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Quase um mês após o Talibã assumir o controle do Afeganistão, Rabia, de 35 anos, tomou uma decisão difícil: superar o medo do novo governo e voltar a trabalhar no aeroporto de Cabul.

Esta mãe de três filhos, maquiada e vestida com paletó azul, está ciente do perigo, especialmente desde o atentado suicida em frente ao aeroporto em 26 de agosto, durante a caótica retirada de estrangeiros e afegãos que queriam fugir do novo governo.

Mas, diz ela, não tem outra escolha. "Preciso de dinheiro para atender às necessidades de minha família", explica à AFP.

Desde 2010, trabalha no terminal da GAAC, empresa com sede nos Emirados Árabes Unidos que presta serviços de assistência e gestão de segurança.

"Eu estava nervosa em casa, estava com medo, não conseguia nem falar", acrescenta. "Eu me sentia muito mal. Agora me sinto melhor".

As mulheres que trabalhavam no aeroporto antes de o Talibã assumir o poder em 15 de agosto estão entre as poucas afegãs que receberam permissão dos fundamentalistas islâmicos a voltar ao trabalho. Mas das mais de 80 funcionárias que o local tinha, apenas 12 - Rabia entre elas - concordaram em retornar.

No sábado, seis delas conversavam e riam na entrada do aeroporto principal, esperando para checar os passageiros dos poucos voos domésticos.

"Tive muito medo" 

Qudssiya Jamal, irmã de Rabia, admite que ficou "chocada" com o retorno ao poder do Talibã.

"Fiquei com muito medo", disse a mulher, mãe de cinco filhos, à AFP.

Aos 49 anos, ela sustenta a casa sozinha. "Minha família ficou com medo por mim, me disseram para não voltar [ao trabalho], mas agora estou feliz. Até agora, não houve problemas".

O Talibã prometeu respeitar os direitos das mulheres, esmagados durante seu primeiro mandato, de 1996 a 2001.

Deram um passo à frente esta semana, permitindo que as mulheres continuem a estudar na universidade, algo que antes eram proibidas de fazer.

Mas sob condições estritas: usar véu completo e em aulas separadas dos homens ou divididas por uma cortina se houver poucas meninas.

Neste domingo, uma autoridade do novo governo confirmou que serão proibidas as aulas mistas nas universidades, permitidas pelo governo deposto em meados de agosto.

Alison Davidian, representante no Afeganistão da entidade ONU Mulheres, afirmou que, embora o Talibã garanta que "os direitos das mulheres serão respeitados no âmbito do Islã [...], todos os dias recebemos relatórios que mostram retrocessos".

No aeroporto, Rabia diz que continuará trabalhando até ser forçada a parar.

O novo regime indicou que as mulheres poderão trabalhar "de acordo com os princípios do Islã", embora não tenha esclarecido o que exatamente isso significa.

"Meu sonho é ser a mulher mais rica do Afeganistão. Acho que ainda sou a mais sortuda [...] farei o que gosto até que a sorte não esteja mais do meu lado", diz Rabia.

Sua colega Zala tem um sonho completamente diferente. Esta jovem de 30 anos, que tinha aulas de francês em um instituto em Cabul, teve que desistir e ficar em casa por três semanas depois que o Talibã voltou ao poder.

"Bonjour, leve-me a Paris", desabafa, balbuciando em francês, na frente das colegas, que caem na gargalhada. "Mas hoje não. Hoje sou uma das últimas mulheres [a trabalhar] no aeroporto."

Os Estados Unidos desmentiram nesta terça-feira (31) que seus militares tenham abandonado alguns dos seus cães no aeroporto de Cabul na retirada final do Afeganistão.

"Ao contrário das informações imprecisas, o exército americano não deixou cães em jaulas no aeroporto internacional Hamid Karzai, e particularmente nenhum suposto cão militar", garantiu o porta-voz do Pentágono, John Kirby.

Fotos difundidas nas redes sociais mostram cães em refúgios de animais no Afeganistão que não estão sob a responsabilidade do exército americano, acrescentou o funcionário no Twitter.

Citando fontes apresentadas como confiáveis, a organização de defesa dos animais PETA fez mais cedo ao presidente Joe Biden para que intervenha e permita a repatriação dos cães.

A associação evocou a situação de "cerca de 70 cães antiexplosivos sentados em jaulas na pista do aeroporto" e outros 60 de diferentes especialidades, "trancados em um canil em um hangar do aeroporto, sofrendo calor, sem acesso suficiente a água ou comida".

"Além disso, dezenas de animais de estimação que pertencem a famílias americanas evacuadas (...) aparentemente foram soltos (...), com poucas chances de sobreviver", afirmou a PETA.

Ainda restam "300 americanos ou menos" para retirar do Afeganistão, afirmou neste domingo o secretário de Estado, Antony Blinken, ao canal ABC.

"Estamos trabalhando incansavelmente (...) para retirá-los", disse, a 48 horas do fim do prazo para a saída dos Estados Unidos.

Quase 114.400 pessoas, incluindo 5.500 cidadãos americanos, foram retiradas do Afeganistão por uma ponte aérea desde 14 de agosto, véspera da tomada de Cabul pelos talibãs.

Aqueles que escolheram permanecer no país "não ficarão presos no Afeganistão", declarou ao canal Fox o conselheiro de Segurança Nacional do presidente Joe Biden, Jake Sullivan, sem especificar quantos são.

"Vamos assegurar um mecanismo para retirá-los do país caso desejem retornar no futuro", disse, antes de acrescentar que "os talibãs se comprometeram" com isto.

Ao falar sobre o ataque americano de sábado em represália ao atentado de quinta-feira, que matou mais de 100 pessoas, incluindo 13 soldados de seu país, Sullivan afirmou que os alvos do bombardeio - dois morreram e um ficou ferido - eram "operadores e organizadores envolvidos no transporte e fabricação de artefatos explosivos".

Os alvos pertencem ao grupo Estado Islâmico de Khorasan (EI-K), que reivindicou a responsabilidade do atentado de quinta-feira.

O presidente Joe Biden e a primeira-dama Jill Biden viajam neste domingo à base de Dover, Delaware, para a cerimônia fúnebre em homenagem aos 13 soldados mortos em Cabul.

Uma explosão provocada por um lançamento de foguete foi ouvida neste domingo (29) à tarde em Cabul, o que provocou o temor de um novo ataque três dias após o atentado no aeroporto da capital afegã, onde os países ocidentais concluem as operações de retirada.

A explosão, ouvida por jornalistas da AFP, foi provocada pelo lançamento de foguetes que, segundo as primeiras informações atingiram uma casa", afirmou um ex-funcionário do governo derrubado há duas semanas pelos talibãs.

