Tópicos | internos

O acúmulo de crises forçou 71 milhões de pessoas a fugir de seu próprio país no ano passado, um número recorde, informaram nesta quinta-feira (11) o Centro de Monitoramento de Deslocamento Interno (IDMC, com sede em Genebra) e o Conselho Norueguês para os Refugiados (NRC).

Em 2022, um total de 71,1 milhões de pessoas foram registradas como deslocados internos, um aumento anual de 20%, em grande parte provocado pelas fugas em massa após a invasão russa da Ucrânia e pelas inundações catastróficas no Paquistão, afirma um relatório conjunto divulgado pelas duas organizações.

O número de novos deslocados aumentou a quase 61 milhões de pessoas, algumas delas obrigadas a fugir em várias oportunidades. Uma alta de 60% na comparação com 2021.

Este número é "extremamente elevado", declarou à AFP a diretora do IDMC, Alexandra Bilak.

"Uma grande parte do aumento é causado, claro, pela guerra na Ucrânia, mas também pelas inundações no Paquistão, por conflitos novos e os já existentes em todo o mundo e por uma série de desastres súbitos ou lentos que vimos das Américas até o Pacífico", acrescentou.

- África, muito afetada -

No ano passado, os novos deslocamentos internos provocados por conflitos chegaram a 28,3 milhões, quase o dobro de 2021 e o triplo na comparação com a média anual da última década.

O número inclui 17 milhões de pessoas deslocadas dentro da Ucrânia.

Além disso, oito milhões de pessoas foram obrigadas a abandonar suas casas após as grandes inundações no Paquistão.

A região da África subsaariana registrou 16,5 milhões de deslocamentos internos, mais da metade devido a conflitos, em particular na República Democrática do Congo e na Etiópia.

E o número de deslocados internos deve aumentar em 2023.

No Sudão, os combates iniciados em abril forçaram 700.000 pessoas a fugir para outras áreas do país.

"Desde o início do conflito mais recente em abril, nós registramos o mesmo número de deslocamentos que em todo ano de 2022", declarou Bilak.

- Dez países -

Muitas pessoas sejam forçadas a fugir em todas as regiões do planeta, mas quase 75% dos deslocados internos vivem em apenas 10 países: Síria, Afeganistão, República Democrática do Congo, Ucrânia, Colômbia, Etiópia, Iêmen, Nigéria, Somália e Sudão (em ordem decrescente do número de deslocados internos).

Muitos deslocados são vítimas de conflitos que duram vários anos, mas as catástrofes naturais são responsáveis pela maioria dos novos deslocamentos internos: 32,6 milhões de pessoas foram obrigadas a fugir por este motivo em 2022, 40% a mais que em 2021.

Para o diretor do NRC, Jan Egeland, o acúmulo de crises gera uma "tempestade perfeita".

"Os conflitos e desastres se combinaram no ano passado passado para agravar as vulnerabilidades e desigualdades existentes, provocando deslocamentos em uma escala nunca observada ante", afirmou em um comunicado.

Ele também denunciou a crise alimentar mundial, agravada pela guerra na Ucrânia, que "minou o progresso de vários anos".

A Constituição de 1988 assegura o direito de votar aos presos provisórios e aos jovens que cumprem medidas socioeducativas, por não terem os direitos políticos suspensos. Segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), 12.963 presos provisórios poderão votar nas eleições deste ano. 

Uma resolução do TSE considera preso provisório a pessoa recolhida em estabelecimento penal sem condenação criminal transitada em julgado. Já o adolescente internado é o maior de 16 e menor de 21 anos submetido a medida socioeducativa de internação ou a internação provisória.

##RECOMENDA##

  O site do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios (TJDFT) explica que só não pode votar o condenado em definitivo, o preso condenado por sentença criminal transitada em julgado. Por esse motivo, fica impedido de votar e de ser votado enquanto durarem os efeitos da condenação. 

Mínimo Os juízes eleitorais, sob a coordenação dos Tribunais Regionais Eleitorais (TREs), deverão disponibilizar seções eleitorais em estabelecimentos penais e em unidades de internação tratadas pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA – Lei 8.069, de 1990), a fim de que esses eleitores possam exercer sua cidadania por meio do voto. 

Para que uma seção eleitoral seja instalada nos estabelecimentos penais ou nas casas de internação, é necessário o mínimo de 20 eleitores aptos a votar. O prazo para pedir a transferência temporária para votar nesses estabelecimentos terminou no dia 18 de agosto. Mesários e funcionários desses locais também poderão votar nessas seções. 

*Da Agência Senado/Com informações da Agência Câmara de Notícias 

Após a fuga de 14 adolescentes do Centro de Atendimento Socioeducativo (Case) de Pirapama, na tarde dessa sexta-feira (26), a Fundação de Atendimento Socioeducativo (Funase) informou que cinco foram recapturados até o momento. A unidade fica no Cabo de Santo Agostinho, na Região Metropolitana do Recife (RMR).

Em nota, a direção informou que "a unidade encontra-se tranquila". A Polícia Militar foi acionada logo após a fuga e realizou buscas nas redondezas.

##RECOMENDA##

Cinco internos foram localizados e outros nove ainda são procurados. As Coordenadorias de Segurança e de Inteligência e a Corregedoria da Funase também acompanham a ocorrência.

[@#video#@]

Internos da Fundação de Atendimento Socioeducativo (Funase) de Garanhuns, no Agreste de Pernambuco, fugiram da unidade prisional na manhã desta quarta-feira (23). Doze jovens foram flagrados pulando o muro da Casa e correndo em grupo na direção oposta à unidade. Dois deles teriam até roubado a moto de um homem que cruzava a rua no momento da fuga. 

De acordo com a assessoria da Funase, a Polícia Militar foi acionada e segue na busca dos adolescentes, mas nenhum socioeducando foi localizado até o momento desta publicação. "Não houve feridos", afirmou nota da Fundação. 

##RECOMENDA##

As Coordenadorias de Segurança e de Inteligência e a Corregedoria da Funase já se deslocaram e acompanham a ocorrência na unidade. 

Funase Garanhuns tem histórico de fugas 

Fuga de internos não é mais uma novidade na unidade agrestina da Funase. O último registro de tentativa de fuga ocorreu em fevereiro deste ano, quando dois agentes socioeducativos foram agredidos por socioeducandos. As vítimas foram alvo de chutes e pedradas, mas, de acordo com a Funase, sofreram ferimentos leves. 

Em dezembro, um agente da Fundação foi rendido por internos que elaboraram um plano de fuga da unidade prisional. Cerca de oito adolescentes participaram da ação, mas apenas um foi capturado pelos agentes socioeducativos. O menor de idade foi encaminhado a uma delegacia de polícia para nova avaliação legal. 

