O empresário Bruno Rafael Candido de Oliveira, de 29 anos, tem horários flexíveis e, às vezes, trabalha de casa. Quando precisa ir ao escritório, no centro de São Paulo, usa o Rodoanel para cortar caminho e diz não se incomodar com os 50 quilômetros de distância entre a capital e Vargem Grande Paulista. Como Oliveira, diariamente 1,1 milhão de pessoas - mais do que a população de Campinas - viajam a São Paulo para trabalhar ou estudar e depois voltam para casa naqueles que são chamados de movimentos pendulares.
Os deslocamentos entre cidades paulistas dobraram em uma década, enquanto o crescimento populacional foi de 1% ao ano. O fenômeno foi analisado pelo Núcleo de Estudos de População (Nepo) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), a pedido da Empresa Paulista de Planejamento (Emplasa), para ajudar a planejar políticas de habitação e mobilidade. A pesquisa obtida pelo Estado considera viagens feitas por maiores de 15 anos na macrometrópole paulista - 173 municípios entre a Baixada Santista e o Vale do Paraíba, passando por São Paulo, Campinas e São José dos Campos.
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A história de Oliveira ajuda a explicar o crescimento dos movimentos pendulares. "Morando em São Paulo, você está sempre no 220. Quando chego em casa, desligo, passo uma noite agradável e volto renovado para o trabalho no outro dia", diz Oliveira, que trabalha com comércio eletrônico. Casado e com uma filha de sete meses, ele quer se mudar para um condomínio da Granja Viana, em Cotia. Porém, ainda ficará longe da capital.
Entre 2000 e 2010, o total de moradores da macrometrópole passou de 23,6 milhões para 26,4 milhões - crescimento de 11,9%. A quantidade de movimentos pendulares passou de 1,6 milhão para 2,9 milhões, uma alta de 81,2%. É como se toda a população de Mato Grosso se locomovesse diariamente.
Para os pesquisadores, além da qualidade de vida exigida por Oliveira, outros fatores explicam o fenômeno. "Passa pela desconcentração da atividade econômica, com muitas empresas deixando a capital ao longo dos anos 1990 e 2000, e pelo surgimento de novas formas de ocupação do espaço, como condomínios", diz o professor José Marcos Bento da Cunha.
Ao analisar o perfil econômico da população pendular, os pesquisadores notaram também que a maior parte tem alta escolaridade e maior renda do que quem trabalha no município em que reside. "Temos em São Paulo a urbanização dispersa. Tem gente disposta a ficar duas horas no fretado para morar com mais conforto e aproveitar melhor o fim de semana", afirma Cunha.
Na estrada
O engenheiro Renato Pelizzon, de 41 anos, e a gerente de produtos Paulette Renault, de 42, fizeram essa escolha. Em dezembro, o casal se mudou para Sorocaba. Ele nasceu no interior, viveu na capital por alguns anos, mas, com o nascimento do filho, voltou com Paulette para o interior. O trabalho continua, porém, na capital. "Há vantagens e desvantagens. Quando vivia na capital, acordava às 7h. Hoje, acordo às 5h15 por causa do fretado", diz o engenheiro. "A qualidade de vida é muito melhor. Por outro lado, a variedade de São Paulo é muito maior."
Rodoanel e estradas de qualidade explicam o deslocamento do casal de Sorocaba e de demais viajantes pendulares. "Esses movimentos são favorecidos pela infraestrutura de rodovias e estradas de ferro", diz a diretora de Planejamento da Emplasa, Rovena Negreiros.
O programa de trens regionais é exemplo de como o Estado pode melhorar a situação da população pendular, diz Rovena. "A população e a dinâmica econômica têm pressa. Isso aqui (os resultados da pesquisa) expressa urgência. A população pode ter parado de crescer, mas está se redistribuindo."
Preocupação
Planejamento é a solução para o principal problema enfrentado por quem faz movimentos pendulares: o trânsito. O publicitário Thiago Sabino, de 26 anos, gasta de 1h a 1h30 para sair de casa, em São Bernardo do Campo, no ABC paulista, e chegar à zona sul de São Paulo, onde trabalha. Ele diz que até gostaria de morar mais perto, mas o preço dos imóveis e o custo de vida fazem a diferença. "No ABC, posso fazer várias coisas a pé ou pego um táxi que sai mais barato. A maioria dos meus amigos da capital não tem casa própria", diz Sabino, que vive em um condomínio clube. "Em São Paulo, não compraria nem uma quitinete." As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.