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No Distrito Federal para participar da XX Marcha em Defesa dos Municípios, nesta quarta-feira (17), o governador de Pernambuco, Paulo Câmara (PSB), conseguiu marcar a vinda do ministro da Integração Nacional no início de junho para participar da inauguração da Adutora do Sirigi. O socialista se encontrou com Helder Barbalho, na manhã de hoje, na Esplanada dos Ministérios. 

Ao falar de soluções para os problemas hídricos do estado, o governador disse que a Adutora do Agreste, em breve inaugurada, será fundamental para o Agreste Setentrional. “Vamos interligar o Sistema Sirigi (em Vicência, Mata Norte) ao Sistema Palmerinha (Bom Jardim) e à cidade de Surubim. Vamos beneficiar 150 mil pessoas”, explicou. 

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Câmara voltou a falar sobre o sétimo ano consecutivo da seca e enfatizou que as obras hídricas que estão sendo entregues em sua gestão “vão ajudar muito a reduzir o sofrimento do nosso povo”. Ele também salientou que essas realizações comprovam que o Governo tem dado prioridade à questão hídrica. 

O valor investido na Adutora do Sirigi foi de R$ 34 milhões e serão beneficiados os municípios de Surubim, Bom Jardim, João Alfredo, Casinhas, Santa Maria do Cambucá, Vertentes, Frei Miguelinho e Vertente do Lério. A região era atendida pelo Sistema Jucazinho, cuja barragem encontra-se em colapso. 

Nesta terça-feira (16), 56 municípios de Pernambuco foram reconhecidos em situação de emergência pela Secretaria Nacional de Proteção e Defesa Civil. A medida foi tomada por conta do grande período de estiagem nessas regiões. 

A portaria foi publicada no Diário Oficial da União desta terça-feira e desde então já começa a vigorar. Este reconhecimento permite que as prefeituras afetadas tenham acesso a ações de socorro, assistência, restabelecimento de serviços essenciais e recuperação de áreas danificadas.  

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Confira a lista dos municípios: 

1 Afogados da Ingazeira 

2 Afrânio 

3 Araripina 

4 Arcoverde 

5 Belém do São Francisco 

6 Betânia 

7 Bodocó 

8 Brejinho 

9 Cabrobó 

10 Calumbi 

11 Carnaíba 

12 Carnaubeira da Penha 

13 Cedro 

14 Custódia 

15 Dormentes 

16 Exu 

17 Flores 

18 Floresta 

19 Granito 

20 Ibimirim 

21 Iguaraci 

22 Inajá 

23 Ingazeira 

24 Ipubi 

25 Itacuruba 

26 Itapetim 

27 Jatobá 

28 Lagoa Grande 

29 Manari 

30 Mirandiba 

31 Moreilândia 

32 Orocó 

33 Ouricuri 

34 Parnamirim 

35 Petrolândia 

36 Petrolina 

37 Quixaba 

38 Salgueiro 

39 Santa Cruz 

40 Santa Cruz da Baixa Verde 

41 Santa Filomena 

42 Santa Maria da Boa Vista 

43 Santa Terezinha 

44 São José do Belmonte 

45 São José do Egito 

46 Serra Talhada 

47 Serrita 

48 Sertânia 

49 Solidão 

50 Tabira 

51 Tacaratu 

52 Terra Nova 

53 Trindade 

54 Triunfo 

55 Tuparetama 

56 Verdejante

Quase 1 milhão de pessoas estão sendo afetadas pela grave e prolongada seca em Cuba, onde 11 de suas 15 províncias estão com seus reservatórios abaixo da metade de sua capacidade, segundo a televisão estatal. A informação é da Agência EFE.

Entre as mais de 964 mil pessoas prejudicadas por esta situação em abril, o último mês do período de seca, 663 mil residem na província de Santiago de Cuba, segundo o relatório. Em todo o país, há 296 fontes de abastecimento de água que estão limitadas, delas 234 de forma parcial e outras 62 estão totalmente paralisadas.

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Neste momento, os reservatórios da ilha registram 36,5% de sua capacidade de enchimento, e em particular nas províncias de Sancti Spíritus, Ciego de Ávila e Camaguey, onde a seca é particularmente aguda  abaixo do 25%.

As chuvas dos últimos dias permitiram aumentar mais de 54 milhões de metros cúbicos de água nos reservatórios e beneficiaram as províncias de Santiago de Cuba, Matanzas, Mayabeque e Havana.

De acordo a análise feita por especialistas do Instituto Nacional de Recursos Hidráulicos da ilha, superar a grave seca que sofre o país desde 2014 demoraria dois anos, mesmo com registro "aceitáveis" de chuvas.

Em Cuba, onde 71% do território está afetado pela seca, foram executadas ações imediatas diante da falta de chuvas, entre elas a instalação de usinas de dessalinização, a escavação de poços e a recarga de água subterrânea.

Para aliviar os efeitos da seca - a mais grave do último século -, as autoridades iniciaram medidas de economia e uso racional em setores altos consumidores e o denominado Programa Nacional da Água, que trata de solucionar as perdas na condução da água.

Da Agência EFE

As cidades de Surubim, João Alfredo, Orobó e Bom Jardim, no Agreste de Pernambuco, vão ficar sem abastecimento de água porque a Barragem de Pedra Fina, em Bom Jardim, entrou em colapso. Enquanto o abastecimento estiver interrompido, as cidades passarão a receber água por meio de caixas d’água chafarizes e carro-pipa. A situação de Pedra Fina também atinge Limoeiro, que terá rodízio ampliado.

O manancial de Pedra Fina tem capacidade de armazenar 6,2 milhões de metros cúbicos de água, mas atingiu o seu volume morto e está apenas com 2% da capacidade. A barragem abastece uma população de mais de 140 mil pessoas. Em janeiro deste ano, ela registrava 27% de sua totalidade, e a Companhia de Saneamento de Pernambuco (Compesa) já havia ampliado o rodízio nas cidades.