Internos da Fundação de Atendimento Socioeducativo (Funase), em Pernambuco, realizarão, nos dias 9 e 16 de janeiro, o Exame Nacional do Ensino Médio para Pessoas Privadas de Liberdade (Enem PPL). Ao todo, o Estado contabiliza cerca de 89 inscritos nesta edição da prova. A avaliação será aplicada em nove, das 11 unidades de internação, e em sete Casas de Semiliberdade (Casem), ambas administradas pela Funase.

De acordo com dados divulgados pela assessoria, o maior quantitativo de participantes está concentrado no Centro de Atendimento Socioeducativo (Case) Cabo de Santo Agostinho, na Região Metropolitana do Recife, com 25 candidatos no total.

##RECOMENDA##

"Mesmo com as dificuldades da pandemia, as equipes técnicas da instituição, junto às das escolas que funcionam nas unidades de internação, se empenharam na manutenção de atividades pedagógicas voltadas aos socioeducandos”, reforça a presidente da Funase, por meio da assessoria, Nadja Alencar.

Além da unidade do Cabo de Santo Agostinho, haverá Enem em Pirapama; Arcoverde; Vitória de Santo Antão; Petrolina; Timbaúba; Garanhuns; Santa Luzia, Recife; Caruaru; Harmonia; Santa Luzia; Petrolina e Garanhuns.

No primeiro dia do exame, os inscritos terão cinco horas e meia para a realização das questões de linguagens, língua estrangeira, ciências humanas e redação. Já no dia 16 de janeiro, os participantes realizarão provas de matemática e ciências da natureza em um período de cinco horas.

O Exame de Ensino Médio para Pessoas Privadas de Liberdade (Enem PPL) tem 1.700 internos inscritos no Pará. A prova será realizada em dois domingos, nos dias 9 e 16 de janeiro de 2022.

O exame será aplicado nas casas penais inscritas. Os internos aptos para participar do Enem têm um contínuo exercício de aprendizagem. Monitores são os responsáveis pelas turmas preparatórias.

##RECOMENDA##

Internos de 29 casas penais, da Região Metropolitana de Belém e do interior do Estado, participarão do processo seletivo que abre portas para o ensino superior. A Secretaria de Estado de Administração Penitenciária (Seap) registrou, este ano, o maior número de inscritos no Enem PPL – um crescimento de 18% em comparação com 2020, quando atingiu 1.443 inscrições.

De acordo com o diretor da Reinserção Social (DRS), Belchior Machado, a Seap vê a educação como ferramenta primordial para a reintegração social das pessoas privadas de liberdade. Prova disso, destaca, são os investimentos para maiores níveis educacionais dentro das unidades penais. "Exames nacionais como o Enem constituem os caminhos para um futuro em liberdade, dando oportunidades de acesso ao nível superior para aqueles que buscam sair da criminalidade", afirma.

Após a aprovação, o custodiado ingressa na universidade por meio do Ensino a Distância (EAD), obtendo o apoio da Seap e da família.

Por Quezia Dias, com informações da Seap.

 

As autoridades ainda tentam localizar os quatro internos que fugiram da Fundação de Atendimento Socioeducativo (Funase) em Garanhuns, no Agreste de Pernambuco. Eles deixaram a instituição após pular o muro da unidade, por volta das 16h do sábado (7).

De acordo com a Fundação, os quatro jovens escalaram o muro, pularam e embarcaram em um veículo que os esperava do lado de fora. A Polícia Militar foi acionada e começou as buscas, mas até o momento nenhum foi recapturado.

##RECOMENDA##

Qualificação estrutural

Sem detalhes sobre as medidas para evitar novos casos, a Coordenadoria de Segurança da unidade garante que já está adotando providências para reforçar a segurança estrutural do local.

Vagas na unidade

Segundo levantamento da coordenação, o efetivo de agentes socioeducativos era compatível ao número de socioeducandos no dia da fuga, que era de 81 jovens. Ao todo, a Funase de Garanhuns dispõe de 101 vagas.

[@#video#@]

Um vídeo que circula nas redes sociais mostra jovens internos da Fundação de Atendimento Socioeducativo (Funase) dançando o passinho dentro da unidade do Cabo de Santo Agostinho, no Grande Recife. A gravação também mostra um socioeducando fumando um cachimbo com droga.

##RECOMENDA##

 Apesar de estar circulando só agora, o registro foi feito há cerca de três meses, informou a Funase. A fundação afirma que já havia tomado providências antes do caso vir à tona.

 Segundo a Funase, um interno de 19 anos foi encaminhado à Polícia Civil, autuado por tráfico de drogas e levado ao Centro de Observação e Triagem (Cotel), em Abreu e Lima, devido a um flagrante realizado por agentes durante revista na unidade. Outros jovens vão responder a procedimentos disciplinares, o que pesa nas avaliações técnicas dos processos deles.

 Em 2019, ocorreram sete varreduras gerais no Case do Cabo de Santo Agostinho, algumas com apoio da Polícia Militar. Nas revistas, houve apreensão de 58 celulares e 27 carregadores. 

 Outros materiais ilícitos também foram interceptados antes mesmo da entrada na unidade, durante o procedimento de recepção aos visitantes, e seus portadores foram encaminhados à delegacia. O caso gravado no vídeo está em investigação pela Corregedoria da Funase.

Foto: Chico Peixoto/LeiaJáImagens --- Diagnosticado com hanseníase, Fernando foi vítima do internamento compulsório em Pernambuco. Ele revela memórias sobre a "Cidade do Medo"

##RECOMENDA##

Um esmorecimento nada comum para um jovem de 17 anos despertou a curiosidade alheia. Isolado, no canto mais brando de uma residência, o adolescente, claramente debilitado, não demonstrava energia para reerguer-se. Desconfiada da condição do rapaz, uma vizinha identificou um grande ferimento em uma das pernas do garoto, que logo se tornou claro indício de que a saúde dele precisava de sérios cuidados. A mulher tomou a iniciativa de procurar um médico e, ao fazer contato com um especialista, foi orientada a levar o jovem para uma unidade hospitalar. Seria nobre a atitude da senhora aos olhos de muitos cidadãos. Para Fernando Antônio de Paula, o rapaz enfermo, no entanto, foi o começo de um de seus piores pesadelos.

Fernando residia com sua mãe e algumas tias no bairro de Águas Compridas, em Olinda, na Região Metropolitana do Recife. A vizinha conhecia seus familiares; sob a orientação do médico, convenceu o rapaz a procurar a unidade de saúde, contudo, não revelou que se tratava na época de um “leprosário”, como eram chamados os locais que recebiam pessoas acometidas de hanseníase. Há exatos 33 anos, o verdadeiro destino foi o Hospital Colônia da Mirueira, situado na cidade pernambucana de Paulista. Fernando foi diagnosticado com hanseníase. Nunca mais viu grande parte de seus familiares. A vizinha não passou do portão e retornou a sua rotina social.

