tem lá o grupo que cuida da comunicação, que cuida de doações, da cozinha. E tem o grupo de cada estado”, explicou.

“Organicamente, as coisas vão acontecendo. A gente inclusive fala que é aí que a mágica acontece porque é muita gente envolvida, buscando comida de todos os lados. Um busca um ingrediente aqui, o outro busca um relacionamento do outro lado, o outro busca a água. E aí a coisa rola. Mas sempre com a ideia de fazer uma intervenção pública para sensibilizar a sociedade”, disse Clau.

Paróquia São Miguel Arcanjo

Talvez a pessoa mais conhecida atualmente no Brasil pelo trabalho de combate à fome seja o padre Julio Lancellotti, que atua na Paróquia de São Miguel Arcanjo, na zona leste da capital paulista. Com mais de 40 anos de trabalho com a população em situação de rua, o padre é a figura de referência quando o assunto é resolver questões que afligem a população mais vulnerável: seja para encontrar um prato de comida, seja para ajudar a conseguir um emprego, para cobrar o Poder Público ou para oferecer um conforto espiritual.

Enquanto conversava com a reportagem da Agência Brasil, o padre foi interrompido numerosas vezes e, em nenhuma delas, deixou de atender quem precisava de ajuda. “Convivemos todos os dias com cerca de 500 a 600 pessoas”, disse.

“Partilhamos o pão que nós mesmos fazemos. Produzimos cerca de 3 mil pães por dia que são partilhados em vários pontos da cidade. Na Casa de Oração também temos o almoço: são entre 500 e 700 marmitex [oferecidos todos os dias]”, contou.

Tudo isso é oferecido pela igreja por meio de doações. “São tudo doações, mutirões, que a gente faz para juntar. A gente não tem nada oficial [de governos]”, destacou.

“A alimentação é um pretexto para conviver. O nosso objetivo é a convivência. A alimentação é uma necessidade objetiva, mas não somos distribuidores de comida. O alimento é uma forma de aproximação, uma forma de estar junto e perto e de, juntos, lutarmos para superar os problemas que atingem essa população.”

Problemas que, segundo o padre, só serão superados quando o Brasil conseguir distribuir a renda. 

“A fome é um dos sintomas da desigualdade. A desigualdade produz fome, abandono, miséria, falta de moradia, falta de possibilidade de trabalho. Todas essas questões estão ligadas umas com as outras. Com o alimento, nós nos relacionamos. É uma forma de nos relacionarmos e de dizer para o outro que ele é importante para mim.”

Encontrar caminhos

“A gente tem que se olhar não como uma entidade que substitua o Estado em seus deveres. O Estado é obrigado a resolver esses problemas, não nós. Nós ajudamos porque queremos salvar vidas. A gente entende que a incompetência, a ingerência e as dificuldades do Poder Público acontecem e que as emergências são muito grandes para que só o Poder Público aja. Mas quem tem que resolver, quem é responsável por isso é o Poder Público”, ressaltou Afonso.

“O Brasil sabe como resolver [o problema da fome]. Nós já fizemos isso. O Brasil saiu de 32 milhões de brasileiros [com fome, em 1993] para 4 milhões [em 2014] com construção de políticas públicas e vontade política de resolver o problema. O Betinho sempre dizia isso, que a fome é um problema político, que a fome é um desejo político. Ela só acontece se o Poder Público quiser que ela aconteça. Hoje, o Estado brasileiro tem as políticas de segurança alimentar mais avançadas do mundo de combate à fome. Somos referência no mundo inteiro por conta dessas políticas. Mas quando elas não são aplicadas da forma correta, quando elas não são o foco político, a fome volta. E é isso o que aconteceu nos últimos anos”, destacou o diretor do Ação da Cidadania.

Clau Gavioli reforça que esse problema só será de fato resolvido com a distribuição de renda. “Como ativista e estudiosa da área de comida, sei que produzimos mais comida do que bocas que temos para alimentar. Essa é uma questão de distribuição [de alimento], de políticas públicas que deem acesso às pessoas. Estamos falando também de distribuição de renda, de dar condições para que as pessoas possam escolher aquilo que elas querem comprar. E quando você aumenta o poder aquisitivo do pobre, a primeira coisa que ele melhora é a alimentação, que é a questão da sobrevivência. Ninguém vai comprar roupa nova antes de por um alimento no prato do filho”, destacou.

“Realmente acho que podemos resolver o problema da fome porque nosso problema é muito mais de estrutura, de distribuição de renda, de oportunidades e de acesso ao alimento, do que de produção de alimento. Comida tem. A gente só precisa conseguir distribuir isso da melhor forma, distribuir de uma forma mais humana, mais consciente. Mas temos muito chão para percorrer porque tem muita gente que quer ter mais dinheiro no banco, mesmo que o vizinho não tenha o que comer.”

