Nesta quinta-feira (24), é celebrado o Dia de São João, tradicional evento junino que traz muitas curiosidades sobre a história, a culinária típica e a cultura nacional. Alguns desses assuntos, inclusive, podem ser importantes para os estudantes que se preparam para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem).
O LeiaJá, em parceria com o projeto Vai Cair No Enem, entrevistou professores de diferentes disciplinas para explicar os elementos que fazem parte do feriado. Confira:
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História
O professor de história José Carlos Mardok explica algumas curiosidades sobre a criação da data comemorativa. “A festa chega ao Brasil pelas mãos dos portugueses, trazendo a herança colonial que os envolvidos pela Igreja Católica comemoram os Santos Antônio, no dia 13, São João, no dia 24, e São Pedro, no dia 29 de junho. As festas influenciaram e foram influenciadas pelas comunidades nativas, ganhando a importância e o formato atual”, ele conta.
Segundo o professor, a origem europeia da festividade é marcada pela mudança das estações. “A festa tem suas raízes ao norte do continente, onde comemorava-se o início do verão no hemisfério. Várias sociedades acreditavam na renovação do ciclo solar, que por sua vez traria ciclos positivos. No Brasil, encontramos vestígios das comunidades nativas que comemoravam a boa colheita, cantando e dançando”, ele continua.
Outras curiosidades que o professor traz são em relação aos elementos pertencentes ao cenário tradicional que é montado para a data, como a fogueira e a quadrilha. “As chamas trariam a purificação e renovação aos povos que festejavam. Segundo a tradição católica, a fogueira afasta maus espíritos, servindo para lembrar o nascimento de Jesus, bem como, dependendo do formato, homenagear um santo específico: Santo Antônio, quadrangular; São Pedro, triangular; e São João, arredondada. Logo, espera-se a fartura nas colheitas. Essa prática se mantém para aquecer as noites do mês de junho”, explana Mardock.
Fogueiras no Recife, em 2018. Foto: Chico Peixoto/LeiaJáImagens/Arquivo
Já em relação à quadrilha junina, ele conta que “hoje, uma festa com grande apelo popular, porém, quando representada na Europa, era vista como elegante e chique". "Seus termos anarriê, alavantú e balancê foram adaptações dos comandos em francês, originalmente 'en arrière' (de volta), 'en avant tous' (todos para frente) e 'balancez' (dance, se movimente)”, acrescenta.
Outros elementos importantes que compõem uma típica festa junina são o casamento encenado na quadrilha. De acordo com o professor Mardok, “surgiu como chacota, uma crítica social às famílias tradicionais, pois a filha aparecia grávida e o pai obrigava o sujeito a casar”. Os fogos e os balões são relacionados à religião por serem sinais para acordar os santos e também uma forma de enviar pedidos às divindades devotas.
Linguagens
Em relação à influência que a cultura nordestina tem em nosso vocabulário, colocada em evidência no período de celebrações juninas, a professora de língua portuguesa Beth Andrade comenta as variações linguísticas que existem no nosso idioma. “A variação linguística é um fenômeno estudado na língua portuguesa, com o objetivo de compreender a diversidade de pronúncia, de vocabulário, a sintaxe, a morfologia de cada palavra. Isso ocorre porque cada pessoa possui uma idade, uma cultura, habita em uma determinada região geográfica. Então, por isso, vai existir essa diversidade cultural da língua, uma diversidade linguística”, ela explica.
Segundo a professora, não existe "certo" e "errado" no estudo da variação linguística. “Existem apenas formas diferentes de falar. A variação linguística não tem compromisso com a norma padrão da língua portuguesa, ela é algo mais livre, digamos assim. Ela compreende que existe uma uma determinada forma de falar, seja uma pronúncia ou uma palavra falada na região metropolitana, seja uma pronúncia ou uma palavra falada em regiões interioranas, e por muitas vezes vai existir uma diferença tanto linguística quanto de pronúncia mesmo”, ela esclarece.
