O deputado Carlos Jordy (PL-RJ) foi alvo nesta quinta-feira, 18, da 24.ª fase da Operação Lesa Pátria, da Polícia Federal, que mirou "pessoas que planejaram, financiaram e incitaram atos antidemocráticos ocorridos entre outubro de 2022 e o início do ano 2023 no interior do Rio de Janeiro". Pela primeira vez, a operação da PF - investigação permanente sobre os atos golpistas de 8 de janeiro - atingiu um integrante do Congresso Nacional.
Aliado muito próximo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), Jordy teve o gabinete na Câmara dos Deputados e a casa vasculhados pelos investigadores.
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A ação gerou reação de bolsonaristas no Congresso. O parlamentar classificou as buscas por ele sofridas como "medida autoritária, sem fundamento, sem indício algum, que somente visa perseguir, intimidar e criar narrativa às vésperas de eleição municipal".
A Polícia Federal resgatou mensagens de WhatsApp enviadas no dia 1.º de novembro de 2022 ao deputado para justificar os pedidos de buscas, autorizados pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, relator do caso na Corte. As medidas tiveram o aval da Procuradoria-Geral da República (PGR).
Nas mensagens interceptadas pela investigação, Jordy conversa com um suspeito de ser o responsável por organizar bloqueios de estradas logo após as eleições 2022.
"Bom dia meu líder. Qual direcionamento você pode me dar? Tem poder de parar tudo", escreveu Carlos Victor de Carvalho ao deputado, segundo a PF. Jordy respondeu à mensagem perguntando se o interlocutor poderia falar ao telefone: "Fala irmão, beleza? Está podendo falar aí?". Carlos Victor afirma: "Posso irmão. Quando quiser pode me ligar".
A operação de ontem tinha como foco investigados que tentaram providenciar alimentos e insumos para os manifestantes que se encontravam ao redor do quartel do Exército em Campos dos Goytacazes (RJ) e organizaram a ida de extremistas a Brasília.
Segundo a PF, os fatos investigados na 24.ª etapa da Lesa Pátria constituem, em tese, supostos crimes de abolição violenta do estado democrático de direito, golpe de Estado, associação criminosa e incitação ao crime. Carlos Victor tem "fortes ligações" com Jordy, apontam os investigadores. Para a PF, tal relação "extrapola o vínculo político, denotando que o parlamentar tinha o poder de ordenar as movimentações antidemocráticas, seja pelas redes sociais ou agitando a militância".
Sigilos
Os investigadores resgataram uma conversa entre o investigado e o parlamentar com 627 registros, incluindo texto, áudios, anexos e ligações por WhatsApp. A PF rastreou uma tentativa de contato, por parte de Jordy, com Carlos Victor quando este estava foragido da Justiça. O episódio ocorreu em 17 de janeiro de 2023, quando, conforme o relatório da investigação, o parlamentar já sabia do mandado de prisão expedido contra o suspeito.
Moraes determinou a quebra do sigilo dos dados telefônicos e telemáticos do material apreendido nas diligências. Para o ministro, são "fortes os indícios de envolvimento de Carlos Jordy nos delitos apurados, mediante auxílio direto na organização e planejamento" de atos antidemocráticos - bloqueios de rodovias, bem como os acampamentos nos arredores dos quartéis das Forças Armadas que se deram logo após o segundo turno da eleição presidencial.
Em sua avaliação, o inquérito indica que o deputado "seria a pessoa que efetivamente orientava as ações em tese organizadas por Carlos Victor, não se tratando, portanto, apenas de uma relação de afinidade entre ambos".
'Fuzil no rosto'
Jordy prestou depoimento ontem na Superintendência da PF no Rio (mais informações nesta página). Antes, em um vídeo publicado no X (antigo Twitter), ele disse que foi acordado "com um fuzil no rosto" na ação federal. A PF negou a afirmação do deputado.
"Hoje eu sofri uma busca e apreensão da Polícia Federal. Fui acordado às seis da manhã. Estava dormindo com minha filha e com a minha esposa. Fui acordado com fuzil no rosto pela Polícia Federal."
A PF disse ao site Metrópoles que a ação seguiu o protocolo da corporação, e não houve necessidade de uso da força para entrar na casa do parlamentar no Rio de Janeiro.
O senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), filho mais velho do ex-presidente, saiu em defesa de Jordy e criticou Moraes. Para o senador, a operação foi uma "perseguição política". "A forma como essa investigação está sendo conduzida é muito mais 'lesa pátria' que o próprio 8/Jan", escreveu no X.
Ação é 'pesca probatória com viés político', diz Jordy
O deputado federal Carlos Jordy (PL-RJ) prestou depoimento ontem na Superintendência da Polícia Federal, no Rio. Em entrevista à imprensa antes do início da oitiva, Jordy afirmou que não conhece "ninguém que esteve no 8 de Janeiro" e que não há nada que possa incriminá-lo com relação aos ataques golpistas aos prédios dos três Poderes, em Brasília, no ano passado.
Segundo o parlamentar, a ação da PF "é uma pesca probatória". "Eles fazem uma diligência, uma busca e apreensão, buscando encontrar alguma outra coisa para nos acusar", afirmou o deputado.
"Tenho muita tranquilidade. A não ser que estejam fazendo alguma armação para mim. E tudo me leva a crer que é isso. É uma pesca probatória com viés político. Não conheço ninguém que esteve no 8 de Janeiro. Eu não tenho nada que possa me incriminar. Não existem essas mensagens. Isso nós vamos provar."
Pré-candidato à prefeitura de Niterói, Jordy afirmou ainda que "em momento algum" fez incitações aos ataques em Brasília. "Nunca incitei, muito menos financiei", disse. (COLABOROU KARINA FERREIRA)
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.