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O Brasil testemunhará, nos próximos meses, uma queda de braço entre gigantes que prestam serviços relacionados à internet no país. De um lado, as chamadas big techs, grandes empresas de tecnologia e inovação que desenvolvem bens e oferecem serviços por meio da rede mundial de computadores. Do outro, as empresas de telecomunicações (teles), que fornecem toda a infraestrutura de internet para os lucros das big techs.

O centro da disputa tem dois nomes, mas é uma coisa apenas. As empresas provedoras de internet o chamam de fair share (divisão justa, em português). Já as big techs o chamam de network fee (taxa de rede). Ambos termos se referem à proposta apresentada pelas teles, de dividir os custos de manutenção da infraestrutura necessária à prestação do serviço de internet com as big techs, provedoras de boa parte do conteúdo que circula por essa infraestrutura.

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Conexis

Representante do setor de telecomunicações e de conectividade, a Conexis Brasil Digital (antiga SindiTelebrasil) defende que os as big techs provedoras de conteúdo digital “também remunerem o uso massivo das redes de telecomunicações, para assegurar o crescimento do ecossistema da conectividade como um todo”.

De acordo com a Conexis, as big techs são responsáveis por mais de 82% do tráfego total nas redes móveis, sem que façam qualquer contribuição para melhorar a qualidade das redes. “Para o setor de telecomunicações, é essencial que se estabeleça a obrigatoriedade de uma justa contribuição dos provedores de conteúdo digital pelo uso das redes das empresas detentoras dessas infraestruturas de telecomunicações”, informou à Agência Brasil a entidade.

Ainda segundo a Conexis, o crescimento do uso das redes tem se mostrado “um desafio para os investimentos das operadoras”, e isso gera um aumento nos custos inversamente proporcional ao valor cobrado dos usuários.

“Enquanto o tráfego de internet no Brasil cresceu 62,7% na última década e, em cinco anos, a demanda por investimento nas redes subiu 50%, nos últimos cinco anos houve uma queda real de 9% nas receitas de telecomunicações, fruto de um mercado competitivo onde o preço acaba sendo um diferencial para a conquista dos clientes”, complementou.

A Conexis acrescenta que muitos dos serviços oferecidos pelos provedores de internet tiveram uma “rápida evolução”, e que isso acabou por criar um ambiente de concorrência desequilibrada entre as big techs e as empresas de telecomunicações, uma vez que estas precisam manter a infraestrutura com “massivo investimento”, enquanto as big techs, que são as grandes usuárias, não pagam pelo uso destas redes.

AIA

Diante dessa situação e da possibilidade de serem taxadas pelo uso da infraestrutura das operadoras de internet, gigantes das big techs (como Google, Meta, Netflix, Kwai, Mercado Livre e Amazon, bem como associações de emissoras de rádio e televisão, de empresas de inteligência artificial, de softwares e de telemedicina, entre outras) se juntaram e criaram uma entidade com o propósito único de evitar a nova taxa sugerida pelas empresas operadoras de telecomunicações: a Aliança pela Internet Aberta (AIA).

Para o cargo de presidente, a AIA escalou o ex-deputado pelo PSB do Rio de Janeiro Alexandre Molon, que tem feito o papel de porta-voz da entidade.

Durante o lançamento da Aliança, Molon disse que “o debate está invertido”, uma vez que as pessoas pagam pelo acesso à internet para ter acesso aos conteúdos ali disponibilizados. “Isso, portanto, não é problema, mas a razão de existência da internet”, argumentou.

Molon acrescenta que a infraestrutura usada para viabilizar o serviço de internet não é custeada pelas empresas de telecomunicações, e sim pelos consumidores que já pagam pelo serviço.

A Aliança defende mais transparência, por parte das teles, no sentido de identificar o real custo dessa infraestrutura para, a partir dele, ampliar o debate sobre o assunto. “Quanto se gasta para manter essa infraestrutura? As telecons precisam apresentar os dados de custos e gastos para manutenção dessa infraestrutura. Ao que parece, os números são muito positivos. É preciso identificar o real custo e debater em cima dele”, questionou.

Anatel

A Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) informou que pretende, no início de 2024, promover uma série de debates sobre a cobrança da nova taxa.

