Uma das poucas recordações que tenho em sala de aula, no ensino fundamental, é sobre Nelson Mandela. O líder da África do Sul era diferente de quase todos os outros personagens históricos citados nos livros didáticos: ele era negro. Nós, alunos, ficamos curiosos de ver a imagem de um negro sem estar atrelada a figura de um desnutrido, favelado ou aidético. É claro que personagens como Zumbi dos Palmares ou Martin Luther King eram lembrados, mas eles estavam escondidos em subcapítulos ou em legendas fotográficas, não tinham a importância do homem que ajudou a reconstruir a história da África.
Confesso que além de Mandela, o episódio que mais chamou atenção na sala de aula foi a partida de rúgbi. A professora sabia que os alunos gostavam de esportes, e ela usou muito bem isso para prender nossa atenção para tratar sobre a segregação racial do Aparthied. Fui entender que aquele jogo que unia os brancos e negros na África do Sul representou uma mudança na desigualdade étnico/racial no mundo pós-Guerra Fria. Mandela acabou fazendo o óbvio, unir o que nunca devia ser separado, desconstruir uma ideia de preconceito tão arraigada na sociedade que era berço dos africanos.
##RECOMENDA##A segregação racial acabou sendo disseminada pelo mundo e sua imagem, por vezes, chegou a ser deturpada, ou não a nada mais contraditório do que ser vencedor de um Nobel da Paz e, ao mesmo tempo, fazer parte da lista de terroristas considerados perigosos para a segurança dos Estados Unidos?
Mas, diferentes da construção de outras histórias, Mandela não foi um herói inventado. Ele perpetuou o que muitos já pensavam, mas não tinham coragem de fazer. Ele retirou o medo da maioria de lutar pelo seu direito social, de ingressar nos cenários políticos. As pessoas queriam ser iguais a ele, pensavam igual a ele.
A sua representatividade continuará tão significativa que a luta por fim de outros Apartheids vai continuar sem o líder da África do Sul. O repúdio à aversão da linguagem, da roupa e até do black power do negro está presente em vários de nós. Isso comprova que incorporamos a sua ambição e nos identificamos com ele, e acabamos sendo todos Mandela.
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