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As 11 agências reguladoras federais estão diante de uma nova ameaça de esvaziamento de suas missões de fiscalizar bens e serviços concedidos pela União. Dessa vez, a tentativa de desidratar o poder das agências pegou carona na Medida Provisória que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva editou na primeira semana deste ano, para organizar reorganizar órgãos e ministérios.

O 'jabuti', termo usado para se referir a algo que não tem nenhuma relação com o texto original, surgiu das mãos do deputado Danilo Forte (União Brasil-CE), que apresentou uma emenda que acaba por retirar das agências a autonomia que hoje possuem para regular e editar atos normativos de cada setor.

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Pela proposta, seriam criados "conselhos" temáticos, que vinculariam as agências aos ministérios.

Divisão

No setor de energia, por exemplo, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) teria de dividir suas normas e regulações com o Ministério de Minas e Energia, ou seja, as decisões que hoje se baseiam em critérios técnicos passariam a incluir um posicionamento político.

Segundo o deputado Danilo Forte, sua proposta tem a intenção de "criar mecanismos que proporcionem o melhor relacionamento e execução de tarefas na administração pública", ao redistribuir as funções.

"Propomos a criação de um conselho vinculado aos ministérios e agências reguladoras, para deliberação de atividades normativas", afirmou Forte. "Esse modelo possibilita maior interação entre os componentes, de modo a discriminar funções reguladoras e julgadoras, com maior transparência, responsabilidade e participação democrática."

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

O presidente da República, Jair Bolsonaro (PL), nomeou Alexandre Reis Siqueira Freire para exercer o cargo de membro do Conselho Diretor da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel). Ele terá mandato até 4 de novembro de 2027 e entra na vaga decorrente do término do mandato de Emmanoel Campelo de Souza Pereira.

Bolsonaro nomeou ainda Wilson Pereira de Lima Filho para vaga de diretor da Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq).

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O mandato de Wilson Filho no cargo segue até 18 de fevereiro de 2027. Ele assume no lugar de Adalberto Tokarski, cujo mandato já se encerrou.

As nomeações estão publicadas no Diário Oficial da União (DOU) em edição extra que circula nesta quarta-feira.

Os novos diretores tiveram suas indicações aprovadas pelo Senado Federal na semana passada. Alexandre Freire, da Anatel, é advogado, doutor em Direito pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) e mestre em Direito pela Universidade Federal do Paraná.

Wilson Pereira de Lima Filho, da Antaq, é doutor em Ciências Navais, vice-almirante e está há 45 anos na Marinha do Brasil.

Em fim de mandato, o presidente Jair Bolsonaro ainda quer emplacar novos nomes em agências reguladoras. Em edição extra do Diário Oficial da União (DOU) de sexta-feira (18), Bolsonaro formalizou o envio ao Senado Federal de cinco indicações para o cargo de ouvidor nesses órgãos. Os indicados só poderão assumir os postos se forem aprovados pelo Senado e, posteriormente, nomeados pelo presidente da República.

Foram indicados: Luciana Lauria Lopes, para exercer o cargo de Ouvidora da Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq), na vaga decorrente do término do mandato de Joelma Maria Costa Barbosa; André Elias Marques, para exercer o cargo de Ouvidor da Agência Nacional de Mineração (ANM), na vaga decorrente do término do mandato de Paulo Ribeiro de Santana; André Ruelli, para exercer o cargo de Ouvidor da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel); Edgar Ribeiro Dias, para exercer o cargo de Ouvidor da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), na vaga decorrente do término do mandato de Daniela Hoffmann Lobato Chaves Lopes; e João Paulo Dias de Araújo, para exercer o cargo de Ouvidor da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), na vaga decorrente do término do mandato de João Luis Barroca de Andrea.