“A complexidade do tema nos leva a fazer uma tomada de subsídios. Nesse sentido, está prevista uma audiência sobre o tema em janeiro. Faremos análises de impacto para então encaminharmos visando à construção de propostas”, disse o presidente da Anatel, Carlos Baigorri, durante a cerimônia de lançamento da AIA.

“Faremos primeiro uma tomada de subsídios para identificação de problemas e, na sequência, a consulta pública”, acrescentou.

Impactos

Para Alessandro Molon, a taxa sugerida pelas teles pode impactar negativamente e de forma transversal os serviços de diversos setores, além de prejudicar a concorrência. Pode também afetar o acesso de usuários de regiões que não são atendidas pelos grandes provedores de internet – motivo pelo qual sua entidade conta com a participação de pequenos provedores de internet.

“Terá reflexos também no futuro da inclusão digital e na transformação digital no Brasil, bem como nos investimentos em inovação; na telemedicina e na saúde digital; nas startups; nas empresas nacionais de inteligência artificial; na cultura e no entretenimento”, complementou.

Gerente médico do Centro de Telemedicina do Einstein, Carlos Pedrotti explica que o setor de saúde usa cada vez mais a rede mundial de computadores para gerar, transmitir e armazenar dados. “É um serviço cada vez mais complexo. Na última década, a geração de dados tem crescido 36% ao ano. Há exames com mais de 20 mil imagens com resolução em 3D. Falamos de algo na ordem de terabytes para apenas um exame”, disse.

Segundo Pedrotti, a previsão é que, até 2028, de 10% a 30% dos dados que circularão pela internet estejam relacionados ao setor de saúde. “São números que aumentarão exponencialmente. Para otimizar custos, enviamos esses dados às nuvens”, acrescentou.

Inteligência artificial

Outro setor que deverá usar cada vez mais a internet para a prestação de serviços é o da inteligência artificial. “Ainda não é possível prevermos o quanto, mas a geração de conteúdo dos próximos anos será absurda. A inteligência artificial se baseia em uma imensa quantidade de dados, para trabalhar em cima deles, identificando modelos e padrões para as mais diversas áreas”, explica o presidente da Associação Brasileira de Inteligência Artificial, Valter Wolf.

A necessidade de garantir a segurança para transmissão e armazenamento dessa grande quantidade de dados tem levado diversas big techs a investir também em infraestrutura para armazenamento e transmissão de dados, sem a necessidade de uma nova taxa.

Molon, da AIA, diz que há casos de empresas que montaram estruturas próprias, “inclusive com a instalação de cabos submarinos, construção de data centers e CDNs [redes de entrega de conteúdo; servidores interconectados que aceleram o carregamento de um site]”.

 

O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), prorrogou por 60 dias o inquérito que investiga os diretores do Google e do Telegram no Brasil, em razão da campanha contra a aprovação do PL das Fake News na Câmara. O ministro atendeu pedido da Polícia Federal (PF) e da Procuradoria-Geral da República (PGR), que apontaram a necessidade de seguir com as investigações.

O inquérito foi aberto em maio passado para apurar os responsáveis pelos ataques ao projeto. A investigação atende a pedido do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), que acusou as plataformas de usarem posições privilegiadas para "incutir nos consumidores de seus conteúdos a falsa ideia de que o projeto de lei em apreço é prejudicial ao Brasil".

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Enquanto o projeto estava em discussão na Câmara, o Google inseriu em seu buscador um link com o texto: "O PL das fake news pode aumentar a confusão sobre o que é verdade ou mentira no Brasil". O Telegram disparou uma mensagem em massa, a todos os seus milhões de usuários, dizendo que o projeto de lei "irá acabar com a liberdade de expressão".

As maiores operadoras do País - Vivo, Claro e TIM - estão reavaliando a oferta de pacotes de internet móvel com o uso liberado (sem cobrança de tráfego de dados) de certos aplicativos, como WhatsApp, Twitter e YouTube, entre outros.

Essa estratégia comercial (chamada pelo jargão de zero rating) avançou ao longo dos últimos anos, como uma isca para atrair clientes entusiastas de redes sociais, vídeo e música. A iniciativa, porém, se transformou em um problema para as teles.

