Tópicos | Copa de 2022

O bilionário mercado de transmissão de jogos da Copa do Mundo e outros eventos esportivos foi parar em uma disputa nos tribunais da Organização Mundial do Comércio (OMC). Além disso, aprofundou um mal-estar entre governos rivais no Oriente Médio.

No próximo dia 18, o Catar pedirá que a entidade máxima do comércio inicie um processo contra os sauditas por conta de uma suspeita de que emissoras de Riad estariam pirateando os sinais de transmissão de jogos pela beIN, do Catar.

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A operação, segundo Doha, estaria sendo conduzida por uma iniciativa chamada beoutQ, um jogo de palavras que faz referência à empresa beIN, mas que também significaria "Estar fora Catar".

A beoutQ é um sistema de transmissão que conta com dez canais, com difusão no Oriente Médio com o apoio do satélite Arabsat. O Catar, porém, acusa a Arábia Saudita por estar na organização desse esquema, além de sediar a emissora pirata.

A beIN acusa os sauditas de estar roubando seu sinal e, assim, transmitindo os mesmos eventos esportivos, gerando prejuízos ao Catar no valor de US$ 1 bilhão (R$ 3,8 bilhões).

A base da crise foi a decisão dos sauditas de romper com o Catar em junho de 2017, acusando o país de financiar o terrorismo. Um bloqueio naval, aéreo e terrestre foi estabelecido.

Mas, em junho deste ano, ela ganhou contornos esportivos. Durante as transmissões da Copa do Mundo na Rússia, cujos direitos estavam nas mãos da beIN para todo o Oriente Médio, a emissora pirata começou a distribuir os mesmos sinais para as transmissões dos jogos. Durante o torneio, a Fifa chegou a emitir um comunicado pedindo que os sauditas ajudassem a lutar contra a pirataria. O Catar é a próxima sede da Copa e seu emir fez questão de ir até Moscou para os eventos.

O poder da Fifa, contudo, se mostrou limitado, diante do acolhimento de estrela que o príncipe herdeiro do trono de Riad, Mohamed Bin Salman, recebeu da parte dos russos. A Fifa ainda negocia um pacote de US$ 25 bilhões (R$ 96 bilhões) com fundos sauditas para seus torneios futuros e, neste momento, evita um confronto direto com Riad.

Mas a pirataria não acabou e o Catar decidiu levar o caso à OMC. Nos documentos que sustentam a queixa, Doha acusou os sauditas de violar regras de propriedade intelectual. "Tentamos resolver a questão por meio do diálogo e negociações. Mas lamentavelmente a Arábia Saudita se recusou a realizar consultas", indicou o Catar. "Por mais de um ano, a Arábia Saudita fracassou em proteger direitos de propriedade intelectual e permitiu pirataria em transmissões. De fato, o governo tem ativamente promovido essa pirataria, numa situação sem precedentes."

Além da Copa do Mundo, os sinais supostamente roubados se referiam ao Super Bowl, nos EUA, os jogos do Campeonato Inglês e outros eventos cujos direitos. Segundo o Catar, a transmissão pirata ocorre pela Internet e mesmo satélite.

Doha ainda acusa a empresa pirata de estar vendendo, em todo o território saudita, aparelhos decodificadores de sinais de TV e mesmo oferecendo assistência técnica aos consumidores.

ROMPIMENTO - Documentos obtidos pelo Estado revelam que o governo saudita alegou questões de "segurança nacional" e anunciou à OMC que não iria aceitar a abertura de um caso. Além disso, Riad apontou que cortou relações diplomáticas com o Catar e que, portanto, o assunto era de segurança nacional. Na visão da Arábia Saudita, a OMC não tem o poder de se impor diante de tal cenário.

"A OMC não é o local para resolver disputas de segurança nacional", apontaram os diplomatas sauditas, que garantem que respeitam todas as regras de propriedade intelectual.

Na semana passada, uma reunião foi realizada em Genebra, na Suíça, para lidar com a crise terminou sem um acordo. "Meu governo considera que o rompimento das relações diplomáticas torna impossível a condução de um processo de solução de disputas", indicou Riad. Ainda assim, o Catar decidiu colocar o assunto de volta na agenda da OMC, para o dia 18 de dezembro.

Com a ideia de aumentar de 32 para 48 o número de seleções participantes, o presidente da Fifa, o suíço Gianni Infantino, manifestou nesta quarta-feira a intenção de expandir a competição para outros três países do Golfo Pérsico além do Catar. Entre os objetivos da mudança está a tentativa de amenizar conflitos diplomáticos na região.

Atualmente, o país eleito como sede da próxima Copa sofre com sanções por suposto apoio ao terrorismo. Os bloqueios são feitos por seis países, entre eles três que Infantino sugere adicionar no mapa do Mundial: Arábia Saudita, Bahrein e Emirados Árabes Unidos.

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Na atual programação para 2022, o Catar deve contar com oito estádios para as 64 partidas. Entretanto, caso o aumento de seleções seja aprovado, o número de jogos passaria para 80, exigindo mais espaços para receber a competição.

De acordo com Infantino, a Fifa consultou o emir do Catar sobre a liberação de partidas para outras nações. Para o presidente da entidade, a abertura poderia representar uma mudança na imagem dos conflitos. "Isso é algo que talvez passe uma mensagem bonita", afirmou.

MUDANÇA NÃO SERIA EXCEÇÃO - Caso o aumento de países-sede da próxima Copa seja confirmado, o Mundial com mais de uma nação responsável não seria exceção. Em 2002, o campeonato foi disputado na Coreia do Sul e no Japão. Além disso, em 2026, Estados Unidos, Canadá e México já estão aprovados para realizarem o evento juntos.

Segundo Infantino, a união da América do Norte, que ocorreu enquanto os três países enfrentavam disputas comerciais, ajudou na negociação de um novo pacto, o que poderia ocorrer de forma semelhante no Golfo Pérsico. "Para mim, se existe a possibilidade (de compartilhar as partidas), se existe a possibilidade de pelo menos discutir, devemos tentar".

Candidato à presidência da Fifa, Jérôme Champagne defendeu nesta terça-feira que os Estados Unidos devem sediar a Copa do Mundo de 2022 se o Catar perder o direito de organizá-la. A Justiça da Suíça está investigando suspeitas de lavagem de dinheiro nos processos de escolha das sedes das Copas do Mundo de 2018 e 2022. Já os procuradores federais norte-americanos realizam amplas investigações sobre a Fifa, que também incluem a definição das sedes desses torneios.

Diante disso, Champagne disse à emissora francesa de TV RTL que a Fifa deveria dar o direito de sediar a Copa de 2022 ao segundo colocado na votação se for comprovado que houve corrupção da vitória do Catar. "Não deve ser com uma nova votação, mas com a aplicação do precedente jurídico do COI, dando a medalha de ouro para o medalhista de prata", disse.

