Tópicos | cultura negra

Entre os dias 17 e 18 de novembro, o Teatro Padre Bento em Guarulhos receberá o “Festival Abayomi – Encontros Preciosos”, com atividades gratuitas como oficinas e vivências sobre a importância da identidade racial para a formação de artistas.

Uma das oficinas é de danças e percussão com ritmos brasileiros, por exemplo: roda de coco, ciranda, maracatu, samba-rock, slam; e dança africana. A classificação etária é para maiores de 12 anos.

##RECOMENDA##

O festival é produzido pela Cia. TáDito, com curadoria de Diego Dionisio. O objetivo é mostrar a trajetória de mais de 20 anos da produção com artistas negros da cidade e o fomento de ações culturais e artísticas para potencializar as identidades culturais afro-brasileiras e a conscientização para políticas públicas a favor da equidade racial.

Confira a programação:

17 de novembro, quinta feira

17h30 – Workshop de dança afro com a professora, atriz e influencer, Tainara Cerqueira;

19h – Workshop Danças da Cultura Popular com Camilla Rocha, professora de artes, pedagoga, bailarina e atriz, com licenciatura plena em teatro e arte-educação, formação em danças brasileiras;

19h30 – Workshop de samba-rock com o Coletivo Samba RockAno.

18 de novembro, sexta-feira

17h – Workshop de coco com a cantora e percussionista, Rafaella Nepomuceno, que comanda o Trio de Percussão Coco de Oyá e o Coletivo de Mulheres Axé e Coco.

19h - Workshop de dança Vogue com as dançarinas Luana Àkira e Cunnany Williansa. A vogue é um estilo de dança marcado por poses, “caras e bocas”, que surgiu entre as décadas de 1960 e 1980 nos Estados Unidos, como uma reafirmação de identidade de gênero e sexualidade das pessoas negras, latinas, periféricas e LGBTQIA+.

20h – Workshop de poesia marginal e slam com Monique Amora, poeta formada há quatro anos do projeto Slam Interescolar.

20h – Workshop de slam e poesia com a bicampeã estadual do Slam São Paulo, escritora, assistente de direção, Matriarka.

Serviço - Festival Abayaomi

Data: 17 e 18 de novembro de 2022

Local: Teatro Padre Bento

Endereço: Rua Francisco Foot, número 3 - Jardim Tranquilidade, Guarulhos/SP

Entrada gratuita

A segunda-feira de Carnaval guarda espaço para um dos eventos mais tradicionais da folia recifense: a Noite dos Tambores Silenciosos. É quando diversas nações de maracatu de baque virado se encontram no Pátio do Terço, localizado no Bairro de São José, região central da cidade, para uma celebração que mistura os batuques profanos aos toques sagrados da religião de matriz africana. O momento homenageia a ancestralidade negra e funciona também como uma prece às suas divindades para que o Carnaval seja de alegria e de paz.

LeiaJá também

##RECOMENDA##

--> Maracatu nação, um brinquedo que se brinca com fé

--> Maracatu de baque virado, o brinquedo que carrega o peso da ancestralidade

Mundialmente famosa, a Noite dos Tambores Silenciosos atrai turistas de toda a parte além dos brincantes de maracatu do Recife. A festa foi idealizada na década de 1960, por uma mulher, Maria de Lourdes Silva, mais conhecida como  Badia. Neta de escravos, ela foi moradora do Pátio do Terço até o fim de sua vida e partiu dela a ideia de lembrar os negros escravizados - muitos que passaram por aquele lugar na rota do comércio escravagista -, que morreram sem conhecer o Carnaval. 

A ideia de Badia ganhou corpo com a ajuda de dois homens, o jornalista Paulo Viana, e o advogado Edvaldo Ramos. A princípio, o evento era encenado pelo grupo de teatro Equipe, no chão, à porta da Igreja do Terço, e não tinha o caráter religioso que possui hoje. Mas com o crescimento da festa e o forte potencial turístico visto nela, sua dinâmica foi mudando ao longo dos anos. “Foi criando curiosidade e um pouco de interesse porque onde rola dinheiro você sabe que as coisas se expandem. Tanto é que teve um ano que a prefeitura botou arquibancadas no Pátio e ficou estreito para os maracatus se apresentarem. Mas, também, só foi esse ano porque eles viram que nem deu lucro e nem deu certo mesmo”, relembra Maria Lúcia Soares dos Santos, filha de criação de Badia. 

Dona Lúcia mantém viva a memória da mãe. Foto: Arthur Souza/LeiaJáImagens

Atualmente, Dona Maria Lúcia, de 72 anos, continua morando na casa que foi da mãe, dando continuidade ao seu legado. A herança vem de longe. Badia também foi criada, naquele mesmo endereço, por outras duas mulheres negras, conhecidas como Tias do Axé: “duas irmãs a qual a mãe veio da África fugida no porão de um navio”. Elas não tiveram filhos e acabaram assumindo a criação de Badia após a partida de sua mãe biológica: “Quando a mãe de Badia morreu, Sinhá assumiu Badia e Iaiá ficou como tia e fizeram uma outra família”. Todas elas sobreviviam lavando roupa e jogando búzios, aliás, a casa também tinha espaço para a adoração de orixás uma vez por ano apenas, no mês de outubro.

Badia também costurava e era responsável por vestir grande parte das agremiações carnavalescas do Bairro de São José. “Todo ano nascia uma e de todas elas, ela foi madrinha”, diz Lúcia. Sua dedicação e apreço pela folia momesca, inclusive, lhe rendeu o título de Dama do Carnaval, e ela chegou a ser a homenageada do Carnaval do Recife em 1985. Além de ter idealizado a Noite dos Tambores Silenciosos, Badia também teve participação na fundação do Galo da Madrugada e fundou a troça Coroas de São José, na qual desfilava nas quintas-feiras pré-carnavalescas a bordo de um jipe. Hoje, nas tais quintas, o Pátio do Terço recebe o Baile Perfumado, prévia criada em sua homenagem.