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As caixas d’água tipo chafarizes serão instaladas em pontos estratégicos das cidades através de caminhões-pipa. A cidade de Limoeiro ainda tem a Barragem de Carpina como fornecedora de água, por isso terá abastecimento, mas este será ampliado. Segundo a Compesa, hoje, 30% da cidade recebe água durante 24 horas e 70% é abastecida no regime de três dias com água e seis dias sem. A partir de maio, o calendário será de três dias com água e nove dias sem para toda Limoeiro.

A Compesa diz ter elaborado um projeto ainda em 2016 para construir uma adutora emergencial a partir da Barragem de Siriji, no município de Vicência, na Mata Norte. A obra está em andamento e a conclusão deve acontecer nos próximos 30 dias. 

Ainda não foi a despedida do Pernambucano 2017, mas a equipe do Belo Jardim esperava encerrar de forma mais honrosa a participação no campeonato deste ano. Mas os 4 a 0 sofridos diante do Santa Cruz não foram o reflexo do time durante a competição. Com apenas 12 anos de fundação, o Calango do Agreste está feliz com os resultados obtidos e projetando novos desafios para 2018.

Sem poder mandar seus jogos em sua própria cidade, o Belo Jardim desapontou parte da população do município do interior pernambucano. "A decepção só não foi maior porque com a seca que afeta nossa região, a população já esperava que isso viesse a acontecer. Mesmo tratando o gramado com água de carro pipa não teríamos condições de deixar o campo em perfeito estado. Não foi uma decisão de última hora. A gente já sabia que não jogaria em casa, praticamente, desde o ano passado", explicou Cacá Maciel, presidente do clube agrestino.

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Na primeira fase do campeonato - sem os grandes - o Calango ainda mandou seus jogos no Antônio Inácio, em Caruaru, mas teve que trazer seus jogos para o Recife no hexagonal do título. Cacá Maciel espera que o fato não volte a se repetir em 2018. "Rapaz, se não chover mais até o final do ano em Belo Jardim, ou morre todo mundo ou abandonamos a cidade. Mas graças da Deus que já vem caindo uma chuvinha nesses últimos dias", comentou Maciel.

O último jogo no campeonato será diante do Salgueiro, no Cornélio de Barros, Sertão pernambucano. Para o presidente, o saldo do ano é positivo. "O que fica é que vamos participar da série D no próximo ano e pela primeira vez na nossa curta história disputamos o hexagonal do título. Esperamos mandar nossos jogos em Belo Jardim para melhorar ainda mais nossos resultados em 2018", projetou o mandatário do Calango.

A escassez de água, em decorrência da seca que já dura cinco anos no Nordeste, despertou o interesse de empresas e governos para soluções de tecnologia que promovam a dessalinização da água do mar.

No último dia 13, o governo do Ceará lançou edital para contratar empresa responsável pela elaboração de uma planta de dessalinização na região metropolitana de Fortaleza, com capacidade para gerar 1 metro cúbico por segundo (m³/s) de água potável para a rede de abastecimento. Esse volume equivale a cerca de 15% do consumo de Fortaleza.

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Desde 2016, os 17 municípios da região, nos quais moram quase metade da população cearense, são submetidos a uma tarifa de contingência para economizar água.

De acordo com o diretor da Região Nordeste, da Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental (Abes), Francisco Vieira Paiva, “a dessalinização faz parte de um contexto mundial. A indústria usa a dessalinização para processos industriais. Com relação ao consumo humano, países semelhantes ao Brasil, com regiões [climáticas parecidas com as do] Nordeste, têm experimentado essa tecnologia, porque é uma forma de minimizar o impacto às populações. No Ceará, isso salvaguardaria nossos açudes”, explicou.

O assunto foi tema de simpósio da Abes, na última semana, em Fortaleza. Oportunidade em que alguns especialistas nacionais falaram sobre os impactos das tecnologias de dessalinização na matriz hídrica do país e também sobre reúso das águas.

Embora seja uma realidade em outros países, como Israel e Arábia Saudita, a dessalinização ainda está em seus primeiros passos no Brasil. Fernando de Noronha (PE) é o exemplo pioneiro de alcance público: possui uma usina de dessalinização para consumo humano que apoia o sistema de abastecimento da ilha, especialmente nos períodos de estiagem. O distrito estadual possui apenas um açude, o Xaréu, além de poços.

Outras experiências são de iniciativa privada, especialmente industrial. Sérgio Hilsdorf, gerente de aplicações e processos da empresa Veolia, dá o exemplo de uma usina termelétrica que será implantada em Sergipe, que vai utilizar água dessalinizada em seus processos. Ele considera prioritário o uso das tecnologias de dessalinização para atender o consumo humano.

Ele afirmou que “a água dessalinizada pode ser utilizada na indústria, mas grandes plantas foram construídas com o objetivo de fornecer água potável para a população das cidades litorâneas com problemas crônicos de falta de chuva. Considero que lançar mão de uma técnica que não é barata, deveria ser para uso nobre, que é o uso potável”.

Segundo o diretor da Abes no Nordeste, o uso de água dessalinizada para abastecimento de cidades já era debatido no Ceará 15 anos atrás. Mas, à época, não havia políticas públicas para abranger a inovação. Apesar de a ideia apenas agora começar a tomar contornos reais, Paiva considera que o momento é ideal.

“Acredita-se, sempre, que até dia 19 de março [dia de São José, padroeiro do Ceará] vai chover, mas vemos que a realidade não é mais essa. A população, as indústrias e o consumo aumentam. De alguma forma, à adesão a esta nova tendência está atrasada, mas sempre é o momento para começar”, lembrou ele.

“No Dia Mundial da Água, celebrado nesta quarta-feira (22), o prefeito de Afogados da Ingazeira e presidente da Associação Municipalista de Pernambuco (Amupe), José Patriota (PSB), em entrevista concedida ao LeiaJá, falou sobre a situação crítica de muitas cidades pernambucanas. “Tem sido muito difícil. Estamos no sexto ano consecutivo da seca”, lamentou. 

