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A Polícia Federal afirmou em manifestação encaminhada ao Supremo Tribunal Federal (STF) que o Ministério Público, ao deter a exclusividade sobre os acordos de delação premiada, atua como investigador, acusador e julgador. Segundo o despacho, para os delegados da PF, a colaboração é "apenas uma técnica operacional destinada a acelerar os caminhos da investigação policial", enquanto o MP faz um "atalho entre o fato e a condenação".

O documento de 39 páginas é subscrito pelos delegados Élzio Vicente da Silva, superintendente da Polícia Federal em Brasília, e Denisse Dias Rosas Ribeiro, chefe do Núcleo de Inteligência da regional. As duas páginas iniciais, no entanto, são assinadas pelo diretor-geral da Polícia Federal, Leandro Daiello.

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O parecer obtido pela reportagem foi enviado ao ministro Marco Aurélio Mello em 8 de setembro e apresenta um modelo de termo de colaboração adotado pela PF. A manifestação foi anexada ao processo que tramita no Supremo que vai decidir se é constitucional a PF fechar delações premiadas ou não.

Na manifestação, Daiello afirmou a Marco Aurélio que "a Polícia Federal apenas usa a colaboração do investigado para fomentar a obtenção de provas, no interesse da investigação em curso ou a se iniciar". "Nos acordos firmados pela Polícia Federal, não há intromissão na esfera de atribuições ou competências de qualquer instituição", afirmou o diretor-geral.

Silva e Denise são responsáveis pelo posicionamento técnico do parecer e detalham no documento procedimentos da PF ao fechar acordos de colaboração. O texto cita negociação prévia, condições propostas, possibilidade de recurso, formalização, benefícios ofertados, concessão e resultados da delação.

Discrepância

Para os delegados, o entendimento sobre colaboração premiada entre a Polícia Federal e o Ministério Público são distintos. O texto da PF aponta "discrepância" entre o que cada um compreende sobre delações.

Segundo o relatório da PF, o MP incorpora no sistema de Justiça brasileiro modelos de outros países para fechar acordos. "O Ministério Público atua importando modelos que (ainda) não estariam amparados em nosso ordenamento jurídico (como por exemplo: o americano, de plena negociação do órgão acusador com o investigado e sua defesa; ou o italiano, em que o MP é uma magistratura), estabelecendo antecipadamente as penas, condições de cumprimento, multas, em contrapartida à delação de fatos, pessoas e circunstâncias", diz o texto.

Ao adotar esses modelos, de acordo com o parecer dos delegados, "uma única instituição (o Ministério Público) deteria todos os papéis do sistema de persecução criminal, atuando como investigador (obtenção de material destinado a provar determinado fato), como acusador (titular da ação penal) e julgador (estabelecendo penas e multas vinculantes do juízo), desequilibrando a balança da paridade de armas".

Ação

Uma ação que tramita no STF questiona dispositivos da Lei das Organizações Criminosas, de 2013, que atribuem a delegados de polícia competência para propor acordos de colaboração premiada.

A Procuradoria-Geral da República (PGR) sustenta que, como cabe à própria instituição fazer a denúncia, só ela poderia efetuar a colaboração.

Em abril do ano passado, o então procurador-geral da República, Rodrigo Janot, apresentou à Corte máxima uma Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI 5508) questionando a Lei das Organizações Criminosas - que autoriza delegados de polícia a negociar acordos de colaboração. O procurador-geral sustentou ao Supremo que a legitimidade é privativa do Ministério Público. O caso está à espera de análise dos ministros no plenário do STF.

Enquanto o Supremo não julga a ADI, a Polícia Federal tem feito acordos de delação, sem a participação do Ministério Público Federal.