Entenda: A hanseníase é uma doença crônica, infectocontagiosa, cujo agente etiológico é o  Mycobacterium leprae (M. Leprae). Esse bacilo tem a capacidade de infectar grande número de indivíduos, no en­tanto poucos adoecem. A doença acomete principalmente pele e nervos periféricos podendo levar a sérias incapacidades físicas. É de notificação compulsória em todo o território nacional e de investigação obrigatória. Essa doença pode acometer pessoas de ambos os sexos e qualquer idade em áreas endêmicas. Entretanto, é necessário um longo período de exposição e apenas uma pequena parcela da população infectada adoece. Fonte: Ministério da Saúde.

Em poucas horas, tudo se tornou uma incógnita para o futuro de um jovem de apenas 17 anos. Dificilmente ele aceitaria ir para a colônia caso descobrisse, antes do isolamento, que se tratava, na verdade, de um "leprosário". Nada incomum para a sociedade da época, uma vez que desde a década de 30, por meio de uma política governamental do presidente Getúlio Vargas, os brasileiros identificados com hanseníase eram obrigados a ser separados do restante da população considerada saudável. Na ótica da gestão pública do período, foi uma ação emergencial de saúde, sob o argumento de que a medicina não reunia conhecimentos suficientes para tratar a doença que apresentava alto poder de transmissão. Já na visão das vítimas do isolamento compulsório, foi uma devastadora segregação social que durou mais de 40 anos e castigou cerca de 50 mil brasileiros.

Para manter os enfermos longe do restante da população, o governo federal construiu hospitais colônias em vários estados brasileiros. Nesses locais, verdadeiras cidades foram erguidas para que os doentes construíssem laços sociais entre eles próprios. Quem era diagnosticado com hanseníase só podia se relacionar com outros acometidos pela mesma doença. Nas ruas, fora dos muros das colônias, uma espécie de polícia sanitária tinha a missão de encontrar as vítimas da enfermidade e levar a força para o isolamento.

De bens materiais a vínculos sentimentais com familiares e amigos, quase nada restou para Fernando. Se já não bastasse a alcunha de conviver com uma doença taxada de “incurável” na época, era preciso adaptar-se a uma realidade que deixava marcas na pele e principalmente na alma. Do lado de fora das colônias, o preconceito preso à raiz da população oprimia os doentes; a maioria dos sadios não queria “leprosos” por perto. Até mesmo na literatura bíblica, a doença era sinônimo de castigo contra os pecadores. Além disso, o receio de contágio, as deformações nos corpos das vítimas e a falta de tratamento adequado para curar a hanseníase, entre outros fatores, estimularam uma mancha negativa no imaginário da população: o Hospital Colônia da Mirueira, que abriga uma vila de convivência onde os pacientes construíram novas famílias, foi batizado de “Cidade do Medo”.

“Perdi o contato com todo mundo, ninguém veio aqui. Tive que fazer minha vida neste local. O que me choca até hoje eram as dores, vi os pacientes rolarem no chão frio para poder passar! Precisei conviver com tudo isso. Mesmo doentes, eu e outros homens tínhamos que ajudar a tratar os demais pacientes, porque não havia profissionais de saúde suficientes para prestar atendimento. Aqui aprendi a vida. Foi aqui que aprendi a ter amor ao próximo. Possuo lembranças de vários amigos que morreram sofrendo; acredito, no entanto, que tudo é determinado por Deus. Perdi minha família lá fora, mas construí uma nova família aqui com uma mulher que também era doente”, relata Fernando, hoje aos 50 anos, casado e pai de três filhos, com 17, 18 e 23 anos. Nenhum deles tem hanseníase.  

“Quando eu dizia que era da colônia, as pessoas tinham medo. Na época que fiz 23 anos, fomos liberados para sair do hospital. Então, resolvi tentar ver o povo e fui ao encontro de uma antiga namorada que tive aos 17 anos. Nos encontramos, mas ela estava com um banquinho e sentou-se a uma distância de uns dez metros. Ela até conversou, perguntou como eu estava, mas não chegou perto de mim. Não me tocou. Isso me deixou marcado, porque, há um tempo, eu estava deitado com essa mulher e depois ela não queria chegar perto de mim”, conta Fernando.

Em tom de desabafo, ele continua seus relatos e retorna às memórias da “Cidade do Medo”. “O isolamento era uma coisa desumana. O pessoal doente, cheio de ferimentos, sem ter ninguém capacitado para apoiar. A gente que ajudava um ao outro. Não tinha como este hospital oferecer um tratamento correto. Era Cidade do Medo porque, antigamente, existiam pessoas com orelhas enormes, nariz inchado ou despedaçado. As pessoas eram todas deformadas”. Fernando deixou de morar no Hospital da Mirueira em meados de 1990. Hoje, reside no Recife com sua esposa e os filhos.

Foto: Chico Peixoto/LeiaJáImagens --- Mesmo sem morar mais no Hospital da Mirueira, Fernando visita com frequência os residentes que foram internados junto com ele

“Cidade do Medo”. E da resistência

De acordo com o livro “Histórias vividas na terra dos esquecidos”, das autoras Rosa Maria Carlos de Albuquerque e Maria José Dantas Mesquita, a construção do Hospital Colônia da Mirueira se deu em 1936, à época, “a cargo do Ministério da Educação e Saúde”.  Estrategicamente, a colônia foi erguida em um local afastado da área urbana, “cercado por mata virgem e intensa circulação de ar”; há quem diga que o objetivo era evitar fugas e isolar os enfermos para mantê-los longe da sociedade. “Foi construído para ser uma microcidade e com capacidade para internar 400 doentes. Foi projetado para possuir o caráter de uma cidade, com ruas, praças, templo religioso, área para administração, prefeitura, delegacia, escola, áreas de lazer, além dos complexos médicos necessários para o tratamento”, diz trecho do livro.

A obra ainda traz os seguintes detalhes: “Era divido em zonas A, B e C, sendo a zona C considerada área de contágio, onde ficavam os internos. Somente com a devida permissão era possível transpor-se a barreira e penetrar-se além das linhas demarcatórias, sob pena de repreensão, mediante a proibição imposta a todos aqueles que habitavam a zona do medo”. A inauguração oficial do Hospital Colônia da Mirueira foi realizada em 26 de agosto de 1941. “O Hospital foi símbolo do isolamento social das pessoas com hanseníase em Pernambuco. O leprosário foi construído para prestar serviço inestimável de ordem técnica, sanitária, social e humana, com a visão de proteger a coletividade. Em relação aos doentes, falava-se em vantagens e promessas redentoras, pois o medo e o preconceito eram muito maiores. Esses internamentos eram o grande pavor dos hansenianos. Geralmente os primeiros dias eram difíceis, custando noites de insônia, lágrimas, muita aflição e enorme saudade dos familiares”, traz o livro “Histórias vividas na terra dos esquecidos”.

Nos registros históricos da unidade hospitalar, a capacidade inicial era para abrigar 400 doentes, no entanto, a colônia chegou a ter 500 pacientes. “Sofreram com o preconceito e o abandono, mas criaram uma sociedade só sua. Não tiveram o direito de criar seus filhos, mas agiam como se fosse uma grande família, mesmo a colônia sendo chamada a Cidade dos Mortos-Vivos e Cidade do Medo”, acrescentam as autoras Rosa Maria Carlos de Albuquerque e Maria José Dantas.