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Em dezembro de 2010, o Catar venceu a votação dos membros do Comitê Executivo da Fifa, que envolveu cinco candidaturas, derrotando os Estados Unidos na rodada final por 14 a 8. "A presunção de inocência também deve beneficiar o Catar", disse Champagne.

Ex-vice-secretário-geral da Fifa, Champagne é um dos cinco candidatos a suceder o suspenso Joseph Blatter nas eleições marcadas para o dias 26 de fevereiro em Zurique, que tiveram seus nomes confirmados nesta terça-feira. Os outros são o príncipe jordaniano Ali bin Al Hussein, o xeque bareinita Salman Bin Ebrahim Al Khalifa, presidente da Confederação Asiática de Futebol, o suíço Gianni Infantino, secretário-geral da Uefa, e o sul-africano Tokyo Sexwale.

Ricardo Teixeira, ex-presidente da CBF, está sendo investigado pela Fifa. A informação é do Comitê de Ética da entidade que, oficialmente, indicou que o brasileiro está sendo examinado. Se for condenado, ele pode ser obrigado até a deixar todas suas relações com o futebol.

Como ex-membro da Comitê Executivo da Fifa, ele é suspeito de ter vendido seu voto para o Catar sediar a Copa de 2022. A lista dos nomes de cartolas sob investigação foi revelada nesta quarta-feira, depois que a entidade aprovou mudanças em seus estatutos para permitir que sejam divulgados casos sob suspeita e que estejam sendo examinados.

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Além de Teixeira, o órgão inclui Franz Beckenbauer e o espanhol Angel Maria Villar, o atual vice-presidente da Uefa. Ambos são investigados por seu papel no caso da suspeita de compra de votos para a escolha da Copa de 2022.

A reportagem do Estado revelou em 2014 que a suspeita se referia ao jogo entre Brasil e Argentina, disputado no Catar e que poderia ter servido como forma de compensar tanto Teixeira quanto o argentino Julio Grondona pelo voto que dariam aos árabes. O jogo aconteceu dias antes da eleição na Fifa, em 2010, e que definiu a sede.

Numa investigação interna, a Fifa disse inicialmente que não encontrou indícios de que o jogo foi usado para o pagamento de propinas. Mas as investigações da Justiça da Suíça e dos EUA apontam que as empresas que fizeram os pagamentos são as mesmas que hoje estão construindo os locais que receberão os jogos da Copa de 2022.

O Ministério Público da Suíça abriu inquérito sobre o assunto e chegou a confiscar os computadores da empresa Kentaro, que havia organizado a partida.

No Brasil, a Polícia Federal indiciou o ex-presidente pelos crimes de falsificação de documento público, falsidade ideológica, evasão de divisas e lavagem de dinheiro. O Coaf, órgão de investigação financeira do Ministério da Fazenda, registrou movimentação atípica de Ricardo Teixeira dentro do Brasil de R$ 464,5 milhões entre 2009 e 2012.

Também levantou suspeitas a conta de Teixeira em Mônaco. Ao levantar os depósitos feitos na conta, os investigadores norte-americanos e suíços descobriram diversas transferências vindas de contas no Golfo.

Essa não é a primeira vez que a conta de Mônaco é mencionada. Durante a Copa de 2014, um site francês dedicado ao jornalismo investigativo, Mediapart, revelou uma gravação em que banqueiros falam sobre Teixeira e sua conta com 30 milhões de euros no principado.

O banco usado seria o Pasche, uma filial do grupo Credit Mutuel. O caso estaria sendo investigado pelas autoridades monegascas por lavagem de dinheiro, num processo conduzido pelo juiz Pierre Kuentz.

Teixeira teria passado pelo principado em janeiro, fevereiro, abril e maio de 2014, sempre ficando pelo menos dois ou três dias. O cartola se hospedava no luxuoso hotel Metropole. Isso não seria por acaso: o hotel fica a poucos metros do banco.

PLATINI E BLATTER - Por meio de comunicado divulgado nesta quarta, a Fifa ressaltou também que a investigação do Comitê de Ética que apura irregularidades cometidas por Joseph Blatter e Michel Platini, que neste mês receberam uma suspensão de 90 dias, seguem "em curso". "A investigação está focada no pagamento de 2 milhões de francos suíços da Fifa a Platini em fevereiro de 2011", informou.

Em seguida, a Fifa prometeu que a câmara de investigação de seu Comitê de Ética "fará tudo o que estiver ao seu alcance" para garantir que sua câmara decisória, presidida por Hans-Joachim Eckert, possa tomar uma decisão em relação aos dois dirigentes dentro do período de suspensão de 90 dias, que começou a ser cumprida no último dia 8.

A câmara de investigação também confirmou que os processos seguem em curso contra o Jérôme Valcke, secretário-geral que também foi afastado de suas funções pela "suspeita do uso indevido de despesas e outras infrações às regras e regulamentos da Fifa", conforme destacou a entidade nesta quarta.

A Fifa continua com a firme ideia de mudar o período de disputada da Copa do Mundo de 2022 para meses de temperatura menos sufocante, mas o Catar insiste que a Copa de 2022 pode ser disputada em junho e julho, em pleno verão, quando as temperaturas no país atingem 50 graus durante o dia.

O diretor de comunicação do Comitê Supremo da Copa de 2022, Nasser Al Khater, afirmou nesta terça-feira que os estádios e os campos de centro de treinamentos do Mundial terão um moderno e avançado sistema de refrigeração. O estádio com ar-condicionado usará energia sustentável, solar, algo novo que está em fase de testes. Segundo técnicos, a temperatura no campo para os jogadores será de 26 graus, e nas dependências destinadas ao público ficará em 28 graus.

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"Estamos convencidos que podemos sediar a Copa no verão de 2022. Não é um mito, a tecnologia de refrigeração já existe. Não é uma novidade para nós", afirmou Al Khater, em um encontro com jornalistas em Doha.

Está prevista a construção ou reforma de até 12 estádios, e de 64 campos de treinamento que usarão a nova tecnologia. O custo de cada estádio não foi revelado, mas estima-se que gire em torno de US$ 400 milhões (R$ 1,02 bilhão) e US$ 500 milhões (R$ 1,28 bilhão). Técnicos dizem que o custo adicional desse sistema de refrigeração não é significativo no valor total do projeto.

O dirigente do Comitê espera que a questão sobre a data da Copa seja revolvida na próxima reunião com a Fifa, no dia 24 de fevereiro. "A decisão final será tomada pela Fifa. Serão discutidas as opções de verão e inverno. E esperamos que uma decisão seja tomada logo", disse Nasser Al Khater.

O Comitê Supremo da Copa mostrou que até mesmo os locais de Fan Fest, festa realizada pela Fifa fora dos estádios, também contarão com sistema de refrigeração que será usado nos estádios.

