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Sob uma tempestade de críticas pela retirada dos militares americanos do Afeganistão, o presidente Joe Biden falará pela segunda vez sobre as caóticas operações de evacuação em Cabul, de onde milhares de civis tentam fugir desde que o Talibã assumiu o poder.

O presidente deve falar às 13h, horário local (14 do horário de Brasília), ao vivo pela televisão da Casa Branca, antes de partir para o fim de semana para sua base de operações em Wilmington (Delaware).

Na segunda-feira, ele fez seu primeiro pronunciamento, com uma breve apresentação na televisão, na qual defendeu "firmemente" sua decisão de retirar as tropas americanas do Afeganistão antes de 31 de agosto, onde lutam há vinte anos. “Eu sou o presidente dos Estados Unidos, no final das contas a responsabilidade é minha”, disse.

Dois dias depois, em entrevista à ABC, o presidente democrata explicou que a retirada dos EUA invariavelmente causaria alguma forma de "caos" no país.

Mas seus opositores republicanos criticaram a gestão dessa retirada, que, segundo eles, precipitou a queda do governo afegão. Também o reprovam por evitar perguntas incômodas da imprensa desde a queda do governo afegão no domingo e por praticamente não ter interrompido suas férias em Camp David, apesar das cenas de caos no aeroporto de Cabul.

Do lado democrata, algumas vozes também lamentaram que o governo não tenha previsto as consequências dessa retirada e do colapso do regime afegão em apenas dez dias.

As imagens de civis em pânico amontoando-se nas portas ou tentando se pendurar nos aviões chocaram a opinião pública americana, que, no entanto, foi esmagadoramente a favor da retirada das tropas até esta semana, uma vez que o governo de Biden prometeu evacuações suaves e organizadas.

Mas a realidade é muito diferente. O Talibã mantém controle estrito sobre os afegãos que querem chegar aos portões vigiados por mais de 5.200 soldados americanos.

Na quinta-feira, cerca de 3.000 pessoas foram evacuadas em 16 aviões de carga C-17 para os Estados Unidos, segundo a Casa Branca, entre americanos, suas famílias e afegãos que trabalharam para os Estados Unidos.

Desde o início das operações de evacuação de emergência em 14 de agosto, cerca de 9.000 pessoas foram evacuadas por via aérea e 14.000 desde o final de julho, quando os cidadãos americanos começaram a sair, acrescentou a presidência.

Os Estados Unidos planejam evacuar um total de mais de 30.000 americanos e afegãos civis por meio de suas bases no Kuwait e no Catar.

Zaki Anwari, ex-jogador de futebol da seleção de base do Afeganistão, morreu após tentar se segurar em um avião para fugir do país, tomado pelo grupo radical islâmico Taleban no último domingo. A informação foi divulgada nesta quinta-feira pela agência de notícias afegã Ariana News.

Anwari foi encontrado morto no aeroporto de Cabul. Ainda de acordo com a agência, ele caiu depois de tentar se segurar no trem de pouso do de um Boeing C-17, aeronave da Forças Armadas dos Estados Unidos, durante o resgate de estrangeiros e afegãos.

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A morte foi confirmada pela Diretoria Geral de Educação Física e Esportes do Afeganistão. Anteriormente, o jovem atuou pela seleção sub-16 do país.

Multidões lotaram o aeroporto de Cabul nos últimos dias desde a insurgência do Taleban. No desespero para deixar o país, dezenas morreram da mesma forma que Anwari, tentando embarcar em aviões em movimento.

O retorno do grupo extremista também trouxe dúvidas sobre o futuro das mulheres no esporte. Nesta semana, Zakia Khudadadi, atleta de parataekwondo, pediu ajuda para conseguir viajar e participar da Paralimpíada de Tóquio. Ela pode se tornar a primeira mulher do seu país a disputar a competição.

Por sua vez, Shabnam Mobarez, capitã da seleção feminina afegã, falou ao Estadão sobre a esperança que o esporte trouxe para o país nas últimas décadas e o temor de ter que abandonar o futebol após a retomada do Taleban.

Em um apelo por uma mobilização para ajudar os afegãos, o diretor-geral do Comitê Internacional da Cruz Vermelha, Robert Mardini, disse que ainda é difícil prever o resultado na transição que acontece no país, mas que as necessidades humanitárias continuarão altas. Com essa preocupação, algumas organizações já mantêm campanhas para quem quiser doar e ajudar os afegãos, que assistem ao retorno da milícia radical Taleban ao poder no país após 20 anos.

Segundo Mardini, o CICV está aliviada ao ver que a cidade de Cabul está evitando o que poderia ter sido uma guerra urbana devastadora. No entanto, disse, a organização continua atenta aos milhares de civis que estão feridos e foram deslocados em decorrência dos últimos combates em outros centros urbanos.

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Desde 1º de agosto, mais de 7,6 mil pacientes com ferimentos causados por armas receberam tratamento em estabelecimentos de saúde apoiados pelo CICV em todo o país. Nos meses de junho, julho e agosto, mais de 40 mil pessoas feridas por armas foram tratadas nesses estabelecimentos de saúde, explicou ele, prevendo que as equipes de saúde e reabilitação física do CICV deverão receber pacientes nos próximos meses e anos.