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Na quinta-feira, um atentado suicida reivindicado pelo grupo Estado Islâmico de Khorasan (EI-K), adversário do novo regime talibã, provocou um banho de sangue, com mais de 100 mortos, em sua maioria civis afegãos concentrados nas proximidades do aeroporto com a esperança de fugir do país, assim como 13 soldados americanos.

No sábado, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, considerou "muito provável" um novo ataque antes da retirada das tropas americanas em 31 de agosto.

Os talibãs recuperaram de forma repentina o poder em 15 de agosto e entraram em Cabul sem qualquer resistência após o colapso do exército afegão, antes apoiado pelos Estados Unidos e países aliados, que já haviam iniciado a retirada do país.

Desde então, mais de 110.000 pessoas foram retiradas do país em aviões fretados por países ocidentais, que decolam em turnos da pista do aeroporto de Cabul.

A Rússia condenou, nesta sexta-feira (27), "nos mais duros termos", o atentado suicida reivindicado pelo grupo Estado Islâmico (EI), cometido ontem nos arredores do aeroporto de Cabul e que deixou 85 mortos - declarou o porta-voz do Kremlin, Dimitri Peskov.

"Infelizmente, as pessimistas previsões que antecipavam que grupos terroristas, em especial o EI, iriam se aproveitar do caos do Afeganistão se confirmaram", disse Peskov à imprensa.

"O perigo é muito grande para todos (...)", acrescentou o porta-voz, que classificou como uma "notícia muito triste" o número de mortos.

Pelo menos 85 pessoas morreram, incluindo 13 soldados americanos, e mais de 160 ficaram feridas no atentado cometido ontem no aeroporto de Cabul.

Tudo isso, completou Peskov, "soma tensões" no Afeganistão, país onde os talibãs recuperaram o poder em 15 de agosto, após uma meteórica campanha militar.

A Rússia tem-se posicionado com cautela em relação ao novo governo talibã. Nesse sentido, ao contrário de outras nações ocidentais, não esvaziou sua embaixada no Afeganistão.

O presidente Joe Biden prometeu nesta quinta-feira (26) represálias contra os autores dos atentados suicidas que mataram 13 militares americanos em Cabul e disse que os Estados Unidos não serão dissuadidos de sua missão de evacuar milhares de civis do Afeganistão até 31 de agosto.

"Para aqueles que realizaram este ataque, bem como para qualquer pessoa que deseja mal aos Estados Unidos, saibma disso: Não vamos perdoar. Não vamos esquecer. Vamos caçá-los e fazê-los pagar", declarou Biden.

Os Estados Unidos vão responder "com força e precisão", continuou Biden, depois que o grupo jihadista Estado Islâmico (EI) assumiu a responsabilidade pelo ataque mortal perto do aeroporto de Cabul.

Em um discurso solene à nação da Casa Branca, Biden chamou os militares americanos abatidos de "heróis" e disse que a missão de evacuação de Cabul continuará até a próxima terça-feira, prazo final para a retirada das tropas militares americanas.

“Não seremos dissuadidos por terroristas. Não permitiremos que interrompam nossa missão. Continuaremos a evacuação”, garantiu o presidente democrata.

Biden também reconfirmou que não mudará o prazo de 31 de agosto para concluir a saída do Afeganistão após duas décadas de guerra.

Ainda há uma "chance nos próximos dias, entre agora e 31, de conseguir retirá-los", declarou sobre os cidadãos americanos e afegãos considerados vulneráveis depois que o Talibã tomou o poder no Afeganistão em 15 de agosto.

“Conhecendo a ameaça, sabendo que é muito possível que tenhamos outro ataque, os militares chegaram à conclusão de que é isso que devemos fazer. Acho que eles estão certos”, completou.

Biden também disse não ter nenhuma indicação de que o Talibã tenha conspirado com militantes do EI para realizar o ataque mortal em Cabul.

"Até o momento, não há evidência dada por nenhum dos comandantes no terreno de que houve conluio entre o Talibã e o EI para o ocorrido hoje", disse.

Duas explosões atingiram a área próxima ao aeroporto de Cabul, de acordo com o Pentágono. Uma explosão ocorreu próximo ao Abbey Gate, um dos portões de acesso ao aeroporto, o outro próximo ao Hotel Baron, a 200 metros de distância.

Entre os militares mortos, de acordo com relatos da mídia americana, estavam 12 fuzileiros navais e um médico da Marinha.

Os militares americanos mortos são os primeiros a perder a vida no Afeganistão desde que Washington assinou um acordo com o Talibã em fevereiro de 2020 para se retirar do país.

Em troca do compromisso de saída, o Talibã concordou em não realizar ataques contra soldados americanos ou da Otan.

Ao menos 85 pessoas morreram, incluindo 13 soldados americanos, no atentado reivindicado pelo grupo extremista Estado Islâmico (EI) no aeroporto de Cabul, um ataque que aumentou a angústia a poucos dias do fim das operações de retirada de milhares de estrangeiros e afegãos que desejam fugir do novo regime talibã.

O atentado, que também deixou mais de 160 feridos, provocou o sentimento de caos e desolação entre milhares de afegãos reunidos nas imediações do aeroporto, única porta de saída do país, com a esperança de embarcar em um dos voos com destino aos países ocidentais.

Vídeos divulgados nas redes sociais mostram o pânico: dezenas de vítimas, mortas ou feridas, deitadas nas águas sujas de um canal de drenagem e cercadas por socorridas à beira do colapso. Homens, mulheres e crianças correram em todas as direções, apavorados, para tentar fugir do local das explosões.

"Há muitas mulheres e crianças entre as vítimas. A maioria das pessoas se encontra em estado de choque, traumatizada", afirmou à AFP nesta sexta-feira uma fonte do governo deposto em meados de agosto pelos talibãs.

Pelo menos 72 civis morreram e mais de 150 ficaram feridos nos ataques, de acordo com informações compiladas nos hospitais locais.

Além disso, 13 militares americanos faleceram e 18 ficaram feridos, o balanço mais grave para o exército dos Estados Unidos no Afeganistão desde 2011.

No pior momento desde o início de seu mandato, o presidente Joe Biden prometeu "perseguir" os autores do ataque e fazer com que "paguem" as consequências.

"Estados Unidos não se deixarão intimidar", disse o presidente.

Com lágrimas nos olhos, Biden prestou homenagem emocionada aos soldados mortos, que chamou de "heróis comprometidos em uma missão perigosa e altruísta para salvar as vidas de outros".

- Condenação e medo de novos ataques -

O governo dos Estados Unidos, que espera que os atentados do EI "continuem", explicou que os ataques de quinta-feira foram executados por dois homens-bomba do grupo extremista e que também aconteceu um tiroteio.

O atentado, que provocou uma condenação mundial unânime, também confirmou os temores expressados por vários países ocidentais, que haviam recomendado a seus cidadãos que se afastassem do aeroporto.

O Talibã, por meio do porta-voz Zabihullah Mujahid, condenou de maneira veemente o ataque, mas afirmou que "aconteceu em uma área onde as forças americanas são responsáveis pela segurança".