Na prática, se a Copa no Catar for disputada no verão, jogadores e torcedores terão de passar a maior parte do tempo isolados em ambientes refrigerados - no hotel, no estádio ou nos campos de treinamentos -, porque circular pelas ruas ou ficar ao ar livre debaixo de temperaturas altíssimas será impraticável.

A Fifa, no entanto, já dá como certo a Copa de 2022 seja disputada no inverno, em dezembro ou janeiro - ainda que a mudança cause um problema no calendário dos clubes europeus, que serão obrigados a interromper suas competições para a realização do Mundial e reiniciá-las depois do evento no Catar.

Na semana passada o secretário-geral da Fifa, Jérôme Valcke, deixou claro que a intenção da entidade é que principal competição de futebol do mundo mude de data para fugir do calor. "Haverá Copa do Catar. A única coisa a definir é quando será realizada. É claro que não será realizada em junho e julho, isso está claro para todos. Ou será no começo ou no final de 2022."

POUCO ÁLCOOL - Al Khater também falou sobre outro assunto polêmico em relação à Copa: o consumo de bebidas alcoólicas - no Catar, a venda é restrita a poucos bares e restaurantes. Segundo ele, os estrangeiros vão entender os hábitos locais sem deixar de aproveitar o Mundial.

"O álcool não faz parte da nossa cultura. O consumo é restrito, limitado, mas a venda é legal. As pessoas vão entender que não haverá bebida à venda em todos os lugares e se adaptar a isso", afirmou. "Cada Copa do Mundo é única, tem um sabor especial de acordo com a cultura do país que a organiza."

5 ESTÁDIOS PRONTOS EM 2018 - O Catar prevê entregar seu primeiro novo estádio da Copa de 2022 em 2016 e reduzir a capacidade de todos eles após o Mundial. O número total para o torneio ainda não foi definido, mas ficará entre oito e 12.

O Comitê Supremo, que funciona como um Comitê Local, já trabalha com cinco estádios para o Mundial: Khalifa Stadium, Al Rayyan Stadium, Qatar Foundation Stadium, Al Wakrah Stadium e Al Bayt Stadium - todos esses ficarão prontos até 2018.

Segundo o Comitê, a capacidade de todos os estádios vai "encolher" em até 50% depois do Mundial. O Catar, país de apenas 2 milhões de habitantes, tem uma Liga de futebol fraca, com baixíssima média de público. Aproximadamente 170 mil assentos serão retirados dos estádios da Copa e doados a outros países.

A primeira Copa em um país árabe será compacta. Dos estádios confirmados pelo Comitê, três ficam em Doha ou nos arredores da cidade - o Catar tem uma área equivalente a metade do estado de Sergipe.

O principal estádio, batizado de Iconic, que receberá a cerimônia de abertura e encerramento da Copa, será construído em Lusail, uma cidade que está sendo erguida do zero a 15 quilômetros de Doha. A capacidade no Mundial será de 86 mil pessoas.

O Comitê Supremo da Copa também será responsável por monitorar outras obras relacionas ao Mundial. Em Doha, o metrô está sendo construído. E a expectativa é que até 2019 sejam inauguradas quatro linhas e 36 estações.

A entrada do Catar na rota mundial do esporte não mudou os hábitos do país quanto ao consumo de álcool pelos estrangeiros. Um exemplo: nos modernos (e caríssimos) ginásios construídos para o Mundial de Handebol Masculino, em Doha, o consumo de bebidas alcoólicas continua proibido. Como em outros locais públicos da cidade, os ginásios só vendem café, chá, água e refrigerante, seguindo as tradições do país, um estado islâmico. O álcool continua sendo um assunto tabu.

O regime de abstinência quase total do país tem apenas uma exceção programada: a Copa do Mundo de 2022, que o Catar vai promover por ter vencido uma polêmica eleição feita pela Fifa. Por pressão da entidade, que, entre os seus patrocinadores, tem a Budweiser (marca de cerveja), uma série de regras está em discussão.

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Embora o Comitê Local já tenha decidido que o álcool será de algum modo liberado, ainda não se sabe se o consumo será permitido apenas nos estádios ou também em outras áreas, como as Fan Fests da Fifa. "O álcool não faz parte da cultura do Catar e pode não estar disponível em todos os lugares, mas o álcool estará disponível em áreas designadas. A Fifa, em conjunto com o Comitê Local, trabalhará para determinar a extensão dessas áreas", afirmou um comunicado emitido pelo Comitê da Copa do Catar, publicado no site da entidade.

Até mesmo nas grandes redes de supermercados a venda de álcool é proibida. Restaurantes do tradicional bairro Souq Waif, um dos principais pontos turísticos da cidade, também não podem comercializar bebidas alcoólicas.

Em novembro, o famoso chef inglês Gordon Ramsey fechou as portas de seu restaurante poucos meses depois de abri-lo porque teve a sua licença para vender bebidas alcoólicas revogada. Uma boa parte do faturamento do estabelecimento vinha da venda de vinhos.

A proibição atingiu outros estabelecimentos do luxuoso The Pearl-Catar, ilha artificial que se tornou um bairro rico, frequentado sobretudo por estrangeiros. Hoje, apenas alguns hotéis cinco estrelas podem vender cerveja, vinho e uísque para estrangeiros. Geralmente são hotéis de bandeiras internacionais como Hilton, Four Seasons e The Ritz-Carlton. Beber uma cerveja nesses lugares, aliás, não é nada barato. Um copo de uma marca internacional custa entre R$ 33 e R$ 50. Estrangeiros que vivem e trabalham em Doha precisam de uma licença do governo para poder comprar álcool em um estabelecimento oficial.

"Não sei por que um país árabe e muçulmano como o Catar quer receber milhares de turistas ocidentais numa Copa com hábitos tão diferentes como os daqui", disse um motorista nepalês. "São hábitos completamente diferentes".

Desde abril do ano passado, Doha já recebeu cerca de 40 eventos esportivos internacionais. Competições esportivas de grande porte acontecem de três a quatro vezes por mês. A cidade é sede de um torneio de tênis da ATP, já recebeu o Mundial de natação de piscina curta e agora sedia o Mundial de handebol. A Copa de 2022 será o ápice do projeto do Catar de se afirmar mundialmente como um país do esporte.

A Fifa decidiu enterrar o processo em relação às suspeitas de compra de votos por parte do Catar para sediar a Copa de 2022. Nesta terça-feira, a entidade declarou que rejeitou o recurso apresentado pelo investigador norte-americano Michael Garcia em relação à decisão do tribunal da Fifa de manter o Mundial de 2018 na Rússia e o de 2022 no país do Golfo Pérsico.