"Atualmente, o CICV tem um déficit de financiamento de cerca de 30 milhões de francos suíços (US$ 33 milhões), de um orçamento de aproximadamente 79 milhões de francos suíços (US$ 86 milhões). Fazemos um apelo de fundos aos doadores para um financiamento adicional imediato que tem como objetivo apoiar o nosso trabalho, incluindo na área médica e nos nossos centros de reabilitação física."

A Acnur (Agência da ONU para Refugiados), destacou estar particularmente preocupada com o impacto do conflito sobre mulheres e meninas. Aproximadamente 80% dos cerca de 250 mil afegãos forçados a abandonar suas casas desde o fim de maio são mulheres e crianças, lembrou a organização. "Quase 400 mil pessoas foram forçadas a deixar suas casas desde o início do ano. Esse número soma-se a 2,9 milhões de afegãos já deslocados internamente em todo o país - dado registrado no final de 2020", explica a Acnur.

Segundo a porta-voz da Acnur Shabia Mantoo, as equipes humanitárias, como parte do esforço mais amplo da ONU, avaliaram as necessidades de quase 400 mil deslocados internamente este ano. "Respondendo inicialmente às prioridades mais críticas, foram fornecidos alimentos, abrigo, kits de higiene e sanitários e outros tipos de assistência para salvar vidas, juntamente com parceiros", afirmou a porta-voz.

Ela explica que a esmagadora maioria dos afegãos forçados a deixar suas casas permanece dentro do país, tão perto de suas casas quanto os combates permitem. Desde o início deste ano, segundo Mantoo, quase 120 mil afegãos fugiram de áreas rurais e cidades provinciais para a província de Cabul. "O Acnur pede à comunidade internacional que aumente urgentemente seu apoio para responder a esta última crise de deslocamento do Afeganistão."

Saiba como doar:

- Comitê Internacional da Cruz Vermelha

https://doe.cicv.org.br/doe-africa/people/new

- Acnur

https://doar.acnur.org/acnur/afeganistao.html#doacao-section

A retirada de diplomatas, afegãos e outros estrangeiros prossegue em condições difíceis em Cabul, capital do Afeganistão.

Uma gigantesca ponte aérea foi criada desde domingo (15), com aviões de diversos países, em um aeroporto que tem os arredores controlados pelos talibãs.

- Alemanha envia 600 soldados a Cabul -

A Alemanha retirou 500 pessoas, incluindo 202 afegãos, e aprovou o envio de 600 soldados a Cabul para ajudar na saída do maior número possível de pessoas até 30 de setembro, no mais tardar.

- Primeiro voo chega à Espanha -

O primeiro avião militar da Espanha procedente de Cabul com 50 espanhóis e colaboradores afegãos pousou nesta quinta-feira na base militar de Torrejón de Ardoz, ao nordeste de Madri.

A Espanha também aceitou ajudar a retirar do Afeganistão funcionários locais da União Europeia (UE) e da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) e transportá-los para a Europa. Os cidadãos afegãos serão enviados para vários países europeus.

O chefe da diplomacia europeia, Josep Borrell, afirmou na quarta-feira que a UE tinha "400 pessoas para repatriar".

- Novo voo de afegãos para a França -

A ponte aérea francesa, via Emirados, prossegue com a chegada prevista nesta quinta-feira de um novo voo com 120 pessoas, essencialmente afegãos. Um primeiro contingente de afegãos chegou ontem a Paris.

"Estamos contabilizando um certo número de necessidades muito urgente. Falamos, sem dúvida, de algumas milhares de pessoas que devem ser retiradas do Afeganistão, em sua maioria afegãos", declarou o secretário de Estado francês para Assuntos Europeus, Clément Baune.

- Milhares de retirados por Washington e Londres -

O governo dos Estados Unidos enviou 6.000 militares para garantir a segurança no aeroporto de Cabul e retirar os 30.000 americanos e civis afegãos que trabalharam para Washington e temem por suas vidas. Até o momento, foram retirados pouco mais de 5.000 (3.200 essencialmente funcionários americanos, 2.000 refugiados afegãos).

O Departamento de Estado afirma, porém, que os talibãs "estão impedindo que os afegãos que desejam sair do país cheguem ao aeroporto".

O Reino Unido retirou 306 britânicos e 2.052 afegãos.

- Pontes aéreas de outros países -

A Turquia repatriou 324 cidadãos na segunda-feira e organiza o retorno de mais de 200 de Cabul.

Outros voos partiram nos últimos dias para Holanda, Polônia (segundo avião chega nesta quinta), Dinamarca, Noruega, República Tcheca, Hungria e Bulgária. Quinze romenos não conseguiram chegar ao aeroporto de Cabul e o avião enviado por seu país retornou com apenas uma pessoa.

Após duas décadas de guerra contra os talibãs, as potências ocidentais enfrentam a encruzilhada de estabelecer ou não relações com o grupo fundamentalista islâmico que governa o Afeganistão agora.

Os insurgentes parecem receber uma acolhida internacional mais calorosa do que durante seu primeiro regime brutal (1996-2001). Rússia, China e Turquia saudaram suas primeiras declarações públicas.

Se os americanos negociam com os talibãs um "calendário" de evacuações, a Casa Branca insiste em que vai esperar para julgar seus atos, particularmente sobre os direitos humanos, antes de decidir a natureza de suas futuras relações diplomáticas.

"Caberá aos talibãs demonstrar ao resto do mundo quem são", disse nesta terça-feira (17) Jake Sullivan, conselheiro de segurança nacional do presidente Joe Biden.