Neste ano, fechou colaboração com o operador do mensalão Marcos Valério e com o marqueteiro Duda Mendonça. O acordo de Duda está no gabinete do ministro do STF Edson Fachin, relator da Operação Lava Jato na Corte, que só deve deliberar o caso após o plenário decidir sobre o assunto.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

As negociações para delação premiada voltaram a andar na Procuradoria-Geral da República (PGR). Ao menos 14 tratativas dentro da Operação Lava Jato foram passadas pela gestão do ex-procurador-geral Rodrigo Janot à equipe da procuradora-geral Raquel Dodge. Nas duas primeiras semanas de trabalho, o grupo ligado a Raquel se inteirou dos procedimentos para dar início às conversas, agora conduzidas pelos procuradores designados pela nova chefe do Ministério Público Federal.

O grupo de Raquel já conseguiu analisar 10 dos 14 pedidos e, destes, estabeleceu conversas com as equipes jurídicas em 4 casos - retomando, portanto, as negociações.

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Segundo interlocutores do grupo de Raquel, as conversas com advogados não ficaram paralisadas nas últimas duas semanas. Mas, como o grupo precisava estudar as investigações da Lava Jato, o ritmo das negociações era outro.

A expectativa de advogados é que a partir desta semana as negociações voltem a ganhar fôlego. Um dos casos considerado mais avançado na Procuradoria é o do ex-ministro Antonio Palocci. A negociação do ex-ministro é feita tanto em Brasília, na PGR, como em Curitiba, com a força-tarefa.

O corretor Lúcio Bolonha Funaro afirmou, em depoimento à Procuradoria-Geral da República (PGR), que o presidente Michel Temer foi um dos destinatários de propina paga pela Odebrecht e Andrade Gutierrez em uma obra da estatal Furnas no Rio Madeira, em Porto Velho, Rondônia. As duas empreiteiras são sócias de Furnas na Santo Antônio Energia, responsável pela implantação e operação da Hidrelétrica Santo Antônio, obra do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).

Além de Temer, teriam recebido propina os ex-deputados Eduardo Cunha e Henrique Eduardo Alves, os dois presos atualmente por conta de desdobramentos da operação Lava Jato. Funaro não cita os valores da propina.

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De acordo com o delator, Cunha lhe contou que a propina foi acertada pelos executivos Benedicto Júnior, da Odebrecht, e Otávio Azevedo, da Andrade. "Os valores foram recebidos por Eduardo Cunha e, posteriormente, foi repartido entre com Henrique Eduardo Alves, Arlindo Chinaglia e para Michel Temer", diz Funaro em depoimento prestado em 24 de agosto de 2017 e anexado à denúncia oferecida por Rodrigo Janot contra Temer por organização criminosa e obstrução de Justiça.

Ainda segundo o delator, "provavelmente os pagamentos foram feitos parte em espécie e parte em doação de campanha, como era feito de costume na maioria dos casos."

"Cunha costumava ir na casa de Octávio Azevedo, localizada perto do aeroporto, quando ia a São Paulo. Que não sabe precisar, nesse caso, o valor total pago e os percentuais da divisão. Que Arlindo Chinaglia recebeu parte da propina porque era presidente da Câmara e ajudou a convencer o governo a entregar a presidência de Furnas para Eduardo Cunha", explica Funaro em seu relato.

Em suas delações, os executivos Henrique Valladares, Augusto Roque Dias Fernandes Filho, José de Carvalho Filho e Benedicto Barbosa da Silva Júnior, o "BJ", todos da Odebrecht, disseram aos investigadores que um grupo de quatro parlamentares recebeu cerca de R$ 50 milhões em propina para ajudar a empreiteira baiana e a Andrade Gutierrez na licitação de Santo Antônio.

Entre os citados pelos delatores, estão dois elencados por Funaro em seu depoimento: o ex-deputado Eduardo Cunha e o deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP). O petista teria recebido R$ 10 milhões e Cunha teria embolsado outros R$ 20 milhões. Os delatores citam ainda o senador Romero Jucá, R$ 10 milhões, e o ex-assessor de Michel Temer, Sandro Mabel (PMDB-GO), que teria amealhado R$ 10 milhões. Todos os repasses, segundo os delatores, teriam sido divididos entre os centros de custo da Odebrecht e da Andrade Gutierrez.