Para o padre Julio, embora a sociedade civil não consiga resolver o problema da fome, ela tem um papel importante na construção de soluções. “A importância é a gente estar organizado para exigir respostas, construir respostas e encontrar caminhos”.

Agência Brasil publica nesta terça-feira (21) a última parte do especial Prato Vazio: um retrato da fome no Brasil.

A vacinação foi a ferramenta de prevenção que teve maior impacto no controle da pandemia de covid-19, que completa neste sábado (11) três anos. Apesar disso, grande parte das crianças brasileiras ainda não teve acesso a essa proteção e elas são consideradas por especialistas como vulneráveis a casos graves e mortes pela doença.

Segundo o Ministério da Saúde, entre os bebês e crianças de seis meses a quatro anos de idade, a cobertura vacinal contra a covid-19 é de 25% na primeira dose e de 2,5% na segunda.

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O esquema básico para essa vacina também prevê uma terceira dose, oito semanas após a D2, e só 0,1% do público-alvo recebeu essa aplicação. Essa faixa etária foi a última a ter acesso às vacinas, com a Pfizer baby, aprovada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) em setembro do ano passado. 

Antes disso, crianças de três e quatro anos podiam ser vacinadas com a CoronaVac, aprovada pela Anvisa para essa faixa etária em julho de 2022. Apesar disso, somente 22,87% das crianças com três e quatro anos foram imunizadas com a primeira dose, e 10,2% receberam a segunda dose, de acordo dados enviados pelo Ministério da Saúde à Agência Brasil. 

Já na faixa etária mais velha - de cinco a onze anos - a primeira vacina aprovada foi a Pfizer Pediátrica, ainda em dezembro de 2021. A vacinação propriamente dita começou apenas em janeiro de 2022, com mais de um mês de atraso, e, mais de um ano depois, a cobertura vacinal para a primeira dose é de 71,62% e a da segunda dose, de 51,58%.

Risco de infecção

Com coberturas tão abaixo da média da população brasileira, as crianças estão expostas à infecção pelo coronavírus, cuja circulação foi impulsionada pelas linhagens da variante Ômicron.

O presidente da Sociedade Brasileira de Pediatria, Clóvis Constantino, disse que não foi pequeno o número de crianças que adoeceu e morreu por covid-19 nesses três anos. Segundo o Laboratório de Saúde da Infância, da Fundação Oswaldo Cruz e da Faculdade de Medicina de Petrópolis do Centro Arthur de Sá Earp Neto (Unifase), o Observa Infância, mais de 1,8 mil crianças menores de cinco anos morreram de covid-19 entre o início da pandemia e outubro de 2022. 

"Ao contrário do que se dizia, que a criança não apresentaria formas graves da doença, ela apresentava com uma certa frequência, inclusive, com casos de síndrome inflamatória multissistêmica (SIM) e comprometimento cardíaco", disse Constantino, que também destaca os quadros de covid longa.

"Se a criança consegue sobreviver, tem a possibilidade de covid longa, principalmente nas que tiveram maiores comprometimentos, como a SIM, que é uma inflamação geral do organismo que tem um tempo muito longo de recuperação", afirmou.

Constantino vê a disseminação de fake news [notícias falsas] como ponto importante para a hesitação dos pais em vacinar seus filhos. Diante disso, o médico pediatra tranquilizou os responsáveis sobre algumas das dúvidas mais frequentes: os efeitos adversos causados por essas vacinas não fogem à normalidade do que já era previsto para outros imunizantes, e a tecnologia desenvolvida para elas não foi criada da noite para o dia, mas fruto de um salto tecnológico que levou muitos anos para estar pronto e poder ser usado na pandemia.

"O substrato biológico já estava pronto há muito tempo. Apenas faltava fazer o sequenciamento do vírus, identificar a parte do vírus que seria usada e fazer a adaptação dessa plataforma biológica que já estava pronta. Isso significa uma alta segurança do produto. Não havia necessidade nenhuma de se duvidar", explicou.  

O vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações, Renato Kfouri, lamentou que, pela primeira vez, pais buscaram a imunização para se proteger, mas não fizeram o mesmo para proteger seus filhos. O médico vê as notícias falsas espalhadas sobre a vacinação como um elemento importante para esse problema.

"Isso impactou bastante na pediatria e na confiança das pessoas. É algo mais seletivo contra as vacinas de covid, mas acaba respingando nas outras vacinas, no conceito de vacinação, no valor das vacinas. E talvez o maior pilar de um programa de vacinação é a confiança, não só na vacina, mas no poder público", salientou.  