Especificamente, na cidade considerada polo do Sertão do Pajéu, o prefeito contou que mais de 60 projetos estão em andamento para possibilitar que a população tenha acesso à água. “E o investimento é com recursos próprios. Há ajuda estadual, mas muito mais próprio”, frisou. Patriota declarou que as associações interessadas no tema são muito “organizadas”, o que beneficia o trabalho em conjunto. 

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Ele, que foi reeleito para comandar a cidade com 83,25% dos votos válidos, obtendo a maior diferença da história política da cidade, mais de 12 mil votos, diz que há um segredo fundamental para enfrentar a estiagem: a gestão. “Não é só colocar água em um lugar, não é só encanar, não é só furar poço. A gestão da água é fundamental”, revelou. 

No início deste mês, o socialista apresentou ao ministro da Educação, Mendonça Filho, um projeto elaborado pelo município, o qual acredita que pode garantir autossuficiência hídrica para as escolas do semiárido nordestino chamado “Cisternas das Escolas”. A ideia é construir uma cisterna de placa, em pelo menos, cada unidade de ensino municipais, estaduais ou federais. 

Segundo o que controu, a cisterna de placa tem capacidade de armazenar 52 mil litros de água e um custo mais baixo do que a convencional, que sai a R$ 1,67, o metro cúbico. A de placas, custaria R$ 0,22. A economia seria de 88%. O projeto teria agradado ao ministro. 

Nesta quarta, em entrevista publicada a um veículo de comunicação local, o presidente da Federação dos Plantadores de Cana do Brasil (Feplana) e da União Nordestina dos Produtores de Cana (Unida), Alexandre Andrade, também falou sobre a seca. Ele chegou a dizer que “não choveu nem perto do esperado e, mesmo se começar a chover agora, a redução da safra ainda será grande devido ao comprometimento do desenvolvimento dos brotos pela escassez de água”. Andrade ainda afirmou que é necessário a adoção de políticas públicas de irrigação no estado. 

 

 

 

 

Mogadiscio, 04 (AE) - O primeiro-ministro da Somália, Hassan Ali Khaire, afirmou neste sábado que 110 pessoas morreram de fome nas últimas 48 horas em apenas uma região, no momento em que uma seca dura ameaça milhões de pessoas no país. Trata-se do primeiro balanço de vítimas da fome anunciado pelo governo somali desde que o problema foi declarado um desastre nacional, na terça-feira.

A Organização das Nações Unidas estima que 5 milhões de pessoas deste país do Chifre da África precisem de ajuda, em meio a alertas de uma fome generalizada.

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Khaire falou durante uma reunião do Comitê Nacional da Seca Somali. O número de mortos citado por ele se refere apenas à região de Bay, no sudoeste do país. Fonte: Associated Press.

"O de-Janeiro, dali abaixo meia-légua, entra no São Francisco, bem reto ele vai, formam uma esquadria. Quem carece, passa o de-Janeiro em canoa - ele é estreito, não estende de largura as trinta braças. Quem quer bandear a cômodo o São Francisco, também principia ali a viagem. O porto tem de ser naquele ponto, mais alto, onde não dá febre de maresia. A descida do barranco é indo por a-pique, melhoramento não se pode pôr, porque a cheia vem e tudo escavaca. O São Francisco represa o de-Janeiro, alto em grosso, às vezes já em suas primeiras águas de novembro." (Grande Sertão Veredas, páginas 90 e 91)

No romance Grande Sertão: Veredas, a segunda fase importante da vida do jagunço Riobaldo começa nas margens do Rio de Janeiro, afluente que deságua no São Francisco na altura do município de Três Marias. Ali ele chegou criança, com a mãe. Foi na Barra do Rio de Janeiro que conheceu Diadorim. Lá o jagunço também atravessou pela primeira vez o São Francisco, maior curso de água do Grande Sertão.

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Muita coisa mudou desde a publicação do livro. Entre as cidades mineiras de Pirapora e Buritizeiro, o São Francisco ficou mais estreito e ganhou ilhas e áreas cobertas de vegetação. A água ficou mais turva. Mas não só ele se transformou. No distrito de Guaicuí da vizinha Várzea da Palma, deságua assoreado o Rio das Velhas, que carrega a história da mineração da Vila Rica. Antes de cair sujo no São Francisco, o das Velhas recebe as águas do Córrego do Batistério, mais um entre tantos pequenos cursos quase secos, atingidos pela irrigação irregular e pelo desmatamento em suas margens.

Três Marias, antiga Barreiro Grande, cresceu com o represamento das águas do São Francisco, para gerar energia elétrica. De lá até a Barra do Rio de Janeiro são 55 km de estrada de chão. No caminho, há um cheiro quase insuportável de uma barragem de dejetos de uma unidade metalúrgica da Votorantim Metais. Grupos de geraizeiros acusam a empresa de ter jogado rejeitos industriais diretamente no São Francisco durante anos. Também dizem que a barragem, construída para interromper a contaminação, não impede a infiltração do lençol freático. Por meio de sua assessoria, a empresa disse que "possui um sistema de gestão de barragens para garantir a segurança da sua operação" e "a unidade de Três Marias possui todos os licenciamentos necessários para sua operação". "Todos os efluentes gerados pela unidade são monitorados e atendem os parâmetros legais, com relatórios enviados periodicamente ao órgão ambiental responsável."

Uma floresta de eucaliptos margeia os dois lados da estrada, que termina na antiga sede de uma fazenda, à beira de um curso de água calma e parada. É o Rio de Janeiro. Até chegar ao ponto onde ele se encontra com o São Francisco, é preciso andar a pé por cerca de 1 km de capoeira e mata ciliar, habitado por corujas, seriemas e gaviões-do-cerrado. Após cruzar um cipoal e um bambuzal na margem do Rio de Janeiro, ouve-se o barulho de um rio de correnteza. O São Francisco demonstra bem mais força. Ali, como Guimarães Rosa descreve no romance, o São Francisco entra no de Janeiro e o represa.