Defesa

A reportagem questionou o Palácio do Planalto que afirmou que a posição do presidente Temer é a mesma contida em nota divulgada na quarta-feira, 13. Na nota, a Presidência da República afirma que as declarações do corretor Lúcio Funaro não são dignas de crédito. "Versões de delator já apontado pelo Ministério Público Federal (MPF) como homem que traiu a confiança da Justiça não merecem nenhuma credibilidade. O criminoso Lúcio Funaro faz afirmações por 'ouvir dizer' ou inventa narrativas para escapar de condenação certa e segura", diz o comunicado.

O deputado Arlindo Chinaglia foi procurado, mas ainda não respondeu à reportagem. O advogado Délio Lins e Silva Júnior, responsável pela defesa de Cunha, também não retornou aos contatos. A Odebrecht e a Andrade Gutierrez foram procuradas, mas ainda não se posicionaram. O advogado Marcelo Leal, defensor de Henrique Alves, não retornou aos contatos.

A Polícia Federal identificou, entre planilhas do corretor Lúcio Funaro, notas fiscais relativas a pagamentos de supostas propinas que o delator teria operado em nome do dono da Gol, Henrique Constantino. O empresário, que tenta acordo de colaboração, é citado em diversos trechos dos anexos de Funaro como pagador de vantagens indevidas a peemedebistas em troca de edições de Medidas Provisórias. Entre os itens identificados nos documentos do doleiro pela PF e confirmados por ele, está a compra de um Porsche Cayenne, pelo executivo da empresa aérea, para o ex-deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ).

Acionista da Gol Linhas Aéreas, Constantino afirmou à Lava Jato ter feito pagamentos para Cunha (PMDB-RJ) e ao corretor Lúcio Funaro, em troca de apoio na liberação de valores do fundo de investimento do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS).

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Ele tenta acordo de colaboração com os investigadores de Curitiba e Brasília desde que passou a ser citado nas Operações Sépsis e Cui Bono?, que investigam desvios na Caixa Econômica Federal. A Gol já assinou acordo de leniência que prevê multa de R$ 12 milhões.

No âmbito do relatório que concluiu pela existência de um "Quadrilhão do PMDB" na Câmara dos Deputados e embasou a última flechada do ex-procurador-geral da República Rodrigo Janot contra o presidente Michel Temer, a Polícia Federal destaco uma suposta atuação pelos peemedebistas em benefício do "Grupo Constantino" no âmbito de edições de medidas provisórias e da liberação de empréstimos pela Caixa Econômica Federal.

"Desse modo, fica demonstrada que a empresa BRVIAS, pertencente ao Grupo Constantino, também alvo da 'Operação Sépsis', a qual foi comentada no tópico anterior, beneficiava-se da sistemática ilícita para obtenção de recursos junto à Caixa Econômica Federal, contando com a participação ativa de Geddel Quadros Vieira Lima, quando este era Vice-Presidente de Pessoa Juridica da CEF, bem como do ex-Deputado Federa Eduardo Cunha", afirma a PF

Já no âmbito de influência no Legislativo, a Polícia Federal identificou, por meio de quebra de sigilo telefônico, análise de planilhas apreendidas e na delação premiada do doleiro Lúcio Funaro, a suposta compra de Medidas Provisórias em benefício das empresas de Constantino. Uma delas é a MP 563/2012, posteriormente convertida em lei, que desonerou a folha do setor de transporte rodoviário municipal e intermunicipal. A outra é a MP n° 652/2014, que flexibilizaria a participação de capital estrangeiro nas companhias aéreas brasileiras.

O suposto lobby na Câmara Federal em prol de leis que beneficiavam a Gol e outras empresas de Henrique Constantino teria sido feito com ajuda de Eduardo Cunha (PMDB-RJ), segundo entende a Polícia Federal. Em delação premiada, Lúcio Funaro auxiliou a corporação a decifrar pagamentos e mensagens relativas à compra de Medidas Provisórias.