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O Senado aprovou as quatro indicações do presidente Jair Bolsonaro para o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade). Nesta quinta-feira, 7, os senadores deram aval para as nomeações de Alexandre Barreto de Souza, Victor Oliveira Fernandes e Gustavo Freitas de Lima.

As indicações atendem aliados políticos do governo no Congresso e no Judiciário, dividindo o poder no órgão. O advogado Victor Oliveira Fernandes é atual chefe de gabinete do ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF). Barreto foi presidente do órgão anteriormente e é servidor de carreira do Tribunal de Contas da União (TCU). Ontem, o Senado aprovou Juliana Domingues para o cargo de procuradora-chefe do conselho.

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Duas indicações para a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) também foram chanceladas nesta quinta: Luciano Lourenço da Silva e Robson Crepaldi.

O pacote de aprovação incluiu ainda a escolha do diretor Carlos Manuel Baigorri para o cargo de presidente do Conselho Diretor da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel). Artur de Oliveira e Luciano Godoi Martins também vão compor o comando do órgão.

Crítico do que chama de "superpoderes" das agências reguladoras, o presidente Jair Bolsonaro quer usar as vagas que serão abertas nesses órgãos para indicar diretores alinhados com sua agenda política. Somente neste ano, Bolsonaro poderá sugerir 22 nomes para dez autarquias que têm como atribuição fiscalizar a relação entre empresas e governo, regulamentar a aplicação de leis nos setores em que atuam e punir companhias com multas e sanções.

As indicações para as agências reguladoras são uma prerrogativa do presidente, mas os nomes precisam ser aprovados pelo Senado. Criadas a partir de 1997 pelo então presidente Fernando Henrique Cardoso, as agências funcionam como órgãos de Estado, mas atuam de forma independente do governo. Suas diretorias colegiadas analisam assuntos como o preço do plano de saúde, as taxas de pedágio em rodovias e a liberação de novos medicamentos.

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As indicações para esses órgãos já foram alvo de polêmicas em mandatos anteriores. Os governos do PT e do MDB usaram essas vagas em troca do apoio de partidos no Congresso. Para atender o MDB, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva chegou a indicar para a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) um nome que tinha como experiência anterior ser diretor de um time de basquete. Também para agradar ao MDB, Dilma Rousseff indicou o genro do então senador Eunício Oliveira para a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), sem atuação na área.

Na cota petista, Dilma nomeou Aníbal Diniz para uma vaga na Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel). Seus trabalhos anteriores: jornalista e suplente de senador. No fim do seu mandato, Michel Temer tentou emplacar na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) o então líder do seu governo, André Moura (PSC-SE) - nome retirado pelo atual presidente.

Já Bolsonaro tem optado por técnicos que "rezem sua cartilha". Até agora ele conseguiu, no Senado, a aprovação de dois novos diretores de agências: na Anvisa e na ANTT. Na Anvisa, ele colocou o médico e contra-almirante Antonio Barra Torres. Alinhado com pautas bolsonaristas, Torres articulou para que a agência não aprovasse a permissão para plantio de cannabis para produção de medicamentos, trazendo ao seu lado diretores e garantindo placar de 3 a 1 para enterrar a discussão.

Para aumentar a força do governo no órgão, Torres tenta emplacar outros nomes na diretoria. Uma de suas sugestões foi acatada por Bolsonaro, que encaminhou a indicação do servidor do órgão Marcus Aurélio para avaliação do Senado.

Assim como na Anvisa, Bolsonaro poderá nomear presidentes para a Anac, a ANTT e as agências de Óleo e Gás (ANP) e Transportes Aquaviários (Antaq). Ao resistir a negociar as vagas com os partidos, Bolsonaro tem enfrentando dificuldades para fazer avançar no Senado suas indicações. Desde outubro, ele mandou o nome de Carlos Baigorri para a Anatel, mas o processo não anda. Não há até hoje nem sequer relator na Comissão de Infraestrutura. O economista foi indicado para a vaga de Aníbal Diniz, que deixou a agência em 4 de novembro. Para driblar o processo de sabatina, que pode levar meses, Bolsonaro nomeou Baigorri como "diretor substituto".