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A quantidade de dados que esses aplicativos movimentam deu um salto com a popularização do 4G e tende a aumentar ainda mais com o 5G. Por sua vez, as operadoras buscam maximizar o faturamento para fazer frente aos investimentos na capacidade das redes e na atualização das tecnologias.

Ao mesmo tempo, está crescendo ao redor do mundo a discussão sobre um potencial pagamento pelo uso das redes pelas empresas gigantes de tecnologia. A disputa envolve big techs como Netflix, Google, Meta, Amazon, entre outras, às operadoras de internet móvel e fixa. Essas empresas são as principais geradoras de tráfego de dados.

"Não tenho dúvida que o zero rating foi um erro, um equívoco", afirmou o presidente da Claro, José Félix, em entrevista recente. Essa prática, entretanto, tende a ser revista, segundo o executivo. "Não há nada que não possa ser consertado".

Mas, no caso da Claro, isso ainda está longe de acontecer. A companhia oferece o uso ilimitado de WhatsApp, Waze, Instagram, TikTok e Facebook em diferentes planos pré e pós-pagos. Quanto maior o valor do plano, maior a oferta de aplicativos.

Por sua vez, a Vivo afirma que está em um processo gradativo de corte dessa política comercial. Entre as ofertas da tele, o WhatsApp é o único aplicativo liberado na grande maioria dos planos pré e pós-pagos. Há poucas exceções que incluem o Waze também.

"Temos alguns planos com zero rating, mas não é o nosso padrão. Cada vez mais nós temos diminuído a oferta de aplicativos com uso ilimitado para o mercado, porque entendemos que existe a necessidade de remunerar o investimento feito na rede", disse ao Broadcast o vice-presidente de negócios da Vivo, Alex Salgado.

Divisão

Na avaliação do executivo, oferecer o uso de aplicativos sem cobrar pelo tráfego de dados é uma prática incoerente com a mobilização das operadoras do mundo todo para pressionar as gigantes de tecnologia a contribuir com a manutenção das redes. "Para mim, não é condizente questionar o fair share(divisão de custos das redes) e ter zero rating nos planos. Então, aos poucos, nós estamos tirando ou diminuindo esta estratégia", afirmou Salgado.

Já na TIM, esse é um tema que está sob avaliação. Nos planos pré-pagos, a companhia oferece WhatsApp e Deezer sem descontar na franquia de internet. Já nos planos pós, a oferta abrange mais aplicativos, como Instagram, Facebook, Twitter (o uso ilimitado pode durar apenas alguns meses).

O diretor de receitas da TIM, Fábio Avellar, explica que a companhia busca ampliar as suas fontes de faturamento para fazer frente aos investimentos nas redes. A companhia é a que mais instalou antenas para o sinal de 5G, por exemplo.

Dentro desse contexto, a política de zero rating serve como um chamariz para a clientela, mas é praticado de forma conservadora. "Ter um tráfego que não é remunerado sempre vai gerar um prejuízo. Nos cabe avaliar se isso atrai clientes suficientemente a mais a ponto de não tirarmos esse benefício", disse.

Sete Big Techs globais serão alvos de vigilância do poder Executivo da União Europeia com base em novas regras antitruste estabelecidas pela Lei de Serviços Digitais.

A medida será imposta às americanas Google, Apple, Meta, Amazon e Microsoft, à chinesa ByteDance (dona do TikTok) e à sul-coreana Samsung.

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O anúncio foi feito pelo comissário de Indústria da União Europeia, Thierry Breton. Segundo ele, essas empresas "têm dimensões que incidem sobre o mercado interno" e, por isso, são classificadas como "gatekeepers", ou seja, têm o potencial de criar eventuais distorções na economia digital.

Até o dia 6 de setembro, será divulgada uma nova lista de empresas com maior poder de mercado, e a partir dessa data as companhias terão um prazo de seis meses para comprovar a adequação à Lei de Serviços Digitais. O cumprimento das medidas será uma condição obrigatória para que as multinacionais permaneçam no mercado europeu.

A UE também lançou novos protocolos para garantir "uma aplicação mais rigorosa" do regulamento europeu acerca de privacidade. Segundo a Comissão Europeia, um dos objetivos será o de cooperar internacionalmente pela proteção de dados, especialmente em casos relacionados às Big Techs que envolvam mais de um país.