"O balanço não é bom, mas é prematuro" dizer o que vai acontecer.

Os Estados Unidos, no entanto, se disseram prontos a manter sua presença diplomática no aeroporto de Cabul após a data limite para a retirada de suas tropas prevista para 31 de agosto, com a condição de que a situação seja "segura", informou o porta-voz do Departamento de Estado, Ned Price.

No entanto, o chefe da diplomacia europeia, Josep Borell, admitiu nesta terça que "os talibãs venceram a guerra. Devemos falar com eles".

O Canadá anunciou que não tem a intenção de reconhecer um governo talibã, enquanto o ministro de assuntos exteriores da Grã-Bretanha, Dominic Raab, disse que "normalmente" Londres não vai trabalhar com os insurgentes.

- Coordenar a decisão? -

Mas, com as negociações ainda em curso no Catar para se chegar a um governo que seja o mais representativo possível da sociedade afegã, "queremos avaliar se há uma possibilidade de moderar o tipo de regime" que vai governar o Afeganistão, acrescentou.

"Agora detêm o poder e devemos levar esta realidade em conta", afirmou Raab à Sky News, sem deixar de admitir que as possibilidades de ver instalado um governo inclusivo são pequenas.

As potências ocidentais têm muito menos capacidade de influência agora que os talibãs estão no poder do que quando estavam no campo de batalha.

Os Estados Unidos exercem, no entanto, uma influência sem igual nos credores internacionais e podem impor sanções drásticas ou condicionar as ajudas necessárias para reconstruir um país devastado por 20 anos de guerra.

Lisa Curtis, ex-conselheira da Casa Branca para a Ásia Central e do Sul na Presidência de Donald Trump, avalia que Washington deveria usar um possível reconhecimento diplomático dos talibãs para pressioná-los e exigir deles uma conduta melhor.

"Já que devemos fazer nossa ajuda chegar lá, vamos ter que nos relacionar com eles em certo nível", acrescentou. "Mas o reconhecimento diplomático não deveria ser entregue sem nada em troca", afirmou.

- Difícil perdoar -

Só três países - Paquistão, Emirados Árabes Unidos e Arábia Saudita - reconheceram o regime talibã precedente, que impôs uma versão ultrarrigorosa da lei islâmica.

Desta vez, o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, tentou impedir que o Paquistão, um histórico apoiador dos talibãs, reconhecesse o novo governo, assegurando que este reconhecimento deveria ser acordado "sobre uma base internacional, não unilateral".

Mas em termos de laços diplomáticos, os Estados Unidos não perdoam facilmente.

Washington esperou duas décadas após a queda de Saigon para estabelecer relações com o Vietnã comunista e 54 anos antes de reabrir uma embaixada em Cuba.

Ao contrário, nunca restabeleceu as relações com o Irã após a revolução islâmica de 1979.

Ao realizar um acordo de retirada com os talibãs em 2020, o então presidente Trump parecia apontar para a possibilidade de se entender com os insurgentes por considerá-lo útil para enfrentar o grupo Estado Islâmico.

O Facebook anunciou nesta terça-feira (17) que estava bloqueando contas do WhatsApp relacionadas aos talibãs, depois que o grupo radical islâmico assumiu o controle do Afeganistão.

"Os talibãs foram sancionados como organização terrorista pela lei estadunidense e nós os banimos de nossos serviços de acordo com nossas políticas de Organizações Perigosas", disse um porta-voz do Facebook à AFP.

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O Facebook encerrou uma conta no WhatsApp que os talibãs abriram para receber reclamações sobre violência e saques, de acordo com o Financial Times.

Um porta-voz do WhatsApp especificou em um e-mail à AFP que a empresa deve cumprir as sanções dos EUA.

"Isso inclui a proibição de contas que parecem ser canais oficiais dos talibãs. Estamos buscando mais informações das autoridades americanas, dada a evolução da situação no Afeganistão", disse a empresa.

O anúncio ocorre no momento em que as plataformas de redes sociais enfrentam pressão para bloquear contas usadas pelo regime talibã, em meio à ofensiva que os levou a assumir o país devastado pelo conflito.

O Facebook disse que montou "uma equipe de especialistas dedicados ao Afeganistão, que são falantes nativos dos idiomas dari e pashtun e têm conhecimento do contexto local" para ajudar a aplicar suas políticas.

"Nossas equipes monitoram de perto a evolução da situação. O Facebook não decide sobre o reconhecimento de um governo em nenhum país, mas respeita a autoridade da comunidade internacional para tomar essas decisões", disse a empresa.

Um porta-voz do Talibã criticou o Facebook por bloquear a "liberdade de expressão" no país.

Em uma coletiva de imprensa transmitida online, o oficial respondeu a uma pergunta sobre liberdade de expressão dizendo: "Eu deveria fazer a mesma pergunta a pessoas que afirmam ser promotoras da liberdade de expressão, mas não permitem que todas as informações sejam publicadas (...) Você deve perguntar à empresa Facebook".

O governo britânico anunciou nesta terça-feira (17) que está pronto para receber 20 mil refugiados afegãos "a longo prazo", poucas horas depois de uma reunião de emergência sobre a crise causada pelo retorno do Talibã ao poder.