O presidente já assumiu publicamente que não tem conhecimento para indicar nomes para todos os cargos vagos. Entretanto, prega que obedecerá a critérios técnicos, como determina a legislação aprovada no ano passado. Apesar disso, a reportagem apurou que candidatos a cargos já foram questionados se são "esquerdistas" em conversas no Planalto. No caso da Anvisa, um "dossiê" contra nomes que teriam ligação com o PT chegou às mãos de Bolsonaro.

Solução temporária

Para não paralisar as agências, uma lei aprovada em 2019 permite que o presidente da República nomeie, por seis meses, servidores indicados em listas tríplices elaboradas pelas autarquias. Essa medida não depende de aval do Senado e é uma forma de evitar que a disputa política prejudique o trabalho das agências. Bolsonaro já recebeu listas tríplices da Antaq, da Anatel, da ANTT, da Anac e da Ancine.

Na Ancine, os trabalhos foram retomados na última semana depois de quatro meses sem quórum, graças à indicação de Luana Rufino como diretora substituta. Enquanto o nome do diretor definitivo não for aprovado pelos senadores, porém, as decisões tomadas serão "ad referendum", ou seja, precisam ser referendadas quando o quadro estiver completo. Uma das discussões em pauta na Ancine é a revisão sobre a meia-entrada nos cinemas.

Bolsonaro ainda não enviou para o Senado os nomes para compor as três vagas na Ancine. Na mesa dele estão dois indicados pelo ex-secretário Roberto Alvim, que deixou o governo após parafrasear o nazista Joseph Goebbels. São eles o pastor Edilásio Barra e a diretora de cinema Verônica Brendler. 

O presidente Jair Bolsonaro disse, nesta quarta-feira (15), que as agências reguladoras "são importantes, são autônomas, mas não são soberanas". O mandatário afirmou que esses órgãos, muitas vezes, ficam despercebidos, mas que decisões e políticas do governo passam por lá.

"Estamos mostrando, no caso da Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica), da energia solar, tirando da penumbra a Aneel, que tem muita gente boa lá dentro, mas as decisões, muitas vezes, não interessam ao povo brasileiro", disse Bolsonaro em frente ao Palácio da Alvorada nesta manhã. A agência vinha estudando acabar com subsídios à produção de energia solar, para tributar o setor, mas o presidente resolveu eliminar a taxação.

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Bolsonaro afirmou ainda que tem tido conversas para novas indicações de diretores da agências, mas não falou em nomes escolhidos, disse apenas que as indicações terão critério técnico. "Tem umas vinte e poucas indicações neste ano", disse, acrescentando que não conhece nomes e que está recebendo sugestões.

"Qualquer negócio que faz de fora para dentro do Brasil, e aqui dentro, o pessoal olha o perfil da agência. Se o perfil for para complicar, a gente não vai fazer negócio. Não vou poder fazer o que quero", disse o presidente sobre o que ele avalia ser o pensamento dos investidores.

O presidente também citou a Anvisa. Bolsonaro disse que indicou um outro almirante e médico como presidente da agência, em referência a Antonio Barra Torres, que é diretor da Anvisa e teve recentemente o nome submetido ao Senado para presidir o órgão regulador. O presidente disse que Barra Torres teve papel determinante para barrar a permissão do plantio com fins medicinais de Cannabis no Brasil.

Bolsonaro lembrou que, quando deputado, aprovou a liberação do medicamento fosfoetanolamina para tratamento de pacientes terminais, mas que o Supremo Tribunal Federal barrou a decisão a pedido da Anvisa. "Tem certas coisas que não dá para esperar", finalizou.