"A proposta vai contribuir para diminuir disputas e facilitar o consenso entre as autoridades desde as fases iniciais de investigações", afirmou o comissário europeu de Justiça, Didier Reynders. 

Da Ansa

A mobilização das gigantes da tecnologia foi um dos fatores que impediu a votação do Projeto de Lei das Fake News. A avaliação é do presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL).

“Uma mobilização das chamadas big techs, que ultrapassou os limites do contraditório democrático, ao lado da interpretação de alguns quanto a possíveis restrições à liberdade de expressão, não nos facultou reunir as condições políticas necessárias para levar este projeto à votação”, justificou o presidente da Câmara, nesta segunda-feira (26), durante evento em Lisboa, Portugal.

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A urgência do projeto de lei que regulamenta as plataformas digitais foi aprovada pelo plenário da Casa no final de abril. A aprovação da urgência permite votar o texto em qualquer momento, sem necessidade de tramitar pelas comissões temáticas da Câmara. Porém, o projeto acabou sendo retirado de pauta no início de maio.

Lira disse que espera “no futuro não muito distante” colocar o tema em votação novamente. Para o presidente da Câmara, “sem a devida regulação legislativa do novo ambiente informacional no Brasil, a arena política se assemelhará mais e mais a um estado de natureza hobbesiano. Uma guerra de todos contra todos baseada na apreensão arbitrária ou sectária da realidade. Uma polarização que não permitirá a necessária construção de consensos e soluções democráticas”.

Big techs

Durante as discussões do relatório que cria a Lei Brasileira de Liberdade, Responsabilidade e Transparência na Internet, o PL das Fake News, o Google divulgou na página principal de busca da sua plataforma um texto crítico ao projeto relatado pelo deputado federal Orlando Silva (PCdoB-SP).

E no estudo A guerra das plataformas contra o PL 2630, pesquisadores apontaram indícios de que o Google e a Meta (dona do Facebook) estariam apresentando resultados de busca enviesados com objetivo de favorecer os conteúdos críticos ao projeto de lei.

As plataformas negaram interferência nos resultados de busca. Diante das acusações, um inquérito foi aberto no Supremo Tribunal Federal (STF) para investigar a atuação dos dirigentes do Google e do Telegram na tramitação do projeto na Câmara.

Desinformação

A integrante do Direito à Comunicação e Democracia (DiraCom) e da Coalizão Direitos na Rede, Bia Barbosa, que atuou na Câmara a favor do PL das Fake News, avalia que as empresas promoveram desinformação em relação ao projeto.

Ela disse que houve uma presença ostensiva das plataformas no Parlamento para evitar a sua aprovação. “Isso é natural do ponto de vista do jogo democrático”, disse. Porém, a especialista alega que as empresas “distorceram os impactos do projeto para os parlamentares a ponto de convencer uma parcela a não votar no texto. Isso foi feito tanto nessa interlocução com os parlamentares, mas também na atuação pública das plataformas”.

Bia Barbosa lembra que as empresas divulgaram que o PL iria “piorar a internet”. “Foi uma argumentação extremamente genérica que elas usaram e que não se sustentava em nenhum aspecto dos pontos que estavam colocados no texto”.  

Em outra ação, as plataformas alegaram que o projeto de lei acabaria com os pequenos negócios na internet. “Não houve nenhum impedimento para que pequenos negócios continuassem anunciando nas redes. O que havia no projeto de lei era uma previsão de que as plataformas tivessem transparência nos dados que elas utilizavam para direcionar esse conteúdo. O problema é que com a obrigação de transparência ficaria muito claro que elas estariam violando a lei geral de proteção de dados pessoais”, explicou Bia Barbosa.

 

O ex-presidente Jair Bolsonaro determinou à bancada do seu partido, o PL, que vote em peso contra a possibilidade de veículos de comunicação conquistarem o direito de serem remunerados pelos conteúdos que produzem e são divulgados pelas plataformas digitais. A proposta de obrigar Googgle, Facebook e outras corporações a pagarem pela reprodução do conteúdo jornalístico produzido pela imprensa está no projeto de lei 2630, o PL das Fake News.