Idosos

Kfouri observou que, ao longo da pandemia, foi muito enfatizado o risco de agravamento da doença em idosos, e que essa comparação com outros grupos como as crianças contribuiu para a invisibilização dessa faixa etária. O problema cresce com a demora na chegada das vacinas para crianças, que só ficaram disponíveis em um momento em que a mortalidade da pandemia já havia passado da sua pior fase.

"O mais justo não é comparar a covid-19 na pediatria com a covid-19 no adulto e no idoso, mas, sim, a covid-19 na pediatria com as outras infecções pediátricas. Quando a gente vê isso, só a covid, sozinha, faz mais vítimas em crianças do que todas as doenças do calendário infantil de imunização. Se somar as mortes por todas as doenças imunopreviníveis, a covid-19, sozinha, faz mais vítimas", garantiu. 

Para o co-coordenador do Observa Infância, Cristiano Boccolini, a ideia de que as crianças não são do grupo de risco para covid-19 é falsa.

"As crianças, comparadas com adultos e idosos, têm um risco menor de ter a doença, mas elas não estão isentas de risco. Foi vendida para a sociedade a ideia de que criança não morre de covid. O ex-presidente falou isso, o ex-ministro falou isso. E isso entrou em um senso comum. As crianças têm, sim, risco, e hoje ele pode ser prevenido por medidas de vacinação. Cada morte de criança a partir de seis meses é uma morte prevenível", especificou. 

Também co-coordenadora do laboratório, Patrícia Boccolini lembrou que houve atraso na disponibilização da vacina pediátrica para a população e a criação de obstáculos, inclusive com o governo federal levantando a hipótese de exigir a assinatura de termo de consentimento e responsabilidade para a vacinação das crianças.

"O governo [anterior] fez de tudo para complicar. Ele não só não ajudou, como atrapalhou", avaliou Patrícia. "A figura central do Brasil [o ex-presidente Jair Bolsonaro] sempre defendeu que não iria se vacinar e que não iria vacinar sua filha, que era uma criança. Isso tudo para exemplificar que os pais têm a sua parcela de culpa, mas o cenário todo estava desfavorável e contribuindo para a hesitação desses pais" recordou Patrícia.

Para a pesquisadora, é muito importante a inclusão da vacina contra a covid-19 no calendário de vacinação da criança, estabelecendo como uma obrigação dos pais e responsáveis. 

"A vacinação está em destaque no Estatuto da Criança e do Adolescente como um direito da criança, e isso não foi respeitado. Só agora o governo está discutindo a entrada dela no calendário oficial. Se é um direito, ela tem que estar presente nesse calendário", acrescentou.

O Observa Infância destacou ainda que, além das mortes e sequelas da covid longa e os efeitos para a saúde mental do isolamento e do ensino remoto, as crianças e adolescentes sofreram também com a perda de seus pais durante a pandemia. Um estudo divulgado no fim do ano passado pelo grupo contabilizou 40 mil crianças e adolescentes que ficaram órfãos de mãe no Brasil por causa da covid-19. 

"Normalmente as mães têm um papel central na organização familiar. Então, ocorre uma relativa desorganização familiar, muitas vezes com as crianças tendo que ser adotadas ou tutoradas por parentes ou outras pessoas. E tem toda a questão da segurança social, como questões relacionadas à renda", destacou Cristiano Boccolini.

Crianças e adolescentes

Procurado pela Agência Brasil, o Ministério da Saúde adiantou que, na segunda etapa do Movimento Nacional pela Vacinação, que ocorre agora em março, será reforçada a importância da vacinação contra covid-19 com foco nas crianças e adolescentes.

O ministério afirmou, também, que trabalha em conjunto com estados e municípios para sensibilizar a necessidade da vacinação neste público e esclarecer os pais e responsáveis sobre a eficácia e segurança das vacinas e os riscos de doença e morte das pessoas não vacinadas. Segundo assessoria de imprensa do Ministério da Saúde, ainda em janeiro, a nova gestão iniciou as tratativas com laboratórios para antecipar as entregas dos imunizantes, que estavam em falta em todo o país.

"O Ministério da Saúde reforça que a vacinação é a forma mais eficiente de salvar vidas contra a covid-19.  A redução de óbitos e casos graves que o país vem registrando é reflexo da vacinação. Para que se mantenha essa tendência de queda, é necessário que a população se vacine e complete o esquema vacinal com todas as doses recomendadas para cada faixa etária. Para mobilizar o país sobre a importância da vacinação, o Ministério da Saúde lançou o Movimento Nacional pela Vacinação, que visa unir o país no propósito de ampliar as coberturas vacinais em todas as faixas etárias. As vacinas são seguras e eficazes, protegem crianças, adultos e idosos contra a doença", esclareceu o ministério.