Em sessão conjunta nesta quarta-feira (2), o Congresso Nacional manteve os 12 dispositivos vetados na Lei 13.848, de 2019, o novo marco legal das agências reguladoras (VET 23/2019). Entre os vetos mantidos está o que acabava com a elaboração de uma lista tríplice para que o presidente da República indicasse os dirigentes das agências.

O novo marco legal é oriundo do PLS 52/2013, aprovado pelo Senado em maio. O texto atualiza regras de gestão, organização, processo decisório e controle social das agência; dispõe sobre a indicação de dirigentes; uniformiza o número de diretores, seus prazos de mandato e normas de recondução. Também cria requisitos técnicos a serem cumpridos por todos os indicados aos conselhos diretores.

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São exemplos de agências reguladoras a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) e a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

Lista Tríplice

O projeto aprovado pelo Congresso determinava que a escolha de conselheiros, diretores, presidentes, diretores-presidentes e diretores-gerais de agências reguladoras, feita pelo Presidente da República e submetida à aprovação do Senado Federal, será precedida de processo público de pré-seleção de lista tríplice.

Jair Bolsonaro vetou essa exigência com o argumento de que a medida restringia “a competência constitucionalmente conferida ao chefe do Poder Executivo para fazer as indicações dos dirigentes”.

Outro veto mantido foi o que acabou com a previsão do comparecimento anual obrigatório de diretores de agências ao Senado para prestação de contas. Também foi confirmado o entendimento do presidente de que a possibilidade de uma recondução dos atuais diretores — previsto no projeto do Congresso —criaria desigualdade em relação aos dirigentes que serão nomeados após a sanção da lei, que não contariam com essa possibilidade.

Os parlamentares confirmaram ainda o entendimento do presidente que vetou a proibição de que os indicados para direção das agências tenham mantido, nos 12 meses anteriores à data de início de mandato, vínculo com empresa que explore qualquer das atividades reguladas pela respectiva agência. A justificativa do veto foi de que a proibição contraria o interesse público.

*Da Agência Senado

 

O presidente Jair Bolsonaro sancionou nesta terça-feira, 25, projeto que trata da gestão e da organização das agências reguladoras, mas vetou trecho que previa a indicação para diretorias destes órgãos a partir de uma lista tríplice. No Congresso, porém, parlamentares prometem derrubar o veto presidencial.

A proposta vinha sendo criticada por Bolsonaro desde o fim de semana, quando acusou deputados e senadores de tentarem retirar suas atribuições, transformando-o em uma "rainha da Inglaterra". O presidente alegou que o projeto previa a possibilidade de delegar ao parlamento a função de escolher os nomes, e "restringe a competência constitucionalmente conferida ao Chefe do Poder Executivo para fazer as indicações desses dirigentes".

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A justificativa principal é que o artigo como foi aprovado pelo Congresso viola dispositivo da Constituição que prevê que compete privativamente ao presidente da República a nomeação de ministros do Supremo Tribunal Federal e dos Tribunais Superiores, os Governadores de Territórios, o Procurador-Geral da República, o presidente e os diretores do Banco Central e outros servidores.

O texto aprovado no Congresso, porém, estabelece que a lista tríplice seja elaborada por uma comissão de seleção, que terá sua composição e forma de atuar regulamentadas pelo próprio presidente da República. O texto do projeto também mantém com o presidente a prerrogativa de indicar os nomes dos dirigentes das agências.

Deputados e senadores sinalizam que a análise do veto de Bolsonaro, que é feita em sessão do Congresso, terá prioridade. Até parlamentares do PSL, partido do presidente, admitem que será difícil mantê-lo, diante da insatisfação do Congresso com Bolsonaro.

"Vetar o que é da essência deste projeto é um passo contrário ao caminho traçado por Vossa Excelência (presidente da República), que é o combate à corrupção, à barganha política e, mais do que nunca, a defesa dos interesses individuais da sociedade brasileira", disse a senadora Simone Tebet (MDB-MS), uma das relatoras quando a proposta tramitou no Senado.