Há um mês, o juiz supostamente independente da Fifa, Hans Joaquim Eckert, declarou que não existiam provas suficientes para dizer que o Catar havia comprado a Copa, depois que Garcia realizou dois anos de investigações e produziu 200 mil páginas de um informe detalhado sobre os incidentes de corrupção. Revoltado com a decisão, Garcia decidiu entrar com um recurso. Segundo ele, Eckert simplesmente ignorou suas recomendações e suas provas da corrupção.

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Mas, nesta terça-feira, o caso foi encerrado. O Comitê de Apelação da Fifa "concluiu que o recurso de Garcia é inadmissível". Para a entidade, o informe de Eckert não cita "violações de regras de pessoas acusadas e nem contém recomendações sobre como punir pessoas acusadas".

Para a entidade, o informe ainda não é final e, enquanto não houver um caso contra uma pessoa acusada, mencionando as possíveis violações de regras, "não há espaço" para um recurso. Sem credibilidade e escondendo cerca de 200 mil páginas do processo, a Fifa esperava que a decisão do mês passado encerrasse de uma vez por todas a crise na entidade.

Eckert apenas cita a necessidade de punir alguns cartolas e fortalecer o processo de seleção a partir da Copa de 2026. Mas não haverá um novo voto para escolher uma nova sede e nem os organizadores do Catar ou Rússia serão punidos.

A Fifa confirma que empresários e cartolas do Catar de fato pagaram cerca de R$ 12 milhões para conseguir apoio. Mas o juiz não recomenda que haja um novo processo de seleção e a entidade não acredita que os incidentes são graves o suficiente para justificar tirar a Copa do país do Golfo Pérsico. "Assumir que envelopes cheios de dinheiro são dados em troca de votos é ingenuidade", escreveu o juiz. Segundo ele, as quebras nas regras do processo de seleção foram "muito limitadas em sua abrangência".

"A avaliação do processo de escolha das sedes está encerrada para o Comitê de Ética da Fifa", declarou. Segundo ele, as violações que ocorreram não foram suficientes para justificar um retorno ao voto "e muito menos reabrir os processos". Para Eckert, o processo foi "robusto e profissional".

O juiz de ética da Fifa, Joachim Eckert, revelou surpresa nesta sexta-feira com as críticas feitas pelo próprio presidente da Câmara de Investigação do Comitê de Ética da entidade, Michael Garcia, ao relatório no qual o organismo que controla o futebol mundial isentou Rússia e Catar de corrupção no processo que levou os dois países a serem eleitos as respectivas sedes das Copas do Mundo de 2018 e 2022.

O investigador norte-americano disse, na última quinta, horas após a divulgação do documento, que o mesmo "contém numerosas interpretações incompletas e errôneas dos fatos", assim como revelou que deverá apelar contra a decisão da Fifa.

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Surpreso com a reação de Garcia, o juiz alemão criticou o fato de o norte-americano não ter primeiro o procurado, antes de soltar o comunicado reprovando o relatório de 42 páginas que foi fruto de uma investigação de dois anos. "Eu devo e quero falar primeiro com Garcia", disse Eckert à agência Associated Press.

O juiz evitou criticar Garcia, mas disse que "normalmente você deve discutir internamente se não gosta de uma decisão". Desta forma, ele também evitou discutir publicamente o conflito que passará a travar com o investigador em relação ao relatório que ratificou a realização dos Mundiais da Rússia e do Catar.

Ao divulgar o documento na última quinta-feira, Eckert disse não ter encontrado motivos para abrir novos processos de votação para determinar possíveis novas sedes para as duas próximas Copas, apesar das denúncias de corrupção que abalaram a credibilidade das candidaturas que venceram a disputa para abrigar o evento, em dezembro de 2010. Ele apenas citou a necessidade de punir alguns dirigentes e de fortalecer o processo de seleção das sedes a partir da Copa de 2026.

Depois de meses de acusações e das promessas da Fifa de que a corrupção seria atacada, a entidade conclui que a Copa de 2022 ocorrerá no Catar e que o torneio mais polêmico em décadas vai ser mantido no Oriente Médio. A Rússia, que literalmente destruiu suas provas e não colaborou com as investigações, também foi inocentada no processo para a Copa de 2018.

Mas um amistoso entre Brasil e Argentina no Catar, em 2010, foi destacado como tendo sido organizado para fazer parte de um esquema para transferir dinheiro para a Associação de Futebol da Argentina por parte de um "conglomerado" catariano.

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Sem credibilidade e escondendo cerca de 200 mil páginas do processo, a Fifa espera que a decisão desta quinta-feira encerre de uma vez por todas a crise na entidade. Mas, ao contrário do que tinha anunciado de que o texto era sigiloso, o organismo confirmou à reportagem que enviou para "alguns meios de comunicação" o informe na noite de quarta. Da totalidade do processo, apenas 42 páginas sem os nomes dos envolvidos foi divulgado.

Em uma declaração emitida na manhã desta quinta-feira e depois de dois anos de investigações, o juiz supostamente independente da Fifa, Hans Eckert, apenas cita a necessidade de punir alguns cartolas e fortalecer o processo de seleção a partir da Copa de 2026. Mas não haverá um novo voto para escolher uma nova sede e nem os organizadores do Catar ou Rússia serão punidos.

A Fifa confirma que empresários e cartolas do Catar de fato pagaram cerca de R$ 12 milhões para conseguir apoio. Mas o juiz não recomenda que haja um novo processo de seleção e a entidade não acredita que os incidentes são graves o suficiente para justificar tirar a Copa do país do Golfo Pérsico.

"Assumir que envelopes cheios de dinheiro são dados em troca de votos é ingenuidade", escreveu o juiz. Segundo ele, as quebras nas regras do processo de seleção foram "muito limitadas em sua abrangência".

"A avaliação do processo de escolha das sedes está encerrada para o Comitê de Ética da Fifa", declarou. Segundo ele, as violações que ocorreram não foram suficientes para justificar um retorno ao voto "e muito menos reabrir os processos". Para Eckert, o processo foi "robusto e profissional".

A Fifa, obviamente, comemorou e deixou claro que as especulações de que o presidente da entidade, Joseph Blatter, queria tirar a Copa do Catar não passavam de manipulações na imprensa para tentar limpar seu nome.

"As investigações não encontraram nenhuma violação das regras", declarou a entidade em um comunicado. "Portanto, a Fifa espera continuar o trabalho para a Copa de 2018 e 2022, que estão em bom caminho", declarou.

O investigador que passou dois anos apurando o caso, Michael Garcia, teria ficado profundamente irritado com as conclusões do juiz alemão. Se não bastasse, o anúncio ocorre justamente quando Catar e Rússia estão organizando nesta quinta, em Moscou, um evento conjunto para mostrar a importância de seus países no futebol. A Fifa também chancelou o evento.