"Temos uma dívida com todos os que trabalharam para nós para tornar o Afeganistão um lugar melhor nos últimos vinte anos. Muitos deles, especialmente as mulheres, precisam urgentemente de nossa ajuda", disse o primeiro-ministro Boris Johnson, citado em um comunicado do Ministério do Interior.

Johnson declarou estar "orgulhoso de que o Reino Unido tenha sido capaz de criar este caminho para ajudá-los, com suas famílias, a viver em total segurança no Reino Unido".

O chefe do governo apresentará o novo dispositivo de acolhida na quarta-feira à Câmara dos Comuns.

A iniciativa prevê a chegada de 5.000 afegãos "ameaçados pela atual crise" no primeiro ano, em particular mulheres, meninas e minorias religiosas, informou o Ministério.

O comunicado não mencionou um cronograma preciso, mas é inspirado em um programa para refugiados sírios que permitiu a instalação de 20 mil pessoas em sete anos, de 2014 a 2021.

O novo dispositivo para o Afeganistão foi adicionado a um programa conhecido como ARAP, destinado a afegãos contratados como intérpretes pelo Reino Unido.

O Reino Unido destacou cerca de 900 militares para garantir a evacuação de seus cidadãos e funcionários locais de Cabul.

Cerca de 520 cidadãos britânicos, afegãos e diplomatas deixaram o Afeganistão desde o último sábado, a bordo de voos militares.

A atleta afegã Zakia Khudadadi pediu ajuda, nesta terça-feira (17), enquanto tentava escapar de Cabul e ressuscitar seu sonho frustrado de se tornar a primeira mulher do País a competir em uma Paralimpíada.

Na segunda-feira, o Comitê Paralímpico Afegão disse que os dois paratletas de sua nação não poderão comparecer aos Jogos que se iniciam no dia 24 de agosto em Tóquio, por causa do caos devido à tomada de poder do Taliban. Os insurgentes dominam as maiores cidades e agora comandam a maior parte do Afeganistão.

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Lutadora de taekwondo, Khodadadi disse em uma mensagem de vídeo, enviada de Cabul, e encaminhada à Reuters pelo chefe de missão do Comitê Paralímpico Afegão radicado em Londres, Arian Sadiqi, que se sente “aprisionada”. Ela está hospedada com parentes, mas não se sente confiante para treinar, fazer compras ou se comunicar com outras pessoas.

Falando em farsi e traduzida pela Reuters, ela disse se sentir um fardo adicional para familiares que não têm o suficiente para alimentar os próprios filhos. “Peço a todos vocês, sou uma mulher afegã, e como representante das mulheres afegãs peço a vocês que me ajudem”, declarou. “Minha intenção é participar dos Jogos Paralímpicos de Tóquio 2020, por favor, estendam-me a mão e me ajudem”, concluiu.

Khudadadi e o praticante de atletismo Hossain Rasouli deveriam ter chegado à capital japonesa nesta terça-feira, mas não conseguiram voos.

Os talibãs, que tomaram o poder no Afeganistão no domingo (15), se comprometeram a respeitar a liberdade de imprensa, segundo um comunicado emitido nesta terça-feira (17) pela associação Repórteres sem Fronteiras (RSF), que mantém reservas sobre este compromisso.

"Respeitaremos a liberdade de imprensa, porque a informação dos veículos de comunicação será útil para a sociedade e poderá ajudar a corrigir os erros dos líderes", disse o porta-voz do Talibã, Zabihullah Mujahid.

"Com esta declaração ao RSF, declaramos ao mundo que reconhecemos a importância do papel dos meios de comunicação", acrescentou em uma conversa telefônica com o RSF no domingo, segundo o comunicado.

E acrescentou: "Os jornalistas que trabalham para meios de comunicação estatais ou privados não são criminosos e nenhum deles será perseguido. Na nossa opinião, esses jornalistas são civis e, além disso, são jovens com talento que constituem nossa riqueza".

Durante o primeiro período do governo talibã no Afeganistão, de 1996 a 2001, todos os meios de comunicação foram proibidos, exceto a emissora de rádio A Voz da Sharia, "que não emitia nada além de propaganda e programas religiosos", lembrou RSF.

A organização de defesa da liberdade de imprensa disse que "só o tempo dirá" se a declaração pode ser levada a sério e afirmou que cerca de 100 veículos de comunicação já deixaram de funcionar desde o rápido avanço dos talibãs no país.

Sobre as mulheres jornalistas, Mujahid disse que poderão continuar trabalhando, contando com que usem o hijab ou cubram os cabelos.

Ele afirmou que vai estabelecer um "marco legal" e que, enquanto isso, elas devem "ficar em casa, sem estresse e sem medo".

"Garanto a vocês que voltarão aos seus postos de trabalho", insistiu.

Muitos analistas recomendam ter cuidado na hora de levar os compromissos dos talibãs ao pé da letra, dado o histórico do grupo de violar acordos e sua violenta hostilidade contra qualquer um que considerem que trabalha contra seus interesses.

Os analistas também consideram que o grupo quer projetar uma imagem mais moderada para obter reconhecimento internacional.

O Afeganistão possui pelo menos oito agências de notícias, 52 canais de televisão, 165 emissoras de rádio e 190 jornais impressos, segundo RSF, citando dados da Federação Afegã de Imprensa e Jornalistas.

O país possui um total de 12.000 jornalistas, segundo a mesma fonte.