Ela disse ser "improcedente" a alegação de que, com a proposta, Bolsonaro seria transformado em uma "rainha da Inglaterra", e afirmou acreditar que ele foi induzido ao erro. "É o presidente que vai fixar as regras que achar mais conveniente. O que nós fizemos foi justamente moralizar o processo", disse.

A senadora disse que o Congresso "tirou a chamada faca no pescoço" do presidente porque, com as regras anteriores, alguém influente pedia para o mandatário indicar um nome e o presidente acabava cedendo para não perder apoio. "A mudança que havíamos proposto garantia liberdade de escolha, desde que dentro das regras técnicas."

Na Câmara, o líder do PDT, André Figueiredo (CE), confirmou a disposição dos colegas em derrubar o veto. "É um projeto antigo que quase não altera a competência do presidente. Não tem porque esse governo vetar nada. Acho que há um sentimento na Casa para derrubar o veto sim", afirmou. O líder do Solidariedade, deputado Augusto Coutinho (PE), concorda e diz que, atualmente, "nada do que vem do governo está tendo boa vontade no Congresso".

Regras

O projeto transformado em lei nesta terça por Bolsonaro proíbe a recondução de dirigentes de agências reguladoras aos cargos. O mandato, dessa forma, aumenta de quatro para cinco anos. Como regra de transição, quem já está no exercício dos cargos e ainda não foi reconduzido poderá ficar por um novo período, só que de quatro anos. Os candidatos a uma vaga na diretoria colegiada serão obrigados a comprovar experiência de cinco anos para ocupar o posto.

De acordo com o texto da proposta, perderão o mandato membros do Conselho Diretor ou da Diretoria Colegiada das agências que tenham condenação penal irrecorrível por crime doloso ou processo disciplinar e dirigentes que exercerem outra atividade profissional que não seja dar aulas.

Pela nova lei, os dirigentes também ficarão proibidos de participar de sociedade ou comando de empresa de qualquer espécie. Além disso, não poderão exercer atividade sindical e político-partidária ou ter alguma participação que configure conflito de interesses com o cargo ocupado na agência. Não poderão ser indicados diretores que tenham trabalho em empresa da área de regulação nos 36 meses anteriores.

A medida dá ainda autonomia orçamentária às agências reguladoras e ao Conselho de Administrativo de Defesa Econômica (Cade). As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Cada vez mais enfraquecidas, as agências reguladoras têm encontrado no meio do caminho um entrave difícil de superar. Nos últimos anos, não houve nem sequer uma única concessão na área de infraestrutura que não sofresse forte interferência do Tribunal de Contas da União (TCU). A história se repete: a cada edital de licitação encaminhado para o aval da corte, uma enxurrada de alterações é exigida para que o leilão seja autorizado e realizado - quase sempre com atraso.

Num dos últimos processos analisados para concessão de rodovias, por exemplo, o TCU determinou que a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) faça 39 mudanças no edital de licitação da chamada Rodovia do Frango - trecho de 493,3 quilômetros das BR-476/153/282/480 nos Estados do Paraná e Santa Catarina. Os ajustes exigidos pelo tribunal são variados, vão de questões financeiras, como a definição de mecanismos para eventuais pedidos de reequilíbrio econômico-financeiro do contrato, a medidas técnicas, como parâmetros para desempenho da qualidade dos pavimentos das vias.

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Quase sempre as mudanças determinadas pelo TCU causam polêmica no mercado, seja porque atrasam o processo licitatório ou porque os empresários consideram uma intromissão no trabalho das agências - criadas para atuar com autonomia e garantir regras estáveis a investidores e consumidores. O fato é que, nos últimos anos, os órgãos reguladores têm pecado pela qualidade dos projetos apresentados. O motivo, segundo especialistas, está na asfixia provocada por constantes intervenções do Executivo, contingenciamento de verbas, nomeações políticas e quadros incompletos de diretoria.