O aeroporto é o último lugar do país com a presença de tropas estrangeiras, coordenadas pelos Estados Unidos, desde que os talibãs entraram em Cabul em 15 de agosto e retomaram o poder.

Sob o nome de EI-K (Estado Islâmico Khorasan), o grupo extremista reivindicou alguns dos ataques mais violentos executados no Afeganistão nos últimos anos, que deixaram dezenas de mortos, especialmente entre os muçulmanos xiitas.

Embora os dois grupos sejam sunitas radicais, EI e o Talibã são inimigos e expressam um ódio visceral mútuo.

Quando Estados Unidos e os talibãs assinaram em 2020 um acordo para estabelecer as diretrizes da retirada das tropas estrangeiras, o EI os acusou de abandonar a causa jihadista.

- "Pânico total" -

"Quando as pessoas ouviram a explosão, o pânico foi total. Os talibãs começaram a atirar para o alto, para dispersar as pessoas", declarou à AFP uma testemunha dos ataques, que se identificou apenas como Milad.

"Havia muitos mortos e feridos", completou o homem, que no meio da confusão perdeu os documentos que pretendia usar para embarcar em um avião com a mulher e os três filhos.

"Não quero nunca mais ir (ao aeroporto). Morte à América, a sua retirada e seus vistos", disse.

Nesta sexta-feira, uma calma estranha era observada em Cabul, sobretudo nas imediações do aeroporto, onde os talibãs reforçaram os controles e a multidão parecia ter desaparecido em alguns pontos.

O governo dos Estados Unidos prevê o fim de sua presença no Afeganistão e, portanto, das operações de retirada para 31 de agosto.

Mais de 100.000 pessoas foram retiradas do país desde meados de agosto.

Com a aproximação da data-limite, vários países já determinaram o fim de seus voos de repatriação. A Espanha anunciou nesta sexta-feira o fim das operações, assim como já haviam feito Alemanha, Holanda, Canadá e Austrália.

O governo do Reino Unido afirmou que as operações devem continuar por "algumas horas".

A França sugeriu que pode continuar retirando pessoas do Afeganistão depois de sexta-feira, mas destacou que deve adotar a prudência sobre o tema.

O chefe da diplomacia dos Estados Unidos, Antony Blinken, afirmou durante a semana que os talibãs se comprometeram a permitir que americanos e afegãos sob sua proteção deixassem o país depois 31 de agosto.

Mas os anúncios sobre o fim dos voos para vários países provocam o temor de que muitos afegãos que trabalharam para governos e empresas estrangeiras, ou para o governo deposto, não consigam sair do país.

Os talibãs prometeram que não adotarão represálias contra seus críticos e garantem que seu governo não será igual ao do período 1996-2001, quando o grupo impôs uma interpretação extremamente rigorosa e radical da lei islâmica que penalizava especialmente as mulheres e as minorias.

Vários militares americanos morreram e ficaram feridos no atentado duplo que atingiu o aeroporto de Cabul nesta quinta-feira (26), disse o porta-voz do Pentágono, John Kirby.

"Podemos confirmar que vários militares americanos morreram no complexo ataque de hoje contra o aeroporto de Cabul" e que "vários outros estão sendo tratados por feridas", disse Kirby em um comunicado.

"Também sabemos que vários afegãos foram vítimas deste ataque hediondo", acrescentou.

Segundo o jornal The Wall Street Journal e a rede Fox, que citam funcionários americanos não identificados, quatro fuzileiros navais morreram.

São os primeiros militares americanos mortos no Afeganistão desde que Washington assinou, em fevereiro de 2020, um acordo com os talibãs para se retirar do país.

Em troca do compromisso de saída, os talibãs concordaram em não realizar ataques contra as tropas americanas ou da Otan.

Duas explosões afetaram a área próxima ao aeroporto de Cabul, segundo o Pentágono. Uma explosão ocorreu perto de Abbey Gate, uma das portas de acesso ao aeroporto. A outra foi perto do Hotel Baron, a 200 metros de distância.

Antes do ataque, Estados Unidos e outros aliados da coalizão no Afeganistão alertaram que informações da Inteligência indicavam que o braço afegão do grupo extremista Estado Islâmico, o Estado Islâmico-Khorasan (IS-K), estava planejando ataques suicidas com bombas no aeroporto.

O IS-K está em desacordo com o Talibã, segundo relatos.

Duas explosões abalaram o aeroporto de Cabul nesta quinta-feira (26), deixando ao menos seis mortos e mais de dez feridos, depois que os países ocidentais alertaram sobre uma ameaça terrorista iminente

Segundo o principal hospital de emergências da cidade, pelo menos seis pessoas morreram e mais de 12 ficaram feridas nas explosões.

Um jornalista da AFP viu uma nuvem de fumaça subindo ao céu de um local próximo ao aeroporto.

"Podemos confirmar que a explosão no Portão ('Gate') Abbey foi consequência de um ataque complexo que resultou em várias vítimas civis e americanas. Também podemos confirmar pelo menos outra explosão em, ou perto, do Hotel Baron, a pouca distância do Portão Abbey", tuitou o porta-voz do Departamento da Defesa dos Estados Unidos, John Kirby.

O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, se mantém informado sobre o atentado ao aeroporto de Cabul, onde ocorria uma grande operação retirada de pessoas após a tomada de poder pelo Talibã, disse a Casa Branca nesta quinta-feira.

"O presidente foi informado e está no 'Situation Room'", a sala de crise da Casa Branca, disse à AFP um funcionário que pediu o anonimato.

A França tentará retirar outras "várias centenas" de pessoas do Afeganistão, afirmou o presidente Emmanuel Macron nesta quinta, advertindo que as próximas horas serão "extremamente arriscadas" em Cabul e em seu aeroporto, após as explosões.

"Enquanto falamos, temos 20 ônibus de cidadãos com dupla cidadania e afegãos que queremos poder repatriar (...) São vários centenas de pessoas que continuam em perigo", afirmou Macron em entrevista coletiva durante visita à Irlanda.

A Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) afirmou que a prioridade agora é "retirar o maior número possível de pessoas".

Os diplomatas e militares que organizam a retirada de afegãos para a França consideram que cada avião que decola do aeroporto de Cabul é uma conquista e sabem que "tudo pode ser interrompido a qualquer momento".

"Não sabemos quanto tempo ainda temos", disse uma fonte francesa, que afirma que as dificuldades se acumulam na entrada do aeroporto e que o prazo de 31 de agosto se aproxima perigosamente.

Se os Estados Unidos reafirmarem seu objetivo de completar a retirada do Afeganistão em 31 de agosto, abandonando o aeroporto de Cabul, "para nós (...) isso significa que nossa operação termina na quinta-feira à noite. Sendo assim, nos restam três dias", disse Nicolas Roche, chefe de gabinete do ministro das Relações Exteriores, Jean-Yves Le Drian.