O ex-presidente dos Estados Unidos George W. Bush, que ordenou a invasão do Afeganistão após os ataques de 11 de setembro de 2001, pediu ao atual governo americano que ajude os afegãos que fogem do país por medo de um novo regime talibã.

"Os afegãos que estão correndo risco agora são os mesmos que estiveram na vanguarda do progresso em sua nação", disse W. Bush em um comunicado divulgado na noite de segunda-feira, no qual pediu ao presidente Joe Biden para acelerar as retiradas.

"O governo dos Estados Unidos tem a autoridade legal para reduzir a burocracia para os refugiados durante as crises humanitárias urgentes. E temos a responsabilidade e os recursos para garantir uma saída segura para eles agora, sem demoras burocráticas", afirmou.

O 43º presidente dos EUA disse que ele e a ex-primeira-dama, Laura Bush, assistiram com "profunda tristeza" ao rápido colapso do governo afegão, após o fim da missão internacional no país liderada pelos Estados Unidos e estão "prontos" para oferecer seu "apoio e assistência neste momento de necessidade".

W. Bush liderou a invasão do Afeganistão para derrubar o regime talibã que protegia o então líder da Al-Qaeda, Osama bin Laden, depois dos atentados do 11 de Setembro, nos EUA. Os ataques deixaram 2.977 mortos.

O governo W. Bush foi criticado por desviar sua atenção do Afeganistão nos primeiros anos do conflito para invadir o Iraque, permitindo que a luta com os talibãs se prolongasse sem um propósito claro.

O ex-presidente alegou que o conflito afegão não foi em vão e disse que as tropas americanas eliminaram "um inimigo brutal", enquanto, ao mesmo tempo, construíam escolas e forneciam atendimento médico.

O Afeganistão caiu nas mãos dos talibãs após uma ofensiva meteórica, antes mesmo do fim do prazo estabelecido por Biden para a retirada dos últimos soldados americanos em 31 de agosto.

Agora, os Estados Unidos tentam retirar seus cidadãos e os afegãos que trabalharam para as Forças Armadas americanas.

Muitos afegãos temem que os talibãs imponham a mesma versão ultrarrigorosa da lei islâmica adotada quando governaram o país entre 1996 e 2001.

Os talibãs assumiram o controle de quase todo Afeganistão, mas no vale de Panshir, ao nordeste de Cabul, um homem, o ex-vice-presidente Amrullah Saleh, promete seguir com a resistência.

Inimigo dos islamitas radicais que agora estão no comando do país, Saleh seguiu para a última região afegã que ainda não está sob controle dos talibãs: o vale de Panshir.

"Não vou decepcionar as milhões de pessoas que me ouviram. Nunca estarei sob o mesmo teto que os talibãs. NUNCA", escreveu em inglês no domingo em sua conta no Twitter antes de passar para a clandestinidade.

No dia seguinte apareceram nas redes sociais imagens do ex-vice-presidente com Ahmad Masud, filho do comandante Ahmed Shah Masud, assassinado em 2001 pela Al-Qaeda, juntos no vale de Panshir.

Masud anunciou na segunda-feira em um artigo publicado por uma revista francesa que será oposição aos talibãs e assumirá a luta pela liberdade liderada por seu pai, herói da resistência contra a União Soviética.

Os dois homens parecem estar definindo a primeira peça de uma rebelião contra o novo regime. Homens armados começaram a seguir para o vale de Panshir, uma zona de difícil acesso e que nunca passou ao controle dos talibãs: nem durante a guerra civil da década de 1990, nem durante a ocupação soviética, uma década antes.

- "Resistiremos" -

"Não permitiremos que os talibãs entrem em Panshir e resistiremos com todas as nossas forças", declarou à AFP um morador que preferiu permanecer no anonimato.

Para Saleh, natural de Panshir, esta seria a última de uma longa lista de batalhas. Este afegão lutou ao lado do comandante Masud na década de 1990. Depois integrou seu governo, que foi derrubado pelos talibãs em 1996, quando os insurgentes entraram em Cabul. Ele disse que os talibãs torturaram sua irmã para tentar retirá-lo de seu esconderijo.

"Minha opinião dos talibãs nunca mudou", afirmou no ano passado em um artigo publicado pela revista Time.

Depois dos atentados de 11 de setembro de 2001 nos Estados Unidos, ele se tornou uma importante fonte de informação para a CIA.

Isto o levou, após a queda dos talibãs, a comandar, entre 2004 e 2010, a Direção de Segurança Nacional (NDS), a agência de inteligência afegã.

- Continuar a luta -

No cargo, ele criou uma ampla rede de espiões e infiltrados entre os talibãs, no Afeganistão e também no Paquistão, onde estão grande parte dos líderes insurgentes.

Desta maneira, segundo ele, reuniu provas de que os insurgentes continuavam sendo beneficiados pelo apoio do exército paquistanês, informação desmentida pelas Forças Armadas do país vizinho.

Sua ascensão à vice-presidência, no entanto, foi marcada por vários contratempos. Em 2010 foi demitido do cargo de diretor da NDS, após um humilhante ataque contra uma conferência de paz em Cabul.

Saleh se afastou da política por alguns anos, mas continuou atacando os talibãs e o Paquistão nas redes sociais.

Em 2018, ele foi ministro do Interior por alguns meses, depois de uma aliança com o presidente Ashraf Ghani, que no domingo fugiu do Afeganistão para o exterior. Assumiu a vice-presidência em 2019.