Bolsonaro, que quando exercia o comando do Poder Executivo, chegou a declarar guerra a jornais e emissoras de televisão, tenta reforçar a pressão contra a medida que pode favorecer os veículos de comunicação. Nas últimas semanas o ex-presidente vem tendo seu nome exposto na imprensa por conta das seguidas vezes que foi intimado a prestar depoimento à Polícia Federal.

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De seu envolvimento com ações que estimularam atos golpistas a tentativa de entrar no País com joias da Arábia sem declarar à Receita Federal, Bolsonaro teve seu celular apreendido pela PF. O resultado da perícia ainda em andamento é visto com receio por seus aliados. Com hábito de mandar áudios e mensagens por aplicativos via celular, o ex-presidente pode ter deixado provas contra si no aparelho que está com os policiais federais.

O partido tem Bolsonaro tinha a maior bancada na Câmara, onde tramita o projeto das Fake News. São 99 deputados. Já o PT do presidente Luiz Inácio Lula da Silva elegeu 68 deputados. Com a formação de blocos partidários, legendas do centro assumiram o posto que era do PL de maior grupo político na Casa legislativa.

O bloco que reúne União Brasil, Progressistas, PSDB, Cidadania, PDT, PSB, Avante, Solidariedade e Patriota têm 173 integrantes. Em segundo lugar aparece o bloco do MDB, PSD, Republicanos, Podemos e PSC, com 142 deputados. O PL de Bolsonaro está em terceiro.

Desde que o projeto das Fake News teve sua tramitação retomada na atual gestão do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), os integrantes da legenda de Bolsonaro já vinha tentando embarreirar a votação de toda proposta. Foram contra o requerimento que deu caráter de urgência à proposta e passaram a usar suas redes sociais e os microfones da Casa no plenário para atacar o projeto.

Com a possibilidade de a remuneração à imprensa ser votada separadamente, como defende parte das lideranças governistas, Bolsonaro decidiu agir. Não quer que o setor que ele vê como inimigo tenha o direito de ser remunerado pelo conteúdo que produz.

O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), determinou que o Google, Meta, Spotify e Brasil Paralelo removam em até 1h todos os anúncios e conteúdos, veiculados a partir do blog do Google, que promovem ataques ao PL das Fake News. Ele fixou multa de R$ 150 mil por hora de descumprimento a cada anúncio.

"As empresas, em 48 horas deverão remeter relatório circunstanciado sobre os anúncios realizados e valores investidos, bem como os termos sugeridos pelo

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buscador Google relativos ao assunto", determinou o ministro.

O Google e a Meta também deverão explicar, em até 48h, os métodos e algoritmos de

impulsionamento relacionados à busca sobre "PL da Censura". Já o Spotify e o Brasil Paralelo devem explicar por que impulsionaram o anúncio do Google.

As plataformas devem informar, ainda em 48h, quais providências realizaram para combater práticas criminosas e desinformação nos seus serviços.

Na mesma decisão, o ministro deu cinco dias para a Polícia Federal (PF) ouvir os presidentes ou representantes das empresas.

Oitivas de executivos

Moraes também determinou que a Polícia Federal (PF) ouça em até cinco dias os presidentes do Google, Meta, Spotify e Brasil Paralelo para que esclareçam a manipulação de algoritmos para apresentar conteúdos contrários à aprovação do PL das Fake News. A decisão foi tomada no inquérito 4781, o chamado "inquérito das fake news".

"Com absoluto respeito à liberdade de expressão, as condutas dos provedores de redes sociais e de serviços de mensageria privada e seus dirigentes precisam ser devidamente investigadas, pois são remuneradas por impulsionamentos e monetização, bem como há o direcionamento dos assuntos pelos algoritmos, podendo configurar responsabilidade civil e administrativa das empresas e penal de seus representantes legais", apontou o ministro na decisão.

Moraes cita um estudo realizado pelo NetLab, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), que apontou que as plataformas estão usando seus recursos para influenciar negativamente a percepção dos usuários sobre o projeto de lei.