Os Estados Unidos, que mobilizaram 5.000 soldados no aeroporto de Cabul, não descartam ficar além de 31 de agosto, mas os talibãs já alertaram que se opõem e que isso pode gerar consequências.

"As condições são cada vez mais difíceis, nos obrigam a nos adaptarmos permanentemente, toda hora", resumiu o embaixador da França no Afeganistão, David Martinon, em uma teleconferência com Le Drian e a ministra da Defesa, Florence Parly, presentes na base aérea francesa de Al Dhafra nos Emirados Árabes Unidos.

A multidão de candidatos para a retirada se aglomera nos três portões de acesso ao aeroporto, complicando o trabalho.

"O portão sul foi derrubado e teve que ser substituído por contêineres blindados que obstruem a passagem, forçando os paraquedistas britânicos a fazerem malabarismos para que os afegãos consigam entrar", disse Martinon.

- "Ameaça" -

Do lado de fora do aeroporto, os candidatos ao exílio devem esperar por horas, às vezes dias, e quando finalmente conseguem entrar, devem abrir caminho com dificuldade em meio a uma multidão compacta.

"Sofrem tiros de balas de borracha, bombas de efeito moral, alguns são agredidos nos postos de controle dos talibãs, mas os mais decididos conseguem chegar", acrescentou Martinon.

A França, que retirou seus militares do Afeganistão em 2014, ajuda principalmente afegãos ameaçados pelo seu compromisso em defesa dos direitos das mulheres, da educação e da cultura.

Em oito dias, o país retirou quase 2.000 pessoas por meio de uma ponte aérea entre Cabul, Abu Dhabi e Paris.

No aeroporto da capital afegã, a possibilidade de um atentado é latente e os Estados Unidos aconselham seus cidadãos a não se aproximarem.

"Os talibãs estão presentes na cidade, na parte civil do aeroporto, portanto estão perto das pistas. Até o momento não demonstraram hostilidade, mas possuem armas que poderiam representar uma ameaça para nossos aviões", explica o coronel Yannick Desbois, comandante da base 104 em Al Dhafra.

O grupo extremista Estado Islâmico (EI) também revindica regularmente atentados no país.

Os aviões franceses A400M são equipados com iscas para evitar eventuais disparos de mísseis.

"Chegamos, embarcamos os passageiros que devemos transportar e decolamos imediatamente, sem descer do avião", conta o comandante Stephen, que pilota um A400M.

Entre pouso e decolagem, não passa mais de meia hora, afirma.

O Pentágono informou, nesta segunda-feira (23), que cerca de 16.000 pessoas foram retiradas nas últimas 24 horas do Afeganistão através do aeroporto de Cabul, com a aceleração das operações de transporte aéreo internacional antes do prazo de 31 de agosto.

O general Hank Taylor disse a jornalistas que 61 voos militares, comerciais e charter, nos quais vários países participaram, saíram do aeroporto internacional Hamid Karzai nas 24 horas antes de 3h00 de segunda-feira (04h00 no horário de Brasília), transportando pessoas que fugiam do país depois que os talibãs tomaram o poder.

Do total do dia, 11.000 já foram retiradas por meio das operações de transporte aéreo do Exército dos Estados Unidos, disse Taylor.

O general acrescentou que o número de pessoas transportadas do Afeganistão desde julho em voos americanos subiu para 42.000, das quais 37.000 foram evacuadas desde que as intensas operações de transporte áereo começaram em 14 de agosto, quando os talibãs se mobilizaram para tomar Cabul.

Este número inclui "vários milhares" de cidadãos americanos e milhares de afegãos que trabalharam para as forças americanas, e que solicitaram ou receberam vistos especiais de imigrante, além dos afegãos considerados em risco de sofrer ataques talibãs pelo seu trabalho em organizações não-governamentais, meios de comunicação e outros empregos, segundo o porta-voz do Pentágono, John Kirby.

Kirby acrescentou que a atenção continua voltada para que as operações de evacuação dos EUA sejam concluídas antes de 31 de agosto, data limite estabelecida pelo presidente Joe Biden para a retirada do país.

Isso exigiria a retirada dos 5.800 soldados dos EUA que basicamente lideraram as operações no aeroporto e mantiveram a segurança desde 14 de agosto, assim como grandes quantidades de equipamentos levados para apoiar sua missão.

Funcionários alemães, britânicos e franceses afirmaram, nesta segunda-feira, que as evacuações que eles realizam poderiam continuar depois de 31 de agosto e manifestaram o desejo de que a força dos Estados Unidos permaneça no local para ajudar o transporte aéreo internacional.

O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, pode prolongar a presença das tropas americanas no aeroporto de Cabul, onde um guarda afegão morreu nesta segunda-feira (23) em um tiroteio entre soldados e homens não identificados em plena operação de retirada de civis.

"Esta manhã, às 4H13, aconteceu uma troca de tiros entre guardas afegãos e criminosos não identificados", afirmou o exército da Alemanha. Uma nota publicada no Twitter informa ainda que soldados alemães e americanos participaram em "tiroteios posteriores".

Várias pessoas morreram em circunstâncias não explicadas nas imediações do aeroporto, onde prosseguem as complexas operações de retirada. Diante das dificuldades, Biden citou a possibilidade de continuidade no local após 31 de agosto.

"Há conversas em curso entre nós e os militares sobre uma extensão. Esperamos não ter que prorrogar, mas teremos discussões, suponho, sobre o estado do processo de retirada", afirmou no domingo à noite.

Desde que assumiram o poder no Afeganistão em 15 de agosto, os talibãs tentam convencer a população de que seu regime será menos brutal que o anterior, entre 1996 e 2001. Mas suas promessas não conseguem reduzir o desejo de milhares de pessoas de fugir do país.

O governo dos Estados Unidos já retirou quase 30.300 pessoas desde 14 de agosto, informou no domingo a Casa Branca, que espera retirar do país 15.000 americanos e de 50.000 ou 60.000 afegãos. Os países ocidentais já retiraram outros milhares de cidadãos.

No domingo, o chefe da diplomacia da União Europeia (UE), Josep Borrell, considerou "impossível" retirar todas as pessoas até 31 de agosto.

Para reforçar a operação de retirada, Washington ordenou a seis grandes companhias aéreas comerciais que transportem para os Estados Unidos as pessoas retiradas de Cabul que estão em bases americanas no Golfo e na Europa.

Embora a retirada do Afeganistão provoque temores em outros aliados dos Estados Unidos, a vice-presidente Kamala Harris prometeu nesta segunda-feira, durante uma visita a Singapura, um "compromisso duradouro" de seu país na Ásia.

- Ruas de Cabul em relativa calma -

As imagens impactantes no aeroporto, que incluem bebês e crianças entregues a soldados entre muros com arame farpado e homens pendurados em aviões em plena decolagem, rodaram o mundo.