A Universidade de Pernambuco (UPE), por meio da iniciativa do curso de direito, do Campus Arcoverde, disponibiliza 20 vagas em pós-graduação destinada a pessoas em vulnerabilidade socioeconômica. Através do Pré-Pós Paulo Freire - Programa de Apoio e Acompanhamento para Acesso à Pós-graduação Stricto Sensu, estudantes podem ocupar uma das oportunidades no mestrado das áreas de Ciências Humanas e Sociais Aplicadas.

As inscrições iniciam na próxima sexta-feira (1º) por meio de formulário eletrônico. Podem lançar candidatura estudantes que estão no último semestre da graduação ou egressos da graduação de universidade pública ou de instituições de ensino superior privada, desde que tenham sido beneficiários do Programa Universidade Para Todos (Prouni) ou de bolsas de estudo integrais.

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De acordo com a UPE, o programa é destinado aos seguinte grupos: 1) Negro(a), afrodescendente, indígena ou quilombola; 2) Pessoa LGBTQIA+; 3) Mãe solo; 4) Camponês/Camponesa; 5) Advindo(a) de famílias que vivem da agricultura familiar; 6) Egresso(a) da Educação de Jovens e Adultos (EJA); 7) Apenado(a) em privação de liberdade; Egresso(a) do Sistema Prisional e socioeducativo.

A seleção dos participantes será entre os dias 2 e 5 de abril e o resultado sairá no dia 6 do mesmo mês. Os selecionados participarão de seminários temáticos e orientações individuais.

A Inglaterra vai oferecer a partir de segunda-feira (21) uma quarta dose da vacina contra o coronavírus para maiores de 75 anos e pessoas imunossuprimidas acima dos 12 anos, informou neste domingo (20, ainda sábado no Brasil) seu serviço público de saúde (NHS).

No total, cerca de cinco milhões de pessoas poderão receber a vacina e 600 mil serão incentivadas a agendar sua vacinação esta semana, segundo o NHS.

"Após o enorme sucesso da implementação (da vacinação) até agora, nesta primavera estamos oferecendo aos maiores de 75 anos e aos mais vulneráveis uma dose de reforço para completar sua proteção contra esse vírus", disse o ministro da Saúde, Sajid Javid, em um comunicado.

No Reino Unido, cada uma de suas quatro nações (Inglaterra, Escócia, País de Gales e Irlanda do Norte) decide sua política de saúde.

Na Inglaterra, os adultos elegíveis à quarta dose receberão o imunizante da Pfizer ou da Moderna. Os adolescentes de 12 a 18 anos receberão apenas o da Pfizer.

O governo está se preparando "para a quarta dose porque precisaremos dela", afirmou o primeiro-ministro britânico Boris Johnson durante o congresso do Partido Conservador em Blackpool, no norte da Inglaterra, neste sábado.

O Reino Unido foi duramente atingido pela pandemia, com mais de 163 mil mortos.

Recentemente, o número de pessoas infectadas pela subvariante BA.2 ômicron aumentou e a Escócia atingiu níveis recordes de contaminação, de acordo com o Instituto Nacional de Estatística (ONS, na sigla em inglês).

Marli Fumagalli estuda cada preço enquanto caminha entre as barracas de uma feira livre de São Paulo. Na segunda volta, começa a comprar, seguindo a fórmula: "Menos carne, mais verduras e muita criatividade".

O aumento dos preços dos alimentos acima da inflação, já elevada, se tornou um desafio cotidiano para os brasileiros mais vulneráveis. Muitos, como Marli, adaptaram sua dieta para fazer frente aos gastos crescentes.

"Estou sempre no vermelho (...) Só dá para comprar carne de segunda e fazê-la na panela, com recheio, pra fazer mais volume", conta à AFP esta mulher de 69 anos, que tenta fazer render sua pequena pensão para alimentar a mãe e as duas filhas.

Os preços ao consumidor dispararam 9,68% em 12 meses até agosto. Mas os alimentos subiram ainda mais, quase 14% neste período, segundo dados oficiais.

"A inflação dos alimentos tem pressionado os orçamentos das famílias desde 2020, especialmente de classes mais pobres", diz Joelson Sampaio, professor da Escola de Economia de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas (FGV EESP).

Segundo estimativas da FGV em abril, 27,7 milhões de brasileiros (12,98%) estão abaixo da linha da pobreza, situado em 261 reais mensais (US$ 49). Em 2019, a cifra era de 23,1 milhões de pobres (10,97%).

- Carne vermelha, um luxo -

Na feira, a barraca de José Guerreiro oferece cada vez menos cortes de carne bovina. "A gente tenta driblar a situação com fornecedores mais baratos, mas ao consumidor o preço subiu demais porque tudo sobe... É uma bola de neve", lamenta, explicando porque diminuiu a carne vermelha e aumentou a de frango.