A atuação indevida das plataformas, apontada pelo estudo, inclui o impulsionamento do Google de um site próprio chamando a proposta de "PL da Censura"; um anúncio da Brasil Paralelo no Google mostrado como primeiro resultado ao pesquisar por "pl2630" e a veiculação de um anúncio do Google contra o PL pelo Spotify.

O ministro já se posicionou favoravelmente à regulamentação das redes sociais e enviou, enquanto presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), uma série de sugestões para o PL das Fake News. Os ministros Gilmar Mendes e Luís Roberto Barroso também já defenderam abertamente a regulação das plataformas.

Na decisão, Moraes aponta que a "evidente e perigosa instrumentalização dos provedores" para a prática de crimes "pode configurar responsabilidade civil e administrativas das empresas, além da responsabilidade penal de seus administradores por instigação e participação criminosa".

A Procuradoria da República em São Paulo deu dez dias para a Google e a Meta (empresa responsável pelo Facebook, Instagram e WhatsApp) se manifestarem sobre os indícios de boicote ao Projeto de Lei nº 2630/2020, o PL das Fake News, que deve ser votado nesta terça-feira, 2, na Câmara dos Deputados.

O ofício cita suspeitas de que as empresas usaram a própria estrutura para lançar uma campanha contra o projeto, o que na avaliação do órgão "parece estar fora do âmbito de condutas que sujeitos alvo de propostas de regulação podem adotar em um debate democrático".

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"Trata-se, aqui, não da participação pública e transparente em uma discussão regulatória em curso (por meio, por exemplo, de reuniões e conversas com parlamentares, de publicação de artigos em jornais e revistas, e de publicidade declarada como tal, perante a população), mas sim do uso, por plataformas potencialmente afetadas, dos meios que elas controlam, com exclusividade, para impulsionar, de forma opaca e escapando de qualquer accountability, a percepção que lhes interessa sobre um tema de inegável importância pública", escreve o procurador da República Yuri Corrêa da Luz.

O Ministério Público Federal afirma que, se as suspeitas forem confirmadas, as plataformas podem ser responsabilizadas por violar direitos fundamentais à informação, à transparência nas relações de consumo e ao exercício da cidadania dos usuários.

As big techs foram notificadas em um inquérito civil, aberto em 2021, que se debruça sobre as iniciativas das principais plataformas de redes sociais e aplicativos de mensagem para conter o compartilhamento de conteúdos falsos e de ódio.

A investigação gira em torno das políticas de moderação de conteúdo, dos canais disponibilizados para denúncias e da transparência na prestação de contas pelas redes sociais.

Impulsionamento

O documento da Procuradoria em São Paulo cita um estudo da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) que mostra como o Google teria impulsionado páginas críticas ao PL das Fake News. Isso quer dizer que, quando um usuário usou a plataforma para buscar informações sobre o projeto de lei, teria sido direcionado a resultados enviesados.

"Em meio às recomendações de fontes da mídia de legado e sites oficiais, o Google também tem redirecionado usuários para sites nocivos e hiper partidários na primeira página dos resultados de busca", diz um trecho do relatório da pesquisa.

Uma dinâmica parecida teria sido encontrada no YouTube, com o favorecimento de vídeos e canais críticos ao projeto. Usuários também denunciaram que a plataforma estaria pressionando criadores de conteúdo ao disparar avisos de que a aprovação do PL iria prejudicá-los diretamente.

Nesta segunda-feira, a página inicial de pesquisas do Google passou a exibir uma mensagem de alerta para todos os usuários, afirmando que o PL pode "piorar sua internet". Os internautas que clicam no alerta são direcionados para um artigo de opinião do Diretor de Relações Governamentais e Políticas Públicas do Google Brasil, Marcelo Lacerda, que acusa o projeto de lei de "aumentar a confusão entre o que é verdade e mentira no Brasil"

A Meta, por sua vez, teria exibido anúncios contra o PL, sem identificá-los como conteúdos patrocinados. Alguns desses anúncios, segundo o levantamento da UFRJ, estariam sendo pagos pela Google.

O que as empresas devem responder?

A Google precisa dizer quais critérios usou para ranquear conteúdos no buscador e no YouTube, apontando especificamente se os resultados reunidos nas primeiras páginas foram pagos para ter maior visibilidade.

