Donald Trump disse nesta quarta-feira (6) que o coronavírus foi pior para os Estados Unidos do que os ataques de 11 de setembro e mais uma vez culpou a China pela pandemia, cujo controle na Europa começa a se manifestar em anúncios como a retomada do futebol alemão.
"Este é realmente o pior ataque que já tivemos", disse o presidente dos Estados Unidos na Casa Branca. Para o presidente americano, Donald Trump, a crise desatada pelo coronavírus é "pior" que o ataque surpresa do Japão em 1941 contra a base militar de Pearl Harbor, no Havaí, e "pior que o World Trade Center", em alusão aos atentados de 11 de setembro de 2001.
"Isto não deveria ter acontecido", acrescentou no Salão Oval da Casa Branca. China e Estados Unidos travam uma guerra dialética sobre a origem do Sars-CoV-2 (vírus causador da Covid-19).
O chefe da diplomacia americana, Mike Pompeo, reiterou que dispõe de "provas significativas" de que o patógeno escapou de um laboratório em Wuhan, região central da China, apesar de ter admitido que não tem "a certeza" de que tenha ocorrido assim.
Pequim reagiu nesta quarta assegurando que o secretário de Estado americano não pode apresentar nenhuma prova "porque não tem nenhuma", disse em Genebra o embaixador chinês nas Nações Unidas.
"A prioridade é se concentrar na luta contra a pandemia até a vitória final (...) Não temos tempo a perder, já que é preciso salvar vidas", advertiu Chen Xu.
Desde que surgiu oficialmente em dezembro na cidade chinesa de Wuhan, o novo coronavírus causou a morte de mais de 260.000 pessoas no mundo, embora as cifras reais possam ser muito superiores, e obrigou quase metade da humanidade a se confinar.
Os Estados Unidos, país mais atingido pela pandemia, já contabilizam 73.095 mortos, sendo que 2.037 falecimentos foram registrados entre a terça e esta quarta, com um total de 1.227.430 infectados. A seguir estão a Grã-Bretanha (30.076 óbitos), Itália (29.315), Espanha (25.857) e França (25.809).
- Luz verde para a Bundesliga -
Na Europa, onde os países iniciaram um processo de normalização da vida diária há quase duas semanas, Alemanha deu nesta quarta-feira luz verde à retomada em 15 de maio da primeira divisão do campeonato de futebol (Bundesliga).
Após dois meses de interrupção, como todo o resto das competições internacionais do esporte mais popular do planeta. Será o primeiro campeonato a voltar, mas sem público e com medidas de precaução draconianas
Enquanto a França deu por encerrada sua liga, Inglaterra, Espanha e Itália esperam retomar as suas em junho. Outros países já anunciaram suas respectivas datas, como a Sérvia (30 de maio), Croácia (6 de junho) ou Turquia (12 de junho). Portugal também se prepara para voltar aos gramados, enquanto na Bélgica as competições estão suspensas até o final de julho.
A volta à normalidade na Alemanha vai além do futebol. Com dados "muito satisfatórios", Berlim decidiu suspender nesta quarta quase totalmente as restrições impostas desde meados de março para conter os contágios.
- Objetivo alcançado -
"Portanto, chegamos a um ponto em que podemos dizer que alcançamos o objetivo de retardar a propagação do vírus", anunciou a chanceler, Angela Merkel.
O acordo do governo federal com as regiões (Landers) prevê a reabertura a partir da semana que vem de todos os estabelecimentos comerciais, inclusive os de mais de 800 m2, que ainda permaneciam fechados, e as escolas. Restaurantes e hotéis também vão abrir a partir da próxima semana, dependendo das regiões.
Só permanecerão fechadas as fronteiras e continuarão proibidos os grandes eventos esportivos e culturais com público.
Na vizinha Dinamarca, as autoridades sanitárias avaliam que a Covid-19 desaparecerá sozinha com as medidas de confinamento, embora temam uma segunda onda.
Na Espanha, o chefe de governo, Pedro Sánchez, considerou que uma suspensão do confinamento "precipitada" no país seria um "erro absoluto, total e imperdoável", e defendeu no Parlamento a necessidade de estender o estado de emergência.
Os deputados aprovaram uma extensão até 23 de maio, apesar da oposição dos conservadores e da extrema direita.
Na Bélgica, o confinamento imposto continua sendo abrandando também, com a reabertura dos estabelecimentos não essenciais na segunda-feira, anunciou a primeira-ministra Sophie Wilmes. A partir de domingo, cada família poderá receber sob seu teto quatro pessoas, parentes ou amigos, com a condição de que sejam "sempre os mesmos".
Na Grã-Bretanha, o primeiro-ministro Boris Johnson foi encurralado nesta quarta-feira pelo líder da oposição a respeito do balanço oficial da Covid-19 no país.
"Como se pode chegar a isso?", alfinetou o líder do Partido Trabalhista, Keir Starmer, em uma Câmara dos Comuns parcialmente vazia, alarmado com o número de mortos que "dispara" nos lares para idosos. Johnson prometeu para o domingo anunciar sua estratégia de desconfinamento.
- Recessão "histórica" na UE -
Na economia, a Comissão Europeia vaticinou uma recessão "histórica" na UE este ano, com queda do PIB de 7,7% na zona do euro, e uma retomada do crescimento de 6,3% para 2021.
Os países mais afetados serão Grécia (-9,7%), Itália (-9,5%) e Espanha (-9,4%), devido à sua forte dependência do turismo.
É que este setor, do qual dependem mais de 300 milhões de empregos e 10% do PIB global, é um dos mais afetados pela pandemia com a restrição praticamente total das viagens no mundo.
A Airb'n'b, uma das empresas símbolo do turismo global, prescindirá de 25% de seus 7.500 funcionários.
- Pico na América Latina ainda por vir -
Se a Europa parece ter superado o pico da epidemia, o balanço é galopante na América Latina e no Caribe, onde se registraram mais de 286.000 casos e mais de 15.500 mortos, segundo contagem da AFP com base em números oficiais.
Espera-se que o pico da pandemia seja atingido nos próximos dias em alguns pontos da região, razão pela qual vários países como Equador, Colômbia e República Dominicana decidiram prorrogar as medidas de confinamento para evitar a propagação da pandemia.
A Organização Pan-americana da Saúde (OPAS) pediu aos governos que sejam "cautelosos" na hora de abrandar estas medidas, e advertiu que a transmissão "ainda é muito alta" em Brasil, Equador, Peru, Chile e México.
O Brasil, onde o presidente Jair Bolsonaro incentiva a retomada das atividades e desacredita as medidas de prevenção, é de longe o mais afetado e registra 125.218 casos e 8.536 mortes (sendo 615 nas últimas 24 horas). Preocupado, o Uruguai anunciou que aumentará o controle sanitário na fronteira entre os dois países.
O Fundo Monetário Internacional (FMI), prevê queda de 5,2% do PIB da região pelo coronavírus, razão pela qual, segundo Alejandro Werner, diretor do Hemisfério Ocidental do Fundo, "a região enfrenta o espectro de outra 'década perdida' durante 2015-25".