De fato, muitos internos não tiveram o direito de criar seus próprios filhos. Pacientes grávidas, quando entravam em trabalho de parto, eram submetidas a uma separação cruel e que deixaram marcas até hoje. Seus bebês eram levados para um local chamado de preventório, no bairro da Várzea, Zona Oeste do Recife. Não havia mais contato entre pais e filhos. Os bebês eram adotados ou passavam a viver em orfanatos. Atualmente, ainda existem relatos de famílias que nunca chegaram a conhecer seus filhos.

Fernando presenciou esses e outros tristes episódios que marcaram o isolamento compulsório. Porém, ele resistiu aos impactos da doença, mesmo com o tratamento ineficiente na época, e persistiu ante uma considerável parcela da população brasileira que via os enfermos como seres à margem da possibilidade de conviver em uma sociedade digna. Na colônia, trabalhou em atividades de agricultura, pecuária, além dos esforços para dar assistência aos demais pacientes. A rotina dos internos nos hospitais colônias, em geral, se resumia aos afazeres que geravam os próprios bens de consumo, como os alimentos oriundos das plantações, além de se submeterem aos tratamentos médicos. Ao caminhar pela “Cidade do Medo”, Fernando faz uma viagem pelas memórias que rementem a um período de dor e ao mesmo tempo de bravura dos que resistiram à doença e ao preconceito.

[@#video#@]

O discurso de Fernando, por mais que em vários momentos remeta a memórias tristes da “Cidade do Medo”, reforça o auxílio humano que um paciente dava ao outro durante o internamento na colônia. Os que sentiam menos efeitos da doença ajudavam os internos mais castigados pela hanseníase. Sobretudo, além do auxílio físico, existia o aparato psicológico que, para Fernando, era tão importante quanto o tratamento corporal. Ele recorda do amigo Juliano Vieira de Farias. “Seu Juliano me ajudou muito mesmo. Quando cheguei à colônia, fiquei desesperado, era a primeira vez que seria vítima de um isolamento compulsório. Ele me deu palavras de conforto, pediu paciência e me fez acreditar que um dia tudo seria resolvido. Juliano foi um dos que mais me ajudaram dentro do hospital”, relembra.

Seu Juliano, bastante conhecido entre as vítimas do isolamento compulsório em Pernambuco, foi diagnosticado com hanseníase aos 14 anos, idade em que passou a viver entre os muros do Hospital Colônia da Mirueira. Em 2016, conhecemos Juliano – na época com 71 anos - em uma reportagem do LeiaJa.com e registramos um depoimento forte, sem rodeios e que não ocultou as marcas na alma de quem “sobreviveu” na “Cidade do Medo”.

“Se você fosse jogado dentro de um leprosário como eu fui com 14 anos de idade e te falassem que dali só sairia para o cemitério, o que você faria? Não existia perspectiva de uma vida digna e caí no mundo das drogas, após ser arrastado de dentro de casa e jogado no Hospital da Mirueira. Morava no bairro da Várzea, no Recife, com meus pais e mais sete irmãos. Me deixaram longe deles e passei a viver em um lugar que classifico como depósito de lixo humano”, desabafou Seu Juliano à época.

Se Juliano foi uma das pessoas que resistiram ao isolamento compulsório. Tocou sua vida nas dependências do Hospital da Mirueira – mesmo após o fim do internamento obrigatório - até 1994, quando decidiu residir sozinho em uma casa no mesmo bairro. Não se não casou na colônia, mas construiu uma "família" graças ao aparato emocional que dava aos demais internos. Ele faleceu em 2017, aos 72 anos.

Ainda residindo em uma das casas do Hospital da Mirueira, uma vez que por determinação federal os ex-pacientes do isolamento compulsório têm direito a morar nas antigas estruturas das colônias, Marly Ferreira, 67 anos, resiste à doença à rejeição social. Na pele, existem marcas da hanseníase, mas, segundo Marly, não se comparam às cicatrizes em sua memória. Recordar da época em que o hospital era chamado de “Cidade do Medo”, consequentemente a faz lembrar do preconceito da sociedade da época. “As pessoas tinham medo da gente. Nossa própria família não nos queria por perto. E isso dói, porque até os nossos familiares não nos tocavam. Muitos nos abandonaram”, revela Marly.

Hoje, Marly convive com o marido, também acometido pela doença, e com um filho sem o diagnóstico. Assim como os outros cidadãos vítimas do isolamento que conseguiram comprovar a segregação, ela recebe uma pensão mensal de um salário mínimo e meio, desde que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva sancionou uma lei que oferece ajuda de custo para aqueles que passaram pelo interno. Marly considera que atualmente o preconceito diminuiu bastante, porém, acredita que ainda é necessário disseminar informação para a população entender de vez que a hanseníase tem cura. No áudio a seguir, ele conta detalhes da sua história e desperta tristes recordações da “Cidade do Medo”.

 [@#podcast#@]

Um médico diante de um “depósito de pacientes”

Há 40 anos, José Carlos de Lima Cavalcante encarava um de seus maiores desafios profissionais. Na época, aos 24 anos de idade, o jovem médico recebia a missão de tratar os internos do Hospital Colônia da Mirueira, sem ter sequer o auxílio de outros profissionais de saúde, como enfermeiros, terapeutas e técnicos em enfermagem. Eram apenas ele e mais três médicos que se revezavam na colônia. De acordo com José Carlos, como o tratamento – a base de fortes de medicamentos - da hanseníase era longo – média de dez anos -, muitos pacientes não continuavam o procedimento e sofriam sérias consequência em decorrência da doença. “Os casos de antigamente eram muito mais agressivos e havia muita amputação. Hoje, o mais difícil é ver alguém falar de uma amputação. Antigamente eram umas seis amputações por ano”, diz. 

José Carlos não esquece tudo que presenciou durante o período do internamento compulsório. Sem a estrutura necessária para cuidar dos acometidos pela doença, ele e os demais médicos se viam em um local inadequado para um auxílio minimamente humano. “Cheguei como médico em 1978. A questão é que a colônia era diferente de tudo o que você pode imaginar. Era um depósito de pacientes. Porque começa que não foi programada realmente para ser um hospital. Pegavam esses pacientes, que eram um incômodo para a sociedade e um peso para a família, e jogavam aqui”, recorda em tom crítico. Até as faixas de curativo dos internos eram lavadas e utilizadas novamente.