A carne vermelha mais que do triplicou a inflação geral, com um aumento de 30,7% em 12 meses. Isso explica porque a carne vermelha tem sido um dos principais produtos subtraídos das listas de compras, embora o Brasil tenha mais gado do que qualquer outro país e seja o principal exportador mundial.

Segundo pesquisa recente do instituto Datafolha, 85% dos brasileiros diminuíram o consumo de algum alimento este ano e 67% diminuíram o de carne vermelha. Além disso, 46% reduziram a ingestão de laticínios e cerca de 35% a de feijão e arroz, base da alimentação do brasileiro.

"A primeira atitude dos consumidores é substituir, a segunda é reduzir e a terceira é abrir mão", diz Sampaio.

Uma pesquisa da Rede PENSSAN do fim de 2020 revelou que 116,8 milhões de brasileiros sofriam algum tipo de insegurança alimentar e 19 milhões passavam fome no país de 213 milhões de habitantes.

A inflação e o desemprego, situado em 14,1%, não melhoraram a situação. Glaucia Pastore, professora da faculdade de Engenharia de Alimentos da Universidade de Campinas, destaca que, por causa dos dois, "os alimentos que grande parte da população está consumindo não atingem os preceitos nutricionais adequados ou talvez a quantidade não seja adequada".

Comer para subsistir, diz ela, tem consequências: "A população tem mais possibilidades de adquirir doenças virais ou outras crônicas não transmissíveis, como diabetes, cardiopatias, câncer, que se prolongam por toda a vida, impossibilitando de trabalhar".

- "Bolsocaro" -

A oposição atribui a inflação às políticas de Jair Bolsonaro e as sintetizam em um jogo de palavras repetido em cartazes afixados nas ruas e exibidos em protestos: "Bolsocaro".

O governo, ao contrário, culpa os aumentos dos preços internacionais.

Carlos Cogo, diretor da consultoria de agronegócios Cogo, explica que "a maioria dos alimentos básicos, que têm pressionado o indicador de inflação são commodities, comercializadas em dólares no mercado global e com altas desde o começo da pandemia".

Em nível local, destaca-se a desvalorização do real: o dólar era cotado em torno de R$ 4,2 em fevereiro de 2020 contra cerca de R$ 5,3 atualmente.

Assim, os dois fatores resultam "em uma alta mais forte do que a média internacional", resume.

Mas tem mais, como o aumento do preço dos combustíveis - 41,3% no ano até agosto -, que impactou os fretes, e a seca histórica que o Brasil atravessa.

Esta afetou cultivos, como o milho, vital na criação animal, e aumentou os preços da energia elétrica, cujo custo se pulveriza na cadeia produtiva, diz o analista.

As pressões sobre os alimentos, prevê, permanecerão pelo menos até 2022-2023, o que poderia levar mais brasileiros a sofrer com a fome.

O governo espanhol anunciou nesta terça-feira (3) a prorrogação da suspensão dos despejos e a proibição de cortar luz e água, entre outras medidas para aliviar o impacto social da pandemia do coronavírus.

A porta-voz do governo, Isabel Rodríguez, anunciou "uma prorrogação do 'escudo social' até o próximo dia 31 de outubro", em declarações na coletiva de imprensa após a reunião semanal do governo, usando o termo adotado pelo Executivo para se referir a este conjunto de medidas.

"Esperamos que os indicadores de saúde nos digam, então, que poderemos enfrentar o futuro sem o 'escudo'", acrescentou.

O governo do socialista Pedro Sánchez adotou este pacote em março de 2020, em meio à primeira onda da pandemia da Covid-19.

As medidas iriam expirar em 9 de agosto. Além das já mencionadas, o pacote inclui o reforço do atendimento às vítimas de violência de gênero.

O Executivo espanhol também lançou um programa de assistência aos desempregados temporários, afetados pela suspensão da atividade das suas empresas, denominado ERTE. Nele, o Estado cobre 70% de seus salários nos primeiros seis meses, e 50%, depois. Este programa foi estendido, recentemente, até o final de setembro.

A economia espanhola registrou uma contração de 10,8% em 2020, uma das piores quedas na zona do euro. Esta queda foi causada, em grande parte, pelo colapso do setor de turismo. Voltou a crescer no segundo trimestre de 2021, e o governo prevê que terminará com um avanço anual de 6,5%.

Com 47 milhões de habitantes, a Espanha acumula 4,5 milhões de casos de coronavírus e 81.000 mortes, desde o início da pandemia.

A pandemia de Covid-19 tem um impacto econômico "devastador" nas populações mais vulneráveis do mundo, que foram obrigadas a fugir ou que vivem em zonas de conflito, provocando fome ou falta de escolaridade, afirma um relatório publicado pela ONG Conselho Norueguês para Refugiados (NRC).