"Não há maneira de retirar tantas pessoas sem dor nem perdas" e sem imagens comoventes, admitiu o presidente americano.

À espera de um milagre, famílias inteiras permanecem entre as cercas ao redor do perímetro que separa os talibãs das tropas americanas nas imediações do aeroporto, onde o acesso é muito difícil.

Biden explicou que o perímetro foi ampliado com a concordância dos talibãs, horas depois de um líder do movimento fundamentalista, Amir Khan Mutaqi, culpar os Estados Unidos pelo caos no aeroporto e alertar que a situação não poderia durar muito.

"Há paz e calma em todo o país, mas apenas no aeroporto de Cabul há caos", disse Mutaqi.

Cabul registra de fato uma relativa calma. Os combatentes talibãs patrulham as ruas e observam de postos de controle.

Nenhum governo foi instaurado, mas as discussões prosseguem entre os talibãs e personalidades afegãs para alcançar um gabinete "inclusivo".

Os fundamentalistas também querem impor a imagem de sua autoridade, com a substituição da bandeira de três cores do Afeganistão pela bandeira branca do movimento

Em uma estrada de Cabul, jovens vendiam bandeiras dos talibãs, que apresentam uma frase com a proclamação muçulmana de fé e o nome formal do regime: "Emirado Islâmico do Afeganistão".

"Nossa meta é hastear a bandeira do Emirado Islâmico por todo Afeganistão", declarou à AFP o vendedor Ahmad Shakib, estudante universitário de Economia.

- Resistência -

Fora de Cabul há alguns focos de resistência contra os talibãs. Alguns ex-soldados do governo se reuniram no vale de Panshir, ao norte de Cabul, conhecido como um reduto antitalibã.

Algumas contas do Twitter favoráveis aos talibãs afirmaram que o novo regime enviou centenas de combatentes ao vale depois que "as autoridades locais se negaram a entregá-lo pacificamente".

Os islamistas "reuniram forças perto da entrada de Panshir", tuitou Amrullah Saleh, vice-presidente do Afeganistão no governo anterior, que se refugiou na região.

Um dos líderes do movimento em Panshir, denominado Frente de Resistência Nacional (FRN), é Ahmad Masud, filho do conhecido comandante antitalibã Ahmad Shah Masud, assassinado em 2001.

A FRN está preparada para um "conflito de longo prazo", disse à AFP o porta-voz Ali Maisam Nazary, caso um compromisso não seja alcançado com os talibãs sobre um governo descentralizado.

Outra fonte afirmou que milhares de afegãos chegaram a Panshir para lutar contra o novo regime ou para buscar refúgio. "Estamos preparados para defender o Afeganistão e alertamos para um banho de sangue", declarou Masud no domingo ao canal Al Arabiya.

Os talibãs responsabilizaram, neste domingo (22), os Estados Unidos pelo caos no aeroporto de Cabul, onde milhares de afegãos tentam desesperadamente pegar um avião e fugir do país, arriscando suas vidas.

Para "garantir evacuações seguras e evitar uma crise humanitária", os líderes do G7 realizarão uma reunião virtual na terça-feira, anunciou o primeiro-ministro britânico Boris Johnson, que atualmente preside o grupo.

Desde que entraram em Cabul no domingo passado, os talibãs deixaram o aeroporto nas mãos dos Estados Unidos, que agora acusam de "fracassarem em impor ordem no aeroporto".

"Reina a paz e a ordem em todo o país, mas há caos somente no aeroporto de Cabul", disse Amir Khan Mutaqi, um dirigente talibã, acrescentando que "isso deve acabar o mais rápido possível".

Embora esse movimento islâmico se esforce para prometer uma versão mais moderada de seu regime brutal de 1996 a 2001, milhares de afegãos aterrorizados continuam tentando fugir pelo aeroporto.

Em meio ao caos, sete pessoas morreram no sábado, disse o Ministério da Defesa britânico, sem especificar se foi um único incidente ou vários.

A rede britânica Sky News divulgou no sábado imagens de pelo menos três corpos cobertos com um plástico branco fora do aeroporto e seu repórter Stuart Ramsay disse que as pessoas estavam sendo esmagadas e outras "desidratadas e aterrorizadas".

Anteriormente, viralizaram imagens de um bebê sendo entregue a um soldado sobre o muro aeroporto e cenas de terror de pessoas penduradas em aviões durante a decolagem.

Enquanto isso, várias famílias esperam amontoadas entre os fios que separam os talibãs das tropas americanas, já que as rotas para o aeroporto continuam congestionadas.

Um jornalista que foi evacuado neste domingo junto com um grupo da imprensa e funcionários da universidade explicou à AFP como uma multidão desesperada cercou seu ônibus quando ele entrou naquela área.

“Eles nos mostraram seus passaportes e gritaram para nós: 'Nos leve com você, por favor!'”, explicou o jornalista. "Um combtente talibã em um caminhão disparou para o ar para dispersá-los", acrescentou.

- Um parto durante a retirada -

Os Estados Unidos, que têm milhares de soldados protegendo o aeroporto, estabeleceram 31 de agosto como prazo para concluir as evacuações.

Mas há cerca de 15.000 americanos e 50.000 a 60.000 afegãos que precisam ser retirados, de acordo com o governo Biden.

“Eles querem evacuar 60 mil pessoas até o final do mês. É matematicamente impossível”, advertiu à AFP o chefe de política externa da União Européia (UE), Josep Borrell.

A tarefa tornou-se ainda mais difícil desde que a embaixada dos Estados Unidos em Cabul pediu aos seus cidadãos que não fossem ao aeroporto, citando ameaças à segurança não especificadas.

O Pentágono disse no sábado que 17 mil pessoas foram realocadas desde o início das operações em 14 de agosto, incluindo 2.500 americanos.

Entre eles estava uma mulher afegã grávida que deu à luz em um avião quando estava prestes a pousar em uma base militar na Alemanha. Mãe e filho estão em bom estado, disse a Força Aérea dos Estados Unidos.

- Governo talibã -

Os talibãs permitiram que os Estados Unidos monitorassem as evacuações enquanto se concentram em como administrar o país quando as forças estrangeiras se retirarem.

O co-fundador do regime talibã, mulá Abdul Ghani Baradar, chegou a Cabul no sábado e o movimento diz que quer formar um "governo inclusivo".

Um alto funcionário talibã disse à AFP que Baradar se reunirá com líderes jihadistas, religiosos e políticos nos próximos dias.

A reunião em Cabul incluiu líderes da rede Haqqani, que os Estados Unidos descrevem como uma organização terrorista.

O regime talibã entrou em Cabul na semana passada, encerrando duas décadas de guerra e chocando o mundo quando as forças do governo afegão se renderam em massa.