De acordo com José Carlos, com a proximidade do fim do isolamento obrigatório, alguns pacientes que respondiam bem aos tratamentos e apresentavam pequenas sequelas, ganharam alta hospitalar, mas não tinham trabalho e muito menos para onde ir. Para dar um suporte básico a eles, a gestão da unidade, que no período já era de responsabilidade do Governo de Pernambuco, oferecia remuneração para esses internos, que passavam a ajudar os doentes graves. “Ficavam dando assistência. Aplicavam injeção, carregavam defuntos”, detalha o médico. “Havia criação de porcos, bois... Era tudo diferente de um hospital de verdade”, complementa.

Sobre a forma como a sociedade definia a colônia, José entende que pelo contexto da época, em que no Brasil a cura ainda era difícil e havia chances claras de contágio, expressiva parte da população tinha receio de chegar próximo ao hospital e principalmente tocar os doentes. “Tudo fruto da ignorância, aquilo que a gente não conhece, teme. Através dos anos, a doença ia deformando a pessoa e por isso há o medo. A segregação sempre existiu por causa do terror e do medo. Por conta das deformações, as pessoas se sentiam verdadeiros monstros. Na época não tinha nada de hospital, era um leprosário, as pessoas simplesmente eram jogadas aqui”, opina o médico. 

O internamento obrigatório na colônia pernambucana durou de 1941 a 1986. Alguns pacientes continuaram vivendo nas dependências da colônia, outros adquiriram residências e passaram a morar fora do hospital. Hoje, José Carlos é o diretor do Hospital da Mirueira.

O Hospital da Mirueira nos dias de hoje

Sob a gestão estadual, a unidade é referência em Pernambuco no tratamento de hanseníase e de dependentes químicos. Hoje, existem 22 moradores que foram vítimas do internamento compulsório e continuaram residindo nas casas da antiga colônia. Somando-se os parentes dos ex-internos, há cerca de 40 pessoas vivendo nas dependências do Hospital da Mirueira.

Segundo a assistente social da unidade, Ieda Saraiva, o hospital possui com 28 leitos exclusivos para o tratamento da hanseníase. Os próprios moradores, principalmente os idosos que não possuem familiares para auxiliá-los, contam com consultas semanais.

Além dos ex-internos, pacientes diagnosticados atualmente com a doença recebem os serviços médicos do Hospital da Mirueira. A depender do nível da enfermidade, eles podem ficar internados na unidade hospitalar. É o caso de *Maria, 54, natural do Maranhão. Há mais de dez anos, ela residia na cidade de Bezerros, Agreste de Pernambuco.

Foto: Chico Peixoto/LeiaJáImagens --- *Maria se apega à fé e afirma que está confiante nos médicos para ser curada

De acordo com *Maria, há cinco anos ela passou a apresentar os sintomas da doença, mas os médicos não afirmavam que era hanseníase. Até que, em uma consulta particular no Recife, o diagnóstico foi oficializado. Há três anos, ela se internou no Hospital da Mirueira, onde apesar de enfrentar as consequências da doença, alimenta a esperança pela cura. “Tenho uma fé muito grande de alcançar a cura. Já vi uma pessoa que teve o mesmo problema e depois de dez anos ela foi curada. Converso muito com Deus pedindo a minha libertação, porque eu não era assim. Eu trabalhava muito e hoje não posso. E aqui os médicos cuidam bem da gente, somos bem tratados”, diz a paciente.

*Alfredo, de 58, também foi diagnosticado com a doença. Natural de Goiana, Região Metropolitana do Recife, há cerca de um mês ele apresentou hematomas no corpo; ao ser atendido por uma médica de sua cidade, o senhor foi encaminhado para o Hospital da Mirueira. “A médica mandou logo eu vir para cá. Estou me tratando e espero sair daqui logo”, comenta.

Há 13 anos trabalhando como cuidadora de uma ex-interna idosa, Rosete Lourdes Souza é exemplo de resistência ao preconceito. Antes de atuar na função, ouvia relatos amedrontadores sobre o Hospital da Mirueira. O termo “Cidade do Medo” era comum aos seus ouvidos. “As pessoas lá fora criticaram muito, diziam de maneira muito preconceituosa que era hospital de leproso, e que quem entrasse iria pegar a doença. O pessoal dizia que havia ‘paga-fígado’ e eu não sabia que era uma referência aos próprios humanos que existiam aqui. Mas não dei ouvidos, porque comigo não tem isso de preconceito”, conta a cuidadora.  

Ela auxilia Maria Bernadete Cabral, que reside no Hospital da Mirueira há 47 anos. Aos 17, morava com os pais na cidade de Orobó, interior de Pernambuco, e ao apresentar sintomas da hanseníase, foi levada a médicos particulares. Posteriormente, Maria Bernadete foi encaminhada à colônia, e diferente de outros ex-internos, a família continuou visitando ela. “Eu não estudei, não fiz coisa nenhuma, por causa do preconceito que as pessoas tinham diante da doença. Nossa família era de Orobó, no interior, e por causa do preconceito meu pai vendeu tudo e veio para Recife para me ajudar a tratar a doença”, relembra.

O atual quadro do Hospital da Mirueira possui mais de 30 médicos. A população pode marcar atendimentos para os especialistas, caso apareçam sintomas da doença. A marcação de consultas é realizada de segunda à sexta-feira, das 8h às 12h; todo serviço é totalmente gratuito.

De acordo com a direção do hospital, a unidade custa aos cofres do Estado um valor de R$ 1,7 milhão mensais. O montante atende, principalmente, aos pagamentos dos servidores concursados. Ainda segundo José Carlos, desse total, são destinados à sua gestão R$ 105.600 que servem para alimentação dos pacientes, compra de medicamentos, material de curativo, água, oxigênio e manutenção da estrutura física.

Alguns ex-internos ainda recebem cestas básicas mensais e todos os pacientes internados também contam com alimentação. Ao todo, são oferecidas mais de 90 refeições. José Carlos argumenta, no entanto, que há alguns problemas no Hospital da Mirueira, como a falta de roupas para pacientes, déficit de ventiladores e ar-condicionado. De acordo com diretor, já foi solicitado à Secretaria de Saúde de Pernambuco um aumento na verba para o orçamento do hospital, porém, até então, o valor é o mesmo. José Carlos estima que um acréscimo em torno R$ 105 mil mensais seria suficiente para amenizar as dificuldades do Hospital da Mirueira.  

Atual paranorama da doença no Brasil - De acordo com o mais recente levantamento do Ministério da Saúde, o Brasil registrou 25,2 mil casos de hanseníase em 2016. O quantitativo representa 11,6% dos diagnósticos do mundo. Ainda no cenário global, nosso país só perde para Índia – mais de 27 mil casos - em números oficiais da doença.

Fundado em 1981, o Movimento de Reintegração das Pessoas Atingidas pela Hanseníase (Morhan) é uma das instituições de referência no combate à doença e principalmente contra o preconceito. Artur Custódio, coordenador nacional do Morhan, alerta que os números da doença no Brasil, mesmo apresentando queda nos últimos anos, ainda são preocupantes e exigem atenção contínua do Ministério da Saúde. “Em números absolutos, só perdemos para Índia”, comenta Custódio.