No estudo "Espiral descendente", realizado em 14 países (Mali, Afeganistão, Venezuela e Colômbia, entre outros), o NRC indica que quase 75% das 1.400 pessoas entrevistadas apontam uma degradação expressiva de sua situação devido à crise de saúde.

De acordo com o relatório, 77% das pessoas entrevistadas perderam o emprego ou tiveram o salário reduzido desde março, 70% tiveram que diminuir o número de refeições em casa e 73% afirmam estar menos preparadas para levar os filhos à escola devido aos problemas financeiros.

"As comunidades mais vulneráveis do mundo estão em uma perigosa espiral descendente", afirmou o secretário-geral do NRC, Jan Egeland, em um comunicado.

Para estas populações, "já forçadas a fugir de suas casas devido à violência, com direitos muitas vezes limitados no trabalho ou no acesso aos serviços governamentais, o impacto econômico da pandemia os leva à catástrofe", disse.

Antes da pandemia, a ONU já havia alertado para o agravamento da fome no mundo. De acordo com um relatório anual publicado em julho, quase 10% da população sofreu desnutrição crônica em 2019, uma proporção que deve aumentar com a Covid-19.

O estudo do NRC aconteceu com 1.413 pessoas de 14 países: Afeganistão, Colômbia, Iraque, Quênia, Líbia, Mali, Uganda, Venezuela, Somália, República Democrática do Congo, Líbano, Jordânia, Burkina Faso e Iêmen.

A fila faz uma curva no Largo São Francisco e desce pela Rua São Francisco em direção à Praça da Bandeira. São centenas de homens e algumas mulheres, de diversas faixas etárias, que aguardam por um prato de comida em um centro de São Paulo esvaziado pela pandemia do novo coronavírus.

Diferentemente de trabalhadores que circulam pela região, eles não utilizam máscaras. Mais do que isso, enfrentam uma série de dificuldades para manter hábitos de higiene e se alimentar em um momento em que a renda, quase sempre incerta, está ainda mais apertada.

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A distribuição de refeições pelo Serviço Franciscano de Solidariedade (Sefras) enfrenta um aumento contínuo de demanda. Segundo Frei Lucas, o número de almoços ofertados passou de cerca de 400 para aproximadamente 2,5 mil desde o início da quarentena. Por isso, desde o dia 27, a distribuição passou a ser feita em uma tenda no Largo de São Francisco. Em 12 dias, foram mais de 37,1 mil refeições, entre almoço e jantar, que são distribuídas com uma bebida, como suco e água.

Dona Cida, de 63 anos, chegou a entrar na fila duas vezes para garantir a alimentação e evitar o deslocamento até o local no fim do dia. Hipertensa e com bronquite, ela dorme em um albergue municipal há 15 dias, depois de ter sido despejada. "Eu chorava de fome para pagar aluguel, chegava a dar dor no estômago", diz. "Se não fosse essa comida (distribuída no largo), tinha morrido."

A idosa relata ter desmaiado na terça-feira pela primeira vez na vida. "Ficou tudo branco", lembra. "Nunca tive isso. Mas acho que o vírus não pega em mim, acho que sou forte para o vírus. Ele vem em mim, mas não pega. Acredito muito na força do pensamento." Ela diz preferir passar o dia pelas ruas por achar o albergue mais propício para pegar o novo coronavírus, por ser "muito fechado". Com a saúde debilitada, está com dificuldades para catar latas de alumínio e conseguir um dinheiro além do auxílio-aluguel, de pouco mais de R$ 400.

Tudo o que tem carrega em uma bolsa a tiracolo, após o locatário ficar com seus móveis e parte das suas roupas permanecer na casa de amigos que se recusam a recebê-la durante a pandemia. "Acham que posso levar a doença da rua para eles."

Também na fila por um prato, Luis Carlos Pereira, de 47 anos, conta que a maior dificuldade que encontra é para higiene. A instalação de banheiros e chuveiros pela Prefeitura no largo há menos de uma semana facilitou um pouco, mas não permite a limpeza das roupas. "O que adianta tomar banho e colocar a mesma roupa suja, me diz?", indaga. Pereira conta que, com o esvaziamento da cidade, está enfrentando dificuldade para conseguir encontrar latas e papelão para vender. Por isso, acha que mais pessoas, como ele, estão procurando doações de comida no largo. Além disso, lamenta por aqueles que estão em situação ainda mais vulnerável, como pessoas com dificuldade de locomoção.

Adailton Souza, de 32 anos, que também aguardava por uma refeição, costuma trabalhar na limpeza de vidros e como malabarista no semáforo. "Agora tem poucos carros na rua e nem abaixam os vidros, estão com mais medo da gente."