O apreço de Badia pelo Carnaval ficou perpetuado em toda a família. No período, Dona Lúcia costuma receber em sua casa turistas que buscam conhecer melhor a história de sua mãe e também os brincantes que precisam de apoio. “A casa aqui é aberta o Carnaval todo. Todos os maracatus entram aqui pra ir no banheiro, trocar a roupa. Abro a porta de muita boa vontade, se der pra dar um lanche eu dou, e tô aqui. Quando a prefeitura precisa de mim estou presente, não cobro nada, mas também não ganho nada”.

A casa de Badia, construída por escravos, é tombada pelo IPHAN. Foto Arthur Souza/LeiaJàImagens

A filha de Badia lamenta o descaso e o esquecimento com os quais a história de sua mãe é tratada. A casa em que mora com o marido e o filho, Leandro Soares, é a única a servir, ainda, como residência no Pátio, tomado pelo comércio. Tombado em 2014 pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) como patrimônio imaterial brasileiro, o imóvel - construído por escravos - precisa de reparos específicos tanto por sua estrutura muito antiga quanto pelo tombamento que impede que os proprietários mexam nela. 

Segundo Lúcia, o telhado acometido por uma praga de cupins precisa ser restaurado mas ela não consegue ajuda nem autorização necessárias para trocá-lo. “Tenho três ofícios pedindo socorro à prefeitura. Quando eu comecei a ‘bulir’ na casa veio um cidadão que tem interesse na (compra da) casa e me denunciou que estava modificando a casa,  aí veio a Fundarpe. Eu fui lá na Fundarpe, mostrei os ofícios e nada. Se eu não tenho conhecimento e não sei falar, eu não tava aqui não, tava embaixo do viaduto. Desde que Badia morreu em 1991 que peço socorro e nunca fui socorrida”.

Para manter a casa, Lúcia e a família tocam um restaurante, que funciona de segunda a sábado vendendo almoço comercial. Leandro complementa a renda vendendo galeto. Sem ajuda externa, os três se esforçam tanto para sustentar o imóvel em pé quanto para manter viva a memória de Badia. “O espaço é rico, essa casa foi a primeira casa construída em Pernambuco, ela tem mais de 200 anos. Só que o tempo foi passando e a cultura foi enriquecendo, mas ainda não está no nível que a gente espera. Deve ser o desinteresse, falta de cultura”, lamenta Leandro.

Memória de Badia

Dona Lúcia e o filho Leandro mantém a casa com a renda do restaurante. Foto Arthur Souza/LeiaJáImagens

A herdeira de Badia ainda sonha em transformar a casa da Dama do Carnaval em um ponto de referência da cultura negra em Pernambuco. Entre os projetos, estão a abertura de um memorial, um espaço cultural e de formação, com cursos de culinária e cabelo afro, e um restaurante afro. Leandro diz que todos os planos estão “no papel mas não tem o interesse de autoridades, de chegar junto com patrocínio”.

Já Lúcia, segue confiando em sua fé nos orixás e no esforço da sua família para concretizar os sonhos. “Tudo que eu sei hoje em dia eu aprendi com ela. As lembranças, muitas estão nessa casa, eu tô aqui lutando pra sobreviver, zelar pela casa e pelo nome dela e das velhas (Sinhá e Iaiá) também que partiram. Antes de morrer eu quero deixar aqui um restaurante afro, pra ficar uma lembrança firme dela e da família dela”.

[@#video#@]

O coletivo Afrotometria, de São Paulo, foi criado em 2018 para retratar a luta contra o racismo por meio da fotografia. O grupo é formado por Isabela Alves, Tiago Santana, Sergio Fernandes, Ina Dias e Fernando Soares, que se conheceram pela internet.

Com o tempo, os fotógrafos sentiram a necessidade de realizar reuniões para debater o racismo no meio fotográfico em São Paulo e no mundo. "Não demorou muito tempo, tivemos uma vontade gritante de fazer exposições, rodas de conversa, oficinas, coisas concretas. Então surgiu o coletivo Afrotometria", conta Isabela.

##RECOMENDA##

Por meio das imagens, o coletivo quer construir uma narrativa diferente sobre os corpos negros no Brasil e colocar as pluralidades, diversidades e singularidades desses povos. "É a mudança de paradigma e a disputa por um mundo em que não sejamos apenas o alvo dos tiros", afirma Isabela.

Confira alguns trabalhos:

[@#galeria#@]

O grupo tem desenvoldio o projeto "Fotopreta", disponível na Linha 5-Lilás do Metrô de São Paulo, que quer conscientizar sobre importância dos olhares pretos preencherem espaços públicos e de poder. Além disso, o Afrotometria também trabalha com oficinas de fotografia e levanta debates sobre como as imagens negras podem causar mudanças de narrativas.

Reconhecida pelos profissionais como uma ferramenta de denúncia, a fotografia também propõe uma mudança na percepção da imagem e no subjetivo das pessoas. "A imagem pode registrar pessoas negras em suas religiões, espiritualidades, lutas, cotidianos, trabalhos e felicidades como uma forma de combater as violências racistas que nos colocam em estereótipos, paradigmas, entraves e outras caixinhas", explica Isabela.