Além de atuar com foco educativo, por meio da realização de eventos para apresentar à sociedade informações sobre a hanseníase, o Morhan também presta auxílio jurídico às vítimas da doença, inclusive os ex-internos do isolamento compulsório. A busca por pensão para quem viveu a segregação é um aos auxílios dados pelo Movimento, além da procura por filhos que foram separados dos pais no período do internamento obrigatório. 

Segundo Artur Custódio, é necessário o fortalecimento de um trabalho com a sociedade para propagar informações que possam diminuir o preconceito e acabar com estigmas negativos da doença. “O isolamento tem um impacto até na questão do estigma; ainda há pessoas que moram nos hospitais colônias. O preconceito vai além da imagem, além da questão física. Ele pega também o campo social e o psicológico. E essas pessoas têm dificuldade de se recuperar, e para isso ser revolvido, tem que haver um processo longo educacional”, opina o coordenador nacional do Morhan. 

A NHR Brasil, instituição sem fins lucrativos que tem o objetivo de “promover a melhoria na qualidade de vida e a reabilitação das pessoas atingidas pela hanseníase e por outras deficiências físicas no Brasil, através do desenvolvimento e implementação compartilhada de serviços efetivos, eficientes e sustentáveis para que tenham plena participação na sociedade”, também realiza trabalhos sobre a doença. Segundo a assessora técnica da NHR Brasil, Rejane Almeida, é notório que o preconceito tem diminuído pela disseminação das informações de que a hanseníase tem cura, no entanto, ela reforça que o trabalho de conscientização deve ser contínuo.

“Na atualidade, o tratamento é em nível ambulatorial. Todas as equipes de saúde têm trabalhado para reduzir o preconceito e para mostrar que hoje a hanseníase tem cura. É uma doença que pode provocar sequelas, mas não significa que vai provocar. Por isso, há a importância do diagnóstico precoce, porque quanto mais rápido ele acontecer, menor será a possibilidade de desenvolver incapacidade física. E o medo da hanseníase vem justamente das sequelas que ela pode provocar, porque ninguém quer ficar com as mãos atrofiadas ou com déficit de força no pé, por exemplo”, explica a assessora técnica.

Rejane informa que os hospitais do Sistema Único da Saúde (SUS) oferecem atendimentos gratuitos para as pessoas que apresentarem os sintomas da hanseníase. Ele alerta que a partir de qualquer indício, é muito importante a procura de um médico especializado, principalmente para a realização do diagnóstico precoce. “Isso torna a hanseníase uma doença com tratamento igual às demais e requer uma responsabilidade grande dos pacientes, porque os tratamentos podem durar de seis meses a um ano”, comenta. 

“Ainda não estamos em um patamar totalmente tranquilo, porque o Brasil ainda é o segundo país em números da doença no mundo. Mas, hoje contamos com atendimentos descentralizados para toda a população. Qualquer programa de saúde da família próximo da casa do paciente está apto a tratar a doença”, acrescenta Rejane.

* Nomes fictícios utilizados para preservar a identidade dos personagens

Fotos em preto em branco são do arquivo do Hospital da Mirueira 

Serviço:

Hospital da Mirueira

Endereço: Estrada de Santa Casa, sem número, bairro de Mirueira, em Paulista-PE

Contatos: (81) 3185-4415 / hgmses@yahoo.com.br

Agendamento de consultas: segunda à sexta-feira, das 8h às 12h. Gratuito.

--> Movimento de Reintegração das Pessoas Atingidas pela Hanseníase (Morhan)

  --> NHR Brasil

Expediente:

Reportagem - Nathan Santos

Imagens: Chico Peixot

Edição de vídeos: Danillo Campelo

Artes: Raphael Sagatio

Na madrugada desta sexta-feira (14) quatro internos escaparam do Centro Socioeducativo Edson Mota, no bairro de Mangabeira, em João Pessoa. Segundo informações da polícia, a fuga ocorreu pela cozinha da unidade. Até o momento os internos não foram localizados. A perícia foi acionada para analisar as circunstâncias e possíveis estratégias da fuga dos quatro adolescentes.

De acordo com a Fundação Desenvolvimento da Criança e do Adolescente Alice Almeida (Fundac), os internos integravam o setor de rouparia e saíram do centro socioeducativo às 4h. A unidade acolhe 169 adolescentes, porém o local tem capacidade para abrigar 76 menores infratores.

##RECOMENDA##

Centros socioeducativos

Há pouco mais de um mês, os Centros Socioeducativos Edson Mota e Lar do Garoto passaram pelas mesmas dificuldades, referentes à fuga e superlotação. No mês de junho, com apoio do Batalhão de Operações Especiais (Bope), foram realizadas fiscalizações, revistas nas celas e uma avaliação dos socioeducandos na unidade Edson Mota, para impedir que possíveis tumultos ocorressem.   

A ação foi feita após três dias da rebelião que ocorreu no Lar do Garoto, em que cinco adolescentes morreram carbonizados e dois foram agredidos dentro das celas e levados para o pátio, onde foram mortos. A unidade tinha capacidade para 40 pessoas, contudo, no dia rebelião o Centro tinha em torno de 200 internos.

Dois internos conseguiram fugir no final da tarde da última sexta-feira (26) da Fundação de Atendimento Socioeducativo (Funase) de Timbaúba, na Mata Norte de Pernambuco. Até o momento, ninguém foi recapturado.

Segundo a assessoria da Funase, uma corda foi arremessada pelo lado externo do muro da unidade, fazendo com que os dois jovens conseguissem fugir. A Polícia Militar fez buscas nas redondezas.

##RECOMENDA##

A Funase informou ainda que o clima no local é de tranquilidade na unidade. Uma sindicância para apurar a responsabilidade do ocorrido será aberta.

Oito internos do Centro de Internação Provisória (Cenip) da Fundação de Atendimento Socioeducativo de Caruaru, no Agreste, fugiram na noite da quinta-feira (11). Segundo a assessoria da Funase, o grupo fugiu pelo muro da unidade após atear fogo em colchões.

Ainda de acordo com a Funase, o clima no Cenip é de tranquilidade e não houve feridos na ocorrência. A Polícia Militar fez buscas na localidade, mas até o momento ninguém foi recapturado. Uma sindicância foi aberta para apurar o fato. 

##RECOMENDA##

Abreu e Lima – Também na última quinta-feira (11), a Funase de Abreu e Lima, na Região Metropolitana do Recife (RMR), registrou um motim. A rebelião resultou em sete feridos, com escoriações leves. O motivo da confusão seria a rivalidade entre os jovens.

 

 

Seis adolescentes ficaram feridos durante tumulto na Fundação de Atendimento Socioeducativo (Funase) de Abreu e Lima, na Região Metropolitana do Recife (RMR), na manhã desta segunda-feira (24). Segundo a assessoria da fundação, a confusão já foi controlada.

