A cautela para a escolha de um vice-presidente nunca esteve tão em alta em uma eleição nos últimos anos após o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, em 2016. Na época, Dilma chegou a dizer que jamais esperava que Michel Temer (MDB), então vice e que assumiu a Presidência da República, fosse um “traidor”.
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Passados quase dois anos e faltando menos de três meses para a eleição 2018, a pergunta que não quer calar é o motivo para a demora na escolha dos vice dos respectivos pré-candidatos a presidente já postos. Há quem acredite que, após o impeachment de Dilma, a “seleção” ficou ainda mais criteriosa. No entanto, para o cientista político Adriano Oliveira essa cautela pregada é mais um discurso. “As alianças são o que pesam, essa questão de Dilma e Temer não é levado tanto em consideração”, afirmou.
Na avaliação do cientista, há três critérios principais para a escolha do vice. “Primeiro, que ele tenha algum capital a atrelar na chapa, político ou eleitoral; segundo que seja uma exigência de algum partido importante; terceiro, uma escolha pessoal do candidato”, explicou.
No final da semana passada, indicado pelo Centrão para compor a chapa do tucano Geraldo Alckmin como vice, o empresário Josué Gomes, filho do ex-vice-presidente José Alencar [falecido em 2011], relembrou uma frase célebre do pai que chegou a dizer que o importante na chapa é quem a encabeça. “Vice não manda nada e deve evitar atrapalhar”, citou José Alencar em nota à imprensa.
Para a cientista política Priscila Lapa, a frase do ex-vice-presidente não está atrelado à demora da escolha do vice e, sim, a dificuldade de consolidar as alianças. “Esta se deixando para última hora pela dificuldade de se consolidar alianças. Todos os dois lados [esquerda e direita] estão encontrando essa dificuldade. Sem o ex-presidente Lula, ninguém é favorito. Quando, em outros contextos, quanto mais evidente o favorito ficava mais fácil de ir lá e pleitear a vaga. O adiamento da definição dos vices tem a ver com a fragmentação e a dificuldade de consolidar as alianças”, ressaltou.
Lapa acredita que essa questão de “refletir melhor” sobre a escolha do vice é muito mais um discurso. “Por exemplo, Geraldo Alckmin tinha colocado isso de que não ia escolher qualquer um porque poderia gerar a consequência como aconteceu agora, inclusive com a tentativa de se deslocar do governo Temer. Acho que é mais discurso político do que critério de corte na hora de fazer a escolha”.
Indefinições
Motivos à parte, as definições para os vices ainda parecem bem distante. Até o momento, apenas duas legendas já decidiram pela chapa: o PSOL e PSTU. A líder indígena Sônia Guajajara já foi lançada como vice do pré-candidato Guilherme Boulos(PSOL). Por sua vez, o PSTU lançou Vera Lúcia e Herz Dias para a Presidência e vice-presidência, respectivamente.
Na chapa de Alckmin, sem Josué de Alencar, os três nomes defendidos por integrantes do PSDB e de siglas do Centrão são os dos deputado Mendonça Filho (DEM), do ex-ministro Aldo Rebelo (SD) e da senadora Ana Amélia (PP).
No mesmo caminho, a chapa do pré-candidato a presidente Jair Bolsonaro (PSL) também segue indefinida. O senador Magno Malta (PR), um dos nomes mais cotados para figurar como vice, foi descartado. Atualmente, fala-se que a advogado Janaína Paschoal, uma das autoras do impeachment que tirou Dilma do poder, pode ser a pré-candidata a vice. Bolsonaro, sem pudor, chegou a dizer que só não faz “pacto com o diabo” em relação às articulações.
Em meio à incógnita sobre se o ex-presidente Lula será candidato, a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, já externou um desejo em particular: de que a presidenciável Manuela D’Ávila (PCdoB) desistisse de disputar a Presidência da República para ser vice de Lula ou quem fosse indicado por ele. A declaração teria acontecido durante uma reunião com a presidente do PCdoB, a deputada federal Luciana Santos.
O presidenciável Ciro Gomes (PDT) também enfrenta uma incógnita. Ele tenta conseguir o apoio do PSB, que ainda não decidiu sobre se o apoiará, se vai escolher o PT ou até mesmo outra opção não posta. Já Marina Silva (Rede), também estaria enfrentando dificuldades em atrair outros partidos.
A ex-senadora chegou a buscar um aliado fora da política: o presidente do Flamengo, Eduardo Bandeira de Mello. O presidente rubro-negro teria até afirmando que estava a disposição para ajudar em qualquer missão, mas que não achava o mais provável para ser vice, já que a vaga pode ficar para um partido aliado.