No documento, a Fifa apenas acusa cartolas que já não têm relações com o futebol, como Jack Warner, Mohammed bin Hammam, Chuck Blazer e Reynald Temarii. Todos esses já foram punidos no passado. Os atuais dirigentes e outros como Ricardo Teixeira, porém, não têm seus nomes revelados e processos poderão começar a partir de agora.

Um dos pontos centrais da investigação era o papel de Bin Hammam, do Catar. Ex-vice-presidente da Fifa, ele atuava tanto como membro da entidade como também fazendo parte dos planos do país para sediar a Copa.

No informe, a Fifa constata que de fato Bin Hammam distribuiu dinheiro a outros cartolas. Mas a investigação não conseguiu provas suficientes para ligar os pagamentos à compra de votos para o Catar.

No caso da Rússia, a entidade também dá sinal verde. Mas deixa claro que houve uma falha na cooperação. Moscou alegou que seu sistema informático "limpou" todos os e-mails entre os cartolas e dirigentes.

Com a decisão desta quinta, a Fifa fica livre para processar cartolas individuais. Mas encerra o debate sobre onde serão as duas próximas Copas do Mundo.

No caso da investigação sobre a Rússia, os documentos revelam que os organizadores simplesmente destruíram os computadores onde estavam os arquivos e alegaram que não poderiam passar os e-mails enviados porque o Google não havia autorizado.

BRASIL - O ex-presidente da CBF, Ricardo Teixeira, foi um dos investigados. Mas, no resumo de 42 páginas do processo, nenhum nome é citado. A Fifa, porém, deixa claro que o amistoso entre o Brasil e Argentina em novembro de 2010 no Catar foi realizado com o objetivo de transferir recursos para cartolas.

Segundo a investigação, uma empresa que pertencia a um conglomerado do Catar "financiou o evento". "Um rico sócio da entidade do Catar organizou o apoio, supostamente para fazer lobby por um investimento no setor do esporte", indicou o informe.

Segundo os organizadores da Copa de 2002, a entidade que pagou pelo evento não tem relação com o torneio da Fifa e nem com a Associação de Futebol do Catar. De acordo com esses dirigentes, "o fundo para organizar o jogo não veio do Catar/2022 e nem da Associação e o total pago para financiar o jogo era comparável às taxas que se pagam por outros jogos envolvendo times de elite".

Apesar da versão dos dirigentes, a investigação indicou que os contratos para o jogo podem ser violações do Código de Ética da Fifa. "O financiamento do evento e sua estrutura contratual levantam, em parte, preocupações em particular em relação a certos arranjos relacionados com pagamentos para a Associação de Futebol da Argentina". Para os investigadores, entretanto, os acordos "não estão conectados com a campanha do Catar para a Copa de 2022".

Naqueles mesmos dias de novembro de 2010, Teixeira assinaria uma extensão do contrato com uma empresa árabe, a ISE, prolongando os direitos da companhia até 2022 para organizar os amistosos da seleção brasileira. Teixeira declarou ainda que votou pelo Catar e era um aliado de Bin Hammam.

INGLATERRA - Se o Catar e a Rússia foram absolvidos, a Fifa não economizou críticas contra a Inglaterra, acusando de não colaborar nas investigações e tendo distribuído presentes, como bolsas, aos cartolas e suas esposas. A candidatura de Portugal e Espanha para a Copa de 2018 também não colaborou com o processo.

O ministro do Esporte do Catar, Salah bin Ghanem bin Nasser al-Ali, afirmou que a Copa do Mundo de 2022 será um acontecimento esportivo de tal excelência que o mesmo será "quase impossível" de ser superado por outro após a sua realização. O dirigente fez a previsão de sucesso em relação ao evento em entrevista exclusiva à agência Associated Press, na qual também prometeu, entre outras coisas, que o país irá implementar reformas trabalhistas nos próximos meses, visando o combate ao trabalho infantil ou considerado escravo na nação.

Salah bin Ghanem bin Nasser al-Ali ainda insistiu que o Catar não colocará em perigo as suas ambições esportivas e o Mundial com dinheiro que supostamente poderia ser financiado pelo terrorismo, problema tão presente no Oriente Médio. Já em relação à venda de bebidas alcoólicas nos estádios durante a Copa e sobre como serão recebidos os torcedores homossexuais no Catar, o ministro não foi muito explícito, mas prometeu soluções "criativas" para estas questões que estão em conflito direto com a cultura árabe e suas leis.

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Al-Ali não deixou dúvida de que o Catar quer organizar uma Copa, financiada principalmente com suas vastas riquezas petrolíferas e da exploração do gás natural, para deslumbrar o mundo. O ministro destaca que o Oriente Médio "precisa de algo como isso". "É uma esperança. Significa dar aos jovens da região um evento positivo que possa mudar muitas de suas esperanças e sonhos", ressaltou.

Ele vê hoje o nome Catar como "uma marca vinculada com qualidade, com luxo" e disse que o país não prejudicará essa marca "organizando uma Copa que não seja bem-sucedida". A confiança é tanta em um Mundial de sucesso no país árabe que Al-Ali disse que "Deus precisará ajudar o país que organizar o Mundial depois de nós". "Realmente acredito nisso. Verão que será algo quase impossível de superar", ressaltou, apesar da pouca tradição dos árabes no cenário do futebol mundial.

Já ao falar sobre as acusações de que o Catar apoia o grupo Estado Islâmico e outros extremistas, Al-Ali garantiu que não teria sentido que "um país que quer organizar a Copa e grandes eventos todos os anos" financie o terrorismo. "Isso é ridículo... Apoiar a qualquer grupo terrorista não faz nenhum bem. Somente vai te prejudicar algum dia", enfatizou.

Para reforçar que o Catar também irá combater de forma enérgica a exploração aos trabalhadores, após denúncias de que imigrantes estariam sendo usados com mão-de-obra infantil ou escrava, Al-Ali lembrou que seu próprio pai trabalhou quando tinha 12 anos de idade na indústria petroleira em "condições muitos duras" no que hoje "equivaleria a abuso infantil". "Compreendemos o problemas. Para nós é uma questão humana", disse o ministro, para depois assegurar: "Não somos vampiros. Temos emoções".

Dentro deste contexto, Al-Ali afirmou que as propostas para mudar as leis trabalhistas já foram enviadas ao gabinete do governo e serão aprovadas "nos próximos meses", depois que grupos defensores de direitos humanos documentaram maus-tratos a trabalhadores migrantes no Catar.

A Associação de Futebol da Inglaterra (FA) pediu nesta terça-feira que a Fifa publique o relatório com as conclusões da investigação sobre as denúncias de compra de votos no processo de escolha do Catar como sede da Copa do Mundo de 2022. "Nós, como a FA, vamos pedir isso", declarou o presidente da entidade, Greg Dyke, ao parlamento britânico.