A empresa também deve prestar informações sobre os termos sugeridos quando os usuários pesquisaram por PL 2630. As buscas associadas sugerem o termo "PL da Censura".

A Meta deve enviar a lista completa de anúncios envolvendo o projeto de lei contratados pela Google e os dados sobre o alcance e o custo desses propagandas.

O que diz o PL?

O PL das Fake News pretende criar a Lei Brasileira de Liberdade, Responsabilidade e Transparência na Internet. O objetivo é ampliar as situações em que as redes sociais, aplicativos de mensagem e ferramentas de busca podem ser responsabilizados por conteúdos publicados pelos usuários, ou seja, na prática o texto aumenta a pressão sobre as plataformas.

O relator é o deputado Orlando Silva (PCdoB-SP). A versão final exige uma ação diligente na remoção de publicações que incitem atos antidemocráticos, terrorismo e crimes contra a criança e o adolescente, por exemplo.

Depois de anunciar, em janeiro deste ano, que iria demitir 12 mil pessoas no mundo inteiro, o Google começou a comunicar ontem o escritório brasileiro sobre cortes na operação local. Segundo apurou o Estadão, funcionários no País já estão sendo notificados por e-mail sobre a decisão da companhia, justificada como um movimento de "reestruturação" de equipes.

Entre as áreas atingidas, estão profissionais que trabalhavam com produtos financeiros, YouTube, marketing e publicidade. Procurada, a empresa não informou quantos funcionários foram dispensados ou quais áreas foram mais afetadas - internamente, comenta-se que o Brasil foi menos afetado do que outros países.

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No anúncio global, a empresa havia informado que para funcionários demitidos, o pacote de rescisão seguiria a orientação da lei trabalhista de cada país. Nos EUA, por exemplo, a companhia garantiu um pacote de continuação de salário por 16 semanas, com um adicional de duas semanas para cada ano que o funcionário passou na empresa, além de plano de saúde por seis meses. No Brasil, porém, ainda não há informação sobre os benefícios.

NO MUNDO

Os cortes globais foram anunciados no final de janeiro, por e-mail. Na mensagem, Sundar Pichai, presidente do Google, assumiu total responsabilidade pelas demissões e afirmou que a empresa está em um momento de "escolhas" e, por isso, precisa reestruturar as posições de trabalho. Pichai ainda cita os investimentos em inteligência artificial (IA) como uma oportunidade de guiar a companhia para tempos melhores.

"Realizamos uma revisão rigorosa em todas as áreas e funções de produtos para garantir que nosso pessoal e funções estejam alinhados com nossas maiores prioridades como empresa. As funções que estamos eliminando refletem o resultado dessa revisão. Eles atravessam a Alphabet, áreas de produtos, funções, níveis e regiões", afirmou Pichai.

YAHOO

Segundo o portal Axios, o Yahoo planeja demitir 20% da força de trabalho da empresa. No total, o número representa mais de 1,6 mil empregados em todo o mundo. Conforme o site, o corte já atingiu 12% dos funcionários, e espera-se que o restante seja demitido no segundo semestre deste ano.

As demissões estão centradas principalmente na área de publicidade digital, na qual o Yahoo faz competição com o Google e Meta. A companhia fez uma série de aquisições de adtechs (empresas de tecnologia focadas em anúncios) entre 2015 e 2017, em esforço para competir com as duas big techs.

A dois meses da eleição, as plataformas de tecnologia - como aplicativos de mensagens, redes sociais e sites de veiculação de vídeos - ainda representam entraves no enfrentamento às fake news, aponta relatório de pesquisadores do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Democracia Digital (INCT.DD), da Universidade Federal da Bahia (UFBA). Apesar de firmarem memorando de entendimento com o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), as big techs falham na checagem de conteúdos, na agilidade para processar denúncias e na transparência para combater a desinformação, segundo o relatório.

O levantamento é dos pesquisadores Rodrigo Carreiro e Maria Paula Almada sobre o acordo feito pelas plataformas digitais com o TSE em fevereiro deste ano. Carreiro e Almada acompanham o cumprimento dos memorandos da Corte por Meta (Facebook, Instagram e WhatsApp), Google (YouTube), TikTok, Twitter, Telegram e Kwai. Eles pontuaram também a situação do LinkedIn e do Spotify, que firmaram o acordo mais tardiamente. A maioria das ações já foi implementada, mas há ainda brechas que reforçam a preocupação com a desinformação no período eleitoral.