Desde então, alguns pequenos sinais de resistência surgiram, com ex-soldados do governo se reunindo no Vale Panshir, uma região montanhosa ao norte de Cabul.

Um porta-voz desse movimento de resistência disse que eles estão preparados para "um conflito de longo prazo", mas preferem tentar a negociação com os talibãs.

A repórter da CNN norte-americana Clarissa Ward, que vinha fazendo a cobertura da tomada de poder do grupo Talibã em Cabul, Afeganistão, usou seu Instagram, neste sábado (21), para revelar que deixou o país estrangeiro. Ela embarcou em uma aeronave da Força Aérea americana, junto à sua equipe e à cerca de 300 afegãos, durante a madrugada, após algumas longas horas de espera no aeroporto de  Hamid Karzai.

As fotos, feitas pelo fotojornalista William Bonnett, e pela própria Clarissa, impressionam. Nelas, é possível ver muitas pessoas deitadas no chão de terra do aeroporto de Cabul, à espera de um voo, e também, sentadas uma ao lado da outra dentro da aeronave americana lotada. Na legenda, a jornalista escreveu: “Finalmente saindo de Cabul. Muito preocupada com aqueles que não conseguiram sair, que estão esperando há dias ou se escondendo em suas casas com medo de sair”. 

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Anteriormente à sua partida, Clarissa deu uma entrevista a William Waak, da CNN Brasil, a correspondente falou sobre como estava sendo tensa a cobertura. “Talibã tem sido bem receptivo e cordial com os jornalistas dizendo que podemos sair e fazer nosso trabalho com as reportagens. Mas sempre se tem uma sensação de estar no limite. Com tantos combatentes diferentes, nunca se sabe em quem você vai esbarrar e qual vai ser a reação”. 

A retirada de diplomatas, afegãos e outros estrangeiros prossegue em condições difíceis em Cabul, capital do Afeganistão.

Uma gigantesca ponte aérea foi criada desde domingo (15), com aviões de diversos países, em um aeroporto que tem os arredores controlados pelos talibãs.

- Alemanha envia 600 soldados a Cabul -

A Alemanha retirou 500 pessoas, incluindo 202 afegãos, e aprovou o envio de 600 soldados a Cabul para ajudar na saída do maior número possível de pessoas até 30 de setembro, no mais tardar.

- Primeiro voo chega à Espanha -

O primeiro avião militar da Espanha procedente de Cabul com 50 espanhóis e colaboradores afegãos pousou nesta quinta-feira na base militar de Torrejón de Ardoz, ao nordeste de Madri.

A Espanha também aceitou ajudar a retirar do Afeganistão funcionários locais da União Europeia (UE) e da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) e transportá-los para a Europa. Os cidadãos afegãos serão enviados para vários países europeus.

O chefe da diplomacia europeia, Josep Borrell, afirmou na quarta-feira que a UE tinha "400 pessoas para repatriar".

- Novo voo de afegãos para a França -

A ponte aérea francesa, via Emirados, prossegue com a chegada prevista nesta quinta-feira de um novo voo com 120 pessoas, essencialmente afegãos. Um primeiro contingente de afegãos chegou ontem a Paris.

"Estamos contabilizando um certo número de necessidades muito urgente. Falamos, sem dúvida, de algumas milhares de pessoas que devem ser retiradas do Afeganistão, em sua maioria afegãos", declarou o secretário de Estado francês para Assuntos Europeus, Clément Baune.

- Milhares de retirados por Washington e Londres -

O governo dos Estados Unidos enviou 6.000 militares para garantir a segurança no aeroporto de Cabul e retirar os 30.000 americanos e civis afegãos que trabalharam para Washington e temem por suas vidas. Até o momento, foram retirados pouco mais de 5.000 (3.200 essencialmente funcionários americanos, 2.000 refugiados afegãos).

O Departamento de Estado afirma, porém, que os talibãs "estão impedindo que os afegãos que desejam sair do país cheguem ao aeroporto".

O Reino Unido retirou 306 britânicos e 2.052 afegãos.

- Pontes aéreas de outros países -

A Turquia repatriou 324 cidadãos na segunda-feira e organiza o retorno de mais de 200 de Cabul.

Outros voos partiram nos últimos dias para Holanda, Polônia (segundo avião chega nesta quinta), Dinamarca, Noruega, República Tcheca, Hungria e Bulgária. Quinze romenos não conseguiram chegar ao aeroporto de Cabul e o avião enviado por seu país retornou com apenas uma pessoa.

Cabul mudou de cara. Quatro dias depois de os talibãs tomarem a cidade, cartazes e fotos que ocupavam as vitrines da capital afegã foram apagados ou vandalizados.

Após uma rápida ofensiva militar, este grupo fundamentalista islâmico agora controla o país, uma campanha bem-sucedida que culminou com a tomada da capital do Afeganistão no domingo (15).

A mudança de regime gerou uma onda de pânico no país, onde ainda são frescas as memórias do período dos talibãs no poder, entre 1996 e 2001, marcado por violações dos direitos humanos.

Nas duas décadas de presença no território, desde 2001, da tropas da coalizão internacional liderada pelos Estados Unidos, salões de beleza antes proibidos proliferaram em Cabul.

Surgiram serviços de manicure e de maquiagem em um país onde as mulheres foram obrigadas, sob o regime talibã, a cobrir praticamente cada centímetro de seu corpo.

Quando os talibãs entraram em Cabul no domingo, pelo menos um desses salões de beleza começou a apagar imagens de mulheres sorridentes em vestidos de noiva, que apareciam como anúncios em suas vitrines.

Outro salão que teve que fechar as portas amanheceu com as vitrines pichadas na terça-feira (17). Com rifle no ombro, um talibã fazia patrulha em frente ao estabelecimento.

- 'Não querem que as mulheres trabalhem' -

Durante seu governo (1996-2001), o Talibã proibiu as meninas de frequentarem a escola, impediu as mulheres de trabalharem, ou de saírem de casa sem um acompanhante do sexo masculino. Mulheres acusadas de adultério foram apedrejadas, ou açoitadas, nas ruas.

A rigorosa interpretação da "sharia" (lei islâmica) levou os talibãs a instalarem uma polícia religiosa para suprimir os "vícios".

No momento atual, na tentativa de transmitir uma imagem de moderação e de mudança, os talibãs se comprometeram a "deixar as mulheres trabalharem", mas "respeitando os princípios do Islã". Não se explicou exatamente o que isso significa na prática.

Um de seus porta-vozes, Suhail Shaheen, afirmou que a burca não seria obrigatória e que as mulheres poderão frequentar a universidade, e as meninas poderão frequentar a escola. Muitos afegãos e representantes da comunidade internacional não escondem o ceticismo em relação a essas promessas.

Durante o avanço militar impressionante dos talibãs, vários veículos de comunicação relataram que mulheres solteiras, ou viúvas, foram obrigadas a se casar com combatentes. As notícias foram desmentidas por um porta-voz talibã, que as descreveu como "propaganda".

