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De Will Smith a Park Chan-wook, passando por Jessica Chastain e Paolo Sorrentino, esses são os membros do júri presidido por Pedro Almodóvar, que atribuirá a Palma de Ouro do 70º Festival de Cannes.

- Pedro Almodóvar, o cineasta inconfundível

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Com filmes marcantes como "Mulheres à beira de um ataque de nervos", coloridos, atrevidos e libertadores, Pedro Almodóvar revolucionou o cinema espanhol nos anos de 1980 até se tornar um dos maiores cineastas do mundo.

Embora nunca tenha ganhado a Palma de Ouro - apesar de ter competido por ela cinco vezes -, o diretor, de 67 anos, ganhou o prêmio de melhor diretor por "Tudo sobre minha mãe" e ganhou duas estatuetas com "Volver".

- Maren Ade, a preferida da crítica em 2016

A diretora e roteirista alemã, de 40 anos, foi a preferida da crítica em 2016, com seu filme "Toni Erdmann", um emotivo relato sobre a relação entre um pai excêntrico e uma filha extremamente sensata. Em 2009, seu filme "Todos os Outros", que explora o universo da vida a dois, ganhou o Urso de Prata em Berlim.

- Will Smith, o astro de Hollywood

O ator americano, de 48 anos, é um dos mais bem pagos de Hollywood, graças a sucessos de bilheteria, como a trilogia "Men in Black", "Independence Day" e "Hancock". Ficou famoso nos anos de 1990 com a série "O príncipe de Bel Air" - onde demostrou também suas qualidades de rapper -, e foi aplaudido pela crítica em 2001 por "Ali", de Michael Mann, em que viveu a lenda do boxe.

- Jessica Chastain, a ruiva das mil faces

Em seis anos, a atriz americana, de 40 anos, ostentou uma ambiciosa filmografia: encarnou a doçura maternal em "A árvore da vida" (Terrence Malick, Palma de Ouro em 2011), interpretou uma mulher determinada a caçar Bin Laden em "A hora mais escura" (Kathryn Bigelow), uma cientista aeroespacial em "Interstellar" (Christopher Nolan) e uma lobista sem escrúpulos em "Armas na Mesa" (John Madden).

- Park Chan-wook, ponta de lança do novo cinema sul-coreano

Convidado habitual de Cannes desde o Grande Prêmio obtido em 2004 por "Old Boy", o diretor de 53 anos é a ponta de lança do novo cinema sul-coreano. Em 2009, foi recompensado com o Prêmio do Juri por "Sede de Sangue", e no passado retornou com o thriller erótico "A Criada", que o consagrou.

- Agnès Jaoui, a popular diretora francesa

A atriz, roteirista e cantora francesa Agnès Jaoui, de 52 anos, é muito popular em seu país, onde foi recompensada com quatro César (o Oscar do cinema francês). Ao lado de seu ex-companheiro, Jean-Pierre Bacri, criou uma forma pessoal de descrever a vida cotidiana com um tom agridoce, como em "Acontece nas melhores famílias" e "Cuisine et dépendances" (Kitchen with Apartment).

- Paolo Sorrentino, o italiano talentoso

Este cineasta italiano, de 46 anos, apaixonado, que não deixa ninguém indiferente à sua obra, fez sete filmes, dos quais seis foram selecionados na mostra competitiva de Cannes. "Il Divo", levou o Prêmio do Júri em 2008.

- Fan Bingbing, a diva chinesa

Atriz, cantora, produtora, garota-propaganda de marcas de luxo, Fan Bingbing, de 35 anos, é a estrela chinesa do momento. Embora sua filmografia nacional seja pouco acessível para o público internacional, tenta conquistar Hollywood desde que atuou em 2014 em "X Men: Dias de um futuro esquecido" (Bryan Singer).