Já o eletricista Pedro Edgar Fernandez, de 45 anos, costuma buscar refeições com os franciscanos desde novembro, quando ficou desempregado. De Buenos Aires, o argentino se mudou para o País há sete anos, mas, após uma demissão em massa, não conseguiu emprego formal e, agora, vive de bicos. Ele relata que está mais difícil conseguir até oportunidades informais com a pandemia. "Vou caminhando e olhando para as placas, pergunto e já deixo currículo. Consegui um na Mooca, mas pediram para esperar acabar a quarentena." As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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A instituição beneficente Lar de Maria atua há mais de 70 anos em Belém e trabalha com aproximadamente 260 pessoas em situação de vulnerabilidade social, sendo 140 crianças, 40 adolescentes e 80 idosos. A instituição atende crianças e adolescentes em tempo integral, com faixa etária de 6 a 17 anos, e idosos.

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O objetivo do Lar é promover a proteção do público infantojuvenil em situação de vulnerabilidade social e fortalecer os vínculos familiares e comunitários por meio de ações socioeducativas e lúdicas. Conheça um pouco mais sobre a instituição no vídeo.

Após o deputado federal eleito João Campos (PSB) protagonizar mais uma polêmica ao afirmar que era contra a flexibilização da posse de armas ressaltando que a liberação vai colocar em ameaça a vida de outras pessoas, foi a vez do também deputado eleito Túlio Gâdelha (PDT) corroborar com o argumento do filho do ex-governador Eduardo Campos. O pedetista falou sobre o assunto ao criticar uma declaração do ministro da Justiça, Sergio Moro. 

O parlamentar publicou o trecho de um vídeo no qual Moro fala sobre a posse de armas em suas redes sociais. “Tem gente que não quer ter arma em casa, perfeito. Ninguém é obrigado a ter uma arma em casa. Mas respeite a opinião daquelas pessoas, num tema controvertido, que entendem que com isso elas se sentem mais seguras”, disse o auxiliar ministerial de Bolsonaro. 

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No entanto, Túlio se mostrou contra Moro e disse que a declaração está “completamente equivocada”. “Não se trata de respeitar opinião. Quem não quer ter arma em casa, também não quer uma arma na casa do vizinho porque nos deixa, da mesma forma, vulneráveis à ela. E se equivoca ainda mais porque a ideia de que: armar pessoas torna a sociedade mais segura, é comprovadamente falsa”, disse. 

O deputado ainda falou que o dever de enfrentar a criminalidade é do Estado e não das pessoas. “Pra ter ideia, 71,1% dos 62.517 homicídios registrados em 2016 foram cometidos com armas de fogo, segundo Atlas da Violência 2018. Estudo do Ipea, feito em São Paulo, mostra que o aumento de 1% [na quantidade] de armas de fogo eleva em até 2% a taxa de homicídios”, expôs. 

Na última terça-feira (15), Bolsonaro assinou o decreto que flexibiliza o posse de armas. Com a resolução, a posse fica facilitada para residentes em áreas urbanas em estados com mais de dez homicídios por 100 mil habitantes, agentes públicos ligados à área de segurança, todos os residentes em área rural, colecionadores, atiradores e caçadores, além de donos ou responsáveis legais de estabelecimentos comerciais. 

Outra mudança estabelecida pelo texto é o maior tempo de validade do registro. Se antes o cidadão precisava fazer a renovação a cada cinco anos junto à Polícia Federal, agora o prazo é a cada 10 anos. 

O estudante de psicologia Wagner Bourbon provavelmente nunca se esquecerá de sua primeira atividade prática de acolhimento. Se, para alguns, as primeiras experiências profissionais envolvem funções burocráticas e pouco instigantes, para o jovem de apenas 26 anos, foi o momento de salvar uma vida. “Uma moça bastante angustiada me procurou. Eu perguntei como essa pessoa estava se sentindo e ela chorou, duas vezes. Apesar disso, conforme ela se foi falando, foi se sentindo mais aliviada”, lembra. Um abraço e um agradecimento sincero encerraram a conversa. “Nós também somos humanos e vamos nos afetando com as questões que chegam para gente, esse momento foi muito marcante. Quando percebi que ajudei de verdade essa pessoa, fiquei aliviado”, conta Wagner, um dos quatro alunos que integra o projeto 'Cuidar', da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), criado há pouco mais de um ano para atender indivíduos vulneráveis ao suicídio.

Para Wagner, além de ajudar quem precisa de auxílio psicológico, o 'Cuidar' é uma possibilidade de entrar em contato com a prática clínica. “É algo que falta na academia, embora seja fundamental. Através dessas experiências vamos enriquecendo nosso currículo. Sairemos da universidade com uma certa bagagem. Sem falar no contato com as vivências de outras pessoas, que é muito transformador”, conclui Wagner.

