O vice-presidente do Brasil, general Hamilton Mourão, rechaçou neste sábado (6) críticas de que estaria atuando como um contraponto ao presidente Jair Bolsonaro. "Jamais. Eu sou complementar ao presidente, eu complemento ele", disse Mourão, ao ser questionado se adotava um antagonismo a Bolsonaro.
Aliados do presidente têm se incomodado com o que consideram agendas do vice-presidente que "destoam da linha do governo" e declarações recentes de Mourão que "parecem contrariar ou desautorizar posições prévias do presidente", segundo fonte do governo.
##RECOMENDA##A fala de Mourão aconteceu nos Estados Unidos, onde ele tem agenda criticada por ala do governo. Os encontros do vice-presidente na manhã deste sábado incluíram, por exemplo, uma reunião de cerca de uma hora com o ex-ministro Mangabeira Unger, que já criticou o governo Bolsonaro. Mangabeira foi também o guru de Ciro Gomes (PDT) durante a campanha eleitoral de 2018.
Ontem, no evento organizado por alunos brasileiros de Harvard e do MIT, Ciro afirmou que Mourão quer "de forma descarada" ocupar o lugar de Bolsonaro e chamou o presidente de "idiota".
Mourão entrou na mira de ala do governo mais alinhada com o escritor Olavo de Carvalho. O vice-presidente minimizou os incômodos e disse não se importar com críticas. "A crítica faz parte do jogo político, eu não me importo com crítica", disse Mourão neste sábado.
Segundo ele, Mangabeira Unger falou a ele sobre "a proposta que ele tem hoje de economia do conhecimento, que é a visão que ele tem do mundo moderno". "A produção industrial começa a atingir seu limite e o conhecimento passa a ser algo que vale muito dinheiro", explicou Mourão.
O vice-presidente também se reuniu com o empresário Jorge Paulo Lemann e, à tarde, terá um encontro com a comunidade de imigrantes brasileiros na reunião de Boston. Mourão está nos EUA para participar da Brazil Conference, evento organizado pelos alunos de Harvard e do MIT. Na segunda-feira, ele participará de um encontro com o vice-presidente dos EUA, Mike Pence, na capital dos Estados Unidos.
Por incomodar uma ala do Planalto, a viagem de Mourão é encarada como uma "viagem pessoal" dentro do governo. Apenas a visita a Pence teria contado com o intermédio da área internacional do Planalto.
A agenda de Mourão prevê ainda uma entrevista à rede de televisão CNN. A emissora é crítica ao presidente dos EUA, Donald Trump, que já chamou jornalistas da CNN de "fake news". Quando esteve em Washington, há pouco mais de 15 dias, Bolsonaro decidiu dar uma entrevista à FOX News, a emissora que é geralmente elogiada por Trump e frequentemente escolhida pelo governo americano para entrevistas exclusivas. O governo Bolsonaro tem feito um movimento de aproximação da gestão de Trump.