A Fifa iniciou a investigação, comandada pelo promotor norte-americano Michael Garcia, depois que o jornal inglês Sunday Times denunciou um esquema de compra de votos. A FA exige explicações da principal entidade do futebol mundial porque era candidata para sediar a Copa de 2022, além da de 2018, na Rússia, que também está sendo alvo de investigação.

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Na última segunda, a Fifa comunicou sobre um novo adiamento da entrega do relatório, uma vez que Michael Garcia pediu mais tempo para concluir a investigação. Inicialmente, o promotor havia prometido liberar o documento em junho, depois adiou para o fim de julho e, agora, pediu uma nova extensão do prazo até o início de setembro.

Até o momento, nem Michael Garcia nem a Fifa divulgaram qualquer detalhe sobre este relatório. Nesta terça, Greg Dyke disse esperar que esta postura mude e que o documento seja liberado. "Senão, eu espero que o Sunday Times consiga se apoderar dele", comentou o presidente da FA.

Segundo o jornal inglês, cartolas do Catar teriam pago pelo menos US$ 5 milhões (aproximadamente R$ 11,2 milhões) para comprar votos para que o país fosse escolhido como sede do Mundial de 2022. O maior alvo da denúncia é Mohamed Bin Hammam, um dos principais agentes do futebol do Catar, que teria atuado em diversas regiões do mundo para comprar apoio. A principal delas foi a África, que teve quatro cartolas votando na eleição.

Bin Hammam teria usado mais de dez fundos para fazer dezenas de pagamentos de até R$ 447,8 mil para presidentes de 30 federações de futebol no continente. O Comitê Organizador da Copa no Catar nega as acusações.

Apesar de a Fifa estar investigando denúncias de corrupção no processo de votação que definiu o Catar como sede da Copa de 2022, os organizadores do Mundial daquele país seguem confiantes de que seguirão como palco da competição. Mais uma vez, neste domingo (8), eles negaram qualquer ilegalidade no processo de escolha do País para sediar o Mundial.

"Seguindo as instruções da Fifa, que nos pediu para não formularmos comentários sobre as investigações, acataremos esse pedido. O Catar ganhou o direito de ser sede da Copa dentro da Lei e estamos seguros que no final do processo a sede do Mundial de 2022 será confirmada", disseram os organizadores, através de nota.

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De acordo com denúncia do jornal britânico The Sunday Times, um suborno foi pago a dirigentes de diversas federações ao redor do mundo para que votassem no país asiático.

Um fiscal da Fifa deve encerrar na próxima semana sua investigação, que compreende também a escolha da Rússia para sediar a Copa de 2018. Ex-presidente da Confederação Asiática de Futebol e um dos principais agentes do futebol do Catar, Mohammed Bin Hammam seria o líder deste esquema. Ele seria o organizador do acordo que teria pago pelo menos US$ 5 milhões (aproximadamente R$ 11,2 milhões) para a compra dos votos.

O nome de Michel Platini, presidente da Uefa, passou a ser envolvido no imbróglio a partir da última segunda-feira, quando outro jornal britânico, o The Daily Telegraph afirmou que o dirigente teria participado de "reuniões secretas" com Bin Hammam pouco antes da eleição de 2010.

Platini admitiu ter se encontrado diversas vezes com Bin Hammam, mas minimizou, ao lembrar que na época ambos eram colegas do Comitê Executivo da Fifa. Ao L'Equipe, o ex-jogador falou novamente sobre o assunto e garantiu que "algo ou alguém" está tentando manchar sua imagem para atrapalhar uma possível candidatura à presidência da Fifa.

A reputação da Fifa depende de solucionar as acusações sobre a escolha do Catar como sede da Copa do Mundo de 2022, de acordo com o conselheiro anticorrupção da entidade, que dirige o Comitê Independente de Governança (IGC, na sigla em inglês). O painel, presidido por Mark Pieth deu o seu pleno apoio nesta quarta-feira a uma investigação da eleição das sedes dos Mundiais de 2018 e 2022, liderada pelo promotor Michael Garcia.

"A comissão de ética não deve descansar até que haja uma resposta conclusiva", escreveu Pieth em um relatório aos membros do Comitê Executivo da Fifa. "Se a Fifa emergiu em escândalos nos últimos anos, deve agora produzir uma resposta convincente e transparente para todas as questões relativas a decisões de sedes, ou para confirmar que as suspeitas são, infelizmente, bem fundamentadas ou demonstrar que são infundadas", afirma o relatório.

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Os comentários foram publicados em um relatório final de 15 páginas, produzido por Pieth para o Comitê Executivo, que escolheu a Rússia e o Catar como sedes das Copas do Mundo de 2018 e 2022, respectivamente, em dezembro de 2010.

Depois que o presidente da Fifa, Joseph Blatter, prometeu reformar a entidade em 2011, o comitê nomeou Pieth para liderar uma comissão, que insistiu em criar um órgão independente de ética para combater a corrupção.

"Isto inclui explicitamente alegações em relação às decisões sobre as sedes da Copa do Mundo e a IGC destacou esta questão, incluindo a decisão de atribuir o torneio ao Catar com uma necessária investigação mais aprofundada", escreveu Pieth, nesta quarta-feira.

Assim, ele pede para que membros da Fifa contribuam para a investigação capitaneada por Garcia. "A visão do IGC era de que apenas a nomeação de um competente e experiente profissional de fora para esse papel permitiria que se investigasse as acusações de corrupção no coração da Fifa", disse Pieth. "A Fifa e todos indivíduos envolvidos devem, portanto, total e incondicionalmente, cooperar com a investigação de Garcia".

Nos últimos meses, Garcia vem colhendo depoimentos de membros da Fifa envolvidos no processo de escolha das sedes da Copa do Mundo, incluindo o presidente Blatter. E há a expectativa de que ele apresente ainda neste ano denuncias na comissão de ética da Fifa, comandada por Joachim Eckert, que decidirá as punições.

Embora Blatter tenha dito que a Rússia e o Catar não perderão o direito de sediar o torneio, não está claro como a comissão de ética pode tentar usar a sua autoridade. "Se as acusações forem confirmadas, a Fifa deve garantir que as consequências sejam significativas", escreveu Pieth.

O Comitê Organizador da Copa do Mundo de 2022 se pronunciou oficialmente nesta terça-feira para negar que tenha conhecimento do pagamento de um suposto suborno a um ex-vice-presidente da Fifa, que teria ocorrido depois de o Catar ser escolhido como sede do Mundial. O pronunciamento ocorre depois de ter surgido, na última segunda, a informação de que o FBI está investigando um depósito feito a Jack Warner, ex-dirigente caribenho e ex-número 2 da entidade que controla o futebol mundial, por uma empresa de um dirigente catariano, dias depois que o país árabe foi eleito palco de uma edição da mais importante competição do esporte.