Riobaldo é convencido por Diadorim a atravessar o São Francisco numa canoa. "Tive medo. Sabe? Tudo foi isso: tive medo! Enxerguei os confins do rio, do outro lado. Longe, longe, com que prazo se ir até lá? Medo e vergonha", relembrou. Nisso, Diadorim lhe diz: "Carece de ter coragem...". Riobaldo, então, confessa que não sabia nadar. "O menino sorriu bonito. Afiançou: 'Eu também não sei.' Sereno, sereno. Eu vi o rio. Via os olhos dele, produziam uma luz."

Na outra margem do Rio de Janeiro, homens pescam em canoas. Com certa insistência e após mostrarmos que não somos gente do mal - em todo o Grande Sertão, as pessoas são desconfiadas, têm histórias ruins de bandidos que fogem da lei -, um deles nos leva até o outro lado. O canoeiro não liga o motor, pois explica que o nível do rio, o mesmo de-Janeiro que causava temor em Riobaldo, está muito baixo, a ponto de se poder atravessá-lo a pé.

Gilmar de Fátima Ferreira, de 48 anos, conta que nasceu e foi criado nas margens do afluente do São Francisco. Aos 19 anos, foi para Três Marias em busca de emprego. Trabalhou 26 anos na caldeira da Votorantim. Aposentado, passa boa parte do tempo numa casa simples à beira do rio.

"No meu tempo de criança, a água no período das chuvas chegava até o alto desse barranco (cerca de 2 metros). Mas houve muito desmatamento nas margens. As pessoas não respeitavam. Tinha embarcação que subia o rio para vender alimentos, carne-seca e enlatados, o que não fosse perecível", lembra. "O dourado gosta de água de correnteza, do São Francisco. Ele entrava no Rio de Janeiro, dava uma volta, mas gostava mesmo de água forte."

Gilmar associa a redução drástica de água do São Francisco não apenas à seca, mas ao desmatamento. "Houve assoreamento de boa parte do rio. Muitos cortaram a mata até a margem do São Francisco", relata Gilmar. "Nunca vi o São Francisco e o de Janeiro tão secos. Isso entristece a gente."

Usina

Desde o início da seca, em 2014, ribeirinhos criticam a Usina Hidrelétrica de Três Marias de represar água em excesso. Construída nos anos 1960, a usina é operada pela Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig). A hidrelétrica tem capacidade de geração de 396 megawatts de energia. Hoje, porém, com a redução do nível da água, só produz 24 megawatts. O nível do reservatório é de 27%.

"É natural que a população ache que a Cemig prioriza o uso de água para energia", afirma Ivan Sérgio Carneiro, engenheiro de Planejamento Energético da empresa. "Desde 2014, estamos vivendo anos de déficit hídrico, com 65% do volume de chuva abaixo do esperado. Este início de 2017 é o pior janeiro registrado nos últimos 80 anos." Ivan conta que a usina represa 340 m³ de água por segundo e libera de volta para o rio 80 m³. Antes da estiagem, a liberação chegava a 200 m³.

O engenheiro ressalta que o represamento e a liberação de água para o trecho a jusante do rio são decididos agora por um fórum que reúne Agência Nacional de Águas, Ministério Público, empresas e governos estaduais. Pelo Código da Água, o consumo humano tem prioridade em relação à geração de energia. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

O governador de Pernambuco, Paulo Câmara, decretou situação de emergência em 70 municípios do Agreste do estado. A medida foi tomada devido à rigorosa seca que desde 2012 atinge a região e se agravou no último ano. 

"Fica declarada a existência de 'situação de emergência' por um período de 180 dias", diz o decreto publicado, nesta terça-feira (31), no Diário Oficial do estado. Segundo o documento, entidades estaduais e municipais estão incumbidos de adotar "medidas necessárias para o combate da situação". 

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Entre os inúmeros municípios identificados como em situação de emergência estão Belo Jardim, Bezerros, Caruaru, Limoeiro, Garanhuns, Surubim e Toritama. 

Em reportagem especial publicada pelo LeiaJá também nesta terça-feira, moradores e agricultores lamentam a "pior seca do século". De acordo com Patrice Oliveira, Gerente de Meteorologia e Mudanças Climáticas da APAC, o ano de 2017 deve ser de mais estiagem e a situação pode piorar. 

"Tinha peixe, muitos pescadores vinham pra cá. Olhe lá os barcos encostados. Aqui era cheio de plantio: coentro, alface, feijão, milho. Agora? Agora vamos esperar por Deus". Sob o sol impiedoso do Agreste pernambucano, o agricultor José Rodrigues Tavares, 70 anos, observava da sua casa a Barragem do Bitury, em Belo Jardim. Seca, completamente seca. No relato de quem, há mais de 30 anos, é vizinho do local, há um misto de melancolia e esperança por dias melhores.

A pior seca do século, como tem sido considerada por muitos, atingiu de maneira devastadora os municípios agrestinos. Desde 2012, todos os anos chove menos que o esperado na região. Dezenas de barragens entraram em colapso, como Bitury e Pedro Moura Júnior, em Belo Jardim, e a principal do Agreste, Jucazinho, no município de Surubim. "Muita gente tá começando a sair daqui. Indo pra Petrolina, pra um bocado de canto. A crise tá séria e é pra todo mundo", lamenta José Rodrigues ao comentar sobre os moradores locais. 

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Sem água nas torneiras, a população fica à mercê de carros-pipa e poços artesianos. Nivaldo Francisco Lins, nascido em Belo Jardim há 56 anos, trabalha como distribuidor de galões de água na cidade. "É de cortar o coração. Situação dramática. É a pior (seca) de todos os tempos e isso já era para (o Governo) ter cuidado há muito tempo". 

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A ausência de recursos básicos impacta diretamente a criação de animais e muitos perecem. Nas proximidades de São Caetano, carcaças e ossadas de cavalos eram o reflexo do cenário preocupante na região. O racionamento de água é cada vez mais rigoroso. Nesta segunda-feira (30), a Companhia Pernambucana de Saneamento (Compesa) confirmou um novo calendário de abastecimento para quatro cidades do Agreste: João Alfredo, Bom Jardim, Orobó e Surubim. Estas duas últimas passarão a ter um rodízio de dois dias com água e 24 sem. A medida é para preservar o pouco de água restante na Barragem de Pedra Fina.

