“Convicção da existência de algum fato ou da veracidade de alguma asserção; credulidade, crença. Conjunto de ideias e crenças de determinada religião ou doutrina. A primeira das três virtudes teologais”. Assim é a definição da palavra “fé” no dicionário ‘Michaelis’. O termo, expressado entre religiosos de diversos segmentos, se materializa nas experiências de pessoas que alicerçam suas crenças em algo divino, muitas vezes considerado superior. Também por meio da fé, há quem cultive sonhos e objetivos pessoais ou profissionais; muitos deles atrelados à educação, como no caso de milhões de estudantes que enfrentam o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) almejando ingressar na universidade.
A ansiedade invade a rotina de estudantes que durante o ano todo dedicaram suas vidas aos estudos. E a fé é tida como um recurso de combate ao nervosismo que pode atrapalhar o desempenho dos candidatos, assim como um instrumento de confiança para aqueles que sonham com a aprovação.
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Segundo o teólogo Rodrigo Alves, historicamente a humanidade tem fé por uma necessidade. “A fé nunca será algo abstrato. Sempre estará baseada em alguém ou em alguma coisa. De acordo com o tempo, o homem peca e se afasta de Deus; o homem, naturalmente, sente a necessidade de religar-se com Deus e, nessa tentativa, começa a trazer diversos deuses ou elementos da natureza. Todo ser humano vai procurar algo em que ele possa colocar a sua segurança. Ninguém tem fé no nada”, explica Alves.
No Enem não basta só ter fé
O babalorixá Ivo de Xambá diz que a fé precisa ser ligada ao esforço do cidadão. Foto: Arthur Souza/LeiaJáImagens
Desde 1993 líder da Nação Xambá – em Olinda, na Região Metropolitana do Recife -, Patrimônio Vivo de Pernambuco, o babalorixá Ivo de Xambá acredita que a fé, no contexto do candomblé, “é um sentimento de confiança”. No entanto, ela não pode ser o único recurso para o estudante que vai enfrentar as provas do Enem. Na visão do religioso, os estudantes precisam se preparar para, por meio da crença, pedir aos orixás boas energias que possam os manter tranquilos durante o Exame.
“Freud, mesmo sendo materialista, dizia que se Deus não existisse tinha que ser inventando, porque é essa fé que nos empodera para ter um sentimento de vida melhor. Acho que o Estado tem que ser laico, mas todo homem tem que ter sua fé. Aquele estudante, que está sozinho com o livro, precisa ter alguém que ele possa dividir. Não é uma fé incontrolável, mas sim direcionada, que você sabe onde vai o limite, desde que a fé não atrapalhe sua competência. Você vai ter fé nos orixás, mas você tem que estudar, fazendo sua parte. Tem que se preparar, absorver todas as matérias e fazer uma boa prova”, explica o babalorixá.
Crítico, ao apontar que a educação é, no Brasil, o principal meio de ascensão social, porém, por falta de investimentos, é uma das áreas mais afetadas do país, Pai Ivo reitera que, no Enem, os estudantes depositam o sonho de chegar à universidade. Ao fazer uso da fé, o candidato pode ficar menos nervoso e mais concentrado, além de manter o otimismo na aprovação.
“Tem que ter um alinhamento, a fé não pode ser aquela pessoa preguiçosa. O cidadão tem que distinguir a fé da questão intelectual. O cara tem que sair do mundo da fantasia, precisa viver a realidade, que é o cara estudar. Não existe outro caminho para você chegar se não for pela cultura e pela educação. E o Brasil perde muito com isso porque ganha menos e é o professor que prepara o jovem que será o Brasil de amanhã”, opina Pai Ivo.
Seu desejo, quando realizado, deve propagar benefícios ao próximo
Pastor Boanerges Dantas pede calma aos candidatos do Enem. Foto: Arthur Souza/LeiaJáImagens
O pastor evangélico Boanerges (Bona) Dantas, há 20 anos líder da Igreja Batista Oásis, localizada no bairro da Iputinga, Zona Oeste do Recife, afirma que a fé, na visão cristã, tem ligação com o comportamento dos seguidores de Jesus Cristo. “Quando a bíblia trata de fé, ela diz que é um firme fundamento nas coisas que se não enxerga e uma convicção nas coisas que se espera. Fé não é crença, vai além disso, é comportamental, se representa com atos concretos. É um comportamento resultado de uma crença. Creio em algo ou em alguém e vou me comportar de acordo com o que creio”, explana Dantas.
De acordo com o religioso, os candidatos do Enem podem, por meio de orações, pedir a Deus calma e tranquilidade para desenvolverem boas respostas na prova. Ele alerta, no entanto, que muitas pessoas recorrem a Jesus Cristo pedindo o alcance de objetivos pessoais que não trarão benefícios ao restante da sociedade. “Creio que Deus se importa com o que a gente deseja. Só que existe um mundo consumista, em que as pessoas estão centradas nelas mesmas, e essas pessoas têm ambições só pessoais, que não vão melhorar o mundo em sua volta. Diria que esse tipo de situação não combina com Deus. A própria bíblia combate ambição”, acrescenta o pastor.
