Depois de uma briga entre três cidades por conta das alcaparras, é a vez das regiões de Friuli-Veneza Giulia e Vêneto declararem "guerra" por conta da origem do tiramisù - uma das mais famosas receitas italianas.
Tal qual no primeiro caso, a crise foi causada por uma certificação. Friuli conseguiu que, na última atualização da lista dos Produtos Agroalimentares Tradicionais (PAT) do Ministério das Políticas Agrícolas, o famoso doce fosse incluído como um produto de sua região. O reconhecimento levou como base um livro de pesquisa publicado por Clara e Gigi Padovani ("Storia, Curiosità, Interpretazioni del dolce italiano più Amato", "História, curiosidades, interpretações do doce italiano mais amado", em tradução livre) que aponta que o tiramisù surgiu em Gorizia e Údine.
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No entanto, a região do Vêneto garante que o doce à base de mascarpone e café é originário de Treviso e a troca de acusações públicas começou.
De acordo com o assessor regional de Recursos Agrícolas de Friuli-Veneza Giulia, Cristiano Shaurli, a inclusão da receita no PAT "é um resultado importantíssimo, uma novidade que nos enche de satisfação".
A inclusão no PAT, publicada no dia 29 de julho, mas revelada só neste fim de semana, inclui as duas versões originadas na região. O clássico criado nos anos 1950 no restaurante "Roma", em Tolmezzo, Údine, e a versão conhecida como "Tirimi Su", também produzida na mesma década na tratoria Vetturino di Pieris, que fica em Gorizia.
Após o anúncio, o governador do Vêneto, Luca Zaia, prometeu uma "batalha legal e gastronômica" para reverter a questão do PAT. "Perante este decreto fiquei realmente perplexo. Eu acredito que o ministro fez com boa intenção e que alguém lhe deu documentos não completamente exatos porque se não for isso seria algo realmente preocupante", ressaltou.
"Com esse decreto [...], o Ministério afirma substancialmente que não conta com os cinco milhões de 'venetos' reconhecidos por produzir o autêntico tiramisú, que nós comemos verdadeiramente me qualquer lugar por aqui; que não há uma indústria que cresceu baseada ao redor desse produto; Eu me pergunto para que serve essa guerra de poder", disse ainda o governador.
- Especialista:
"Na disputa entre Vêneto e Friuli sobre a paternidade do tiramissù, há apenas duas certezas", diz o jornalista especializado no assunto Alessandro Marzo Tolmezzo, à ANSA.
"Em 1950, no Vetturino di Pieris, Mario Cosolo produzia um 'semiffredo' chamado 'tirime su', sem mascarpone e completamente diferente do que conhecemos hoje; e o primeiro testemunho escrito do tiramisù com Mascarpone é aquela de Giuseppe Maffiole na edição de primavera da revista 'Vin Veneto', de 1981, que atribui a paternidade uma década antes a Roberto 'Loly' Linguanotto', chefe do restaurante 'Le Beccherie' de Treviso", explica.
De acordo com Tolmezzo, "tudo aquilo que está nesse meio, e inclui-se a primazia reivindicada por Giuseppe del Fabro, do 'Roma' de Tolmezzo, é muito mais incerto".
"O ponto seria estabelecer se o tiramisù que o 'Roma' tinha no cardápio era à base de mascarpone, e que ele seja antecessor à receita trevisana, ou se ele se tratava de uma releitura do doce de 'Di Pieris'", ressalta ainda.
- PAT:
O PAT é considerado um dos maiores reconhecimentos a um produto típico italiano e tem forte peso na cultura de uma região.
Instituído em 2000, a certificação garante os métodos de preparação e conservação usadas em um território, de maneira homogênea e seguindo padrões tradicionais por um período contínuo não inferior a 25 anos.