- Gabriel Yared, o compositor veterano

O compositor francês, de 67 anos, tem em seu portfólio mais de cem trilhas sonoras originais, entre elas a de "O Paciente Inglês" (Anthony Minghella) e "É Apenas o Fim do Mundo" (Xavier Dolan).

A franquia de filmes Cities of Love, idealizada pelo produtor, diretor e roteirista francês Emmanuel Benbihy – que reúne cineastas de diferentes estilos para criar filmes que têm como pano de fundo metrópoles ou cidades históricas – terá uma versão brasileira, sobre a cidade do Rio de Janeiro. Rio, Eu Te Amo estreia no dia 11 de setembro no Brasil. Este será o terceiro filme da franquia, os outros dois foram Paris, J’Taime e New York, I Love You

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Várias histórias diferentes acontecem ao mesmo tempo em Rio, Eu Te Amo, com personagens e cenários diferentes. As cenas foram rodadas nos principais pontos do Rio de Janeiro - como o Pão de Açúcar, a Praia de Copacabana, o Theatro Municipal e nas ruas do Vidigal.

O longa é dirigido por nada mais do que 11 diretores consagrados, entre brasileiros e estrangeiros - Carlos Saldanha, Im Sang-soo, Stephan Elliott, Fernando Meirelles, Andrucha Waddington, Nadine Labaki, Guillermo Arriaga, Vicente Amorim, César Charlone, Paolo Sorrentino e John Turturro. Os atores que irão participar do filme seguem na mesma linha da escolha de direção e conta com 23 atores brasileiros e estrangeiros.

Entre os artistas brasileiros estão Fernanda Montenegro, Rodrigo Santoro, Cláudia Abreu, Eduardo Sterblitch e Márcio Garcia. Os atores norte-americanos também são bem conhecidos no Brasil - como Harvey Keitel (Taxi Driver), Jason Isaacs (Harry Potter), John Turturro (O Grande Lebowski) e Ryan Kwanten (True Blood).

Contemplativa, a câmera  de Paolo Sorrentino desfila entre a beleza clássica e concreta da cidade de Roma. Os movimentos sutis, a iluminação inebriante e a fantástica trilha diegética são o prelúdio de uma obra de múltiplos olhares à arte, ao estupor cultural, desde os plenamente devotos aos que, buscando sucção de sentido em cada novo objeto, relevo, som, imagem, encontram no “não encontrar” o inexpressivo sentimento de frustração típica de nossas sociedades pós-modernas. Um choque. Uma grandíssima hecatombe de sentido humano, bela em todo o momento, mas, como uma droga - que do prazer leva a morte - nos conduz à visão de nossa (in)existência pueril, insignificante e banal.

Todos os sorrisos ou expressões de felicidade nos cerca de 140 minutos de projeção, soam como estranhas sensações de falseamento, escapismo ilusório, fantástico e trágico. Quem são estes seres? O que eles estão fazendo? Enchendo-se de vazio? Mas, aparentemente, nada os enche. Fantasmagoricamente, estes personagens que surgem, e somem, simplesmente circulam. Circulam e circulam. Para quê? A estranheza pujante do viver destes indivíduos põe-se em oposição a tudo que, aparentemente, remete à beleza da convencional e conservadora arte, ao suspiro revigorante dos célebres italianos precedentes, aos ditos e costumes de outrora.

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Fazendo uso de uma montagem que determina elementos específicos a serem vistos, vezes pontualmente revistos, mas nunca repisados por um longo período de tempo em tela, Sorrentino problematiza a sociedade em seu mosaico de referências, críticas e assertivas pessoais. Um tiro de canhão lançado ao mundo a ser aplaudido pelos amantes da grande beleza da arte cinematográfica.