Nesse ambiente, a atuação mais firme do tribunal tem sido vista como um caminho natural. "O TCU está ocupando um vácuo técnico deixado pelas agências, que não estão exercendo seu papel", afirma o professor da Fundação Dom Cabral Paulo Resende. De acordo com a Constituição, a competência do tribunal de contas é fiscalizar o uso do dinheiro público. Mas algumas vezes ele vai além.

Competência

"Às vezes, ele atua de forma ponderada. Outras, ele extrapola e entra

na questão regulatória. Na verdade, o TCU está descobrindo a própria competência", avalia o professor da Escola de Direito do Rio de Janeiro da Fundação Getúlio Vargas (FGV) Sérgio Guerra. Na avaliação dele, são as agências que têm permitido esse avanço do tribunal nas suas atribuições. "Elas foram desenhadas para serem o braço forte do Estado e dirigidas por técnicos que conhecem o mercado, não por governo de coalizão."

Na lista de interferências que causaram polêmica no mercado estão a atuação do TCU na fixação do preço para uso de radiofrequência e a posição sobre a prorrogação de contratos de arrendamento na área de portos, afirma o professor do Departamento de Direito Público da Universidade de São Paulo (USP) Floriano Peixoto de Azevedo Marques Neto. Ele conta que o impacto do controle do TCU sobre as agências reguladoras virou tema de um trabalho que está sendo tocado pelo Observatório do Controle da Administração Pública, grupo regular de extensão da faculdade de direito.

Um dos primeiros resultados do trabalho, que só será concluído ao final deste ano, é que as agências não têm resistido às recomendações do TCU. A experiência dos últimos anos mostra que os reguladores quase sempre acatam as observações. O presidente da Associação Brasileira de Terminais Portuários (ABTP), Wilen Manteli, reclama, por exemplo, dos novos contratos de arrendamento de terminais portuários, em que uma cláusula dá ao poder concedente o direito de rescindir o contrato a qualquer momento.

Insegurança

"Quem vai investir com essa insegurança. A minuta do edital saiu da agência, mas a determinação para essa regra é do TCU", diz o executivo. Segundo ele, os editais para a licitação nos Portos de Santos (SP), Santarém e Vila do Conde (PA) ficaram mais de dois anos travados por causa das recomendações do tribunal.

Para o ex-diretor da ANTT Bernardo Figueiredo, hoje consultor na área de infraestrutura, uma das explicações para o avanço do TCU está na má qualidade técnica dos projetos. "O preço de uma obra contratada com um projeto ruim pode ser 50% maior ou 50% menor. Isso abre espaço para o tribunal atuar", diz ele, que na época em que comandou a agência reguladora travou grandes discussões com a corte por causa das concessões rodoviárias.

Ele conta que, quando estava na ANTT, boa parte do que o TCU levantava de fato era um problema. "As concessões de 2007 tinham várias imperfeições; as de 2008 já apresentaram avanços; e as últimas melhoraram ainda mais. Isso tudo exige uma longa caminhada. Não é simples e exige uma estrutura que às vezes não existe."

TCU

O Tribunal de Contas da União (TCU) não concorda que esteja ocupando o vácuo deixado pelas agências reguladoras. "É atribuição do TCU auditar os estudos de viabilidade técnica e econômica e os editais elaborados pelas agências", afirmou o tribunal em nota. Além disso, afirma que determina mudanças nos processos apenas quando detecta erros de cálculos no processo. "Determinamos que o problema seja corrigido, mas não dizemos de que forma fazer."

Um dos principais riscos do avanço TCU é enfraquecer ainda mais o papel das agências como fiscalizadoras. "Isso é ruim pois as agências foram feitas para implementar as regras e fiscalizar os serviços públicos", afirma o professor da Fundação Dom Cabral Paulo Resende.