Boanerges endossa o discurso de que a fé em Deus pode ajudar os estudantes rumo à aprovação via Enem, desde que eles se esforcem. “Você tem fé no Deus que pode fazer e a própria bíblia diz que tudo é possível naquilo que crê. Porém, digo para essas pessoas que elas não se baseiem em coisas superficiais, mas sim em coisas concretas. Confie em Deus, mas faça sua parte. Estude, se capacite, procure bons professores. Não adianta só ter fé. A fé vai se estabelecer no ponto que existe, então, se não existe estudo, onde vou basear minha fé?”, questiona.
Conhecimento propaga fé
Silvio Costa é presidente do Grupo de Assistência Mediúnica. Foto: Arthur Souza/LeiaJáImagens
No espiritismo, segundo o presidente do Grupo de Assistência Mediúnica (GAM), situado no bairro da Torre, no Recife, Silvio Costa, a fé é fruto das experiências e conhecimentos adquiridos ao longo da vida. Assim como os outros religiosos, Costa orienta que os estudantes precisam ter uma preparação adequada para ter um bom desempenho no Enem, além de alimentar a fé espiritual. Nesse contexto, estudar é essencial.
“Fé é conhecimento sobre qualquer aspecto. O conhecimento de alguma coisa leva você a ter a sua convicção. A fé que eu compreendo, segundo as orientações espirituais, ela é baseada no conhecimento, então a partir do momento que a gente começa a te esclarecimento, ela fica cada vez mais convicta. A fé espiritual é conquistada através dos tempos, que cada um vai se preparando ao longo do tempo”, detalha o religioso.
Para os candidatos do Enem, o presidente do GAM reitera a importância dos estudos aliada à fé. “Preciso me preparar intelectualmente para aquilo que almejo. Os estudos possibilitam isso. Se um jovem quer alcançar seus objetivos, seguindo o ramo da medicina ou do direito, por exemplo, ele precisa estudar para puder alcançar esses objetivos. Quanto mais ele estuda, a sua fé vai ser maior”, aconselha.
No que diz respeito aos espíritos, a partir dos ensinamentos espíritas, Costa diz que eles podem ajudar os candidatos a terem calma durante o Exame, os livrando da pressão exercida pela sociedade que cobra aprovação. “Peça ajuda a Deus e ao seu guia espiritual para que, através deles, você possa manter a tranquilidade durante a prova. Se os estudos você fizer com convicção, vai acreditar. Se você não tem fé, você vai com medo e o medo é empecilho e isso pode causar um bloqueio emocional”, finaliza o presidente do GAM.
Fé em todos os momentos da vida
Padre Francisco Caetano Pereira reforça a fé em Deus para os candidatos do Enem. Arthur Souza/LeiaJáImagens
"A fé, antes de tudo. é entrega. A fé é compromisso, a fé pressupõe a aceitação de Deus de uma maneira tão contundente que você jamais se sentirá só, mesmo nas horas mais insólitas, a mão poderosa de Deus nos ampara. De tal forma que a fé ela é fundamental para todo cristão, mesmo porque todo ser humano, mesmo que não seja cristão, ele anseia pela eternidade”. Assim é a definição de fé para o padre Francisco Caetano Pereira, há duas décadas a frente da Igreja Nossa Senhora da Piedade, localizada no Recife. Para o representante católico, é óbvio que os candidatos precisam investir em qualificação e de depositar em “Deus” seus esforços.
Segundo o padre, a fé está presente em todos os momentos da vida dos cristãos, não sendo diferente no Exame Nacional do Ensino Médio. “Quando alguém vai fazer a prova Enem, que é estressante, a fé ajuda muito no equilíbrio, na tranquilidade. Se eu tenho fé em Deus, eu coloco na mão de Deus, a mão de Deus é poderosa. Segura na mão de Deus e vai, como diz a música. Então, já vou com mais tranquilidade, e a tranquilidade me leva ao equilíbrio, o equilíbrio me facilita o trabalho ao que estou dedicado, que é exatamente a prova que eu tenho que fazer, a fé tem grande relevância nesse momento”, destaca Caetano.
O representante católico alerta que a relação com a crença em Deus não pode ser pautada em despreparado educacional, indo de encontro a quem acredita que apenas a fé trará aprovação. Não vai pedir o milagre, que vai fazer a prova sem saber de nada. Deus faz a parte dele, mas você tem que fazer a sua, obviamente”, reitera.
O padre ainda traz uma mensagem de alento para os candidatos tomados pela ansiedade. “Coloca na mão de Deus o grande desafio, como diz a oração: seja feita a vossa vontade, assim na terra como nos céus. E a vontade de Deus que deve prevalecer, eu vou fazer a minha parte e sei que Deus faz a parte dele. Então, eu clamo a ele. Na hora que você entrega, tem alguém que está cuidando de você, cuidando daquilo que você está fazendo. Não vou me preocupar, vou me ocupar, a preocupação eu deixei na mão de Deus. Seja feita a vossa vontade, eu vou fazer a minha parte. Isso ajuda imensamente a dar equilíbrio”, diz o religioso.
No vídeo a seguir, os religiosos trazem mensagens para incentivar os candidatos do Enem. Assista:
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Fé e mente
De acordo com o psicólogo Dino Rangel, a fé pode contribuir para os candidatos do Enem, a partir do momento em que ela gera pensamentos positivos. Segundo o especialista, a fé pode fortalecer a autoestima dos candidatos em relação aos conhecimentos adquiridos ao longo do ano, os deixando calmos para enfrentar a prova. Ouça no áudio a seguir:
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