Bilhões investidos, obras arrastadas 

Lançada em 2004, a homérica obra de transposição do rio São Francisco segue em câmera lenta. Em agosto do ano passado, o governo federal lançou o Plano Novo Chico e prevê, até 2028, investimentos de mais de R$ 10 bilhões. O projeto afeta a vida dos moradores do Sertão e Agreste de Pernambuco. Nesta segunda (30), o presidente Michel Temer veio ao estado para inaugurar a terceira estação de bombeamento do Eixo Leste da obra, na cidade de Floresta.

Antes da transposição, o governo de Pernambuco promete acelerar os serviços da Adutora do Agreste, iniciada em 2013, cujo orçamento total é de R$ 1,4 bilhão. De acordo com a Compesa, dos 420 quilômetros da adutora, quase 300 estão prontos (cerca de 70%). Interligada à do Agreste, a Adutora do Moxotó também ganhará celeridade nas obras, segundo o governo do Estado. São R$ 100 milhões em investimentos e uma previsão de entrega para março de 2018. 

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Há ainda R$ 60 milhões destinados ao Sistema do Pirangi, que deve levar água do município de Catende, na Mata Sul, para a Barragem do Prata, em Bonito, beneficiando dez cidades do Agreste. Entre outras obras em andamento estão a da Adutora do Siriji (R$ 33 milhões investidos), a recuperação da Barragem de Jucazinho (R$ 53 milhões), a transposição do Rio Serinhaém (R$ 2,1 milhões) e a ampliação no abastecimento de água de Limoeiro (R$ 1,6 milhão).

Não há previsão de melhora

A Agência Pernambucana de Águas e Clima (APAC) oficializará a previsão para os municípios do agreste no mês de março. De antemão, o Gerente de Meteorologia e Mudanças Climáticas do órgão, Patrice Oliveira, explicou que as perspectivas não são as melhores. 

"Nós teríamos que ter um ano muito chuvoso para melhorar a situação. Coisa que em 2017 não vai acontecer. Não temos parâmetro algum que diga que será um ano chuvoso". De acordo com Oliveira, tanto a agricultura como os recursos hídricos continuarão a sofrer o impacto da longa estiagem na região. 

O longo período de secas no Agreste de Pernambuco tem feito os municípios ficarem sem água. A Barragem de Pedra Fina está com baixo volume e fez com que quatro municípios fiquem mais tempo sem abastecimento e terão rodízio de dois dias com água e 24 dias sem.

A Compesa aponta para o baixo nível do manancial que fornece água para o Sistema Palmeirinha, em Bom Jardim. Atualmente, há apenas 27% do volume de um total de 6,2 milhões de metros cúbicos de capacidade do reservatório. Ainda segundo a Companhia, as cidades de Surubim e Orobó passarão a conviver com o rodízio de dois dias com água e 24 dias sem. Já João Alfredo, o regime será de quatro dias com fornecimento de água e 24 dias sem.

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No caso de Bom Jardim, foi estabelecido o calendário de quatro dias com água para 16 dias sem. O pior cenário é para as áreas localizadas nas periferias e em partes mais altas. Estes casos serão abastecidos com carros-pipa.

Promessa de melhoria

A Compesa explica que melhorias virão a partir da construção de uma adutora em aço (500 mm de diâmetro), com 37 quilômetros de extensão. Ela deve interligar o Sistema Produtor do Siriji ao Sistema Integrado Palmeirinha. As obras – com investimento de R$ 33 milhões - foram iniciadas em novembro de 2016 e devem ser concluídas em maio deste ano. A estrutura deve ter vazão de 150 litros por segundo da Barragem do Siriji. 

Não depender de uma única especialização e diversificar atividades para poder enfrentar com menos sofrimento o período de estiagem é a estratégia adotada pelo produtor Adão de Jesus Oliveira, de 40 anos. Ele, a esposa Fabiana, de 32 anos, e os filhos, de 12 e 8 anos, estão entre as 28 mil famílias da região do Araripe atendidas pelo projeto Caatinga, que tem parcerias com entidades internacionais e o Governo Federal em trabalhos voltados à agroecologia para pequenos produtores.

Além de criar 28 caprinos, vacas e éguas na área rural de Ouricuri (PE), Oliveira cultiva hortaliças, como coentro, e frutas - umbu e acerola, das quais faz poupa, congela e vende ao longo do ano. Planta palmas para dar aos animais e tem atividade de apicultura, embora nos últimos dois anos a falta de floradas prejudicou a produção de mel. No início do ano passado, também plantou milho e feijão e perdeu tudo.

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Em todo o Estado de Pernambuco, a produção média anual de milho de 2012 a 2015 foi de 31,2 mil toneladas, queda de 83% em relação aos quatro anos anteriores.

Para tentar evitar mais perdas, Oliveira fez um poço de 52 metros com bomba submersa, e gastou R$ 6 mil. "Foi uma poupança de muitos anos", diz. "Foi um investimento arriscado, mas nesse período de seca e crise não passamos apertados". A esposa ajuda nos gastos da casa com a confecção de sabonetes de aroeira e artesanatos. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

A longa estiagem deixa os tradicionais traços de terra arrasada, plantação cinza, como se tivesse sido queimada, e animais magros, mas a situação da população é diferente de anos atrás, quando a seca expulsava os habitantes do sertão. Hoje as pessoas permanecem no Nordeste porque são atendidas por programas sociais, como Bolsa Família, Bolsa Estiagem, aposentadoria rural, instalação de cisternas e Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar.

"Nos últimos 15 anos não se vê mais um grande número de pessoas indo para as capitais ou outros Estados, nem mercados e caminhões com alimentos sendo saqueados ou crianças morrendo de fome", diz o engenheiro agrônomo Giovanne Xenofonte, da ONG Caatinga, que mantém projetos de agroecologia em Araripe, área formada por dez cidades do interior de Pernambuco.