Assim como na relação escritor e literatura, a fotografia carrega uma narrativa que vai de acordo com a motivação, olhar e visão de mundo do fotógrafo. A imagem funciona como um megafone que amplifica a voz daquele que está contando a história. "Não nos dá voz, pois já temos voz, mas nos permite expressar essa voz através da câmera ou da colagem digital", diz a fotógrafa. "Podemos ver fotos de lutas antirracistas de um, 30 ou 40 anos atrás. Temos a história registrada, muito bem tratada, podendo ser apreciada, recontada, exposta e sem outros fatos ou versões", complementa.

Os trabalhos do coletivo Afrotometria podem ser acompanhados pelo www.facebook.com/coletivoafrotometria.

Após realizar uma campanha de financiamento pela internet, para driblar a falta de patrocínio, o grupo O Poste abre, na próxima terça (20), a programação do festival Luz Negra. Esta é a segunda edição do evento que tem como objetivo dar visibilidade ao trabalho de artistas negros.

Nesta edição, o grupo pretende ampliar o campo de representatividade do festival colocando em cena artistas trans e jovens talentos negros. O Luz Negra também contará com lançamento de livros, como o do autor e bailarino moçambicano Tsumbe Maria Mussundza, Gule Wankulu; e os dois títulos da autora e pesquisadora Dani Bastos, Coco de Umbigada e Matriarcado e Fé: a história de Mãe Fátima de Oxum.

##RECOMENDA##

Repetindo a edição anterior, o festival elegeu um artista como homenageado. A escolhida foi a atriz Ivone Cordeiro, que teve papel importante no teatro pernambucano nas décadas de 1980 e 1990.

Programação

Terça (20) - 20h - Abertura

Espetáculo Ombela

Ingressos R$ 30,00 e R$ 15,00

Apresentação das Leituras Dramatizadas:

18h -Sina

20h Leitura Dramatizada do texto Amor Híbrido, com Sofia Wiliam (texto Samuel Santos e direção Agrinez Melo)

Quinta (22) – 10H - Apresentação do experimento pedagógico dos alunos da Escola O Poste de Antropologia Teatral “Em Cada encruzilhada uma História Dada-Um ensaio para Eugenio Barba

Sexta (23) - 18H - Lançamento do livro Gule Wankulo-Ancestralidades e Memórias do autor africano Tsumbe Maria Mussundza

Gratuito

19H -Gira de diálogos sobre a pesquisa o Corpo Ancestral dentro da cena contemporânea com a antropólogo francesa Danela Rocha Pitta e o pai de Santo Kaê com demonstração prática da pesquisa feita nos terreiros pelo grupo O Poste .

Gratuito

20:30 - Apresentação do Balé Moje Molê.

Espetáculo Povos Bantus

Ingressos R$ 30,00 e R$ 15,00

Sábado (24) - 18h30 -  Espetáculo A Receita

19h30 - Mostra Jovens Talentos Negros com Luana Vitória, Erika Nery, Bruna Martins, Camila Mendes, Fábio Roberto , Deyvson Vicente

Domingo (25) - 17h e 20H Cordel do Amor sem fim 

Serviço

Festival Luz Negra

Terça (20) a Domingo (25)

Espaço O Poste (R. da Aurora, 529 - Boa Vista)

[@#relacionadas#@]

 

Para celebrar o mês da Consciência Negra, novembro, a Terça Negra - evento voltado para a cultura afro realizado no Pátio de São Pedro, no centro do Recife -, terá edições especiais. Durante todas as semanas do mês, o Pátio recebe artistas para promover um verdadeiro desfile de tradições e celebrações de matriz africana.

A programação conta com nomes consagrados como o Mestre Zé Negão e a banda Lamento Negro, além de artistas do Hip Hop e capoeira. No dia 20, o dia em que se celebra a Consciência Negra, o Pátio será tomado durante toda a terça com atividades que vão de exibições de filmes, oficinas, contação de história e shows.

##RECOMENDA##

Programação

Dia 13

Terça Negra

19h – Capoeira

20h – Coletivo Hip Hop Camaragibe

21h – Mestre Zé Negão

22h – Encantaria

Dia 20 – Dia da Consciência Negra

9h às 18h - Feira Afroempreendedora e serviços de saúde (distribuição de preservativos, aferição de pressão e glicemia, vacinação, teste rápido de sífilis, hepatite e HIV, Reiki e auriculoterapia)

9h - Oficina de Dança Afro com Paulo Queiroz

10h – Contação de história – Roma Julia

10h – Olha! Recife – Bairro de Santo Antônio

11h20 às 12h – Microfone aberto

14h às 15h – Microfone aberto

15h – Roda de diálogo o sobre o Papel do Hip Hop no fortalecimento da identidade da população negra, com Zé Brown e Jouse Barata

17h – Maracatu Linda Flor

18h – Espetáculo Tereza

Casa do Carnaval

14h30 - Oficina Juventude Participa

Memorial Chico Science

14h – Exibição de filmes que abordam a questão racial – UNEGRO

Núcleo da Cultura Afro-brasileira

15h - Oficina sobre cuidados com o Cabelo crespo e cacheado e maquiagem – Félix Oliveira

Maquiagem para pele Negra com Gênesis 

Terça Negra

19h – Capoeira

20h – Tambor Falante

21h - Lamento Negro

22h – Lucas & a Orquestra dos Prazeres

Dia 27

Terça Negra

19h – Capoeira

20h – Massapê

21h – Faces do Subúrbio

22h - Marlevou

A 11ª edição da tradicional Noite do Dendê, festa que celebra a cultura negra realizada pela Nação do Maracatu Porto Rico, na comunidade do Bode, Zona Sul do Recife, foi marcada pela interrupção da Polícia Militar e do Choque, no último dia 29 de setembro. O encerramento da festa repercutiu fortemente nas redes sociais e as instituições responsáveis pela intervenção foram acusadas de racismo institucional, além de abuso de poder.