De todos, o “eles” ou “nós” do filme  é o jornalista Jep Gambardella, incorporado magistralmente pelo ator Toni Servillo, que já havia trabalhado com o cineasta italiano em Il Divo e As Consequências do Amor. Desde a apresentação de seu personagem, passa a guiar os encontros, desencontros e reflexões traçadas na obra. O ar superior, repleto de conflitos inexplicáveis e inenarráveis, de postura miscelaneada entre frustração e altivez, aliado aos tradicionais trajes regularmente sociais, nos remete à construção moral e característica dos sujeitos dirimidos pelo maestro Federico Fellini.

O olhar interior, cheio de putrefações veladas, de A Doce Vida, e a investigação sócio-ideológica de Oito e Meio inundam o trabalho de Sorrentino que, mesmo admitindo visualmente suas referências, não abre mão de imprimir seu ritmo, repleto de travellings, zooms in e out, primeiros planos fechadíssimos que nos lançam em seus personagens, para constatarmos, através de seus olhares, o bizarro, o belo, o belo no bizarro e o bizarro no belo. Sorrentino decide invadir o espaço onírico, o surreal, imageticamente enrubescido, e banhá-lo com uma beleza inocente inexplicavelmente não traduzida e que estaciona num declive sensorial de Jep, que se, muitos anos depois de seu último livro de algum sucesso, não mais conseguiu produzir arte é porque deixou de, ou perdeu a razão de, alcançar a beleza na grande beleza que o cerca.

A cena em que assiste, inerte, a apresentação radical da personagem que expõe-se a extremos por seu fazer artístico, leva-o e leva-nos, a refletir no que há além do próprio ato realizado, que seria o mérito, a beleza, da obra, em paralelo à completa ausência de força ativa, vontade, de saber ou considerar o pano de fundo do simples feito. Mas Sorrentino é um grande jogador. Na realidade, um arquiteto digno das grandes e belíssimas construções italianas. Molda e amálgama sua obra com um liame denso de quem conhece a sociedade de aparências em que vive. A frivolidade lúdica e artística, a mesma retratada por Fellini, aqui volta e explode como uma bomba de vibrações extra-sensoriais:

- “Sou uma artista, não preciso explicar nada.”          

- “Então eu vou escrever: vive de vibrações, mas não sabe o que são.”

E sob a alcunha do afiado texto, Sorrentino destila em tela perfeição técnica e formal. Os ambientes revelam pequenos e grandes detalhes da ricalhada italiana, desde os rebuscados sistemas de acesso à festas, à decoração das luxuosas casas, numa direção de arte que vai do esplêndido ao propositalmente caricato e pitoresco, na contínua crítica aos costumes da burguesia. Como uma verdadeira obra de arte, o cineasta constrói grafismos impressionantes, desde o plano que escolhe para mostrar um um jardim, a como filma um jogo de escadas. Em tela, o sentido vai muito além das pinturas ou esculturas expostas.

Os figurinos revelam detalhes pontuais na constituição emocional dos personagens. O começo com preto, a passagem para o cinza, a soltura surrealista no vermelho, marrom, e enfim, o branco num propício encontro noturno. A gradação das cores ainda fica mais explícita após o contato, fantástico, real, de Jep com a mulher que encheu seu passado, vazio, de cor, de azul, amarelo, e desestabilizou até sua postura de Bom Vivant, nas situações corriqueiras.

A grande obra ainda nos faz viajar, como numa carruagem, na encantadora Itália dos séculos passados, ainda viva, pela arte de reis e rainhas, representando dominação e preponderância que resvalam, porém, no encantador sorriso frouxo, e sem antagonismos, do personagem principal. Tendo trabalhado de forma tão precisa com Sean Penn em Aqui é o Meu Lugar, agora Sorrentino constrói camadas e mais camadas de um sujeito que, em seus mínimos gestos, mostra-se interessante e interessado. Olha a arte, olha a vida, disseca-a, por vezes, não vendo nada lá. Deixa a visão infantil de realidade, mesmo sendo aconselhado pela sua chefe de redação, Dandina, na realidade uma das mais importantes e lúcidas personagens da trama, a não fazê-lo, já que é unicamente a partir desta que se desenrola o exercício poético. Jep tudo pode, mas o fato de tudo poder parece deixá-lo desgostoso de tudo, já que tudo parece não ter o tão grandioso sentido da beleza enxergada pelos completamente cegos.