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Na seca de 1979 a 1983, por exemplo, 3,5 milhões de pessoas morreram por subnutrição. Em 1915 e 1932, os governos chegaram a criar "campos de concentração" para evitar que populações famintas chegassem às capitais.

Com os R$ 600 que recebe do Bolsa Família, o casal Manoel Granja de Souza, de 49 anos, e Maria Elisie, de 39 anos, cuida de oito filhos com idades entre 2 e 21 anos na área rural de Ouricuri (PE). Só o mais velho faz bicos ajudando um vizinho no corte de mandacaru.

Após perder seis vacas, "cinco por fome e uma porque comeu plástico", conforme explica Souza, ele vendeu as quatro que restaram, "antes que também morressem". Agora cria cinco galinhas. "Sem o Bolsa Família estaríamos perdidos; teria de pedir ajuda nas ruas da cidade", diz Elisie.

O presidente da Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos, a Funceme, Eduardo Martins, diz que programas sociais evitam a migração e cita a instalação de mais de 1 milhão de cisternas no semiárido para captar água da chuva. Elas são abastecidas por caminhões-pipa pagos pelo governo. Mas algumas famílias reclamam que ficam até três meses sem água. "A política do carro pipa é necessária, mas reforça a indústria da seca", diz Xenofonte. Há um comércio da água - retirada do rio São Francisco e de outras fontes -, e os donos de caminhões cobram de R$ 65 a R$ 130 por um carregamento. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Sem plantar feijão e milho depois de ter perdido as últimas safras em razão da seca, o produtor Benedito Alencar, de 53 anos, e morador do povoado de Uruás, em Petrolina (PE), diz que ficou "deprimido" nas últimas semanas por ter de pagar R$ 10 por 1 quilo de feijão. "Quando a gente planta e colhe, o produto não vale nada."

Ele vive com a esposa e o filho de 19 anos, que está desempregado, e faz bicos. Outros dois filhos se mudaram para a cidade. Ele conta, com orgulho, que um deles é formado em Direito, "depois de ter estudado em escola pública." A família, diz Alencar, "passa necessidades, mas não passa fome".

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Parte dos problemas da região seria amenizada com as operações do canal Pontal, para receber água do rio São Francisco. Após 18 anos de obras, o canal com 7,7 mil km ficou pronto em meados deste ano. Levaria água para atividades de fruticultura irrigada a cerca de 35 mil famílias. Contudo, a área no entorno, destinada aos sequeiros (famílias que tiveram a terra desapropriada para a obra), foi ocupada por mais de 600 sem-terra. Segundo os moradores da região, o grupo que ganhou a concessão diz que só vai inaugurar o projeto quando os invasores forem retirados do local.

Em Ouricuri, a barragem Tamboril, inaugurada nos anos 60, está seca há dois anos. O aposentado Francisco Marques da Silva, de 74 anos, foi um dos operários que trabalhou na construção da barragem, responsável pelo abastecimento de cerca de dez cidades.

"Antes, a gente conseguia plantar jerimum, feijão, macaxeira, mas agora arriou tudo, morreu", diz Silva. Dos seus dez filhos, quatro deixaram o sertão e foram viver em grandes cidades, como São Paulo. "Eu fiquei aqui porque dou valor a esse lugar." As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

A seca é um problema recorrente e o produtor precisa se preparar para enfrentá-la ou sofre as consequências, diz o assessor técnico da Confederação Nacional da Agricultura, Joaci Medeiros. Ele defende o uso de tecnologias de armazenagem, a exemplo do que fazem os europeus na época da neve, que guardam durante o ano comida e madeira (para aquecer as casas).

A convivência melhor com a seca é o principal foco das pesquisas da Embrapa Semiárido, com sede em Petrolina (PE). Entre os projetos do órgão está o desenvolvimento de variedades resistentes à seca e de plantas da caatinga que sirvam de alimento humano e animal.

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Sérgio Guilherme de Azevedo, chefe adjunto da área de transferência de tecnologia da Embrapa, cita o exemplo da gliricídia, planta com proteína trazida da América Central e que ajuda na engorda dos animais. O órgão também faz testes, há vários anos, com gado tipo Sindi, que veio do Paquistão e tem sobrevivido apenas com feno de capim.

Segundo Azevedo, há muita irregularidade nos períodos de chuva no semiárido, que vai de novembro a maio, dependendo da região. Em 2016, por exemplo, 80% das chuvas que caíram em Petrolina foram concentradas em duas semanas de janeiro. Nos últimos cinco anos, influenciada por mudanças climáticas e pelo fenômeno El Niño, a seca foi caracterizada como a pior do século. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Com voz desanimada, Valdecir João da Silva, de 53 anos, conta os cadáveres do seu pequeno rebanho que não resistiu à fome, à falta de água e às doenças causadas pela desnutrição. Em uma área afastada da pequena casa onde vive com a família, ele juntou 12 animais mortos ao longo dos últimos meses. De alguns, restam os ossos. De outros, mais recentes, os corpos inchados. "Morreram de fome", resume ele, que prefere deixá-los aos urubus a enterrá-los. Ele tenta salvar os 20 animais que restam com mandacaru, a planta símbolo do Nordeste. "Ração não dá para comprar, pois está muito cara. O saco de milho que custava R$ 18 há dois anos hoje sai por R$ 65."

No sertão de Petrolina, quinta maior cidade de Pernambuco, não choveu por 11 meses. Em meados de dezembro, caiu uma chuva forte, mas logo parou. O receio dos sertanejos do semiárido é de que se repita o ocorrido em janeiro passado, quando a chuva veio forte, "sangrou" açudes, mas durou só duas semanas.

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"Plantei 60 quilos de milho e de feijão, mas não choveu mais e perdi tudo. Não deu nem palha", diz Josilane Rodrigues, de 25 anos, enquanto expõe 11 ovelhas em uma feira em Dormentes, a 130 km de Petrolina. Quer vendê-las, mesmo a preço baixo, por não ter como alimentá-las.