No próximo sábado (13), uma nova Noite do Dendê será realizada no mesmo local, na tentativa de cumprir a programação deste ano e, também, provar seu caráter de resistência. Nas redes sociais, o convite para o evento explica sua motivação: “Este ano, nossa festa terá edição especial. É dendê na veia, é resistência, é tambor na rua”.

##RECOMENDA##

Em entrevista exclusiva ao LeiaJá, Chacon Viana, mestre da Nação Porto Rico e coordenador da festa, falou sobre as providências tomadas após a intervenção policial no dia 29 de setembro: “foi conversado com o secretário da Casa Civil, o secretário da Secretaria de Defesa Social; a sociedade civil deu entrada no Ministério Público; levei as provas, gravei dois cds de provas e mandei. A inteligência da Casa Civil está tomando as devidas providências. Segundo informações que chegaram, o capitão (que comandou a operação) já vai ser afastado”. O nome do capitão não foi revelado.

O mestre ainda garantiu a realização da edição especial da festa, respaldado pela Prefeitura do Recife (que apoia o evento oferecendo estrutura física para sua realização), e pelo Governo do Estado. Segundo ele,  estes órgãos também estão tomando medidas para apurar o acontecido: “a Prefeitura junto com o Governo do Estado e a Casa Civil mandou uma nota dizendo que a festa era regular e não clandestina e irregular como foi dito várias vezes e que vão se tomar as devidas providências”.

Dendê especial

No próximo sábado (13), a edição especial da Noite do Dendê contará com a mesma organização programada anteriormente. Com exceção de alguns grupos de fora do estado - que não poderão estar presente novamente para a nova data do evento -, as nações de maracatu de baque virado convidadas sairão em cortejo, às 18h, da igreja do Pina em direção à sede do maracatu Porto Rico. Em seguida, se apresentam as atrações de palco, entre elas, a anfitriã, Nação Porto Rico, o Maracatu Várzea do Capibaribe, a Nação do Maracatu Estrela Brilhante do Recife, o Maracatu Baque Mulher e o Coco da Resistência, entre outros.

Serviço

Noite do dendê Especial

Sábado (13) | 18h

Rua Eurico Vitrúvio, 483 - Pina

Gratuito

O Centro de Educação e Cultura Daruê Malungo realiza, entre os dias 2 e 9 de setembro, a 27ª Semana Afro na comunidade de Chão de Estrelas, em Campina do Barreto. O evento é gratuito e será na sede do grupo.

Com a proposta de fortalecer a cultura negra em Pernambuco e valorizar as manifestações artísticas, o projeto dá visibilidade a grupos de dança afro. Na programação, espetáculos locais com o Balé Raízes, Criart Cia. de Dança, Cia. Pé-nambuco de Dança e a Cia. de dança Afro Daruê Malungo, aulão de capoeira e debates.

##RECOMENDA##

Além de apresentações culturais, a semana tem espaço para o 2º Encontro de Arte Negra de Pernambuco que contará com duas rodas de conversa e participações de pesquisadores, dançarinos e estudantes. Confira a programação completa:

Sábado (2) | 19 h às 20 h

Abertura com homenagem a Dona Antônia Ferreira (Vice-presidente do Bacnaré)

Espetáculo "Nações africanas”  - Bacnaré

Domingo (3) | 19 h

Espetáculo “Ona Omi – Caminho das águas” - Cia. De dança Daruê Malungo

Segunda-feira (4)| 18h30

Demonstração de processos e resultados das oficinas de dança

Terça-feira (5)|18h

Espetáculo “Guerreiros” - Balé Raízes

Quarta-feira (6) | 19h

Espetáculo "Majhô Majhobê Olubajé - Cia Pé-Nambuco de Dança

Quinta-feira (7) | 14h à 19 h

2º Encontro de arte negra de Pernambuco

Mesa: “Pesquisa em dança afro”

Espetáculo “Orun Aiê” - Criart cia. de dança

Sexta-feira (8) | 14h às 19 h

2º  Encontro de arte negra de Pernambuco

Mesa: “Arte negra, diversas esferas”

Espetáculo “Majhô Majhobê – Olubajé” - Cia. Pé-nambuco de Dança

Sábado (9) | 8h às 18 h

 

Aulão de capoeira com o Mestre Meia-noite

Para divulgar as diferentes expressões da cultura afro-brasileira, a ação "Noite da Resistência Negra de Jaboatão" terá sua 12ª edição realizada no dia 19 de novembro, a partir das 15 horas, no Terminal de ônibus de Cajueiro Seco. O projeto tem por objetivo envolver crianças, jovens e adultos da comunidade de Cajueiro Seco em atividades culturais dentro da proposta de inclusão social e fortalecimento do legado afro-brasileiro. A programação conta com a apresentação de bandas musicais, grupos artísticos e outras manifestações culturais. 

A iniciativa é da ONG Centro Espírita São Jerônimo "Ilê Axé de Xangô", de Cajueiro Seco, bairro jaboatonense. Além do grande evento, o movimento realizará durante a semana que precede a Noite da Resistência Negra uma série de oficinas, exibições de filmes e palestras com os estudantes das escolas públicas do bairro e da comunidade. A organização ainda garante exposições sobre a memória do líder quilombola Zumbi dos Palmares. Mais informações sobre o evento estão disponíveis na página e no blog da ação. 

