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Os ministros da Sexta Turma do Superior Tribunal de Justiça revogaram a ordem de prisão preventiva de um homem acusado de homicídio que, mesmo sem julgamento, vinha sendo privado da liberdade desde novembro de 2014. Apesar da 'alegada complexidade do caso', o colegiado entendeu que não há justificativa plausível para manter a prisão preventiva 'diante da excessiva demora processual'. As informações foram divulgadas pelo STJ - HC 440846.

Os ministros decidiram encaminhar ofício ao Conselho Nacional de Justiça (CNJ) informando a situação e solicitando providências junto ao Tribunal de Justiça de Pernambuco para que 'explique a demora na condução do processo'.

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O acusado foi preso em novembro de 2014 durante a investigação de um de homicídio, e posteriormente a prisão temporária foi convertida em preventiva.

A denúncia foi apresentada pelo Ministério Público em março de 2015. A sentença de pronúncia, que determina o julgamento pelo tribunal do júri, é de setembro de 2016, quando foi mantida a prisão preventiva.

Em fevereiro de 2017, o Ministério Público entrou com pedido de desaforamento do caso - transferência para outra comarca -, alegando que um dos acusados integra grupo de extermínio.

O pedido ainda não foi julgado.

Júri sem data

No pedido de habeas corpus, a defesa alegou que a demora na tramitação processual se deve ao Poder Judiciário, e que não há nem sequer previsão da data de julgamento pelo tribunal do júri.

Para a defesa, não há justificativa para a manutenção da prisão preventiva.

A relatora do pedido na Sexta Turma, ministra Laurita Vaz, reconheceu que a demora não pode ser atribuída ao comportamento da defesa ou do réu.

"Embora o feito seja aparentemente complexo - segundo a acusação, parte dos acusados no processo-crime integra um grupo de extermínio responsável por vários homicídios -, a demora na conclusão do incidente não pode ser imputada ao paciente, que se encontra recluso desde 25/11/2014, com decisão de pronúncia proferida em 22/09/2016, contra a qual não interpôs recurso", resumiu a ministra ao detalhar o andamento processual.

Delonga desproporcional

A ministra afirmou que o constrangimento ilegal está configurado no caso, tendo em vista toda a sequência dos fatos e a circunstância de que até agora não houve decisão a respeito do pedido de desaforamento feito em fevereiro de 2017.

Sobre esse pedido, a relatora destacou que, embora tenha sido feito pelo Ministério Público em fevereiro, as informações foram solicitadas ao juízo de primeiro grau apenas em junho de 2017, caracterizando 'uma delonga desproporcional'.

Laurita destacou que os prazos indicados para a instrução criminal servem como parâmetro geral, variando de processo a processo, e que é necessário analisar se há desídia por uma das partes envolvidas, não bastando somar os prazos para caracterizar eventual constrangimento ilegal.

No entanto, afirmou a ministra, o relaxamento da prisão é possível quando a demora na tramitação processual ofender o princípio da razoabilidade.

A relatora salientou a possibilidade de adoção de medidas cautelares diversas da prisão, previstas no artigo 319 do Código de Processo Penal, a cargo do juiz de primeira instância, ou até mesmo de um novo decreto de prisão preventiva, desde que sejam devidamente fundamentadas.

O acampamento com 33 famílias de sem-terra, montado próximo à área urbana de Tamboril (CE), teve dois pontos incendiados na noite desta terça-feira (30). As famílias afirmam ter sido intencional e criminoso. É o segundo ataque a acampamentos ligados ao Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) em apenas quatro dias.

Segundo coordenadores do acampamento Comuna Irmã Dorothy - nome dado em homenagem à missionária católica norte-americana Dorothy Stang, assassinada em fevereiro de 2005 -, homens não identificados foram vistos deixando o local em ao menos duas motos, gritando palavras de ordens contra os sem-terra.

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De acordo com Mariana da Silva Santana, uma das coordenadoras do acampamento e presidente do Conselho Municipal dos Direitos da Mulher, de Tamboril, os acampados identificaram um primeiro foco de incêndio por volta das 18h30 e rapidamente o apagaram. Cerca de uma hora depois, constataram um novo foco de incêndio, desta vez mais próximo aos barracos onde vivem.