"Vou vender a qualquer preço porque não quero voltar com eles", afirma Francisco Agostinho Rodrigues, de 64 anos, que levou à feira 23 de seus 60 animais. "A gente vende algumas para dar de comer às outras". A feira semanal de Dormentes reúne, em média, 3,6 mil animais e atrai compradores da região e de outros Estados. Em tempos bons, tudo é vendido. Agora, em razão da crise e da seca, o número de animais expostos caiu à metade e muitos voltam para casa por falta de interessados, diz João Batista Coelho, da Agência de Defesa e Fiscalização Agropecuária.

Após cinco anos seguidos de volume de chuvas abaixo da média histórica, a seca do semiárido já é considerada a maior do século. A região inclui Alagoas, Bahia, Ceará, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte, Sergipe e o norte de Minas Gerais e conta com cerca de 23 milhões de habitantes.

Água

Grandes reservatórios do Nordeste - com potencial de armazenar mais de 10 bilhões de litros de água - operam, em média, com 16,3% da capacidade, porcentual que era de 46,3% há cinco anos. Dos 533 reservatórios da região monitorados pela Agência Nacional de Águas (ANA), 142 estão secos.

Segundo Raul Fritz, da Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme), "não se via seca tão severa para um período consecutivo desde 1910", quando dados sobre as chuvas passaram a ser coletados. O Ceará é o Estado em pior situação. Seus reservatórios têm apenas 7% da capacidade armazenada. Nos últimos cinco anos, choveu em média 516 milímetros no território, enquanto a média mínima é de 600 milímetros. "E o Ceará é o retrato do que ocorre nos demais Estados", diz Fritz.

Vários rios e açudes também secaram. Muitos moradores, inclusive em grandes cidades, só têm acesso à água fornecida por caminhões-pipa bancados pelos governos federal e estaduais.

De 2012 a 2015, o Nordeste registrou prejuízos de R$ 104 bilhões com a seca. O valor equivale a quase 70% das perdas em razão desse fenômeno em todo o Brasil, segundo a Confederação Nacional de Municípios (CNM). Os valores de 2016 ainda não foram contabilizados.

Em Pernambuco, onde boa parte dos 185 municípios está em situação de emergência, a perda chega a R$ 1,5 bilhão só na pecuária. O rebanho bovino, formado por 2,5 milhões de cabeças em 2011, diminuiu em 554 mil cabeças no ano passado.

Ainda que caprinos e ovinos tenham sofrido com a estiagem, como os do criador Silva, o rebanho cresceu por ter substituído o gado, que é menos resistente à seca. O número de cabras, bodes e cabritos passou de 1,9 milhão para 2,4 milhões em quatro anos. O de ovinos saltou de 1,8 milhão para 2,4 milhões.

Pouca chuva

Na região rural de Acauã (PI), primeira cidade a ser beneficiada pelo programa Fome Zero junto com Guaribas, em 2003, Hortêncio Francisco Rodrigues, de 78 anos, conta que, até 2012, tinha 20 cabeças de gado, mas hoje tem quatro: "Praticamente mandei colocar no caminhão e levar; vendi baratinho, pois ninguém queria."

Agora se dedica à criação de 150 ovelhas e cabras, que são mais resistentes e comem plantas da caatinga, como mandacaru, angaroba e palma, que também começam a escassear em algumas regiões do Nordeste.

Rodrigues ficou contente com a chuva de dezembro, mas ressalta que "chuvinha pouca não conta". Desde então, o sol voltou a ser "o mais quente da vida", como define ele.

De sorriso fácil, Rodrigues afirma que o valor recebido da aposentadoria é que tem ajudado a manter parte das despesas da casa, principalmente com os remédios da esposa Luzia, de 79 anos. Com seis filhos (dos quais dois já morreram), um número de netos que perdeu a conta e 31 bisnetos, ele diz que parte da família deixou o sertão. Alguns migraram para São Paulo, "à caça de emprego". Apesar das secas constantes, umas mais duras, outras menos, não pensa em ir embora. "Nasci aqui e só saio envelopado", brinca.

O vizinho José Teixeira de Macedo, de 64 anos, já viveu da plantação de algodão nos anos 80, mas perdeu tudo por causa da praga de bicudos. Participou de frentes de trabalho na grande seca de 1983 e agora cria ovinos e planta milho e feijão quando chove. Diz que, sem a aposentadoria, tudo estaria muito mais difícil. Ele e um dos filhos cuidam da roça e também não pensam em abandonar o sertão. Já a neta, Samara, de 16 anos, pretende mudar-se para uma cidade maior e estudar Administração. "Não vou morar aqui; vejo o sofrimento dos avós e dos pais e não quero isso".

'Seguro bode'

O agrônomo e criador de caprinos e ovinos em Acauã (PI), Cândido Roberto de Araújo, de 49 anos, comprou um rebanho com 122 animais por R$ 50 cada. Em períodos normais, sairia por cerca de R$ 200, calcula ele. "Estavam todos magros e tive de engordá-los para revender para o abate". Na região predomina a criação de animais para abate ou produção de leite.

Araújo reclama da falta de um programa governamental voltado à atividade. O que tem disponível é o Seguro Safra, empréstimo subsidiado para quem perde a produção agrícola. "Precisamos é de um Seguro Bode", diz, referindo-se ao animal cuja carne está entre as mais consumidas pela população local.

Antonio Felipe de Souza, de 60 anos, tem 80 cabeças de gado leiteiro. Após perder 20 animais, em 2012 e 2013, passou a plantar capim, irrigado com água de um poço que construiu com verba do Bolsa Estiagem. Seu irmão Norberto não obteve o crédito e, de 100 vacas, perdeu 80. Junto com familiares, Souza produz doce de leite e peta (biscoito de polvilho) e vende na região. "Dá para sobreviver", diz. Segundo a Cooperativa de Produtores de Afrânio (PE), a produção de leite caiu de 11 mil litros por dia em 2012 para 3,4 mil litros. O preço também caiu. "O que a gente vende não dá nem para as despesas", diz Fortunato Rodrigues, de 74 anos. Vender o animal não é solução. "O preço da arroba está lá embaixo e quem vende não consegue repor o gado".

