Na Rua Castro Alves, localizada no bairro da Encruzilhada, Zona Norte do Recife, fica a Escola de Frevo Maestro Fernando Borges, fundada em 1996 e mantida pela Fundação de Cultura Cidade do Recife. De acordo com a placa situada na entrada principal da escola, o espaço tem como objetivos "valorizar, fortalecer e divulgar a dança ícone do Recife". A realidade atual da única escola pública de frevo do mundo, no entanto, está longe destes dizeres: paredes com rachaduras, pisos quebrados, fiação exposta e falta de equipamento para as aulas.
Em fevereiro de 2014, a reportagem do Leiajá visitou o espaço e se deparou com uma infraestrutura bastante precária. Na época, a Prefeitura do Recife informou que a próxima reforma estaria prevista para o primeiro semestre de 2014, dependendo da abertura de uma licitação. Em setembro de 2014, o local continua na mesma situação. A Escola de Frevo conta com quatro instrutores e cerca de 600 alunos, distribuídos em 25 turmas.
##RECOMENDA##
Aluno do espaço há mais de 2 anos, Hariston Maciel, de 20 anos, conta que o atual estado da Escola de Frevo desestimula muita gente. "Faz tempo que a escola está desse jeito, sem cuiadados, com ventiladores quebrados, pintura precária. É como se o Frevo não estivesse sendo respeitado. É o único local público em que a gente pode praticar e viver essa dança que é nossa, não é correto deixar que este espaço único se acabe por falta de investimento e de cuiadados básicos", relata.
A instituição foi assaltada três vezes em dois anos. O útimo roubo aconteceu no final de 2013, quando os assaltantes levaram ventiladores, computadores e o som utilizado nas aulas. No início de 2014, a prefeitura contratou segurança privada para o estabelecimento. De acordo com o guarda deplantão, que preferiu não se identificar, não houve mais assaltos no local, mas a licitação para o contrato da empresa vencerá em setembro e ainda não foi resolvido se será renovado para o semestre seguinte.
José Valdomiro, professor da instituição há mais de 15 anos, informa que o local encontra-se esquecido. "É difícil pra gente, que ama o frevo e que o vive, ter que manter uma tradição dando aulas nestas condições precárias. A dança requer que trabalhemos bastante com nossas articulações, e com esse piso quebrado dá medo de alguém se machucar. A estrutura é ruim e o espaço está se tornando pequeno pra a demanda que recebemos", diz. A Escola de Frevo Maestro Fernando Borges completa duas décadas em 2016 e, segundo Valdomiro, "resiste fortemente."
Recebendo uma atenção cada vez menor da prefeitura, a Escola de Frevo sofre também com a falta de equipamentos e material. O fardamento, por exemplo, já não é mais cedido aos alunos. O professor Valdomiro conta que certas vezes os próprios alunos têm que trazer o material porque a demora para a reposição é grande. "Uma vez eu tive que trazer um monitor", revela.
O Frevo por vários olhares
Em fevereiro de 2014, o Paço do Frevo foi inaugurado com o intuito de ser um centro de referência e difusão de umas das principais manifestações culturais do país. O imóvel onde foi estruturado o Paço fica localizado na Praça do Arsenal, no Recife Antigo, e foram investidos mais de R$ 14 milhões na reforma do local. Climatizado, o Paço do Frevo contém salas para aulas de dança e música, estúdio de gravação e centro de documentação com um acervo inicial de 500 títulos sobre o frevo e o Carnaval de Pernambuco. A coordenação do espaço é de incumbência da Secretaria de Cultura e da Fundação de Cultura Cidade do Recife.
A Escola de Frevo do Recife se propõe a preservar o frevo, declarado Patrimônio Imaterial da Humanidade pela UNESCO em 2012, ensinando e perpetuando a cultura entre frequentadores de diversas classes sociais. "Achei que, com a inauguração do Paço, a nossa escola fosse possuir uma maior visibilidade, porque aqui é onde o frevo é vivido diariamente, não pelos turistas, mas sim pelo povo pernambucano. É como se fôssemos esquecidos, deixados de lado", se queixa Valdomiro.
A diretora da Instituição, Anna Miranda, conta que a reforma será feita, mas depende da licitação da Prefeitura. "A gente faz o que pode, sabemos que esse processo de aprovação é lento", explica.
Companhia de Dança
O resultado do que se aprende deveria poder ser visto na prática, com apresentações de uma companhia de dança formada por proferssores e alunos da Escola de Frevo. Mas um professor afirma que ela está desativada. De acordo com a diretora Anna Miranda, a cia ainda existe, mas não recebe apoio público há cerca de 4 anos. "A Companhia de dança, embora não receba mais a bolsa do poder público, continua ativa", explicou Anna. O grupo não se apresentou, porém, na abertura do Carnaval do Recife 2014, festa mais identificada com o frevo.
Questionada, a Prefeitura do Recife afirma que está havendo uma reestruturação interna relacionada à manutenção de equipamentos culturais, com a criação da Gerência Geral de Arquitetura e Engenharia, que ficará responsável pela manutenção e preservação destes equipamentos. Em nota, a assessoria de comunicação da Secretaria de Cultura garante que a implantação da nova gerência se dará até o início de outubro deste ano. Sobre a estrutura precária da Escola de Frevo, realidade há anos, a nota afirma que "Inicialmente, serão realizados pequenos reparos e consertos, até que a nova gerência possa concluir a avaliação sobre a reforma geral do espaço."
Confira a nota da Prefeitura do Recife na íntegra:
"Uma das ações que estão sendo implementadas pela Fundação de Cultura Cidade do Recife (FCCR) é a implantação da Gerência Geral de Arquitetura e Engenharia. Esta estrutura, que será vinculada à FCCR, terá por responsabilidade cuidar da manutenção e preservação dos equipamentos da Secretaria de Cultura e Fundação de Cultura, agilizando reformas e reparos que forem necessários nos teatros e museus. Aprovada pelo prefeito Geraldo Julio através do monitoramento, esta Gerência será implantada até o início do mês de outubro.
Inicialmente, serão realizados pequenos reparos e consertos, até que a nova gerência possa concluir a avaliação sobre a reforma geral do espaço. Essa é a principal prioridade da gestão nesse momento, por entender a importância desse e dos outros equipamentos culturais para a cidade, e para a qual, todos os esforços estão convergindo.
Com relação à Companhia de Dança da Escola de Frevo, a FCCR informa que tem todo o interesse em reativá-la e, mais, em fortalecê-la de modo que ela seja estruturada de forma permanente, não ficando a mercê das gestões para existir. Por isso, nesse momento, há estudos jurídicos em andamento para definir a melhor forma de alcançar esse objetivo."