A Secretaria de Defesa Social (SDS) reconheceu que houve um erro de perícia do local em que foi encontrado o corpo de Paulo César Morato, empresário considerado "testa de ferro" da organização criminosa que supostamente teria fornecido propina para as campanhas de Eduardo Campos (PSB). Em coletiva à imprensa, nesta segunda-feira (27), o secretário da pasta em exercício, Alexandre Lucena, esclareceu os questionamentos do Sindicato dos Policiais Civis de Pernambuco (Sinpol) em relação ao caso, informando que houve erro de comunicação sobre a perícia e liberação do local do crime.
O Sinpol acusa a SDS de tentar obstruir a apuração do caso ao impedir a realização de uma perícia complementar. Responsáveis pela investigação, os peritos papiloscopista, Lauro Macena, e criminal, Vanja Coelho, participaram da entrevista. Durante a exposição, eles rebateram as informações do Sinpol de possíveis obstruções. Macena, entretanto, detalhou que chegou a escrever a requisição de mais uma perícia no local, mas não chegou a protocolar oficialmente. Em seguida, deixou o documento no plantão, e a equipe seguinte viu o citado documento e foi realizar a perícia.
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Porém, ao chegarem lá, receberam a ligação da chefe da polícia científica, de Sandra Santos, informando que o local já havia sido liberado pela delegada Gleyde Ângelo, sob a alegação de que a cena do crime já havia sido violado por muitas pessoas. Neste caso, a perícia encontraria indícios de várias outras pessoas ligadas ou não ao crime.
“Houve uma falha de comunicação assumida no procedimento. Não vou dizer que o Lauro agiu de má fé, que não agiu. Talvez as coisas tenham ficado meio truncadas. Precisamos trabalhar este ruído na comunicação”, alegou Alexandre Lucena. “Uma coisa é falar de alinhamento entre policiais outra é o acobertamento de queima de arquivo que alguns falam”, acrescentou, com os ânimos alterados.
Ao se explicar, Lauro Macena disse que fez uma comunicação verbal da necessidade de uma nova perícia. “Desculpe Gleyde, mas no corre corre cheguei a falar da necessidade de uma perícia complementar, mas a delegada pode não ter ouvido. Cheguei a falar informalmente, preenchi um documento e acabou os peritos indo lá. O local estava altamente violado e muitas pessoas passaram antes da perícia, o que ficou ainda mais difícil”, frisou.
O quarto do motel em Olinda, onde o corpo foi encontrado, segundo Gleyde Ângelo estava violado porque funcionários e policiais do plantão do Varadouro acreditaram se tratar de uma morte súbita de um cidadão comum. O mais curioso, neste caso, é que o delegado responsável pela ocorrência não verificou de imediato a identidade do morto. Apenas posteriormente ao digitar o nome de Paulo César Morato em uma ferramenta de buscas na internet foi que fizeram a ligação do nome à pessoa e contataram o Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), sob a tutela de Gleyde.
Nesta altura, o corpo de Morato já estava sendo ensacado para ser encaminhado ao Instituto de Medicina Legal (IML), ampliando mais ainda a violação do local. “Morte súbita não se faz perícia. Aparentemente não tinha nenhum sinal de homicídio”, observou a delegada. “Já encontrei o corpo no saco de acondicionamento de cadáver sendo levado. Eu disse não, sai todo mundo que a perícia averiguar. Melhor pecar por excesso. Mas já tinha entrado todo mundo”, acrescentou.
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Operação Turbulência
Deflagrada na terça-feira (21), a operação investiga um esquema criminoso especializado em lavagem de dinheiro com a utilização de empresas fantasmas e “laranjas”. Quatro empresários foram presos: João Carlos Lyra Pessoa de Mello Filho, Eduardo Freire Bezerra Leite, Apolo Santana Vieira – apontados como líderes - e Arthur Roberto Lapa Rosal, que seria responsável por receber valores em sua conta pessoal.
Apenas Paulo César Barros Morato não foi encontrado na terça pela PF e estava sendo considerado foragido. Ele era considerado o “testa de ferro” do esquema por ser o dono da Câmara & Vasconcelos, empresa responsável pelo recebimento de quase R$ 19 mil da OAS, investigada na Lava Jato, para um suposto serviço de terraplanagem nas obras da Transposição do Rio São Francisco. O montante, entretanto, pode ter sido destinado para pagar o avião utilizado por Eduardo Campos na campanha presidencial em 2014.
O empresário foi encontrado morto na quarta-feira (22) em um motel em Olinda, na Região Metropolitana do Recife (RMR). De acordo com as informações preliminares da polícia, foi “praticamente descartada a hipótese de homicídio” e "há indícios fortes" de morte súbita ou suicídio.
Morato chegado ao local por volta das 12h da terça, horário justamente em que aconteciam as prisões da Operação Turbulência. Com o corpo dele foram encontrados documentos pessoais, além de 7 pendrives, 3 celulares, R$ 3 mil em espécie, 3 cheques de terceiros sem valores, 53 envelopes para depósito vazios e remédios para diabetes e hipertensão.
*Com Giselly Santos