##RECOMENDA##

Um momento para discutir sobre o racismo e intolêrancia através da música e da cultura negras, este é o propósito do projeto Papo Som, que realiza mais uma edição na próxima quarta (10). Os participantes poderão conferir a oficina Danças, ritmos e percussão: Expressão da identidade Afro-Pernambucana, no Núcleo de Cultura Afro-Brasileira (NCAB), no Pátio de São Pedro. São apenas 30 vagas e as inscrições podem ser feitas através do e-mail nucleodacultafro@gmail.com, até esta terça (9).

Ministrada por Acássio Jamaica (NCAB), Rubem Petty (Secretaria de Cultura), Rafael Peixoto (percussionista convidado) e Gabrielle Conde (Arte educadora), a oficina se propõe a abrir as possibilidades de junção de ritmos, dança e instrumentos sem a perda de suas essências e características. Além de jogar luz sobre temas como racismo e intolerância, o projeto visa também gerar reflexão e debate acerca das experiências vivenciadas no âmbito da cultura negra com enfoque no processo histórico de segregação e de sua relação com o cotidiano. 

##RECOMENDA##

Serviço

Projeto Papo Som - Danças, Ritmos e Percussão: Expressão da Identidade Afro-Pernambucana

Quarta (10) | 14h

Núcleo de Cultura Afro-Brasileira (Pátio de São Pedro, 34 - São José)

Gratuito

(81) 3355 3101

LeiaJá também

--> Olímpíadas Artísticas: espírito olímpico também nas artes

--> Oficina gratuita ensina malabares no Recife

Cia. Vias da Dança entra em cataz com o espetáculo Dorival Obá no qual se utiliza dos elementos da obra e vida de Dorival Caymmi para celebrar a cultura negra e o povo baiano. O espetáculo acontece nos dias 29 e 30 de novembro, às 20h, no Teatro Hermilo Borba Filho. 

Dorival Obá questiona a existência e a espiritualidade humana ao lidar com as relações com imagens, texturas e personagens que marcam as vidas das pessoas. A inspiração para o espetáculo são as cores, cheiros e sabores da Bahia onde Caymmi cresceu.

##RECOMENDA##

Serviço

Dorival Obá 

29 e 30 de novembro| 20h

Teatro Hermilo Borba Filho (R. Cais do Apolo, s/n - Bairro do Recife)

R$ 20 e R$ 10

De sexta (25) a domingo (27) a cultura negra brasileira estará em evidência num dos maiores festivais de jazz do mundo, o New Orleans Jazz e Heritage Festival, marcado para ser realizado de 25 de abril a 4 de maio deste ano, em New Orleans (EUA). É que durante a programação deste festival o Afoxé Omonilê Ogunjá, fundado há dez anos no Ibura, bairro da Zona Sul do Recife, se apresenta no mesmo palco em que artistas como Christina Aguilera e Eric Clapton farão seus shows. O grupo, que tem Ogunjá (qualidade de Ogum com Oxalá) como patrono, desembarca curiosamente em solo americano na próxima quarta-feira (23), Dia de Ogum. “Existem 365 dias do ano e nós vamos chegar lá no dia do nosso patrono. Isso é muito especial”, comemora Dario Júnior, diretor geral do afoxé que conversou com o LeiaJá sobre o nascimento do grupo, a relação com a religiosidade dos povos negros, os trabalhos já lançados pelo Omonilê Ogunjá e a participação num dos maiores festivais de música do mundo. Confira a entrevista:

O que é um afoxé?

##RECOMENDA##

Afoxé é uma espécie de associação ou agremiação que tem o intuito de desmistificar a visão negativa, demonizada, que as pessoas têm da religiosidade e da cultura do povo negro. Todo afoxé tem um orixá patrono. Orixá significa guardião da cabeça (ori = cabeça, xá = guardião). No nosso caso é Ogum, Ogunjá. E a gente sai sob essa guarnição de Ogum, desmistificando essa demonização existente, trazendo elementos da cultura negra como a culinária, indumentárias e o culto religioso. O afoxé tem um poder encantador. Tem gente que dança sem querer, tem gente que vem para o ensaio só pra assistir e quando vê está dançando. E tem aquelas pessoas que vem sem nem saber que estão vindo (risos). 

[@#video#@]

Referências do Candomblé

O Candomblé é uma religião que nasceu aqui no Brasil, não é uma religião africana. Na África existem os cultos separados e cada tribo tem o seu deus. No processo de escravidão pegaram todos esses povos, juntaram e trouxeram ao Brasil. Uma forma de desarticular é manter todo mundo junto, porque eles vão ter dificuldades pelas diferenças. Mas inteligentemente o povo negro preferiu se juntar. A dança no Candomblé é em círculo para contemplar a igualdade contemplando as diferenças. Eu canto pro seu e você canta pro meu. Nessa sociedade capitalista e competitiva que a gente vive, essa noção é uma referência estruturadora. E isso tudo foi criado sob toda tortura e repressão que o povo negro passou ao longo da escravidão.

Surgimento do Afoxé Omonilê Ogunjá

O grupo surgiu no dia 4 de outubro de 2004. A casa do antigo babalorixá desse afoxé é Oxalá. Toda casa tem o seu patrono orixá, assim como toda igreja tem o seu santo. A gente achava que esse afoxé era de Oxalá, mas quando fomos para o jogo de búzios descobrimos que Oxalá não queria o afoxé, e que quem queria era Ogum. Na verdade Ogunjá, que é uma qualidade de Ogum acompanhado de Oxalá. Nossa proposta é contar a história do povo negro a partir de outra ótica, porque essa história é contada na escola formal a partir da escravidão, e a gente sabe que a construção desse país foi feita pela mão de obra do povo negro. A missão desse afoxé, aqui nessa comunidade, é trazer esse novo olhar. Muitas das entidades nascem para o Carnaval e a gente tem o Carnaval como uma de nossas ações.