O Senado aprovou nesta quarta-feira, 1, a indicação de novos diretores para agências reguladoras. Para a diretoria da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), foram aprovadas as indicações de Marcelo Vinaud Prado, Carlos Fernando Nascimento e Marcelo Bruto da Costa Correa.

O plenário do Senado aprovou ainda a indicação de Karla Santa Cruz Coelho para a diretora da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS). Os nomes de Fernando Garcia Neto e Jarbas Barbosa da Silva Júnior foram confirmados para a diretoria da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

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Os senadores aprovaram ainda a indicação de Ney Maranhão para a diretoria da Agência Nacional de Águas (ANA). Com a aprovação dos indicados pelo plenário do Senado, a presidente Dilma Rousseff pode nomear os diretores para os cargos.

As agências reguladoras viraram um grande filé para os partidos fazerem indicações políticas não apenas a cargos de direção. O loteamento ocorre também em postos do segundo e terceiro escalões. As dez agências de controle e fiscalização têm hoje 2.913 vagas de livre nomeação: parte preenchida por servidores de carreira, mas ao menos 600 ocupadas por escolhas políticas, sem que o funcionário, muitas vezes designado para desempenhar função técnica, tenha sido triado em concurso público.

O governo gasta hoje quase R$ 12,4 milhões por mês só com o pagamento de empregados comissionados, segundo a Associação dos Servidores e Trabalhadores da Agência Nacional de Saúde Suplementar (Assetans). Os salários variam de R$ 790 a R$ 14 mil. Procurado, o Ministério do Planejamento disse não ter esses dados compilados.

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De 2011 para 2012, a taxa de ocupação das vagas comissionadas nas agências cresceu quase 30%. No mesmo período, foram criados mais de 70 postos ocupados por meio de livre nomeação. Para a criação de um novo cargo comissionado, o diretor da instituição interessada deve apresentar a demanda ao Planejamento. Caso o governo concorde, a Presidência envia o pedido ao Congresso, que decide se atende à reivindicação.

Na quarta-feira, 21, o jornal O Estado de S. Paulo revelou que PT e PMDB retomaram uma guerra política pelo loteamento de cargos nas agências. Em um exemplo de "aprova o meu que eu aprovo o seu", o PT teve de esperar quatro meses para que o nome de Ivo Bucaresky fosse aprovado no Senado para cargo na Anvisa. A indicação só saiu quando o líder do PMDB no Senado, Eunício Oliveira (CE), conseguiu emplacar para vaga semelhante Renato Porto, de quem é padrinho de casamento.

Compadrio

O atual modelo facilita relações de compadrio entre trabalhadores e políticos. A exemplo do que aconteceu com os irmãos Paulo e Rubens Vieira há oito meses. Eles chegaram à diretoria da Agência Nacional de Águas e da Agência Nacional de Aviação Civil, respectivamente, por meio da indicação política da ex-chefe de gabinete do escritório da Presidência em São Paulo Rosemary Noronha. Os três foram exonerados após indícios de que estavam usando os cargos para fazer negócios privados.

Os cargos comissionados também são usados como porta giratória quando funcionários de empresas privadas assumem postos nas agências e depois retornam para as empresas que regulavam. Em abril, José Gonçalves Neto assumiu a vice-presidência para assuntos regulatórios da GVT uma semana depois de ter deixado a Anatel.

O deputado Antônio Reguffe (PTB-DF) apresentou projeto de lei em 2011 para que cargos comissionados de agências fossem ocupados somente por servidores concursados. Três meses depois, a proposta foi barrada pela Mesa Diretora da Câmara. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

O deputado Leonardo Picciani (PMDB-RJ) apresentou projeto de lei que cria regras para as agências reguladoras no País. O texto é o mesmo de um substitutivo de autoria do próprio parlamentar, que foi retirado da pauta do Congresso em março deste ano a pedido da presidente Dilma Rousseff. O novo texto não retira poder das agências, ponto que havia gerado discordância na versão anterior.