Ainda de acordo com a Funase, a situação voltou à normalidade após a chegada dos policiais da Radiopatrulha e do Grupo de Apoio Tático Itinerante (Gati). Os internos feridos estavam com escoriações leves e foram medicados.

##RECOMENDA##

A diretoria da Funase e a Gerência de Segurança estiveram no local. Uma sindicância será aberta para apurar o fato. Não há informações sobre as motivações que geraram o motim. 

Cinco internos fugiram da Fundação de Atendimento Socioeducativo (Funase) de Garanhuns, no Agreste de Pernambuco, nesta segunda-feira (30).  Segundo a assessoria da fundação, eles renderam um agente socioeducativo com armas artesanais.

A Polícia Militar (PM) foi acionada para recapturar os foragidos, mas não há informações de recapturas até o momento. Não houve mortes e ninguém ficou ferido.

##RECOMENDA##

Duas unidades da Funase funcionam em Garanhuns, sendo o Centro de Atendimento Socioeducativo (Case), de onde fugiram os internos; e o Centro de Internação Provisória (Cenip). Elas abrigam 127 socioeducandos, estando com 122 após a fuga.

Internos da Fundação de Atendimento Socioeducativo (Funase) de Garanhuns, no Agreste, queimaram colchões e quebraram camas durante tumulto na noite do domingo (23). Não houve fugas e ninguém se feriu.

A Polícia Militar (PM) controlou o motim, enquanto o Corpo de Bombeiros foi acionado para conter as chamadas. No mesmo dia, a Polícia Militar havia realizado uma revista na unidade.

##RECOMENDA##

Durante a fiscalização da PM, foram apreendidos sete celulares e quatro carregadores, além de aproximadamente 50 gramas de maconha. A unidade de Garanhuns tem capacidade para 73 adolescentes, mas abriga 100. 

LeiaJá também

--> Quatro internos fogem da Funase de Garanhuns

--> Jovens rendem agentes e fogem da Funase de Garanhuns

--> Mais de dez reeducandos fogem da Funase de Garanhuns

A Fundação de Atendimento Socioeducativo (Funase) registrou, nesta segunda-feira (26), duas fugas do Centro de Atendimento Socioeducativo (Case) de Abreu e Lima. Segundo a instituição, não houve brigas ou tumulto, comum em casos do tipo para distrair a equipe de segurança.

Os jovens utilizaram uma corda feita de lençóis – chamada Tereza – para realizar a saída. A Polícia Militar foi acionada, mas nenhum deles foi recapturado ainda. Com capacidade para 98 jovens, a unidade precisou passar por uma recontagem para definir o número de jovens do local.

##RECOMENDA##

LeiaJá também

--> Tumulto na Funase de Abreu e Lima exige presença do Choque

--> Adolescente morre após tumulto na Funase de Abreu e Lima

No fim da tarde da segunda-feira (15), integrantes do Fórum de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente de Pernambuco (DCA/PE) realizaram um ato público para denunciar a situação atual do sistema de ressocialização de adolescentes de Pernambuco. O grupo se reuniu na Praça da República e seguiu para o Palácio do Campo das Princesas, área central do Recife.

Durante o ato, os participantes de todas a regiões do Estado se reuniram em um grande círculo na frente da sede da gestão estadual e criticaram a violência dentro do sistema socioeducativo pernambucano. A principal denúncia é de que, de acordo com o Fórum DCA, de 2012 até 2016, 28 adolescentes foram assassinados dentro das unidades da Funase de Pernambuco.

##RECOMENDA##

Por fim, o grupo protocolou e entregou na sede do Governo do Estado uma Nota Pública, na qual explica os motivos do protesto e pede o fim do descaso e medidas mais efetivas do Estado, que são responsáveis pelos internos. Após entregar o documento, os participantes acenderam velas e as deixaram acesas na escadaria do Palácio do Campo das Princesas. O intuito era lembrar dos jovens que perderam a vida pela irresponsabilidade da gestão.

No documento entregue e direcionado a Paulo Câmara, intitulado "Sobre a falência do Sistema Socioeducativo e as mortes nas Unidades de Internação do Estado de Pernambuco", o Fórum pediu garantia dos direitos. "No Estado de Pernambuco, a política de garantia de Direitos Humanos para adolescentes inseridos no sistema socioeducativo em cumprimento da medida de privação de liberdade se define em política que prende e julga e em vez de ressocializar, mata".

[@#video#@]

Em 2011, o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) recomendou ao então governador de Pernambuco, Eduardo Campos, o fechamento de duas unidades de internação de adolescentes por falta de estrutura para continuarem ativas. Na época, a recomendação, no entanto, foi ignorada. Cinco anos depois, em 2016, as unidades da Fundação de Atendimento Socioeducativo (Funase) de Pernambuco registram um cenário ainda pior. Mortes de internos, superlotação, venda de drogas, tortura, constantes fugas e rebeliões são notícias todos os dias. Atualmente, o Estado mantém 1.560 reeducandos nas 25 unidades da Funase.

De acordo com o Fórum de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente de Pernambuco (DCA/PE), entre 2012 e 2016, 28 adolescentes foram mortos dentro das unidades de internação de Pernambuco. Ainda de acordo com o DCA, os números alarmantes garantem que Pernambuco ocupe o 1º lugar do Brasil em extermínio de adolescentes sob a responsabilidade do Estado. Para o Conselho Nacional de Justiça, o sistema socioeducativo pernambucano vigora em total desacordo com as diretrizes do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e do Sistema Nacional de Medidas Socioeducativas (Sinase).

##RECOMENDA##

Com a finalidade de "ser referência nacional, pela sua capacidade de atender adolescentes como sujeitos de direitos, com condições para o exercício da cidadania, consolidando o princípio da incompletude institucional e o projeto político pedagógico", a Funase falha todos os dias. As consequências do tratamento inadequado que os adolescentes recebem podem ser vistas em palavras-chave nas manchetes dos jornais de Pernambuco: fugas, mortes, rebeliões. Para Lourdes Viana, presidente do Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente (CEDCA), as unidades de Caruaru, no Agreste pernambucano e de Abreu e Lima, no Grande Recife, são as piores.

"Em julho deste ano, o Conselho recebeu fotografias nítidas de torturas nos internos ocorridas na Funase de Caruaru. Fomos registrar de perto as ocorrências e, quando chegamos, nenhum menor torturado se encontrava na unidade. Ninguém soube dizer para onde eles teriam sido transferidos", relatou. Lourdes ainda contou que muitas das mortes dos internos só chegam ao CEDCA através da imprensa e nem são oficializadas pelo Estado. "A situação é tão caótica que a gente não tem conhecimento de que as investigações das mortes são realizadas", lamentou. Há 18 dias, um motim no Centro de Atendimento Socioeducativo (Case), em Abreu e Lima, resultou na morte de mais um reeducando.

