O ídolo do Vasco e do Lyon, Juninho Pernambucano, concedeu sua primeira entrevista após ter saído com polêmicas da Rede Globo, onde trabalhava como comentarista desde 2014. Em entrevista ao "El País", o ex-meia revelou ter sofrido censuras por parte da emissora ao questionar o trabalho da imprensa, principalmente o dos setoristas.
“Grande parte da imprensa joga contra a evolução do futebol. Eles (jornalistas) precisam da gente, os ex-jogadores, para complementar o que não conseguem enxergar. Fui censurado na Globo por denunciar que tinha setorista vendido, que se envolve com sacanagem. É o setorista que pauta o noticiário, porque cobre de perto os jogos e treinamentos. Quando ele se prostitui, fode o ambiente no clube”, relembrou enquanto explicava a situação.
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O ex-jogador criticou o nível de trabalho dos jornalistas que fazem a cobertura dos clubes atualmente, durante o programa Seleção SporTV, no fim de abril.
“É preciso combater o que tá errado lá embaixo na cadeia de produção do jornalismo para pautar coisas mais sérias. E aí, em pleno ano de 2018, sofri censura ao vivo na TV. Nenhum jornalista me defendeu. Pelo contrário, ainda fui humilhado pelo Milton Neves, que deu uma tuitada me ridicularizando. Antes, já tinha recebido ameaças de torcedores. Se eu fui censurado e ameaçado, significa que toda a imprensa também foi, meu amigo. E ninguém compreendeu isso, talvez por ignorância ou medo de perder o emprego”, expressou o ex-meia.
Na ocasião, a direção de jornalismo do SporTV, canal fechado de esportes da Globo, emitiu uma nota oficial, que foi lida ao vivo, condenando os comentários do craque, o que resultou no pedido de demissão feito pelo comentarista após repercussão da polêmica.
“Aquela nota interrompendo o programa para me censurar partiu de um diretor covarde, que eu ainda não sei o nome. Foi a gota d’água. Na mesma semana, decidi não prestar mais serviços à Globo e pedi para sair”, disse.
“Meu contrato iria até o fim do ano que vem. Durante esse período até o episódio da minha saída, seria injusto dizer que eu fui impedido de falar. Mas briguei com os três principais narradores e o principal repórter da casa. Briga grande, discussão pesada, de apontar o dedo na cara e tudo mais em reuniões. Só não teve vias de fato. Queria dar minha opinião e não aceitavam. Diziam que eu falava muito, que interrompia demais. Balançavam a cabeça achando ruim se eu me alongava no comentário durante a transmissão. Sofria pressão por querer dizer o que penso”, revelou.
Aos 43 anos e morando nos Estados Unidos, Juninho também relembra um dos episódios que mais o entristeceram quando era comentarista. O ex-atleta afirma ter sido vítima de ameaças de morte por parte da torcida do Flamengo, em fevereiro, e que não recebeu nenhum apoio dos jornalistas com quem trabalhava.
“A relação azedou quando eu critiquei o Vinicius Junior. Fui ameaçado de morte pela torcida do Flamengo, dei queixa na delegacia. Esperava um suporte, mas não recebi apoio de ninguém na emissora. A partir dali a coisa não ficou legal. Como já estava tudo esquematizado para eu ir pra Rússia, não quis deixar os caras na mão. Mas eu abandonaria o barco depois da Copa”, expôs o ex-comentarista.
Em nota, a Rede Globo, negou ter censurado Juninho Pernambucano e se posicionou contrária sobre a falta de apoio durante as ameaças da torcida do Flamengo que o ex-funcionário afirma ter recebido.
Confira a resposta da emissora na íntegra:
“Como funcionário do Esporte da Globo, Juninho Pernambucano foi tratado sempre com profissionalismo e respeito, e jamais sofreu qualquer tipo de censura. A nota citada por ele na entrevista ao EL PAÍS e divulgada pela Globo afirmava, sem deixar margem à dúvida, que Juninho tinha direito à sua opinião, que era e continuaria sendo livre. O texto apenas deixava claro que o canal SporTV não concordava com as críticas, as acusações e a generalização feitas pelo então comentarista contra um grupo de profissionais, que incluía seus próprios companheiros de trabalho. E reforçava a confiança nos mais de 30 setoristas que trabalham no Grupo Globo. A nota foi lida ao vivo e diante do próprio Juninho, o que não caracteriza a “covardia” que ele relaciona ao episódio.
Sobre outro episódio citado na entrevista, Juninho Pernambucano relatou, em fevereiro, ter sofrido ameaças de torcedores do Flamengo após uma discussão nas redes sociais. Por isso, pediu para não comentar a final da Taça Guanabara, para a qual estava escalado. Em respeito ao profissional, o pedido foi imediatamente atendido e ele foi retirado da equipe que trabalhou na partida”
Por Thiago Herminio