Relação do grupo com a comunidade

A gente realiza anualmente o Encontro das Forças, que é uma ação do afoxé com a comunidade de forma imediata e imediata. A gente procura trazer parceiros, pensadores, formadores de opinião. A comunidade e o entorno escolhem um tema e a partir desse tema a gente faz uma interação. Por exemplo, no ano passado nós fizemos uma homenagem aos pais de santos. E a discussão se deu naquele momento em que os terreiros estavam sofrendo alguns ataques. Conversamos sobre a liberdade de culto, quais os mecanismos que nos protegiam e que nos davam o direito de cultuar. 

Esse espaço serve pra essas coisas. É um espaço de formação, de cineclube, de debate. A gente procura estar engajado. Se existe algo que a comunidade esteja precisando, disponibilizamos o espaço pra ela. A gente acredita que a arte, a cultura e a educação política estão agrupadas. No afoxé, não temos essa limitação.

Trabalhos lançados

Vamos fazer dez anos em outubro e já temos dois CDs e dois documentários, Ikomòjadé e Sou Eu. O primeiro álbum, lançado em 2008, foi Berço dos Ancestrais, gravado ao vivo e de uma forma mais imediata. Já o segundo, o Odara, foi um trabalho mais amadurecido. Ele quem deu uma alavancada pra gente ir a New Orleans. Estávamos nos apresentando em Arcoverde no Festival Lula Calixto, e o produtor do New Orleans Jazz e Heritage Festival nos assistiu. A partir daí começou a fazer referência do povo negro brasileiro com a negritude do povo de lá de News Orleans, através de elementos como o a dança, a vestimenta e a forma de interação.

Ikomòjadé, que significa O Batismo, é uma interação nossa com os Filhos de Gandhi, que veio nos batizar em novembro de 2010. Na tradição, um Afoxé mais antigo batiza um mais novo. Nós já temos um tempo de caminhada e não tínhamos o padrinho. Eles lá são de Oxalá com Ogum, da nação Ketu, que está na Bahia. A gente é de Ogum com Oxalá, nação Ketu, no Recife. Criamos um evento, patrocinado pelo Governo Federal, que associasse essas duas entidades. Isso trouxe pra gente um ganho sem palavras. E fizemos um cortejo em Olinda e no Recife. Em Olinda fizemos ainda um seminário e convidamos todos os afoxés da cidade para discutir qual era a nossa função. Fizemos também uma oficina com os Gandhi. E o grande dia foi na Terça Negra, quando o Gandhi nos coroou cantando pra Oxalá, e que a partir daquele momento nós tínhamos a benção e o aval do afoxé baiano. O documentário está disponível na nossa conta no Youtube e algumas músicas podem ser encontradas na nossa conta no Myspace.

Participação no New Orleans Jazz e Heritage Festival

A gente está ensaiando há trinta dias porque queremos fazer um repertório que fale um pouco da nossa história, fale um pouco de África e da relação brasileira com o continente. No repertório tem desde música autoral ao hino da África, e músicas como o Canto das Três Raças, por exemplo. A gente sabe que tem brasileiro lá que conhece isso, e é uma forma de identificar o nosso povo. A ideia é fazer um show com interação e temos construído tudo em cima disso. A religiosidade é uma coisa que liga isso. Lá em News Orleans eles têm o Voodo, que é uma das religiões mais discriminadas e associadas àquela história do boneco com alfinetes. E a gente sente essa realidade. 

Esse festival vai dar uma visibilidade muito grande pro Omonilê Ogunjá. Quando as pessoas descobrem que estamos indo pros EUA representando a cultura afrobrasileira, num dos maiores festivais de Jazz do mundo, o reconhecimento é outro. Vamos nos apresentar no mesmo palco que artistas como Santana, Cristina Aguilera e Eric Clapton. A gente vem batalhando, mas a mídia não fala sobre o assunto. E ai você vê como o racismo se instala nas instituições ao ponto da gente perder a visibilidade. No Carnaval existimos, mas durante o ano a gente não escuta afoxé na rádio e vê pouquíssimas vezes na televisão, numa representação folclórica.

Só que estamos no palco principal do festival e eu não paro de repetir isso porque é algo importante, mas apesar da responsabilidade não estamos preocupados. Em 2012 a gente abriu o Carnaval do Recife, que é um dos melhores do mundo, e já temos experiência. Nós vamos chegar lá no dia de Ogum, dia 23 de abril. Existem 365 dias do ano e nós vamos chegar lá no dia de Ogum. Isso é muito especial.

Lançamento do segundo CD

Lançamos nosso segundo disco, o Odara, no dia 2 de fevereiro, Dia de Iemanjá, aqui na comunidade. No dia 9 no mesmo mês a gente fez um lançamento no Xinxim da Baiana, e depois no dia 11 na Terça-Negra, no Pátio de São Pedro. O disco foi gravado no mês de novembro passado, com recursos próprios. A gente tem a alegria de ter compositor próprio e referência na comunidade. I Festival de Música para Afoxé do Recife quem ganhou fomos nós, com a música Nativos Rebeldes. E a gente tem também Nalva Silva, que é a cantora e tem uma voz que é tida como uma das melhores de afoxé daqui de Pernambuco. Isso facilita essa qualidade. Andrea (cantora) é uma pessoa de Candomblé, que tem uma capacidade poética de chamar a atenção. E a gente viu que essas coisas precisavam de um suporte profissional. Então fomos para o Estúdio Carranca, referência aqui na região, e tivemos a felicidade de trabalhar com o Junior Evangelista, que é um dos sócios do estúdio, fazendo a mixagem. Levamos mais de um mês fazendo a mixagem e masterização. 