Em todo mundo, manifestações foram organizadas em apoio aos civis afegãos, em especial às mulheres e meninas afegãs.

Na quarta-feira (18), em uma declaração conjunta, União Europeia e Estados Unidos disseram estar "profundamente preocupados" com a situação das mulheres no Afeganistão e pediram aos talibãs para evitar "qualquer forma de discriminação e abuso", assim como a preservar seus direitos.

Em julho, a gerente de um salão de beleza em Cabul declarou à AFP que o estabelecimento teria de ser fechado se os talibãs voltassem ao poder.

"Se voltarem, nunca voltaremos a ter a liberdade que temos agora", desabafou esta mulher de 27 anos, que pediu para não ser identificada.

"Não querem que as mulheres trabalhem", completou.

A tentativa de fugir de Cabul, no Afeganistão, após a chegada do Talibã na capital do país, acabou resultando em mortos e feridos. Na internet, circulam vídeos nos quais se pode ver, ao menos, duas pessoas caindo de um avião da Força Aérea Americana, após a aeronave levantar voo no aeroporto Hamid Karzai. Além disso, disparos feitos pelas tropas dos EUA, para dispersar a multidão, teriam feito vítimas. 

Na manhã desta segunda (16), o aeroporto de Cabul ficou lotado com milhares de afegãos tentando fugir do país após o Talibã tomar o poder no país. Pessoas de todas as idades invadiram a pista de decolagem e agarraram-se às aeronaves que se preparavam para decolar. Imagens compartilhadas na internet mostram o momento em que duas pessoas caíram de um desses aviões, após o início do voo.

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Nos vídeos, é possível ver ao menos dois corpos despencando de uma altura de centenas de metros. Segundo o jornal inglês, The Guardian, no mínimo três pessoas caíram de uma aeronave do tipo C-17, da Força Aérea Americana. Eles teriam se agarrado ao trem de pouso ou à fuselagem na lateral do avião. Já um outro vídeo mostra os corpos de três pessoas — dois homens e uma mulher — caídos no chão no complexo do aeroporto Hamid Karzai, após o tumulto. 

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Para conter a população, as tropas americanas, responsáveis pela segurança no aeroporto, atiraram para o alto e todos os voos comerciais foram cancelados. Os disparos fizeram vítimas, mas ainda não foi confirmada o número total de vitimados. O The Wall Street Journal afirmou que três pessoas foram mortas por armas de fogo e a agência de notícias Reuters fala em cinco óbitos.

Tropas americanas atiraram para o alto e os voos comerciais foram cancelados nesta segunda-feira (16) no aeroporto de Cabul, onde milhares de afegãos invadiram as pistas com a esperança de embarcar em um avião que permita a fuga do novo regime talibã.

Vídeos publicados nas redes sociais mostram cenas de caos absoluto nas pistas, com civis lutando para subir nas passarelas ou escadas que levam aos aviões.

As pessoas tentam escapar desesperadamente do Afeganistão, onde os talibãs assumiram o poder no domingo. A maior parte da população teme que os insurgentes instaurem o mesmo regime fundamentalista de quando governaram o país entre 1996 e 2001.

Sob o olhar de centenas de pessoas, os que conseguiram subir ao topo das escadas, principalmente jovens, tentavam ajudar os outros a fazer o mesmo, e muitos deles agarraram-se com todas as forças às grades.

Famílias, com crianças assustadas, também tentavam fugir com seus pertences.

O tumulto atingiu tal nível que as tropas americanas, responsáveis pela segurança no aeroporto, atiraram para o alto para controlar a multidão. Todos os voos comerciais foram cancelados.

"Tenho muito medo. Atiraram para o alto", declarou à AFP uma testemunha, que não revelou seu nome, por temer que isto comprometa as possibilidades de deixar o país.

O Departamento de Estado afirmou que tropas americanas protegem o perímetro do aeroporto. Washington enviou 6.000 militares para retirar quase 30.000 funcionários americanos e afegãos que cooperaram com os Estados Unidos e que temem represálias dos talibãs.

A embaixada dos Estados Unidos em Cabul pediu no Twitter a seus cidadãos que ainda estão no país, assim como aos afegãos, que "não sigam para o aeroporto".

- "Medo" -

Porém, milhares de afegãos, que nunca trabalharam para os americanos e que não têm nenhuma possibilidade de obter um visto, correram em massa para o aeroporto.

Algumas horas antes, os talibãs pediram a seus combatentes que entraram em Cabul a manutenção da ordem. Em seguida, os insurgentes ocuparam o palácio presidencial, de onde o presidente Ashraf Ghani acabara de fugir para outro país.

"Temos medo de viver nesta cidade e tentamos fugir" afirmou à AFP no aeroporto Ahmad Sekib, de 25 anos, outra testemunha que usou nome falso.

"Eu li no Facebook que o Canadá aceita os demandantes de asilo do Afeganistão. Espero ser um deles. Como servi o exército, perdi meu trabalho e é perigoso viver aqui, porque os talibãs vão me perseguir, sem dúvida", explica.

A embaixada americana foi totalmente evacuada e os funcionários seguiram para o aeroporto. Mas os diplomatas permanecem à margem dos civis afegãos que tentam deixar o país por seus próprios meios.

Outros vídeos publicados durante a noite nas redes sociais mostram pessoas lutando para entrar em um avião de carga, já lotado.

- Disciplina -

O restante da capital estavam em relativa calma nesta segunda-feira. Talibãs armados patrulhavam as ruas e instalavam postos de controle.

O mulá Abdul Ghani Baradar, cofundador dos talibãs, pediu a seus homens que se comportem de forma disciplinada.

"Agora é o momento de avaliar e demonstrar que podemos servir ao nosso país e garantir a segurança e bem-estar", afirmou em um vídeo.

As cenas de caos no aeroporto provocam uma recordação dolorosa para os Estados Unidos, a da queda de Saigon no Vietnã em 1975.

Mas a comparação foi descartada pelo secretário de Estado, Antony Blinken, que declarou ao canal CNN: "Isto não é Saigon"

Três foguetes - apenas dois explodiram - caíram nesta terça-feira (20) perto do palácio presidencial em Cabul, onde várias autoridades estavam reunidas com o presidente Ashraf Ghani por ocasião do início da festa sagrada dos muçulmanos, o Eid al Adha, anunciou o ministério do Interior.

O porta-voz do ministério, Mirwais Stanikzai, informou que o ataque, não reivindicado até o momento, não provocou vítimas.

O barulho de explosões foi ouvido às 8H00 (0H30 de Brasília) nas imediações da zona verde, área com grande proteção em Cabul, onde ficam o palácio presidencial e as embaixadas, incluindo a missão da ONU.

Pouco depois do ataque, o presidente Ghani começou o discurso à nação na presença dos principais funcionários do governo.