Saleh escapou de vários ataques talibãs, o mais recente em setembro de 2020, quando um carro-bomba explodiu na passagem de seu comboio e matou pelo menos 10 pessoas.

Horas depois do ataque, ele apareceu em um vídeo, com a mão esquerda enfaixada, e prometeu devolver cada golpe. "Continuaremos nossa luta", afirmou.

A China acusou, nesta terça-feira (17), Washington de "deixar um caos terrível" no Afeganistão, depois que o Talibã tomou o controle do país, o que provocou a saída caótica de trabalhadores e aliados americanos.

Pequim destacou sua disposição a cooperar com os talibãs após a retirada dos Estados Unidos, a qual estimulou um rápido avanço desses islamitas de linha radical em todo o país, cuja população presenciou como tomaram a capital Cabul no domingo.

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Diante das críticas pela desorganizada retirada das tropas americanas depois de 20 anos de intervenção militar, o presidente Joe Biden defendeu a retirada na segunda-feira e culpou as forças afegãs que, segundo ele, "não estavam dispostas a lutarem sozinhas".

No entanto, a porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Hua Chunying, disse nesta terça-feira que Washington deixou "um caos terrível de distúrbios, divisão e famílias desfeitas" no Afeganistão.

"A força e o papel dos Estados Unidos é a destruição e não a construção", enfatizou Hua.

A China compartilha uma fronteira acidentada de 76 quilômetros com o Afeganistão.

Pequim temeu durante muito tempo que o vizinho se tornasse um ponto de refúgio para os separatistas minoritários uigures na sensível região fronteiriça de Xinjiang.

Porém, uma delegação talibã de alto nível se reuniu com o ministro das Relações Exteriores chinês, Wang Yi, em Tianjin no mês passado, e prometeu que o Afeganistão não seria usado como base para os militares.

Em troca, a China ofereceu apoio econômico e investimento para a reconstrução do Afeganistão.

Hua disse na segunda-feira que a China está pronta para continuar as relações "amigáveis e cooperativas" com o Afeganistão, agora controlado pelos talibãs.

Nesta terça-feira, Pequim pediu ao novo regime afegão para "fazer uma ruptura limpa com as forças internacionais" e "evitar que o Afeganistão se transforme novamente em um ponto de encontro para terroristas e extremistas".

Biden prometeu uma retirada completa das tropas americanas até o fim de agosto, o que marca o fim de duas décadas de guerra.

As tropas de Washington, no entanto, saíram comovidas devido ao rápido colapso do governo afegão e ao avanço arrebatador dos talibãs.

A China criticou repetidamente a apressada retirada dos Estados Unidos do Afeganistão, que considera um fracasso de liderança.

O Facebook anunciou o banimento de todas as contas ligadas ao grupo fundamentalista islâmico Talibã, que retomou o poder no Afeganistão 20 anos depois de ter sido destituído pela invasão americana.

A rede social fundada por Mark Zuckerberg formou uma equipe de especialistas afegãos para remover conteúdo relacionado ao Talibã, que usava a plataforma para promover suas mensagens.

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O banimento também vale para Instagram e WhatsApp, ambos controlados pelo Facebook, que considera o grupo fundamentalista como uma organização terrorista.

"O Talibã é sancionado como organização terrorista pela lei dos EUA, e nós os banimos de nossos serviços de acordo com nossas políticas para organizações perigosas. Isso significa que removemos contas mantidas por ou em nome do Talibã", disse um porta-voz do Facebook à rede britânica BBC. 

Da Ansa

O governo do Reino Unido informa, em comunicado nesta terça-feira (17) que o primeiro-ministro Boris Johnson conversou hoje com a chanceler da Alemanha, Angela Merkel. No telefonema, a dupla coincidiu sobre a importância da cooperação global, tanto na "necessidade urgente" de retirar estrangeiros "e outros" do Afeganistão, bem como na importância de mais longo prazo de se evitar uma crise humanitária no país e na região. Com a retirada de tropas dos Estados Unidos, o Taleban voltou ao poder.

Os dois líderes se mostraram dispostos a usar sua influência para encorajar parceiros internacionais a adotarem uma abordagem conjunta aos desafios para o país, diz o comunicado do governo britânico. "O primeiro-ministro também ressaltou a necessidade de concordar sobre padrões internacionais compartilhados sobre direitos humanos que qualquer governo futuro do Taleban no Afeganistão terá de manter frente à comunidade internacional", aponta o texto. Johnson ainda disse que pretende convocar líderes do G-7 a um encontro virtual para discutir a questão "na primeira oportunidade".

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O presidente Joe Biden defendeu, nesta segunda-feira (16), a retirada dos Estados Unidos do Afeganistão apesar da rápida tomada de poder pelos talibãs, dizendo que era hora de deixar o país após duas décadas de conflito.

"Sustento firmemente minha decisão. Depois de 20 anos, aprendi a duras penas que nunca houve um bom momento para retirar as forças americanas", disse em discurso televisionado da Casa Branca.

Biden disse que o objetivo de Washington nunca foi construir uma nova nação democrática e admitiu que o governo afegão caiu mais rápido do que o esperado, apesar do apoio militar americano.