“Um fogaréu muito grande surgiu bem rápido, desta vez mais próximo das barracas. Como a água aqui é escassa e fica distante, não dava para levá-la até as chamas. Um grupo de acampados correu para tentar apagar o fogo com pás e abafadores improvisados e, quando chegaram perto, viram ao menos dois homens partindo em uma moto, gritando coisas como ‘agora vocês vão dormir!’”, disse Mariana à Agência Brasil.

Segundo a coordenadora, os sem-terra não conseguiram identificar os homens ou anotar as placas das motos, pois a iluminação no local é precária. “Já registramos um boletim de ocorrência e pedimos ao Ministério Pública que acompanhe a investigação do caso. Policiais militares estiveram na área e acionaram o Corpo de Bombeiros, mas o fogo foi controlado pelos próprios sem-terra no início da madrugada”.

Chamas

O trabalho para apagar as chamas que o vento ameaçava espalhar pela vegetação seca avançou noite adentro e só terminou no início da madrugada de hoje (31). Em um vídeo divulgado na internet, um sem-terra diz que “quem veio tocar fogo para nos amedrontar deixou as motos escondidas. Quando saímos para apagar o fogo, escutamos a zoada das motos e eles nos mandando ir dormir".

A descrição dos fatos narrados pelos sem-terra se assemelha aos testemunhos de um ataque ocorrido no último sábado (27), no Acampamento Sebastião Billar, em Dois Irmãos do Buriti (MS), onde barracos foram incendiados por um homem não identificado, que fugiu em um carro. Nos dois casos, ninguém ficou ferido.

Ainda segundo a coordenadora do acampamento de Tamboril, além das 33 famílias que já vivem na área de cerca de 92 hectares, da Fazenda Cacimbinha, há outras 120 famílias que participam do movimento e esperam receber um lote no local.

Entre as 96 pessoas que vivem em barracos improvisados com tábuas, papelão e toda a sorte de material altamente inflamável, 43 são crianças, informou Mariana. “As famílias que estão aqui não têm para onde ir. Tem gente desempregada vivendo do Bolsa-Família. Outros que sequer isso conseguiram. Há quatro anos decidimos ocupar esta área devido às necessidades dessas famílias, já que os preços de imóveis são muitos caros, seja para alugar, seja para compra”, acrescentou Mariana, assegurando que, no passado, o governo estadual chegou a endossar a proposta de adquirir a área da família proprietária e destiná-la a programas de reforma agrária e reassentamento.

A Secretaria do Trabalho e Assistência Social de Tamboril confirmou que parte dos sem-terra do acampamento Comuna Irmã Dorothy é beneficiária de ações sociais desenvolvidas nos equipamentos públicos mantidos pela pasta. A secretaria colocou os agentes do Centro de Referência Especializado de Assistência Social (Creas) à disposição da comunidade.

A reportagem não conseguiu contato com as polícias Civil e Militar.

NAO PUBLICAR

Família, amigos e paixão pelo futebol. No desespero por conseguir um trabalho, o desempregado Alan Silva deixou o que tinha em Anápolis, Goiás, e partiu para o Ceará, contando com a boa vontade de desconhecidos que não lhe deixaram de oferecer carona nas estradas por que passou. Fã de Pelé e da seleção brasileira de 1970, ele trocou o gosto pelo esporte pelos jogos de azar, ainda na terra natal. “Perdi tudo e fui aventurar. Só que chegando em Fortaleza, a fazenda em que fui trabalhar era de serviço escravo. Com três dias, a polícia bateu lá e prendeu dono, capataz, em bocado de gente. A gente ficou jogado sem teto e resolvi vir para Recife”, relata. Há sete meses vivendo nas ruas da capital pernambucana, Alan afirma não ter recebido apoio da Prefeitura em suas tentativas de requerer a passagem de volta. “Dizem que não tem verba. Para piorar, roubaram meu celular, perdi todos os contatos e minha família não sabe onde estou. Já fui fanático, quero assistir aos jogos, mas quem consegue assistir? Concentrar na Copa tá difícil”, completa.

