A Comissão de Ética Pública da Presidência da República decidiu nesta segunda-feira pedir explicações ao ministro-chefe da Advocacia-Geral da União (AGU), Luís Inácio Adams, após revelações de que a sindicância instalada na AGU para apurar o envolvimento de servidores em esquema de venda de pareceres encontrou "evidentes indícios" de irregularidade na conduta do ministro. O esquema foi desbaratado pela Operação Porto Seguro, da Polícia Federal.
Segundo o jornal "Folha de S.Paulo", a sindicância considerou as suspeitas "graves" o suficiente para levar à abertura de um processo administrativo disciplinar contra Adams. A suspeita contra Adams, no entanto, foi arquivada pelo corregedor-geral da Advocacia da União, Ademar Passos Veiga.
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"Não achei nada demais (a revelação do jornal), achei uma notícia como outra qualquer. Vamos ver agora se ela é verdadeira ou não", afirmou o presidente da Comissão de Ética, Américo Lacombe, após reunião realizada na manhã desta segunda-feira. "Pedimos informações (ao ministro). Quando vierem as informações, vamos ver se abrimos ou não abrimos (processo). Ainda não (tem processo aberto). Ele vai responder o que quiser, eu não posso dar instruções pra defesa dele."
Questionado sobre quais esclarecimentos gostaria de receber do ministro, Lacombe respondeu: "Eu quero saber tudo, o que houve, o que não houve, se a Corregedoria é realmente independente, se não é, quero saber tudo." A comissão também vai pedir explicações ao corregedor, que, assim como Adams, terá dez dias úteis para apresentar esclarecimentos.
Em nota à imprensa, a AGU informou os "fundamentos que afastaram quaisquer indícios de irregularidade vislumbrados pela Comissão de Sindicância". "Registre-se que as provas obtidas nas investigações da Polícia Federal na operação 'Porto Seguro', em especial aquelas decorrentes da quebra dos sigilos telefônicos e da interceptação dos e-mails dos acusados, em nenhum momento coloca o Advogado-Geral da União como um dos seus interlocutores diretos", diz a nota.
O Sindicato Nacional dos Procuradores da Fazenda Nacional (Sinprofaz) entrou com uma representação pedindo que a Comissão de Ética Pública da Presidência da República faça uma investigação mais criteriosa sobre o suposto envolvimento de Adams no esquema denunciado pela Polícia Federal.
Sobre esse pedido, Lacombe disse que a comissão vai encaminhar um ofício ao ministro. "Só que desta vez só pra ele (Adams). Isso não está envolvendo a Corregedoria (Corregedoria-Geral da Advocacia-Geral da União), mas a Corregedoria vai prestar informações no outro caso, e evidentemente pode servir pra esse", afirmou Lacombe.
Conforme informou o jornal O Estado de S.Paulo no início deste mês, Adams já se rearticula politicamente para tentar ocupar novamente o espaço perdido como integrante do chamado núcleo duro do governo, depois que foi depois deflagrada, há três meses, a Operação Porto Seguro. "Ninguém valoriza o timoneiro que só navega por águas calmas. Não recomendo a ninguém passar o que eu passei, mas acabou sendo uma experiência significativa", afirmou o ministro na ocasião.