Manutenção do afoxé

Nós não temos uma visão sob esse trabalho. O que a gente produz, produzimos pra gente. A entidade, claro, tem que sobreviver. A nossa sede, por exemplo, é alugada e custa caro. E é com o dinheiro do Carnaval e de nossas apresentações que criamos nossas camisas, adereços, e a partir disso nós fazemos a nossa economia criativa. Com nossos produtos a gente se autossustenta. Como associação, ainda não chegamos àquele patamar de estar cobrando mensalidade pra manutenção, mas no futuro talvez a gente precise disso.

Religiosidade do afoxé

Levamos para a rua nosso babalotim (baba = pai, lotim = bebida), que significa numa tradução mais livre Pai da Festividade, ou patrono. E ele é feito através de um ritual religioso, o qual trazemos para dentro da festividade. Ele passa por vários procedimentos de culto que não posso revelar, mas a função maior dele é simbolizar a presença desse universo religioso. 

Nossa viagem aos EUA só vai acontecer porque pedimos autorização a Ogum. Não vou sair daqui pra New Orleans como se não tivesse nada por trás. A cabeça pode estar na lua, mas os pés têm que estar no chão, firmado na terra, que é a base, que tem a ver com origem, com princípio, com essência. Nesse âmbito não dá pra ser só artista, e eu digo isso direto dentro do afoxé. A musicalidade negra ela tem que ser guia e a gente tem que ter cuidado com essa referência.

Integrantes do grupo

Temos algumas pessoas daqui do Ibura, de bairros do entorno, mas tem muita gente de fora também. Uma dificuldade nossa é fazer essa conquista desse povo que mora no Ibura. O que a gente faz hoje é dar início a esses movimentos de luta. O Movimento Negro Unificado, por exemplo, tem 25 anos. Têm pessoas que se identificam com essa ideia, vem de fora e a gente aceita. Mas o trabalho direto da gente é com a comunidade. O Ibura tem em torno de 200 mil habitantes. Tem cidade por ai que não tem isso. É uma comunidade muito grande que aparece só como um espaço violento. Algumas pessoas não vêm aqui não. Mas a gente tem dentro dessa estrutura um compromisso territorial. A realidade da gente é essa.

Diretamente trabalhando no grupo, temos em torno de 30 pessoas, entre dançarinos, percussionistas, cantores e o pessoal do apoio. No Carnaval desse ano a gente desfilou com cem pessoas. Infelizmente, para o festival, nós temos uma cota, até por uma questão de infraestrutura. A gente conseguiu convencer a organização a levarmos 17 integrantes, mas estamos tendo problemas em relação ao visto com dois deles. Mesmo com uma petição por parte dos organizadores do festival entregue ao Governo Americano, eles negaram o visto de duas pessoas. 

[@#galeria#@]

A cultura negra brasileira estará em evidência num dos maiores festivais de jazz do mundo, o New Orleans Jazz e Heritage Festival, marcado para ser realizado de 25 de abril a 4 de maio deste ano, em New Orleans (EUA). Fundado há dez anos no Ibura, bairro da Zona Sul do Recife, o Afoxé Omonilê Ogunjá se apresenta entre os dias 25 e 27 de abril, no palco em que artistas como Christina Aguilera e Eric Clapton também farão seus shows.

##RECOMENDA##

“O Omonilê Ogunjá bebe na fonte dos antigos e é isso que vamos levar para New Orleans”, comenta Dario Junior, diretor da agremiação. Segundo ele, o festival proporcionará uma visibilidade muito grande para o afoxé. E para que a ocasião seja aproveitada da melhor forma possível, o grupo está montando um repertório especial para levar aos EUA. “Quando as pessoas descobrem que estamos indo para os Estados Unidos, representando a cultura afro-brasileira num dos maiores festivais de Jazz do mundo, portas se abrem pra gente", conta.

"Estamos ensaiando há trinta dias porque queremos levar algo que fale da gente, da África e da relação brasileira com o continente africano. O repertório terá desde música autoral ao hino da África, além de músicas como o Canto das Três Raças. A gente sabe que tem brasileiro lá que conhece isso e essa é uma forma de identificar o povo, até porque queremos fazer um show com interação”, explica o diretor do Omonilê Ogunjá, afoxé batizado pelos Filhos de Gandhi em 2010.

Ainda segundo Dario, além da musicalidade de New Orleans, considerada o berço do jazz, a religiosidade da cidade americana tem uma forte relação com a cultura negra de Pernambuco. “Lá eles tem o voodoo, que é uma das religiões mais discriminadas na região, e foi associada àquela história do boneco com alfinetes. Nós do Omonilê Ogunjá sentimos essa realidade do preconceito”, comenta Dario Junior. Dos trinta integrantes que atuam diretamente no afoxé, 17 nomes foram escolhidos para ir aos EUA. Mas até o momento 15 integrantes tiveram seus vistos liberados. “Mesmo com uma petição por parte dos organizadores do festival entregue ao Governo Americano, eles negaram o visto de duas pessoas”, reclama Dario.

O convite da produção do New Orleans Jazz e Heritage Festival ao afoxé pernambucano foi feito após uma apresentação do Omonilê Ogunjá durante o Festival Lula Calixto, em Arcoverde, Sertão de Pernambuco. “A gente estava apresentando o nosso segundo disco, o Odara, quando o produtor do festival de New Orleans nos assistiu e lá mesmo fez várias referências da negritude do povo de sua cidade, como a dança, a vestimenta e a forma de interação, com o povo negro pernambucano. Agora estamos no palco principal do festival e vamos desembarcar nos EUA no dia de Ogum, dia 23 de abril”, revela Dario Junior ao LeiaJa.