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De acordo com a Fundação Getúlio Vargas (FGV), o déficit habitacional no Brasil cresceu de 6.881.343, em 2011, para 7.757.183 moradias, em 2015, quando a instituição levantou os últimos dados. Sentado ao lado de Alan, em uma das fontes espalhadas pela Praça da Independência, no Centro do Recife, o artesão Daniel Silva conta que mora nas ruas há 7 meses, enquanto prepara mais uma de suas peças de arte feitas com no base de arame, um dos poucos recursos de que dispõe para sobreviver. “Onde eu morava, tinha duas facções. Se você vive numa rua, não pode a atravessar para o outro lado. Então resolvi sair fora, atravessar todas as ruas, estados e, se possível, passar por cima de qualquer coisa. Melhor do que estar numa casa em que quem manda são os traficantes”, comenta.

Daniel sobrevive vendendo seu artesanato, feito essencialmente de arame. (Rafael Bandeira/LeiaJá Imagens)

Descrente no país e na sociedade em que vive, Daniel estende sua revolta à seleção brasileira. “Vou torcer para esse time se só tem alma sebosa no Brasil? Nossos governantes são as primeiras desgraças que existem no mundo. O Brasil vive jogado, na lama, só tem bandido. Não se pode confiar em político, polícia nem em em jogador de futebol. Hoje em dia, ninguém crê mais em nada”, lamenta. 

A profissional do sexo Valdirene Jesus se queixa da pouca procura dos clientes durante o período do jogos. “As lojas fecham cedo e as pessoas vão embora, só atrapalho. Diminui o movimento, o pessoal só tá pensando em comprar camisa da Copa”, lamenta. Desempregada há 12 anos, quando perdeu o serviço de empregada doméstica. “Eu gostaria de arranjar um emprego, mas só fiz até a oitava série, aí fica difícil de conseguir. Além disso, ultimamente o pessoal não quer mais ninguém trabalhando em casa, porque agora tem que pagar carteira assinada e salário”, comenta. 

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Assim, Valdirene vê o ponto de programa no centro do Recife como única maneira de sustentar seus dois filhos e três netos. “Tenho esperança, porque a esperança é a última que morre. Conheço muita gente desempregada, tem um bocado de gente passando fome e o pessoal só fala em Neymar. Por mim o Brasil nem ganharia a copa, porque, se ganhar, eles vão continuar ricos e eu pobre”, afirma. 

“Sem o futebol, o que seria?”

Longas filas, grades e revista. Há quem não tenha tempo para enfrentar a burocracia da entrada da Arena Brahma no Bairro do Recife, ação idealizada pela empresa para divulgar sua marca a partir de um telão e estrutura montados para a torcida brasileira na copa do mundo. A poucos metros de lá, um grupo de pessoas prefere se reunir para assistir a Brasil e Costa Rica em um dos fiteiros da avenida Marquês de Olinda. Timidamente, o catador Danilo Henrique faz a difícil escolha de trocar a atenção no chão repleto de latinhas para se aproximar da TV na tentativa de acompanhar alguns lances de um primeiro tempo decepcionante para a seleção. “No momento, só paro para dar uma olhada, mas tenho que fazer minha correria. Eu gosto de futebol, mas se ligar só para isso, como é que vou ficar?”, questiona. 

Alguns catadores pararam o trabalho por instantes para acompanhar o jogo da seleção. (Rafael Bandeira/LeiaJá)

Apesar disso, o catador acredita que os “vizinhos” estão pouco interessados na copa. “A maioria que mora na rua não liga não. Ninguém está ligando porque o evento não oferece nada para a gente, nenhum time ajuda a gente”, completa. Na rua desde os sete anos de idade, Danilo não guarda mágoas do país que não lhe deu outra possibilidade. “Por que estaria irritado? É assim mesmo a vida. Quando tem jogo, o povo deixa mais latinha na rua. Futebol é legal, é uma diversão pra todo mundo. Sem o futebol, o que seria?”, indaga, poucos minutos antes de voltar ao serviço, sem assistir à encorajadora vitória por 2x0 contra a seleção costarriquenha.  

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