Em um vídeo publicado na página oficial da presidência no Facebook é possível ouvir as explosões de ao menos dois foguetes no momento em que Ghani e outras autoridades rezam de joelhos no jardim do palácio.

O presidente e a maioria dos participantes permaneceram impassíveis com o som das explosões e prosseguiram com as orações, no primeiro dia do Eit al Adha.

"Hoje, os inimigos do Afeganistão lançaram foguetes em várias partes da cidade de Cabul. Um foguete caiu atrás da mesquita Eid Gah, o segundo atrás do centro (comercial) Gulbahar e o terceiro perto (do parque) de Chaman e Huzori", afirmou Stanikzai.

"Os foguetes atingiram três locais diferentes. De acordo com nossas informações, não há vítimas. Nossa equipe está investigando", completou.

Os três pontos estão situados em um raio de quase um quilômetro ao redor do palácio presidencial, que já foi alvo de foguetes em várias oportunidades, a última delas em dezembro de 2020.

- Sem cessar-fogo à vista -

Em março de 2020, um ataque com foguete foi executado durante a posse de Ghani, na presença de centenas de pessoas. O grupo Estado Islâmico (EI) reivindicou o atentado.

"Os talibãs mostraram que não têm a vontade nem a intenção de fazer a paz", declarou Ghani em seu discurso nesta terça-feira, sem uma referência direta ao ataque.

"Até agora os talibãs não mostraram o menor interesse em negociações significativas e sérias", completou, após um novo fim de semana de negociações estéreis entre o governo e os insurgentes em Doha.

No domingo, ao final de uma nova sessão de negociações no Catar, os dois lados afirmaram em um comunicado que concordam com a necessidade de encontrar uma "solução justa" e com um novo encontro na próxima semana.

O diretor do conselho governamental afegão que supervisiona o processo de paz, Abdullah Abdullah, admitiu nesta segunda-feira que "o povo afegão evidentemente esperava mais". "Mas a porta das negociações continua aberta", disse à AFP, antes de destacar que espera progresso "dentro de algumas semanas".

As negociações no Catar, que começaram em setembro, não registraram avanços e os talibãs iniciaram em maio uma ofensiva total contra as forças afegãs, aproveitando a começo do processo de retirada definitiva das forças internacionais do Afeganistão, que deve terminar em agosto.

As tropas governamentais, sem o crucial apoio aéreo das tropas estrangeiras, controlam apenas as capitais de província e algumas estradas importantes.

O ataque desta terça-feira parece reduzir por completo as esperanças de um cessar-fogo por ocasião do Eid, o que marca uma ruptura com os últimos anos, quando os talibãs adotaram tréguas para as festas muçulmanas.

Na segunda-feira, várias representações diplomáticas no Afeganistão pediram aos talibãs para interromper a ofensiva, que contradiz, na sua opinião, "o apoio que expressaram a uma solução negociada" do conflito.

No poder de 1996 a 2001, os talibãs adotaram uma interpretação muito rigorosa da lei islâmica, até que foram derrotados pela invasão da coalizão internacional liderada pelos Estados Unidos após os atentados de 11 de setembro.

Dezenas de meninas foram enterradas neste domingo (9) em um cemitério localizado no topo de uma colina em Cabul, um dia após o ataque mais mortal em um ano, que teve como alvo uma escola.

Uma série de explosões ocorreu em frente a esta escola para meninas no momento em que os moradores faziam compras, matando mais de 50 pessoas, a maioria estudantes do ensino médio, e ferindo cerca de 100.

Este ataque ocorreu no distrito Hazara de Dasht-e-Barchi, no oeste da capital afegã, habitada principalmente por xiitas hazaras.

O governo acusou o Talibã de estar por trás do massacre.

Os insurgentes, porém, negaram qualquer responsabilidade e emitiram um comunicado dizendo que a nação deveria "proteger e zelar pelas escolas".

As explosões ocorreram quando o exército americano continua retirando seus últimos 2.500 soldados ainda presentes em um país dilacerado por 20 anos de conflito e ainda atormentado pela violência.

No sábado, um carro-bomba explodiu em frente à escola Sayed Al-Shuhada e depois mais duas bombas explodiram enquanto as estudantes em pânico corriam para fora, explicou o porta-voz do ministério do Interior, Tareq Arian.

Este atentado ocorreu antes do feriado muçulmano de Eid al-Fitr, que marcará o fim do mês de jejum do Ramadã na próxima semana.

Neste domingo, parentes das vítimas começaram a enterrar os mortos no "cemitério dos mártires", onde repousam as vítimas dos ataques contra a comunidade hazara.

Os hazaras são xiitas e costumam ser alvos de grupos extremistas islâmicos sunitas.

Os sunitas constituem a maioria da população afegã.

- "Corpos dilacerados" -

Os caixões de madeira foram colocados nas sepulturas por pessoas ainda em estado de choque, observou um fotógrafo da AFP.

"Corri para o local (após as explosões) e me vi entre corpos, ossos quebrados e mãos e cabeças decepadas", contou Mohammad Taqi, um morador de Dasht-e-Barchi, cujas duas filhas, que estudam na escola-alvo, sobreviveram ao ataque.

"Todas essas pessoas eram meninas", lamentou.

Na semana passada, as alunas desta escola protestaram contra a falta de professores e material escolar, testemunhou Mirza Hussain, uma estudante do bairro. "Mas o que elas conseguiram foi um massacre", lamentou.

Esta manhã, no local do atentado, livros e mochilas das vítimas ainda estavam espalhados pelo chão.

O presidente afegão, Ashraf Ghani, acusou o Talibã de estar por trás do ataque.

"Este grupo de selvagens não tem capacidade para enfrentar as forças de segurança no campo de batalha, então atacam barbaramente prédios públicos e escolas de meninas", denunciou em um comunicado à imprensa.

O Talibã negou qualquer envolvimento, dizendo que não realiza ataques em Cabul desde fevereiro de 2020, quando assinou um acordo com os Estados Unidos abrindo caminho para negociações de paz e a retirada das últimas tropas americanas.

No entanto, os insurgentes seguem envolvidos em combates diários com as forças afegãs no interior do país.

O principal diplomata dos Estados Unidos em Cabul, Ross Wilson, chamou as explosões de sábado de "hediondas".

"Este ataque imperdoável contra crianças é um ataque ao futuro do Afeganistão, que não pode ser tolerado", disse Wilson no Twitter.

No mesmo bairro, em maio de 2020, um grupo de homens armados atacou uma maternidade apoiada pela organização Médicos Sem Fronteiras em plena luz do dia, matando 25 pessoas, incluindo 16 mães e recém-nascidos. Posteriormente, MSF decidiu encerrar o projeto.

Em 24 de outubro, um homem se explodiu em um centro de ensino particular no mesmo bairro, matando 18 pessoas, incluindo estudantes.

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