Entrar em um campo minado, cruzar a rua sem olhar ou se meter em uma zona proibida - os fãs de "Pokémon Go" estão dispostos a tudo para capturar Pikachu e seus amigos. Uma caçada virtual que causou sensação entre adolescentes e adultos, inclusive na bolsa de Tóquio, no Japão, onde as consequências são vistas facilmente.
Após terem caçado estes monstrinhos no vídeogame, agora os jogadores podem capturá-los em seus smartphones graças à realidade aumentada, uma tecnologia que faz elementos virtuais aparecerem no mundo real.
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"Ao juntar várias gerações, desde os nostálgicos que viram o nascimento do Pokémon, em 1996, até os mais jovens, este jogo conseguiu mobilizar uma massa colossal de jogadores e possui todas as vantagens para se tornar um referência em matéria de realidade virtual", explicou à AFP Laurent Michaud, encarregado do setor de entretenimento digital no laboratório de ideias, Idate.
Porém, como o "Pokémon Go" ainda não está disponível oficialmente em muitos mercados, os mais impacientes encontraram uma maneira de burlar a restrição e hoje em dia o game pode jogado em grande parte do planeta. Em vários países da Europa ele foi lançado na semana passada.
Mas os brasileiros já estão na expectativa de um lançamento. O Brasil apareceu na lista dos servidores ativos da Niantic, desenvolvedora do jogo, na segunda-feira (18), o que pode indicar que o aplicativo estaria oficialmente disponível nos próximos dias.
O caçador de pokémons é facilmente reconhecido - usa um celular com sistema operacional Android (Google) ou iOS (Apple) e costuma caminhar pela rua com os olhos fixados na tela de seu telefone, procurando em paredes e calçadas.
Na França, a empresa The Pokémon Company International, o grupo que gerencia a marca, decidiu atrasar o lançamento do jogo, que estava previsto para a semana passada, como sinal de respeito pelo atentado em Nice, segundo anúncio oficial.
Entretanto, alguns sites especializados deduziram que o atraso poderia ser por medo de o jogo provocar grandes aglomerações de pessoas, algo pouco compatível com o estado de emergência.
Cuidado com os campos minados
A busca a qualquer preço destes monstros para acrescentá-los ao vestuário pessoal de cada jogador tem dado lugar a cenas inacreditáveis. Na Indonésia, um francês foi preso depois de ter entrado em uma base militar jogando "Pokémon Go" e foi interrogado durante várias horas antes de ser liberado.
Na Bósnia, os jogadores foram advertidos com o objetivo de evitarem os campos minados, uma herança da guerra intercomunitária que o país viveu entre 1992 e 1995.
A marinha israelense, por sua vez, publicou uma foto de seus soldados capturando um pokémon em pleno mar. "Há um pokémon que somente nós podemos capturar", diz a menção.
Do lado palestino, em um tuíte muito compartilhado, vê-se um Pikachu emergindo dos escombros de uma casa destruída em Gaza. Na França, a gendarmeria nacional tuitou conselhos aos treinadores de pokémons. "Motoristas, não joguem Pokémon Go" e "Pedestres, redobrem sua atenção", dizia os alertas.
Como medida preventiva, o governo japonês publicou um manual de boas práticas para sensibilizar as crianças, aconselhando-as a não jogarem enquanto estiverem em suas bicicletas ou não se aventurarem em locais perigosos. A Arábia Saudita foi além.
O órgão religioso mais importante do país publicou de novo uma recomendação de 2001, em que proíbe os games que incluem essas criaturas, ao considerá-los jogos de dinheiro, proibidos pelo islamismo, e vetores de propagação da teoria da evolução de Darwin.
Por trás do sucesso está a Pokémon Company, mas também o grupo japonês Nintendo, cujas máquinas projetaram até hoje todos os jogos desta marca e que é acionista da primeira. Embora não se saiba a fatia da lucro que irá para os cofres da Nintendo, os investidores têm apoiado a ação da companhia na bolsa de valores de Tóquio.
Desde o lançamento de "Pokémon Go", sua cotação mais que dobrou, apesar de permanecer abaixo de quando alcançou seu auge, que coincidiu com o lançamento do videogame Wii em 2007-2008.
"Estamos claramente surpresos com a rapidez e a adoção pelo grande público. Um jogo como Candy Crush (para celular) levou vários meses até disparar, e nesse caso foi uma questão de dias", disse Jean-Claude Ghinozzi, presidente do sindicato de desenvolvedores de jogos SELL.
Agora permanece somente o gerenciamento dos riscos de segurança, já que o sucesso do jogo atraiu igualmente a atenção da pirataria digital, que já reivindicou, segundo o especialista russo de cibersegurança Kaspersky, vários ataques aos servidores da Nintendo, muito solicitados.