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A celeridade, ou a falta dela, é um dos pontos destacados pelos pesquisadores. "O processo eleitoral é muito dinâmico e, desde o último pleito, o período de campanha oficial foi reduzido para cerca de dois meses", diz o texto. De acordo com Carreiro, o prazo ideal para se analisar e retirar conteúdos duvidosos do ar seria entre 24 horas e 48 horas. Hoje, não há um prazo.

"Embora as plataformas tenham demonstrado algum interesse em resolver o problema (da desinformação), os avanços significativos e mais práticos são bem pequenos, bem superficiais, em relação ao problema", disse Carreiro.

O Estadão questionou as empresas sobre qual o prazo-limite para processar uma denúncia, mas nenhuma delas respondeu. Procurado, o TSE admitiu que a agilidade na resolução de casos de desinformação é um dos tópicos em que se deve avançar no relacionamento com as plataformas digitais. "Há margem para avanços no campo da transparência, na celeridade do tratamento dos apontamentos de desinformação, no suporte a agências de checagem de fatos, e, ainda, em questões relacionadas com a monetização."

A Corte informou ainda que oito servidores públicos estão dedicados à atuação com as plataformas - número que tende a aumentar à medida que a votação se aproxima.

BRECHAS

O relatório destaca, em especial, brechas nas redes sociais do grupo Meta (Facebook, WhatsApp e Instagram) e no Google (YouTube). O Facebook, por exemplo, não garante que notícias falsas serão removidas, mas terão apenas o alcance reduzido. Para os pesquisadores, a medida não enfrenta o problema, "apenas dá mais trabalho para os propagadores desse tipo de conteúdo, que pode ser replicado infinitamente por diversos perfis diferentes", algo não considerado no memorando.

Em nota, o Meta diz que Facebook e Instagram criaram canais diretos de denúncias para o TSE e exibirão, em breve, lembretes sobre o dia de votação no Brasil. O grupo afirma ter um núcleo de segurança e integridade com mais de 40 mil colaboradores, que também vão atuar no Brasil, sem revelar o contingente.

Sobre o WhatsApp, o relatório aponta que a identificação da origem do conteúdo é "crucial" para punir casos graves. Porém, aplicativos de mensagens não verificam conteúdos trocados entre os usuários em razão da criptografia. A inteligência artificial do WhatsApp consegue apenas rastrear um volume suspeito de mensagens disparadas em massa.

Conteúdos ainda que sabidamente falsos não recebem um alerta imediato para a checagem. Ao Estadão, o WhatsApp afirmou que já estabeleceu parceria com cinco agências de checagem de fatos, e espera ainda a inclusão de pelo menos mais uma.

Segundo o relatório, o Twitter aplicou todas as medidas firmadas no memorando com o TSE. Em julho, a rede social anunciou um novo pacote de medidas para combater a desinformação.

A Comissão Europeia apresentou hoje propostas de leis que fortalecem a regulação de grandes empresas de tecnologia e, em alguns casos, preveem cobrança de multas de até 10% da receita mundial anual dos conglomerados ou separação de companhias para impedir abusos de concorrência. Sem mencionar alvos específicos, as medidas são aplicáveis à redes sociais, serviços de busca e intermediadores digitais que operam na União Europeia (UE), o que envolve os serviços oferecidos por algumas das grandes empresas americanas.

A intenção é prevenir situações "injustas" a consumidores e proibir práticas neste sentido, como o bloqueio da desinstalação de softwares ou aplicativos previamente instalados. "Para infratores recorrentes, as sanções podem também envolver a obrigação de tomar medidas estruturais, podendo estender-se à alienação de certos negócios, quando nenhuma outra medida alternativa igualmente eficaz estiver disponível para garantir o cumprimento", afirma o documento.

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O próximo passo é levar a proposta à discussão no Parlamento Europeu e aos Estados Membros, com base no processo legislativo ordinário. Em caso de adoção, o texto passa a valer para toda a UE.

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