A docente continua exemplificando algumas diferenças regionais que existem no Brasil, visto que é um país de dimensões continentais. “Vão existir uma diferença e uma diversidade de vocabulário. Algumas palavras se referem a uma mesma coisa no Sudeste, no Nordeste, no Sul do país. Temos o exemplo de macaxeira/aipim, abóbora/jerimum, carne seca/charque. Então, vai existir essa diferença linguística entre as regiões do Brasil, mas que vai se referir à mesma coisa e que são aceitas pela sociedade”, enfatiza Beth Andrade.
Química
Já no campo da química, os professores Francisco Coutinho e Josinal Lins relatam os fenômenos que ocorrem nos fogos de artifício - que em muitas cidades estão proibidos em razão da Covid-19, uma vez que podem provocar fumaça, assim como fogueiras -. Segundo o professor Josinal, a origem dos fogos é milenar. “Os fogos de artifício têm sua invenção atribuída aos chineses, desde o Século X, quando acredita-se que foram usados pela primeira vez, e sua composição não mudou muito”, afirma.
Coutinho ilustra como ocorre o processo de reação química dos fogos, pois se trata de uma troca de luz e energia. ”Alguns materiais podem emitir luz quando excitados e isso ocorre quando os elétrons dos átomos absorvem energia e passam para níveis externos, de maior energia. Ao retornar para os níveis de origem, de menor energia, eles liberam a energia absorvida na forma de um fóton de luz. Esse fenômeno chama-se luminescência”, ele explica.
Os docentes ainda comentam a razão das diferentes cores nos fogos de artifício que vemos no céu. Segundo o professor Lins, “são o resultado de transições de elétrons que, na química, se relacionam ao modelo atômico de Bohr". "Os metais presentes nos compostos misturados para fazer a pólvora emitem, cada um deles, uma cor característica que indica que eles receberam a energia do acendimento do rojão e a liberaram na forma de emissões luminosas, os chamados fótons. A esse processo damos o nome de salto quântico”, conta.
O professor Coutinho montou uma lista dos elementos utilizados para atingir determinadas cores no show pirotécnico. Confira:
Laranja: os sais de cálcio são responsáveis por essa coloração em foguetes.
Vermelho: a cor rubra surge da queima de sais de Estrôncio ou carbonato de Lítio.
Amarelo: obtido pela queima de sódio.
Prata: o espetáculo da “chuva de Prata” é produzido pela queima de pó de titânio, de alumínio ou magnésio.
Dourado: o metal ferro presente nos fogos de artifício confere o tom de ouro.
Azul: o aquecimento do metal cobre nos faz visualizar a cor azul.
Roxo: a mistura de estrôncio e cobre dá origem a essa bela cor.
Verde: a queima de bário faz surgir o verde incandescente.
Biologia
Além da quadrilha, casamento e fogos de artifício, outro personagem fundamental na composição da festa de São João é o milho. E o professor de biologia Leandro Gomes explica as propriedades presentes no alimento, que é o protagonista na culinária típica dessa época do ano.
Milho comercializado no Ceasa, no Recife. Foto: Júlio Gomes/LeiaJáImagens/Arquivo
“O milho é uma monocotiledônea, e é bem versátil. Ele é o cereal mais trabalhado, vendido, e difundido no mundo. Teoricamente, ele é barato. Possui amido, que é um polissacarídeo, que é a reserva energética dos vegetais, e esse amido é utilizado pela nossa espécie para a geração de energia, com a digestão que já inicia na boca e vai terminar lá no intestino delgado”, ele comenta.
O docente continua: “O milho também possui uma certa quantidade de fibra, que ajuda no funcionamento intestinal, além de vitaminas do complexo B, como a própria B1 e a B2. Isso é importante para a manutenção do metabolismo energético no nosso organismo”.
Gomes ainda comenta a inorgânica do alimento, que também é favorável para o desenvolvimento da saúde humana. “Ele possui magnésio, fósforo e cobre. O magnésio, por exemplo, vai entrar como um mineral para ajudar na formação de ossos e dentes, além da produção de proteínas, visto que esse mineral ajuda na associação das subunidades ribossomais para que exista a tradução, que é o fenômeno de produção de proteínas na célula, principalmente nas células da espécie humana, e requer uma quantidade de enzima muito alta para o funcionamento e desenvolvimento dentro das reações energéticas. O fósforo auxilia na produção de adenosina trifosfato (ATP), também com o objetivo de geração energética”, ele finaliza.