O uso indevido de medicamentos, sem ajuda de um profissional, é muito frequente, mas prejudicial à saúde. A professora e coordenadora do curso de Farmácia da UNAMA - Universidade da Amazônia, farmacêutica Marcella Almeida, alerta sobre os riscos da automedicação e orienta sobre o caso de venda indevida de remédios controlados. “A venda não autorizada de medicamentos controlados é considerada um tráfico de drogas”, disse Marcella Almeida.
A maneira correta de adquirir remédios é com prescrição médica. O uso sem a receita médica, adverte Marcella, é um risco para a saúde das pessoas. “Isso acontece continuamente dentro das farmácias. Muitos medicamentos hoje, no Brasil, são vendidos sem receita, até mesmo aqueles que precisam de receita médica, isso é uma prática que infelizmente ocorre no nosso país.”
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Para entender melhor sobre o assunto, o LeiaJá entrevistou Marcella Almeida. Siga a entrevista na íntegra.
LeiaJá - Que cuidados as pessoas precisam ter ao comprar medicamentos?
Marcela Almeida - O primeiro cuidado que devemos ter é comprar em um local com orientação do médico ou farmacêutico. Quando vamos fazer a automedicação, aqueles remédios para sintomas comuns como a dor de cabeça, a febre, a gripe e o resfriado, que estão tendo agora nessa época do ano, a gente precisa sempre ter a orientação dos farmacêuticos porque ele irá indicar um medicamento correto. O ideal é sempre buscar a ajuda deste profissional para fazer o uso do medicamento correto.
LeiaJá - O uso de medicamentos sem receita é um risco para as pessoas?
Marcela Almeida - Isso acontece continuamente dentro das farmácias. Muitos dos medicamentos vendidos hoje no Brasil são vendidos sem receita, até mesmo aqueles que precisam de receita médica, isso é uma prática que infelizmente ocorre no nosso país. O ideal é que sempre se tenha orientação. O profissional farmacêutico precisa estar presente para tirar dúvidas de como se deve usar o medicamento, como armazenar, e principalmente, no final da medicação, como você deve descartar.
LeiaJá - Qual o papel do farmacêutico? De que forma ele contribui para a indicação de medicamentos?
Marcela Almeida - Hoje, o papel do farmacêutico tem uma nova cara. Além de ter a capacitação para indicar e orientar sobre a medicação, ele também está habilitado para fazer outros serviços, como orientação da glicemia, da pressão arterial, o que o paciente pode associar com outros medicamentos. Nas grandes redes de farmácias ainda observamos esse papel do farmacêutico. Já nas farmácias menores, em que o farmacêutico geralmente é dono, a gente não vê essa práatica com tanta rotina, mas existe.
LeiaJá - É frequente as pessoas procurarem a ajuda de um farmacêutico para usarem determinados medicamentos em vez de procurar um médico?
Marcela Almeida - Existem algumas situações que fazem a população procurar diretamente o profissional farmacêutico. Uma muito comum é o acesso da população aos serviços de saúde, principalmente quando eles utilizam o serviço público, pelas dificuldades e filas. Por nós termos farmácias em cada esquina e sempre ter a presença do farmacêutico, isso faz com que eles nos procurem para indicar medicamentos, ainda mais quando são para pequenos males como dor de cabeça, diarreia, problemas dermatológicos. Eles geralmente nos procuram pela facilidade de ter um profissional farmacêutico sempre perto e muito mais acessível. Hoje nós temos respaldadas pela legislação as consultas farmacêuticas. Foi o que o nosso Conselho Federal de Farmácia conseguiu em uma luta de anos, para regulamentar uma prática que já fazíamos informalmente. Porém, essa consulta farmacêutica sempre estará relacionada aos medicamentos e não a diagnosticar uma doença.
LeiaJá - A senhora acha que as pessoas precisam ser mais informadas sobre o risco de se automedicarem?
Marcela Almeida - Com toda certeza. Apesar de a gente já ter várias propagandas, inclusive do Ministério da Saúde, quem acompanha nas redes sociais verifica que uma vez ou outra tem umas chamadas em relação à automedicação. Mas isso é uma prática cultural do país. A gente se automedica e ainda indica para o vizinho, o pai, a mãe. Se a automedicação for orientada por um farmacêutico, ela é segura; mas se for por pessoas leigas, isso traz um sério risco à saúde. A maioria dos registros por intoxicação é por medicamentos, está registrado no banco de dados do Ministério da Saúde, e umas das primeiras causas de internação de crianças e idosos. A automedicação precisa ser levada a sério e a população precisa ser informada.
LeiaJá - Nos dias de hoje, vemos casos de suicídios através da automedicação. Se alguém chegar a uma farmácia para comprar várias medicações tarja preta, o profissional tem como identificar? De que forma?
Marcela Almeida - Existe, sim, essa possiblidade. Quando a pessoa tem a intenção de utilizar medicamentos com o intuito de suicídio ela sempre vai buscar uma grande quantidade de medicamentos ou medicamentos mais fortes, que são os de tarja preta ou controlados, mas somente o farmacêutico pode vender. Nem o balconista pode vender e tem que ter a receita médica, o que inibe a venda desses tipos de medicamentos. Porém, se a pessoa já faz a utilização desses medicamentos, existe um grande risco de ela usar o próprio medicamento do tratamento, como pacientes que têm depressão ou ansiedade. Por isso a grande importância desse profissional estar sempre junto nas farmácias, orientando.
LeiaJá - Referente às farmácias clandestinas, já se ouviu algum caso de venda de remédios controlados de forma indevida?
Marcela Almeida - Em relação aos medicamentos controlados, as farmácias precisam de uma autorização da Vigilância e o Conselho precisa estar respaldado. Em Belém, a nossa fiscalização é muito atuante nesse papel. Temos fiscalização frequente e isso vem se expandindo no Pará inteiro, graças à ação do nosso Conselho. A venda não autorizada de medicamentos controlados é considerada um tráfico de drogas.
LeiaJá - São grandes os problemas com medicamentos?
Marcela Almeida - Sim, muitos, principalmente em pessoas que têm uma doença de base, como os hipertensos, os asmáticos, os diabéticos, que já fazem a utilização de uma determinada medicação e acabam, pela automedicação, tomando outros. E esses trazendo novos problemas ou agravando o problema que o paciente já tem. Essas informações dos medicamentos são mapeadas para que assim a gente possa ter uma noção de quais os problemas estão acontecendo dentro da população.
Por Suellen Cristo.