Warner teria recebido mais de US$ 2 milhões de uma empresa ligada à campanha do Catar para abrigar a Copa e sua família, que vive em Miami, também teria recebido parte do dinheiro e hoje estaria cooperando com as investigações. Documentos revelam pagamentos que, segundo a polícia americana, precisam ser esclarecidos.

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A edição desta terça-feira do jornal britânico Daily Telegraph informou nesta terça que existem evidências de que uma empresa de Mohamed Bin Hammam, ex-representante do Catar na Fifa e que chegou a se candidatar para presidir a entidade com o apoio de Ricardo Teixeira, ex-presidente da CBF, pagou quase US$ 2 milhões para Warner e seus familiares.

Por meio de um comunicado, porém, o Comitê Supremo para Entrega e Legado da Copa do Mundo de 2022 disse que o processo de candidatura do país "respeitou rigorosamente as normas da Fifa em conformidade com o seu código de ética". Em seguida, o informe enfatizou que o comitê "não têm conhecimento de quaisquer alegações que cercam transações comerciais entre indivíduos privados".

Em dezembro de 2010, a Fifa elegeu oficialmente o Catar como sede da Copa de 2022. O país árabe venceu Estados Unidos, Austrália, Japão e Coreia do Sul na disputa para abrigar a competição, sendo que em 2011 a Associação de Futebol do Catar já havia negado que ofereceu subornos a representantes da entidade máxima do futebol para ganhar votos no processo de escolha da sede do torneio.

No centro da polêmica envolvendo a escolha do Catar como sede da Copa de 2022, Warner deixou a Fifa em 2011, depois que ficou provado que ele ajudou Bin Hammam a distribuir subornos para outros cartolas com a intenção de vencer a eleição na Fifa naquele ano.

Documentos investigados pela polícia dão conta de que, no dia 15 de dezembro de 2010, as empresas de Bin Hammam teriam enviado US$ 1,2 milhão para contas de Warner, enquanto um pagamento de mais US$ 1 milhão teria sido encaminhado para o filho do dirigente e empregados de suas empresas.

Chamou a atenção do FBI o trajeto destas quantias em dinheiro, que inicialmente deveriam ter sido enviadas a um banco nas Ilhas Cayman, mas a instituição em questão recusou o depósito. Segundo o jornal The Telegraph, o dinheiro então circulou via Nova York, o que chamou a atenção das autoridades americanas.

Os tons pastéis dão um sentido de uniformidade ao Catar, como se não houvesse contrastes na rica nação do Oriente Médio. A cor da areia é repetida em todas as edificações, até mesmo na maioria dos carros, para diminuir os efeitos do sol. Mas a diminuta península que invade o Golfo Pérsico, vinda da Arábia Saudita, tem seus conflitos e grandes desafios a superar até 2022, quando abrigará a Copa do Mundo em um território que tem apenas o dobro do tamanho do Distrito Federal.

Entre as questões problemáticas, um crescimento econômico acelerado, cuja demanda por força de trabalho a pequena população não consegue atender, o clima, a dimensão territorial e a falta de perspectiva de o país construir uma seleção minimamente competitiva, resultado de uma liga fraca e pouco estimulante.

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Por outro lado, o Catar será uma sede muito menos problemática para a Fifa e suas infindáveis exigências. Dinheiro não é problema. Em 2012, o PIB do Catar foi de US$ 182 bilhões, para uma população de aproximadamente 2 milhões de pessoas, a mais alta renda per capita do mundo.

Ao longo dos próximos oito anos, grande parte dessa riqueza será destinada ao esforço de entregar estádios e a infraestrutura (construção de um sistema de metrô) necessários para a Copa. Projetam-se investimentos de R$ 450 bilhões.

E os estádios estarão prontos como muita antecedência. Situação como a vista no Brasil, quando o Maracanã foi entregue incompleto para a Copa das Confederações e as seis arenas restantes para a Copa de 2014 previstas para conclusão a apenas quatro meses do pontapé inicial, provavelmente não ocorrerão. A expectativa é que o último estádio seja entregue em 2020.

E não espere protestos e reação negativa da população se houver estouro de orçamento. O Catar é uma monarquia absolutista. A voz do povo não é um conceito por lá. Ao contrário, a população local (88% dos habitantes da capital Doha são estrangeiros) dá apoio irrestrito à empreitada.

Ironicamente, porém, tanta riqueza em uma nação que mal aparece no mapa também gera contrastes que não se vê em um giro superficial por Doha. O país não dá conta de avançar na velocidade que a fortuna derivada do petróleo e do gás demanda. E as diferenças de classes começam a surgir entre uma população pouco familiarizada com abismos sociais. A questão da falta de mão de obra, exacerbada pela explosão da construção civil como resultado das obras para a Copa, criou uma classe trabalhadora quase toda estrangeira, pobre e que vive sob regime de escravidão e trabalho forçado.

Protegidas por uma legislação permissiva e não aplicada, as empreiteiras não pagam o combinado e impedem o trabalhador de retornar a seu país. Regras de segurança não são respeitadas e as condições sanitárias e de habitação são degradantes. "É uma oportunidade de avanços físicos, mas também na área social, do trabalho. Sabemos que temos desafios ", diz Nasser Al Khater, diretor de comunicação do Supremo Comitê Catar 2022. "Com a Copa vem o escrutínio (do mundo). Não negamos nossos problemas."

Mas os obstáculos não dizem respeito apenas a direitos humanos e temas de maior abrangência. Os organizadores ainda brigam com a Fifa a respeito do período da Copa.

Em junho/julho, verão no hemisfério norte e de pausa nas principais ligas, o clima é proibitivo não só para o esporte, mas para a circulação de pessoas.

Se o sistema de ar condicionado nas arenas pode resolver a primeira parte, não resolverá a segunda. Tudo indica que a Copa do Catar será no período de novembro/dezembro, quando os termômetros oscilam entre agradáveis 24º e 29ºC. É o que a Fifa tem acenado.

Encontrar opções de turismo e lazer também será problemático em uma nação pequena e de poucos atrativos. Os estádios estarão quase todos a poucos quilômetros um do outro. "Será uma Copa compacta. Um torcedor poderá ver até três jogos por dia e as delegações e mídia poderão se fixar em uma cidade sem a necessidade de desgaste com viagens de avião e mudança constante de hotéis", afirma Hassan Al Thawadi, secretário geral do Supremo Comitê.

Outro aspecto vantajoso, para a Fifa, é que não haverá discussão sobre as imposições feitas pela entidade ao país-sede. Tudo no Catar poderá ser resolvido em segundos, com uma assinatura do emir Tamim bin Hamad Al Thani. Assim será dirimida qualquer controvérsia a respeito do consumo de álcool. Alguns hotéis têm liberação de venda de bebidas e isso será estendido aos estádios. Um ponto que pode gerar debate será quanto ao uso de cerveja em áreas abertas, como as "fan fests" e "fan zones".

