O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) tornou Jair Bolsonaro (PL) inelegível e, agora, o ex-presidente vai precisar decidir se mantém a extrema-direita sob seus domínios ou se vai confiar seu antigo espaço para um nome decidido nos bastidores. Entre as duas faces dos efeitos da sentença, a emersão do substituto nos próximos oito anos pode perpetuar Bolsonaro como uma peça fundamental ou abreviar sua posição junto aos eleitores.
Com o placar de 5x2 pela condenação, a inelegibilidade do ex-presidente foi confirmada pela maioria dos sete ministros do TSE. O julgamento foi retomado ao meio-dia desta sexta (30), com o voto de Carmen Lúcia, que sentenciou Bolsonaro. Em seguida, se pronunciaram Kássio Nunes, que votou contra a condenação, e Alexandre de Moraes, que concluiu a votação acompanhando o relator e condenando o ex-presidente por abuso de poder.
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Em entrevista ao LeiaJá, o mestre em Ciências Jurídico Políticas Caio Sousa entende que a perda dos direitos políticos de Bolsonaro deixa "um vazio difícil de ser ocupado em curto espaço de tempo na extrema-direita".
As últimas eleições mostraram que os brasileiros se acostumaram a personalizar o voto, sobretudo em políticos apoiados em discursos polarizados. "Bolsonaro teve como grande façanha reunir uma fatia considerável do eleitorado, seja pelo discurso que carrega ou por ser até então o único nome anti-petista", considerou.
Com um público fidelizado para as próximas disputas, mas desqualificado para se eleger, o ex-presidente pode não ceder espaço para o surgimento de uma nova liderança de direita ou de centro-direita. Dessa forma, seria o início do seu projeto pessoal para garantir a manutenção política com um substituto dentro do seu clã.
Na lista de sangue composta pelo senador Flávio Bolsonaro, pelo deputado Eduardo Bolsonaro, pelo vereador Carlos Bolsonaro e por Renan Bolsonaro, a esposa Michelle toma a dianteira da fila e pode surgir como a herdeira do capitão nas urnas.
"No núcleo familiar do presidente, apenas a ex-primeira-dama representaria personagem mais fácil de ser trabalhado quanto ao marketing e à imagem, no entanto, a transferência de todo o capital político e a superação da rejeição do ex-presidente, são desafios que precisarão ser vencidos, em paralelo com a análise do êxito ou não do governo Lula", avaliou o cientista político.
A ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro e o marido. Isac Nóbrega/PR
O "fenômeno Bolsonaro" conseguiu dar visibilidade a uma série de atores de fora da política e mostrou robustez para arrastá-los ao Congresso nas últimas eleições. Inclusive, um dos pontos mais debatidos na comparação com o presidente Lula é a eficiência do antecessor em fortalecer e renovar seu campo político com quadros jovens e estreantes no cenário.
Embora Bolsonaro tenha praticamente unificado o voto da direita e conquistado boa fatia do centro, seu impedimento como candidato é percebido por Sousa como o enfraquecimento unicamente da política construída com base no bolsonarismo. Assim, a ampla direta não sofreria grandes riscos.
"A direita possui outras vozes, inclusive de viés mais liberal, ao contrário do perfil mais interventivo e protecionista que tinha o ex-presidente", previu.
Nesse entendimento, o afastamento do ex-presidente dá margem para mais “um exercício de articulação e contemplação de interesses por parte de quem queira emergir como novo, manter capital político antigo ou continuar no poder”, destacou Sousa.