"Nunca se supôs que a missão no Afeganistão fosse construir uma nação. Nosso único interesse nacional vital no Afeganistão continua sendo hoje o que sempre foi: prevenir um ataque terrorista na pátria americana", disse Biden, acrescentando que o objetivo "continua sendo hoje e sempre foi evitar um ataque terrorista em solo americano".

"Sempre prometi ao povo americano que seria sincero com vocês. A verdade é que isto ocorreu mais rápido do que tínhamos previsto", disse Biden.

"Demos-lhes todas as oportunidades para determinar seu próprio futuro. Não pudemos dar-lhes a vontade de lutar por esse futuro", acrescentou.

O presidente americano prometeu que continuará "erguendo a voz pelos direitos básicos do povo afegão, das mulheres e meninas" e ameaçou com uma resposta "rápida e contundente" a qualquer ameaça ou ataque aos milhares de diplomatas americanos e tradutores afegãos que deixam Cabul.

Após o discurso, Biden tem previsto voltar ainda nesta segunda à residência de descanso dos presidentes americanos em Camp David, onde passava férias quando a invasão dos talibãs o obrigou a voltar a Washington.

A tomada de Cabul pelo Taleban ontem de uma forma muito rápida não chegou a ser grande surpresa para as autoridades americanas, segundo o jornalista Craig Whitlock. Autor do recém-lançado The Afghanistan Papers: A Secret History of the War (Os documentos do Afeganistão: uma história secreta da guerra, em tradução livre), Whitlock deu entrevista ao Estadão na última sexta-feira (13). Para ele, o poder bélico do Taleban e o despreparo das forças afegãs eram conhecidos dos EUA e da Otan.

Como os rebeldes conseguiram organizar essa ofensiva tão rápido e vencer as forças afegãs que receberam recursos e treinamento dos EUA?

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Duas respostas rápidas para isso. O Taleban é mais forte e mais inteligente do que nós pensávamos e se preparou para este momento. E as forças de defesa do Afeganistão são muito piores do que se sabia. Os EUA sabiam que o Taleban teria vantagens, mas nem por um momento imaginaram que o Exército e a polícia entregariam as armas e se renderiam tão rápido, quase sem oferecer resistência. O governo americano e seus aliados gastaram bilhões de dólares criando um Exército de mentira. No papel, deve haver 350 mil homens entre militares e polícia, mas na realidade há, talvez, metade disso. Ao mesmo tempo, é evidente que o Taleban planejou este momento. O acordo para retirada das tropas americanas foi feito na administração Trump e o grupo sabia que este dia estava chegando. Quando os americanos finalmente começaram a retirada, por volta de julho, eles aproveitaram o momento. O domínio do Taleban parece ter acontecido muito rápido, mas eles se planejaram para isso. É exatamente o desfecho que queriam. Não foi da noite para o dia.

 

No livro, o sr. sustenta que os presidentes americanos do período e seus oficiais militares distorceram a verdade sobre a guerra para o público geral. O que o levou a essa afirmação?

Infelizmente há uma distância muito grande entre o que os líderes americanos disseram em público ao longo dos anos e a verdade. Nós obtivemos uma série de documentos públicos contendo depoimentos de uma série de autoridades, nos quais elas admitiam que o que era dito em público era muito diferente do que era discutido internamente. Ao mesmo tempo em que os generais iam a público dizer que estavam vencendo a guerra, em mesas diplomáticas ou encontros reservados, eles diziam exatamente o oposto. Presidentes disseram estar colaborando com o treinamento e o equipamento das forças de segurança afegãs, que elas estavam evoluindo, mas o que o livro mostra é que os militares americanos responsáveis pelo treinamento sabiam que os recrutas afegãos eram horríveis: não sabiam ler, não sabiam contar, desertavam o tempo todo, não tinham motivação, não recebiam bem e seus comandantes os agrediam brutalmente. E isso aconteceu nos governos Bush, Obama e Trump.

No começo, a guerra teve um apoio popular muito grande, após o 11 de Setembro. Qual foi o momento da virada?

Eu acho que isso aconteceu gradualmente, a partir do governo Obama. Em 2014, houve uma cerimônia da Otan em Cabul, na qual Obama e seus generais declararam o fim da guerra. Apesar dos discursos, o que houve foi uma espécie de ilusionismo. Enquanto diziam que a guerra acabou, mantinham as tropas no país. Neste ponto, percebemos que as pessoas cansaram de tudo.

Podemos dizer que a presença dos EUA e seus aliados no Afeganistão por um período tão longo fragilizou as instituições?

Eu acho que uma das conclusões apresentadas no meu livro é que (a intervenção prolongada) não tinha como dar certo. Se sabia há 10 ou 15 anos que essa estratégia não iria funcionar. Que o governo afegão é excessivamente corrupto e as forças de defesa são incompetentes. Em resumo, que não tinha como durar no longo prazo.

O sr. cobre o tema no The Washington Post. O que os repórteres lá têm relatado?

É um cenário pessimista. O Taleban tem trabalhado sua imagem pública, mas a realidade ainda é de um movimento muito brutal e fundamentalista. Eles têm uma visão muito ultrapassada sobre religião e sociedade.

Grupo expulsou russos do país

1. O que é o Taleban?

O Taleban chegou ao poder no Afeganistão na década de 1990, formado por guerrilheiros que expulsaram os soviéticos na década anterior com o apoio da CIA. O Taleban tem uma agenda local, com a ambição de transformar o Afeganistão em um Emirado Islâmico. Apesar de ter apoiado a Al-Qaeda no passado, os taleban não tem ligação com o Estado Islâmico, que possui uma agenda global.