Nalva Silva, uma das vocalistas do afoxé, conta que o convite pegou todo mundo de surpresa. “A gente estava em Arcoverde e de repente veio a proposta. Mas a expectativa é de fazermos o nosso melhor por lá. Apesar de ser outro local e que não fala a nossa língua, vamos tentar mostrar através da dança, da música, do canto, a cultura afro-brasileira, e tomara que a gente consiga, porque estamos nos esforçando pra isso”, diz a cantora.



[@#video#@] 

Relação com a religião afro-brasileira

De acordo com Dario Junior, o afoxé é uma manifestação afro-brasileira vinculada ao candomblé e que tem o intuito de desmistificar a visão negativa que as pessoas têm da religiosidade e da cultura negras. “Uma questão histórica, e que já dura quinhentos anos de construção no inconsciente do brasileiro, é a demonização dos deuses africanos. O afoxé é um instrumento que serve para desmistificar isso, e nesse processo a gente traz na prática questões religiosas do povo negro”, explica o diretor do Omonilê Ogunjá. “Todo afoxé tem um orixá (ori=cabeça, xá=guardião) patrono. No nosso caso é Ogum, Ogunjá, que é uma qualidade de Ogum quando ele traz consigo Oxalá (Omo=filho, nilê=da casa, Ogunjá=qualidade de Ogum com Oxalá). Nossa proposta é contar a história do povo negro a partir de uma outra ótica, porque ela é contada na escola formal a começar pela escravidão. E a gente sabe que a construção desse país foi feita pela mão de obra dos negros”, ressalta Dario Junior.

Na opinião do diretor do Omonilê Ogunjá, o afoxé possui um poder encantador. “Tem gente que dança sem querer, que vem aos ensaios só pra assistir e quando vê já está dançando. E tem também aquelas pessoas que chegam aqui sem nem saber que estão vindo”, brinca Dario.

Assim como numa procissão católica, que leva às ruas um santo, o afoxé carrega um babalotim (baba=pai, lotim=festividade) que representa o orixá patrono da agremiação. “Ele passa por vários procedimentos de cunho religioso antes de ir pra rua, e a gente traz essa religiosidade pra dentro da festividade. A função maior do babalotim é simbolizar a presença desse universo religioso”, explica Dario Junior.

A relação com o religioso é tão intrínseca que a ida do afoxé pernambucano a New Orleans só foi possível após autorização de Ogum. “Não vou sair daqui para os EUA como se não tivesse nada por trás disso tudo. A cabeça pode estar na lua, mas os pés têm que estar no chão, firmados na terra, que é a base, que tem a ver com origem, com princípio, com essência. Nesse âmbito não dá pra ser só artista, e eu digo isso direto dentro do afoxé. A musicalidade negra tem que ser guia e a gente tem que ter cuidado com essa referência, até pra servir de exemplo para as futuras gerações”, comenta. 

Trabalhos lançados

O Afoxé Omonilê Ogunjá completa dez anos em outubro e tem dois discos e dois documentários (Ikomòjadé e Sou Eu) lançados. O primeiro álbum foi Berço dos Ancestrais (2008), gravado ao vivo. Já o segundo CD, Odara, foi gravado no mês de novembro passado com recursos do próprio afoxé. “Por enquanto, quem quiser conferir nossos trabalhos pode entrar em contato com a gente através da nossa fanpage. O documentário Ikomòjadé, que conta como foi nosso batismo pelos Filhos de Gandhi, está disponível na nossa conta no Youtube. Algumas músicas podem ser encontradas na nossa conta no Myspace. E em breve vamos lançar um site onde vamos disponibilizar todo esse material”, revela Sérgio Augusto, um dos integrantes do afoxé.

Brasília - O período de inscrição para o edital de apoio a até seis curta-metragens dirigidos ou produzidos por negros, de 18 a 29 anos, está aberto até o dia 7 de janeiro. O investimento chega a R$ 100 mil por curta e as inscrições podem ser feitas pelo sistema SalicWeb. Mais informações podem ser obtidas pelo e-mail cultura.sav@cultura.gov.br

Em São Paulo, no início de outubro, a ministra Marta Suplicy ouviu, entre as manifestações dos produtores da cultura digital, que a cultura negra é apoiada pelo ministério, mas não é feita por produtores e criadores negros. Na época, a ministra disse que “era uma justa reivindicação da comunidade negra”. Os editais voltados a produtores e criadores negros, com valor aproximado de R$ 9 milhões, foram lançados no Dia da Consciência Negra.

##RECOMENDA##

Além disso, a Biblioteca Nacional tem três editais publicados. O primeiro vai selecionar, até o dia 4 de fevereiro, um projeto que implante 27 pontos de Leitura que desenvolvam atividades literárias de preservação da cultura negra e de combate ao racismo no país. O segundo escolherá, até 20 de março, 23 projetos para concessão de bolsas a pesquisadores negros. O terceiro, com inscrição até 30 de abril, visa a produzir publicações de autores brasileiros negros.

O Prêmio Funarte também investirá em criações e produções afrodescendentes. Serão quatro prêmios de R$ 200 mil, 12 prêmios de R$ 150 mil e 17 prêmios de R$ 100 mil. O objetivo é que artistas e produtores negros ocupem palcos, teatros, ruas, escolas e galerias de arte de todo o país. Para isso, a Funarte vai fomentar 33 projetos nas categorias artes visuais, circo, dança, música, teatro e preservação da memória. O período de inscrições é até o dia 4 de fevereiro.

Leianas redes sociaisAcompanhe-nos!

Facebook

Carregando