Um levantamento realizado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) aponta que a demora dos estados em adotar medidas de restrição no início da segunda onda da Covid-19 impulsionou o aumento de casos e óbitos. Segundo o autor do estudo, o técnico de planejamento e pesquisa Rodrigo Fracalossi de Moraes, os governos agiram sobretudo de forma reativa em relação à segunda onda, ao contrário da postura preventiva observada anteriormente.
"Ao contrário do ocorrido tanto antes como durante a primeira onda da pandemia da Covid-19, a introdução de medidas rígidas de distanciamento por ocasião da segunda onda aconteceu – na maior parte do país – apenas após decorridos vários dias de sua manifestação e, em alguns casos, nem mesmo quando os números de óbitos cresciam de maneira acelerada", diz o pesquisador em nota técnica publicada pelo Ipea.
##RECOMENDA##Segundo Moraes, as medidas passaram a ser enrijecidas de maneira mais sólida a partir de fevereiro de 2021, "cerca de três meses após o número de novos óbitos voltar a crescer de forma consistente no país." O pesquisador destaca que, apesar da maior gravidade da segunda onda, as medidas ainda se mantêm menos rígidas do que as adotadas antes e durante grande parte da primeira onda.
Ao Uol, o técnico do Ipea diz que os decretos tardios ajudaram na alta de mortes. "Claro que isso é uma coisa probabilística, não determinística. Mas, se a gente compara as medidas que foram tomadas na primeira e na segunda ondas e compara o número de pessoas que morreram nas duas, podemos chegar a essa conclusão", afirma.
O estudo cita quatro estados que são exceção e agiram de forma relativamente rápida: Acre, Ceará e Espírito Santo. Outros estados optaram por não endurecer as medidas ou até relaxaram, como é o caso de Mato Grosso, Rondônia e Tocantins.
"Nota-se que o rigor das medidas foi cerca de 25% menor em março de 2021 ao se considerar dados agregados para o Brasil, tendo se reduzido em 22 das 27 UFs, ainda que o número de óbitos tenha sido bastante mais elevado no segundo período em todas as UFs e onze vezes superior ao se observar dados agregados para o Brasil", diz nota técnica do Ipea.
Moraes acredita que as medidas rígidas de distanciamento são vistas pelos governos como último recurso, quando os sistemas de saúde já estão em situação crítica e não se vislumbra opções adicionais para resolver a situação. "Ademais, em função de longos períodos prévios de isolamento, é possível que grande parte da população esteja experimentando uma 'fadiga', o que diminui sua adesão a normas de distanciamento, ainda que a pandemia se manifeste substancialmente mais grave durante a segunda onda", assinala na nota técnica.
Ao final do estudo, o Ipea oferece duas recomendações: governos devem considerar com urgência a adoção de medidas de distanciamento mais rígidas devido à gravidade da segunda onda e da menor disposição da população em aderir o distanciamento social; e os estados que não possuem planos organizados de distanciamento devem adotá-los com urgência.