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

O paulista Michel Temer disse nesta terça-feira (27) que pretende, ao fim do mandato, ser reconhecido como "o maior presidente nordestino que passou pelo Brasil". A declaração foi dada em Alagoas, na primeira visita oficial do peemedebista ao Estado após tomar posse.

Foi a segunda viagem de Temer ao Nordeste em dezembro. No início do mês, ele esteve em Pernambuco e no Ceará.

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A "ofensiva" sobre a região ocorre como forma de tentar neutralizar a movimentação de potenciais candidatos à sucessão presidencial de 2018. O ex-governador do Ceará Ciro Gomes (PDT) tenta atrair governadores petistas nordestinos para sua candidatura, ao passo que o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), articula uma aliança com o PSB, que governa Pernambuco e Paraíba.

Nesta terça, Temer anunciou a entrega de recursos para a construção de 133,5 mil reservatórios e cisternas. "Se, até o final do meu mandato, conseguir levar água para o Nordeste, já estarei satisfeito", afirmou o peemedebista, lembrando que as obras de transposição do Rio São Francisco, cujo trecho leste deve ser inaugurado no primeiro semestre de 2017, começaram há 15 anos.

Em discurso, Temer admitiu que o País está em uma "grande recessão", e disse que, para combatê-la, é necessária a interlocução com Congresso. "Graças a Deus e graças à compressão do Congresso, medidas (do Executivo) são apoiadas com índice superior a 88%, o maior apoio em todos os tempos", disse, citando números do Basômetro, ferramenta do Estadão Dados que mede a fidelidade dos parlamentares ao governo federal.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Definindo a seca, que atinge vários estados, como “angustiante” e “torturante” o presidente do Brasil, Michel Temer (PMDB), anunciou nesta terça-feira (27) o repasse de R$ 1,02 bilhão para combater a seca no Brasil, entre elas, investimentos em obras de acesso à água. A liberação do recurso foi feita durante cerimônia em Maceió (AL). Essa é a segunda visita oficial de Temer ao Nordeste desde que assumiu a Presidência da República.

Em seu discurso, ele disse que seu governo tem os “olhos” voltados para essa realidade. “Temos outros tantos projetos para o Nordeste, mas o mais angustiante, o mais torturante, o mais instantâneo é o problema da água. Quando Renan me diz que Alagoas há quatro anos não chove e que a Paraíba e outros estados há cinco anos não recebem água da chuva, nós temos que tomar providências, afinal, são 133 mil e quinhentas cisternas que estão sendo entregues a partir deste momento, além de outros projetos”, declarou.

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Segundo informou, R$ 793 milhões serão repassados para a construção de 133 mil cisternas, microaçudes e programas de acesso à água. R$ 230 milhões serão investidos pelo Ministério da Integração Nacional em obras hídricas nos estados do Ceará, Alagoas, Pernambuco e Paraíba, que vão receber e distribuir a água do Projeto de Integração do Rio São Francisco. 

Entre outros investimentos, a Adutora do Agreste será beneficiada com R$ 42 milhões. Essa etapa abrange 571 quilômetros de extensão que abrange adutoras, reservatórios e estação de tratamento de água. 

Além de Pernambuco, os estados que serão beneficiados com as verbas são: Acre, Alagoas, Amapá, Amazonas, Bahia, Ceará, Maranhão, Minas Gerais, Pará, Paraíba, Piauí, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul e Sergipe.

 

Nos bastidores, conta-se que Michel Temer escolheu Alagoas como palco para anunciar investimentos para fazer uma “cordialidade” ao presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB), que tem o estado como reduto eleitoral. Alagoas é governado por Renan Filho (PMDB), primogênito do presidente do Senado. 

Em sua segunda passagem pelo Nordeste como presidente da República, Michel Temer anunciará nesta terça-feira, 27, em Maceió (AL) o repasse de R$ 755 milhões para 15 Estados atingidos pela estiagem.

Segundo auxiliares, o presidente passou parte da tarde desta segunda-feira, 26, no Palácio do Planalto em contato com os ministros que também deverão participar do evento, para ajustar os últimos detalhes. A previsão é de que a cerimônia conte com a participação do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), dos governadores do Estados beneficiados, e dos ministros Osmar Terra (Desenvolvimento Social) e Hélder Barbalho (Integração).

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"Este é maior esforço feito por um governo, em um ano, para levar recursos e ajudar diminuir os problemas da seca. Os recursos serão aplicados principalmente na região do semiárido, que está há cinco anos em seca, numa situação de calamidade", afirmou Osmar Terra ao jornal O Estado de S. Paulo.

Entre os beneficiados estão os Estados do Acre, Alagoas, Amapá, Amazonas, Bahia, Ceará, Maranhão, Minas Gerais, Pará, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul e Sergipe.

Do total de investimento, R$ 250 milhões têm como origem parte da arrecadação do governo federal com o programa de repatriação de recursos do exterior. Outros R$ 255 milhões são de contratos e convênios que serão prorrogados e o restante (R$ 250 milhões), está previsto na Lei Orçamentária Anual de 2017.

Segundo o ministro do Desenvolvimento Social, a previsão é de que sejam construídas 130 mil cisternas, microaçudes e programas de acesso à água. Em relação às cisternas, a ideia é de também estendê-las para cerca de 7 mil escolas, que ainda não contam com o reservatório de água. "Vamos ficar com 100% das escolas do semiárido do Nordeste com garantia de água potável para as crianças", ressaltou Osmar Terra.

O anúncio da liberação dos recursos será feito no Estado governado por Renan Filho (PMDB-AL), filho do presidente do Senado, Renan Calheiros. A expectativa é de que lideranças do PMDB da região também enviem representantes e prefeitos para participarem do evento.

Essa será a segunda vez que Michel Temer irá a região como presidente. No último dia 9 de dezembro, o presidente desembarcou em Pernambuco e Fortaleza onde participou de eventos ligados à transposição do Rio São Francisco e à renegociação de dividas de crédito rural.

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