O papa Francisco, que considera a Ásia uma terra de conquista para o catolicismo, deixou Manila na manhã desta segunda-feira ao fim de um intenso giro pelo Sri Lanka e Filipinas onde, diante de um número recorde de fiéis, condenou o materialismo e a corrupção.
Aos 78 anos, o Papa argentino pareceu suportar bem o ritmo pesado de sua viagem, marcada por deslocamentos a províncias e pela presença de multidões.
Na manhã desta segunda-feira, dezenas de milhares de filipinos se aproximaram para aclamá-lo junto a uma estrada que conduz ao aeroporto. Os filipinos ainda compartilham um pouco da língua dos colonos espanhóis que evangelizaram o arquipélago a partir do século XVI.
O ponto alto desta viagem foi a missa final dominical no Rizal Park de Manila, que reuniu ao menos seis milhões de pessoas, segundo as autoridades, um número recorde para uma concentração de cristãos.
"As Filipinas são o principal país católico da Ásia. É um dom de Deus, uma bênção! Mas também uma vocação! Os filipinos estão convocados a ser missionários da fé na Ásia", continente no qual os católicos representam apenas 3% da população, disse.
Segundo as autoridades locais, o recorde anterior de uma concentração papal no mundo data de 1995, quando João Paulo II reuniu cinco milhões de pessoas também nas Filipinas, durante a Jornada Mundial da Juventude (JMJ).
"A fé das pessoas comuns é imensurável", exclamou Francisco, citado pelo arcebispo de Manila, cardeal Luis Antonio Tagle.
Ameaças insidiosas
O Papa entusiasmou os filipinos, 25% dos quais vivem com menos de 60 centavos de dólar diários, denunciando as desigualdades chocantes e a corrupção.
Também lançou vários apelos a favor da família tradicional, denunciando o relativismo, as ameaças insidiosas e a confusão sobre o casamento e a sexualidade em um país de 100 milhões de habitantes, dos quais mais de 80% são católicos fervorosos.
Uma crítica velada às medidas defendidas pelo presidente Benigno Aquino, que, em nome do controle da natalidade nas populações carentes, levou à adoção de uma lei que permite a distribuição de preservativos e o ensino de métodos de controle familiar nas escolas.
Centenas de milhares de mulheres abortam clandestinamente todos os anos nas Filipinas, e muitos homens e mulheres vivem juntos sem estar casados, enquanto o divórcio segue proibido.
"O Papa quis nesta viagem dar um impulso por uma via concreta em direção a uma sociedade filipina mais coerente com os valores cristãos", explicou o porta-voz do Vaticano, padre Federico Lombardi.
No sábado, viajou a Tacloban (centro-leste) para se encontrar com sobreviventes do supertufão Haiyan (7.300 mortos e desaparecidos em novembro de 2013), muitos dos quais vivem completamente desamparados mais de um ano depois da tragédia natural.
"Quando vi a partir de Roma esta catástrofe, senti que precisava estar aqui e, em seguida, decidi fazer a viagem (...) Quis vir para estar com vocês. Um pouco tarde, me dirão, mas estou...", disse.
Francisco planejava permanecer ali todo o sábado, mas precisou voltar precipitadamente a Manila devido à chegada de uma tempestade tropical.
Não zombar da fé do próximo
Antes, no Sri Lanka, país de maioria budista no qual os católicos representam apenas 7%, Francisco lançou apelos à boa coabitação religiosa e à busca da verdade sobre os massacres registrados durante 30 anos no conflito entre o exército e a rebelião tamil.
No avião que o levava às Filipinas, participou do debate sobre a liberdade de expressão que explodiu após o atentado mortífero contra a revista francesa Charlie Hebdo, considerando que este direito fundamental não autoriza a insultar ou zombar da fé do próximo.
"Se um grande amigo fala mal da minha mãe, pode esperar um soco, é normal", disse. Estas declarações foram muito comentadas nas redes sociais.
Embora ainda não tenha pisado em solo africano desde sua eleição, em março de 2013, Francisco realizou sua segunda viagem à Ásia, depois de visitar a Coreia do Sul em agosto de 2014.
No Vaticano observa-se que o centro de gravidade do mundo se deslocou à Ásia, e é dada uma atenção particular à China, em plena abertura.
O Papa argentino expressou durante sua viagem à Coreia do Sul sua grande estima pela sabedoria chinesa, e declarou estar disposto a viajar ao país se as autoridades comunistas autorizarem o clero a desempenhar sua tarefa.