2. Como ele é financiado?

Parte do dinheiro vem do comércio de ópio e do tráfico de drogas ou de outros crimes, como o contrabando. O grupo tributa e extorque fazendeiros, além de outros negócios. Os militantes também se envolvem em sequestros para obter resgate.

3. Quem é o líder?

Mawlawi Hibatullah Akhunadzad foi nomeado Comandante Supremo do Taleban em 25 de maio de 2016, depois que Mullah Akhtar Mansour foi morto em um ataque de drones dos EUA.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

A tentativa de fugir de Cabul, no Afeganistão, após a chegada do Talibã na capital do país, acabou resultando em mortos e feridos. Na internet, circulam vídeos nos quais se pode ver, ao menos, duas pessoas caindo de um avião da Força Aérea Americana, após a aeronave levantar voo no aeroporto Hamid Karzai. Além disso, disparos feitos pelas tropas dos EUA, para dispersar a multidão, teriam feito vítimas. 

Na manhã desta segunda (16), o aeroporto de Cabul ficou lotado com milhares de afegãos tentando fugir do país após o Talibã tomar o poder no país. Pessoas de todas as idades invadiram a pista de decolagem e agarraram-se às aeronaves que se preparavam para decolar. Imagens compartilhadas na internet mostram o momento em que duas pessoas caíram de um desses aviões, após o início do voo.

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Nos vídeos, é possível ver ao menos dois corpos despencando de uma altura de centenas de metros. Segundo o jornal inglês, The Guardian, no mínimo três pessoas caíram de uma aeronave do tipo C-17, da Força Aérea Americana. Eles teriam se agarrado ao trem de pouso ou à fuselagem na lateral do avião. Já um outro vídeo mostra os corpos de três pessoas — dois homens e uma mulher — caídos no chão no complexo do aeroporto Hamid Karzai, após o tumulto. 

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Para conter a população, as tropas americanas, responsáveis pela segurança no aeroporto, atiraram para o alto e todos os voos comerciais foram cancelados. Os disparos fizeram vítimas, mas ainda não foi confirmada o número total de vitimados. O The Wall Street Journal afirmou que três pessoas foram mortas por armas de fogo e a agência de notícias Reuters fala em cinco óbitos.

O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, falará "em breve" sobre a situação no Afeganistão, afirmou nesta segunda-feira (16) o conselheiro de Segurança Nacional Jake Sullivan, um dia depois da retomada do poder pelos talibãs no país e de Washington evacuar sua embaixada.

Os americanos "podem esperar para ouvir muito em breve o presidente. Ele está atualmente em contato permanente com sua equipe de segurança nacional. Está trabalhando duro para administrar a situação", afirmou Sullivan ao canal ABC.

Mas ele não revelou detalhes sobre o momento ou o formato da intervenção.

A agenda divulgada no domingo pela Casa Branca não prevê nenhum evento público para Biden, que passou o fim de semana em Camp David, residência de verão dos presidentes americanos ao noroeste de Washington, onde pretendia permanecer, inicialmente, até quarta-feira, longe da imprensa.

Mas a agenda deve ser alterada, depois que o Afeganistão caiu nas mãos dos talibãs após uma ofensiva relâmpago, e enquanto o mundo observa com espanto as imagens do caos no aeroporto de Cabul.

Biden falou publicamente pela última vez sobre o tema em 10 de agosto, quando afirmou que "não lamentava" a decisão de retirar até 31 de agosto os últimos militares americanos do Afeganistão, após 20 anos de guerra.

Depois, em um comunicado anunciou o envio de 6.000 militares para garantir a segurança do aeroporto de Cabul e retirar quase 30.000 americanos e civis afegãos que cooperaram com o exército dos Estados Unidos.

Uma foto divulgada no domingo no Twitter pela Casa Branca mostra o presidente sentado sozinho diante de uma grande mesa de reunião em Camp David, com uma tela de videoconferência, na qual aparecem vários altos funcionários do governo.

A China, que compartilha 76 quilômetros de fronteira com o Afeganistão, afirmou nesta segunda-feira que deseja manter "relações amistosas" com os talibãs, um dia depois da entrada dos insurgentes em Cabul e do colapso do governo.

A China "respeita o direito do povo afegão a decidir seu próprio destino e futuro e deseja seguir mantendo relações amistosas e de cooperação com o Afeganistão", afirmou à imprensa a porta-voz da diplomacia chinesa, Hua Chunying.

"Os talibãs indicaram várias vezes a esperança de desenvolver boas relações com a China", completou a porta-voz, antes de afirmar que a embaixada chinesa em Cabul "continua funcionando normalmente".

O governo chinês classificou nas últimas semanas de "irresponsável" a retirada dos Estados Unidos do Afeganistão, por temer uma guerra civil no país vizinho.

Diante do risco de caos no Afeganistão, o governo chinês iniciou em setembro de 2019 conversações com os talibãs. Uma delegação do movimento foi recebida na época na China.

Pequim incluiu em 2016 o Afeganistão em seu grande projeto de infraestruturas, as "Novas Rotas da Seda". Mas, por falta de segurança, os investimentos chineses foram modestos no país: 4,4 milhões de dólares em 2020, segundo o ministério do Comércio.

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