A segurança é alvo de pouquíssima preocupação. O Catar é dos países mais seguros do mundo. Não é raro ver um cidadão deixar seu carro com o motor e o ar condicionado ligados enquanto estaciona para uma compra rápida. O terrorismo é um assunto tabu, mas o país não tem o histórico de atentados.

Até a bola rolar para a partida inaugural, o Catar tem tempo para atacar seus problemas e destacar suas virtudes. Disposição para se abrir ao mundo não falta aos catarianos, que não apenas aceitam a presença do Ocidente como desejam o intercâmbio cultural que ele traz.

Não foi desta vez que a Fifa chegou a uma definição sobre a data para a realização da Copa do Mundo de 2022, no Catar. Nesta sexta-feira (4), após dois dias de reuniões na sede da entidade, em Zurique, o presidente Joseph Blatter veio a público e adiou a decisão, que só deverá acontecer entre 2014 e 2015.

O Comitê Executivo da Fifa se reuniu nos últimos dois dias com os organizadores do Mundial de 2022 para tentar chegar a uma solução sobre a data para a competição. Se for realizada no meio do ano, como acontece tradicionalmente, a Copa do Mundo acontecerá durante o rigoroso verão do Catar, o que fez com que fosse levantada a possibilidade de adiantá-la para o início do ano.

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Blatter avisou que a definição dependerá de "uma consulta muito profunda" que a Fifa fará com líderes do futebol, patrocinadores e redes de televisão. A intenção é aliar o interesse de todos. Mas essas conversas só serão iniciadas após a Copa do Mundo de 2014, no Brasil, o que deve fazer com que só se chegue a um veredicto em 2015.

O presidente da Fifa também se posicionou em relação aos protestos ocorridos na última quinta-feira, quando cerca de 100 manifestantes foram à sede da entidade cobrar melhores condições de trabalho no Catar. Segundo uma reportagem da última semana do jornal inglês The Guardian, o Comitê Organizador da Copa de 2022 estaria utilizando trabalho escravo nas obras.

Ainda segundo a publicação, imigrantes do Nepal estão sendo trazidos sob condições precárias e, inclusive, 44 operários nepaleses teriam morrido em Doha entre 4 de junho e 8 de agosto. Os manifestantes pediam que a Copa fosse retirada do Catar enquanto não houvesse melhores condições de trabalho. Blatter prometeu investigar o caso, mas descartou a realização do Mundial em outro país.

"A Fifa não pode interferir nas leis trabalhistas de nenhum país, mas também não pode ignorá-las. Quero expressar todo meu sentimento e pesar por tudo que acontece em qualquer país onde há mortes em construções locais, especialmente quando relacionadas à Copa do Mundo", comentou. "Mas a Copa será disputada no Catar", completou.

Protestos marcaram uma reunião realizada nesta quinta-feira na sede da Fifa, em Zurique, para discutir detalhes da realização da Copa do Mundo de 2022, no Catar. Enquanto integrantes do Comitê Executivo da entidade se reuniam com os organizadores da competição, grupos sindicais se manifestavam do lado de fora contra as condições de trabalho no país-sede.

Cerca de 100 manifestantes exibiam cartões vermelhos simbólicos à Fifa, em protesto exigindo que fossem respeitados os direitos trabalhistas dos operários que trabalham nas obras para o torneio. "Cartão vermelho para a Fifa" e "não à Copa do Mundo no Catar sem direitos dos trabalhadores" eram alguns dos dizeres de cartazes e faixas exibidos pelos grupos.

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A revolta teve início com uma matéria publicada pelo jornal inglês The Guardian, que na semana passada acusou o Comitê Organizador da Copa de 2022 de utilizar trabalho escravo nas obras. Segundo a publicação, imigrantes do Nepal eram trazidos sob condições precárias e, inclusive, 44 operários nepaleses teriam morrido em Doha entre 4 de junho e 8 de agosto.

O Comitê Organizador do mundial prometeu investigar o caso e, nesta quinta, seu chefe-executivo, Hassan al-Thawadi, tratou a segurança dos operários como "prioridade". "Sempre será nossa prioridade", disse, antes de defender o histórico do Catar na proteção dos direitos trabalhistas. "Se o Mundial está fazendo algo, é acelerar muitas dessas iniciativas."

Enquanto os manifestantes protestavam do lado de fora, a reunião continuava na sede da Fifa, e o principal assunto debatido era a possibilidade de alterar a data da realização do torneio. Isso porque se for realizada no meio do ano, como acontece tradicionalmente, a Copa do Mundo acontecerá durante o rigoroso verão do Catar.

Al-Thawadi admitiu a possibilidade de mudança e descartou qualquer chance de a Fifa levar o torneio para outro país. "Estamos tranquilos e confiantes de que a Copa do Mundo não sairá do Catar", comentou o dirigente, antes de afirmar que ainda "não há expectativa" sobre uma decisão da principal entidade do futebol mundial.

O presidente da Fifa, o suíço Joseph Blatter, revelou nesta quarta-feira os seus planos para tentar mudar a data da Copa do Mundo de 2022, que será jogada no Catar. Tradicionalmente realizada entre os meses de junho e julho, o Mundial está marcado para acontecer em pleno verão no Oriente Médio, época em que as temperaturas podem atingir a marca de 50ºC. Por isso, Blatter pensa em pedir ao Comitê Organizador a mudança para o início do ano, durante o inverno na região.

"Se a Copa do Mundo é para ser uma festa para o povo, você não pode jogar futebol no verão (do Catar). Você pode refrigerar os estádios, mas não se pode refrigerar o país inteiro", afirmou Blatter, nesta quarta, em Zurique. Os organizadores do Mundial no Catar já revelaram que todos os estádios terão sistema de ar condicionado, que manterão a temperatura interior agradável.

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Em maio passado, em uma entrevista a um jornal francês, Blatter já havia dito que não seria racional e razoável que a Copa de 2022 seja jogada no verão escaldante do Catar. O presidente da Fifa pensa na mudança e sabe que isso acarreta uma série de mudanças no calendário do futebol, especialmente no da Europa, por pelo menos uma temporada.

"Ainda há muito tempo para resolver isso. Vou levar esta questão para o Comitê Executivo", disse Blatter, que espera apenas o bem para todos. "Nós temos que proteger nossos parceiros, nos parceiros comerciais e nossos parceiros televisivos. Temos que ser duros nesta questão".

No Catar, a ideia de Blatter parece ser bem aceita. O presidente do Comitê Organizador da Copa de 2022, Hassan Al-Thawadi, já disse que não vê problemas para uma mudança de data. "Se esse é o desejo da comunidade do futebol, de jogar o Mundial no inverno, estamos aberto a isso", afirmou.

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