Nos fazendo ver além da cor, arte, pele, A Grande Beleza propõe uma imersão subconsciente que pondere nossos dogmas, questione nossas convenções sociais e nos faça avaliar o que, realmente, é belo em nossa existência. Através de Jep e suas relações, extraímos, episódica e esporadicamente, nosso modo de enxergar a arte e as contradições que imprimimos à nossa própria vista, enquanto fatores externos cerram-nos ou escancaram-nos os olhos para a verdade. Para a grande beleza.

Tudo quase pronto para que, na quarta-feira (15), Cannes estenda o tapete vermelho e inicie a maratona do seu 66º festival. Existem grandes eventos de cinema no mundo, mas festival maior que o de Cannes, não há. Desde que a seleção foi anunciada, no mês passado, têm proliferado críticas ao diretor artístico Thierry Frémaux. Quais são seus critérios? O que faz com que o Brasil - e a América Latina - estejam tão parcamente representados? O Brasil não tem nenhum longa, em nenhuma mostra. Frémaux fala em qualidade, no equilíbrio entre novos talentos e veteranos, mas a competição, em princípio, parece menos interessante que a seção Un Certain Regard (Um Certo Olhar), que traz novos filmes de autores de ponta.

Um Certo Olhar, que também é uma mostra competitiva, embora não outorgue nem a Palma de Ouro nem a Caméra d'Or (para novos diretores até o segundo filme), terá uma jurada brasileira, a diretora do Festival do Rio, Ilda Santiago, e isso - além de alguns curtas -, é o máximo que o Brasil terá em Cannes. Pode ser recalque de excluído, mas só para citar um exemplo, o Faroeste Caboclo, de René Sampaio, já concluído (e que estreia dia 30), não faria feio em nenhuma mostra. Até poderia deixar a Croisette aureolado como cult.

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Atrações não vão faltar. O júri da Palma de Ouro, o principal, será presidido por Steven Spielberg. Durante os 12 dias do evento, pouco importa quem está no Eliseu - o Palácio do Planalto deles. M. le Président, neste período e com toda pompa e circunstância, é sempre o presidente do júri de Cannes. As próprias críticas à mostra competitiva precisam ser relativizadas. Afinal, grandes nomes estarão na disputa da Palma. Confira na lista - Arnaud Desplechin, Asghar Farhadi, James Gray, Jia Zhang-ke, Hirokazu Kore-eda, Takashi Miike, Paolo Sorrentino, Roman Polanski, Abdellatif Kechiche, Nicolas Winding Refn, os irmãos Coen. Na mostra Un Certain Regard, Claire Denis, Sofia Coppola, Hany Abu-Assad.

A curiosidade é que, nas mostras que compõem a seleção oficial, Cannes vai mostrar filmes de atrizes que estão estreando (Valeria Golino) ou perseveram na direção (Valeria Bruni-Tedeschi). Haverá uma homenagem a Jerry Lewis, outra a Stanley Kubrick, seguida da master class do ator Malcolm McDowell, de A Laranja Mecânica. Como todo ano, Cannes Classics exibe versões restauradas de filmes clássicos. A lista de 2013 inclui a Cleópatra de Joseph L. Mankiewicz; Hiroshima, Meu Amor, de Alain Resnais; Os Guarda-Chuvas do Amor, de Jacques Démy; Charulata, de Satyajit Ray; Tarde de Outono, de Yasujiro Ozu; O Deserto dos Tártaros, de Valerio Zurlini; Lucky Luciano, de Francesco Rosi; Um Corpo Que Cai, de Alfred Hitchcock; e O Grande Vigarista, de Ted Kotcheff.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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