Para o DCA, o óbito de mais um interno dentro de uma Fundação de Atendimento Socioeducativo, que deveria reeducar o adolescente, revela a completa falência do sistema em todas as suas instâncias: a que prende, a que julga e a que deveria ressocializar. Com a função de formular e fiscalizar a política de atendimento à criança e ao adolescente de Pernambuco, o CEDCA tem se debruçado sobre a situação de emergência no sistema de internação do Estado, afirma a presidente do órgão. Ela garante que desde que entrou na presidência, em fevereiro, os profissionais têm realizado visitas mensais aos centros de internação para coibir as práticas nocivas do Estado.

Tratamento digno aos internos é utopia

Fatores básicos para a ressocialização, como o tratamento digno, respeito à individualidade e liberdade, projetos de escolarização e profissionalização, manutenção de vínculos familiares, acesso ao lazer, à cultura e à convivência comunitária são quase que utopias nas unidades socioeducativas de Pernambuco. Para Lourdes Viana, não há um plano pedagógico. "Em uma análise que fizemos, registramos a ausência de um plano sociopedagógico de recuperação e de aceleração de aprendizadem", pontua. 

Ela explica que a superlotação é um problema recorrente na Funase e que já foram solicitadas várias vezes a redução dos quantitativos que estão nos centros, principalmente no de Abreu e Lima, que consta com um número de internos muito superior ao capaz de abrigar. "A funase tem que estudar novamente e rever um plano estrutural que inclui a construção de novas unidades para que nenhuma delas tenha a capacidade de atendimento superada", argumenta.

Tendo sob sua responsabilidade a vida dos adolescentes que se encontram nos Centros Socioeducativos, o Governo de Pernambuco demonstra despreparo e um legado de ineficiência. Para o CEDCA, não há humanização no atendimento e os ambientes físicos são terríveis. "A gente não pode conviver com esse cenário de guerra dentro das unidades, não queremos uma situação de indiferença e de não resolução dos problemas e dos crimes. O Estado tem demonstrado incompetência em defender a vida dos adolescentes", crava Lourdes. 

Vigília em defesa dos Direitos Humanos

Revoltados com a situação caótica, o Fórum DCA/PE realizará uma mobilização na próxima segunda-feira (15) pelo fim da violência e das mortes nas unidades da Funase. O ato será realizado na Praça da República, em frente ao Palácio do Campo das Princesas, às 14h. O Fórum pede o cumprimento do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e do Plano Estadual de Atendimento Socioeducativo de Pernambuco.

Questionada sobre as mortes e as constantes rebeliões e fugas nos Centros de Atendimento Socioeducativos, a Secretaria de Desenvolvimento Social, Criança e Juventude (SDSCJ) limitou-se a informar que "vem empreendendo todos os esforços para que o papel da Funase, de desenvolver ações com jovens que cumprem medidas socioeducativas, seja realizado da melhor forma possível". Por meio de nota, a secretaria listou uma série de ações estão sendo realizadas "em prol dos jovens". 

Confira a nota na íntegra:

"As unidades da Funase realizam uma série de atividades em prol dos jovens, tais como cursos de operador de computador, artesanato, robótica, costura, frentista, marcenaria, auxiliar de agropecuária, padeiro, gesseiro, fotografia. Há atividades culturais, apresentações musicais, comemorações de datas festivas, eventos religiosos, palestras, diálogos de conscientização, reuniões com familiares. A Secretaria de Saúde realiza palestras nas unidades e campanha de vacinação.

​Além disso, a SDSCJ tem os programas "Vida Aprendiz" e "Novas Oportunidades", que oferecem aos jovens oportunidades de emprego. (Veja abaixo um resumo dos dois programas que beneficiam tanto os jovens que estão, quanto os que já saíram da Funase). O Programa Vida Aprendiz, da Secretaria de Desenvolvimento Social, Criança e Juventude (SDSCJ), através da Secretaria Executiva do Sistema Socioeducativo e Fortalecimento dos Conselhos (SESSFC), contempla: Jovens que estão em cumprimento de medida socioeducativa e também os jovens que já saíram da Funase.

O Programa Novas Oportunidades, da Secretaria de Desenvolvimento Social, Criança e Juventude, através da Secretaria Executiva do Sistema Socioeducativo e Fortalecimento dos Conselhos (SESSFC), contempla: Jovens que já saíram da Funase, tendo cumprido toda a pena. É realizado o acompanhamento psicossocial desses jovens nas suas comunidades e também acompanhamento de suas famílias."

LeiaJá também

--> Motim na Funase de Abreu e Lima nesta segunda-feira (25)
--> Motim na Funase deixa um morto e dois feridos 
--> Internos fogem da Funase com corda de lençóis 
--> Adolescentes pulam o muro e fogem da Funase da Ipitunga
--> Internos da Funase são presos após ameaçar psicóloga 
--> Jovens arrombam sala de diretor da Funase no Recife 
-->  Em PE, jovens da Funase tentam fugir e seis ficam feridos 

Quatro jovens arrombaram a sala do diretor e levaram um aparelho de som na Casa de Semiliberdade (CASEM), no bairro do Rosarinho, Zona Norte do Recife, segundo a Fundação de Atendimento Socioeducativo (Funase). A ocorrência foi registrada na noite da segunda-feira (13) e não resultou em rebelião ou briga de internos.

Os quatro rapazes foram encaminhados à delegacia. Após o registro da ocorrência, eles foram conduzidos à Unidade de Atendimento Inicial (UNIAI).

##RECOMENDA##

Como cometeram um novo delito, os envolvidos vão aguardar a decisão do juiz. Eles poderão retornar à CASEM ou serem enviados a um Centro de Atendimento Socioeducativo (CASE), onde os apenados ficam em regime fechado.  

Um tumulto registrado no início da manhã deste sábado (31) deixou três detentos feridos entre os internos do Complexo Prisional do Curado. A situação teria ocorrido em uma das três unidades do Complexo, o Presídio Juiz Antônio Luiz Lins de Barros (PJALB).

Segundo informações da assessoria de imprensa da Secretaria de Justiça e Direitos Humanos, o Batalhão de Choque já entrou no local e conteve o princípio de levante. O motivo da manifestação seria a regularização do horário de visita aos internos da unidade por conta de uma 'operação padrão' dos agentes, segundo o presidente do Sindicato dos Agentes, Servidores, Empregados e Contratados no Sistema Penitenciário de Pernambuco (Sindadsp-PE), Nivaldo Oliveira Júnior.

##RECOMENDA##

“As visitas começam às 8h30 e, como havia o hábito irregular de alguns gestores de permitirem a entrada de visitantes a partir das 7h, os detentos e os visitantes interpretaram que não haveria visitas hoje”, explica Nivaldo. De acordo com o presidente do Sindasp, a situação já foi controlada e as visitas estão ocorrendo normalmente.

Cinco viaturas do Corpo de Bombeiros Militar (CBM-PE) seguiram para o Complexo por volta das 8h da manhã deste sábado (31). Segundo informações do CBM, uma pessoa foi morta.

Páginas

Leianas redes sociaisAcompanhe-nos!

Facebook

Carregando