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A professora do curso de psicologia da UFPE e coordenadora do projeto, Rosinha Barbosa, explica que a iniciativa faz parte do programa “guarda-chuva” - Investigando ações que promovam resiliência e previnam comportamentos suicidas - composto por um um total de 19 estudantes. “Dei a ideia aos alunos de criar um programa voltado para a prevenção do suicídio durante uma aula e a turma inteira disse que me ajudaria. Realizamos uma disciplina voltada para a fundação, inicialmente, de um projeto. A turma o desenvolveu comigo”, conta Rosinha. Embora os acolhimentos existam desde o ano passado, agora o programa conta com novas iniciativas, como palestras e oficinas. 

O segundo andar do Centro de Filosofia e Ciências Humanas (CFCH), prédio marcado pelo lamentável histórico de suicídios, abriga a iniciativa de acolhimento. “Nele, os estudantes recebem quem necessita de ajuda em geral, não apenas porque corre risco de suicídio. São feitas as escutas e dado um encaminhamento”, explica Rosinha. Já o projeto 'Cuidar' é específico para a prevenção ao suicídio e atualmente é operacionalizado no prédio do Serviço de Psicologia Aplicada (SPA) da UFPE. “No plantão psicológico, os alunos atendem em duplas. Uma vez por semana, eles participam de orientação com os professores, em que discutem os casos e são supervisionados”, completa Rosinha.

A estudante Nathália Souza se esforça para conciliar aulas, trabalhos, provas e vida pessoal com as demandas do programa, sem receber nenhum pagamento por isso. “Participo do acolhimento, do projeto Cuidar e dou palestras em escolas. São experiências incríveis”, comenta. Entre os pacientes, os perfis são os mais diversos: muitos sofrem de ansiedade, já foram diagnosticados com depressão, acabaram de sair de um relacionamento ou perderam um emprego. “Algumas pessoas chegam aqui bastante abaladas, com necessidade real de escuta. Recentemente, chegou uma pessoa que precisava muito ser ouvida e não se sentia confortável para falar com amigos ou familiares, nem tinha condição financeira para pagar um psicólogo. Ela saiu se sentindo melhor e recebeu um direcionamento”, afirma.  

Nathália exalta as experiências proporcionadas pelo projeto. (Chico Peixoto/LeiaJá Imagens)

Suicídio: uma epidemia silenciosa 

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), 800 mil pessoas tiram a próprio vida por ano em todo o mundo. Apesar disso, a instituição costuma se referir ao suicídio como uma “epidemia silenciosa”, devido ao fato de que muitas tentativas ou mesmo mortes não são notificadas. “Atualmente, o suicídio acomete principalmente crianças, adolescentes e jovens adultos, embora no passado, vitimasse pessoas bem mais velhas. As pessoas se sentem mais sós e sofrem muito com o individualismo das outras”, comenta Rosinha. Entre os jovens brasileiros de 20 a 24 anos, por exemplo, em 2007, o suicídio chegou à taxa de 5,4 para cada 100 mil habitantes, segundo a pesquisa “Suicídio de universitários: o vazio existencial de jovens na contemporaneidade”, de Elza Dutra.

No ambiente acadêmico, o suicídio é especialmente preocupante. Outro estudo da pesquisadora aponta ainda que, dos 637 estudantes de dois cursos de psicologia da cidade de Natal, Rio Grande do Norte, 52,45% declararam que sentiam vontade de morrer e outros 48 alunos haviam tentado se matar. Dutra também ouviu alunos de uma instituição de ensino superior pública da Paraíba, onde obteve dados ainda mais alarmantes. Entre os 374 alunos que responderam ao questionário, 43 já tinha tentado suicídio. 

“O projeto Cuidar começou porque o CFCH registrou cerca de dez suicídios nos últimos anos. Essa temática precisa ser tratada como um problema de saúde pública, com mais iniciativas de prevenção”, declara Rosinha. A professora alerta que é importante nutrir vínculos positivos, ser reconhecido e aceito pelas pessoas. “São os fatores protetores. Pessoas que fogem aos padrões normativos da sociedade, como grupos como lésbicas, gays e transexuais, são mais vulneráveis e, por isso, temos atividades específicas para eles. O mais importante é sempre buscar reconhecimento em nós mesmos”, conclui.

Serviço//Acolhimento

Horário:Das 09h30 às 11h30

Dias: Toda quinta

Local: Segundo andar do CFCH-UFPE, Cidade Universitária, Recife-PE

Gratuito

Projeto Cuidar

Horário: Das 14h às 17h

Dias: Toda quinta

Local: Serviço de Psicologia Aplicada,  R. Acdo. Hélio Ramos, Várzea, Recife-PE

Gratuito 

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