Depois do presidente Jair Bolsonaro (PL) voltar a falar que vai confirmar "corrupção petista" no BNDES, a ex-presidente Dilma Rousseff (PT) compartilhou um texto feito pelos funcionários do banco que detalham a lisura da estatal e negam atos de corrupção dentro da empresa.
O texto começa afirmando que não foi surpreendente, mas foi duro "engolir algumas das declarações feitas pelo presidente do BNDES, Gustavo Montezano, na transmissão ao vivo semanal do presidente da República, Jair Bolsonaro, ocorrida na quinta-feira, 27 de janeiro de 2022".
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Na ocasião, Montezano e o presidente falaram sobre os empréstimos feitos aos países como Cuba e Venezuela e distorceram informações sobre valores concedidos à JBS e do papel do Tesouro Nacional como garantidor de empréstimos feitos pelo banco estatal.
Montezano comanda o BNDES há dois anos e meio e chegou ao banco com a tarefa de abrir a "caixa preta", como se refere o presidente Bolsonaro para descobrir supostas irregularidades que teriam ocorrido em gestões anteriores, principalmente nos governos do PT.
No entanto, na live do dia 27 de janeiro, o próprio Bolsonaro admitiu que não houve desvios na época petista. “Tudo foi legal. Não houve caixa-preta. Caixa-preta era aquele período, onde não podia se divulgar nada, inclusive os contratos com outros países por decisão judicial", confirmou.
"Isso não foi o bastante, porém, para que Bolsonaro desistisse de fazer insinuações contra o BNDES, com objetivo eleitoral. É horrível que o presidente da república faça isso, ainda que se possa dizer que é algo natural na política. Mas como justificar essa postura de quem está há tanto tempo à frente do BNDES?", indagam os funcionários no texto.
Eles detalham que, em geral, os empréstimos a países são menos arriscados do que os feitos as empresas, já que os países não quebram - diferente das empresas.
Montezano afirmou na live que caberá ao Tesouro Nacional o ônus de um ”calote” de US$, 1,5 bilhão referentes aos financiamentos às exportações brasileiras de bens e serviços de engenharia. No entanto, os funcionários da estatal afirmam que o presidente do banco omitiu que o Tesouro recebeu dos países e das empresas que contraíram financiamento para suas importações do Brasil prêmios pelo seguro concedido, pagos pelos próprios importadores.
Esses prêmios teriam sido arrecadados, na maior parte, antes da ocorrência de atrasos e inadimplentes e somam, desde a sua criação até 2021, US$ 1,46 bilhão, valor superior às indenizações pagas, que foram de US$ 1,36 bilhão. Esses números estão disponíveis no portal do BNDES.
“A demonização do apoio às exportações brasileiras de bens de alto valor agregado foi mais uma das mentiras inventadas contra o BNDES, que prejudicam enormemente o Brasil. Todos os países desenvolvidos e os em desenvolvimento de maior capacidade têm sistemas públicos de apoio a suas exportações”, destacam.
Os funcionários do BNDES terminam o texto destacando que Montezano e o presidente Bolsonaro têm o direito de discordar das políticas de outros governos. "Porém, é grave tentar transformar a diferença de opinião em assunto de polícia, instigando ainda mais a sanha de órgãos de controle, que há anos instauram abusivos processos administrativos e até investigações penais contra centenas de colegas dignos. Está difícil seguir fingindo que está tudo bem", pontuam.
O texto foi assinado por 10 empregados do BNDES.