"A versão original recebeu crítica por parte do Congresso, da sociedade e das agências, de que era muito intervencionista e suprimia o poder das agências. Passariam a atuar não como uma agência reguladora, mas como uma agência executiva vinculada ao Ministério", afirmou Picciani. De acordo com o parlamentar, as agências exercem um papel fundamental em setores que têm a ver com a vida diária das pessoas, como telefonia, energia elétrica e planos de saúde.

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Para o deputado, há pouca transparência no trabalho das agências e isso provoca uma falta de confiança da sociedade, que não se sente representada por essas instituições e acaba indo direto ao Judiciário quando encontra algum problema. "O papel da agência é o de equilibrar essa relação que é um tripé - consumidor, concessionário e poder concedente, que é o Estado. Para que isso dê certo, tem que haver transparência", disse.

Segundo ele, o ponto mais grave diz respeito aos casos de desatenção com problemas que são repetidos, como no caso da telefonia. "A telefonia é um grande problema pela quantidade de reclamações judiciais contra as prestadoras de serviços. A agência deveria mediar isso para que não precise chegar esse grande volume ao judiciário. A agência (Anatel) atua pouco".

O novo texto prevê um controle maior sobre o trabalho desses órgãos. As decisões terão de ter caráter colegiado, as pautas das reuniões serão divulgadas na internet e todas as audiências das agências, feitas de forma pública. Além disso, será feito controle externo pelo Congresso Nacional com auxílio do Tribunal de Contas da União e haverá autonomia no trabalho dessas instituições, mas serão criados mecanismos de controle social e transparência.

Segundo o autor da proposta, um acordo foi feito para esclarecer o papel das agências e dos ministérios. Os ministérios ficam responsáveis por traçar as diretrizes gerais e as agências por fazer a operacionalização. "Elas continuam tendo autonomia plena. O projeto preserva e até fortalece a atuação das agências", afirmou o deputado.

Na esteira da Operação Porto Seguro, ação da Polícia Federal (PF) deflagrada na sexta-feira que desbaratou um esquema de venda de pareceres em órgãos públicos, a Comissão de Fiscalização e Controle do Senado aprovou nesta terça-feira (27) um projeto que determina a realização de audiências periódicas nas agências reguladoras. A proposta tem por objetivo avaliar o desempenho da entidade e de seus diretores a fim de evitar futuras irregularidades.

O texto, aprovado em caráter terminativo na comissão, segue para votação na Câmara dos Deputados caso não haja recurso de senadores para levá-lo à apreciação em plenário. Dois diretores desses órgãos, o da Agência Nacional de Águas (ANA), Paulo Rodrigues Vieira, e o irmão dele na Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), Rubens Vieira, foram presos na operação por suspeitas de participarem do esquema.

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A proposta prevê que o resultado das auditorias do TCU deve ser encaminhado à Câmara e ao Senado até o dia de 31 de maio de cada ano. Mas caberia ao tribunal fixar a periodicidade para a realização das auditorias e fiscalização nas agências.

"Outro aspecto que merece menção é que o TCU, como qualquer outra organização, possui recursos escassos, cabendo à sua direção otimizá-los tanto quanto possível. Assim, julgamos preferível que a própria Corte de Contas estipule a periodicidade do controle a que estarão sujeitas as agências reguladoras, a exemplo do que ocorre com qualquer entidade jurisdicionada, sem prejuízo, evidentemente, da prerrogativa de qualquer colegiado do Congresso Nacional", justificou o senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP), relator da matéria, no parecer aprovado pela comissão.

Para Randolfe, a operação policial demonstra a necessidade de se reforçar a fiscalização das agências reguladoras. "Creio eu que essa matéria tem relação direta com o ocorrido e que foi apurado pela operação da PF", afirmou.

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