Em um diálogo entre Constantino e Cunha, em 2013, o empresário lamenta: "Infelizmente os 'vermelhos e os azuis' não vão ajudar", "Que era realmente importante e que ele só poderia 'apresentar a sua parte'", diz a fala.

Segundo a Polícia Federal, "planilhas controlavam o movimento financeiro diário de Lúcio Bolonha Funaro, verifica-se que as propinas foram pagas por Henrique Constantino" por meio de cinco formas de repasses. Em depoimento, o dono da Gol chegou a admitir que fez pagamentos à campanha de Gabriel Chalita, ex-secretário de Educação dos governos Alckmin e Haddad.

A versão foi corroborada pela delação de Lúcio Funaro, que ainda cita uma suposta interferência do presidente Michel Temer em torno do pedido a Constantino para que doasse ao então candidato à Prefeitura de São Paulo, em 2012.

"Lúcio Funaro controlava o recebimento de recursos financeiros advindos de Henrique Constantino por meio de uma planilha específica denominada Henr Const.xls. Essas transações foram detalhadas no âmbito do Relatório de Análise de Polícia Judiciária Nº 110/2017 - GINQ/DICOR/PF, de modo que deixaremos de reapresentá-las aqui neste", anota a PF.

Delação

Funaro ainda afirmou, em delação, que, pouco antes de ser preso, se reuniu com Henrique Constantino em São Paulo, aonde tratou sobre um suposto crédito de R$ 100 mil com o empresário. O doleiro diz que "esse valor era referente a um saldo era referente a uma nota fiscal emitida por uma empresa do deputado Eduardo Cunha contra uma empresa do Grupo Constantino".

Segundo Funaro, "o objetivo dessa operação era possibilitar que a empresa do Deputado Eduardo Cunha tivesse caixa oficial para pagar um veículo Porshe Cayene adquirido da empresa Auto Miami".

Jesus.com.

Quando Eduardo Cunha foi preso, em outubro de 2016, a força-tarefa da Operação Lava Jato em Curitiba apontou que empresas ligadas ao empresário Henrique Constantino teriam pago propinas ao deputado cassado por meio de transferências à Jesus.com - de Cunha e Cláudia Cruz, sua mulher. Os pagamentos também são citados no acordo de leniência da Gol.

Em 2015, quando Cunha era apenas alvo de um pedido de inquérito pela Procuradoria-Geral da República, foi identificada uma frota de carros de luxo em nome da Jesus.com: um Porsche Cayenne (R$ 429.478 mil) um Ford Edge V6 (R$ 120.165 mil) e um Ford Fusion NA WD GTDI (R$ 92.693).

Defesas

"A Gol informa que conduziu uma investigação interna conduzida por auditores externos independentes e não localizou quaisquer atos ou atividades relacionados à negociação citadas pela reportagem. A companhia segue à disposição das autoridades para prestar informações".

A defesa de Constantino também se manifestou: "Referente à compra do veículo para Eduardo Cunha, Henrique Constantino afirma que desconhece essa informação".

A reportagem fez contato com a assessoria de Gabriel Chalita e não obteve resposta. Da mesma forma procurou o advogado Délio Lins e Silva, defensor de Eduardo Cunha. O espaço está aberto para as manifestações dos citados.

Por unanimidade, os ministros da Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) rejeitaram agravo regimental da defesa do ex-senador Gim Argello (PTB/DF) contra decisão do ministro Edson Fachin, na Petição (PET) 6643, que determinou o envio de cópia dos depoimentos dos delatores da Odebrecht Cláudio Melo Filho e Marcelo Odebrecht ao juiz Sérgio Moro, no Paraná.

As informações foram divulgadas no site do Supremo. A decisão da Segunda Turma foi aplicada na sessão de terça-feira, 19.

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Argello já carrega uma condenação imposta por Moro - 19 anos de prisão por corrupção passiva, lavagem de dinheiro e obstrução à investigação de organização criminosa.

O ex-senador foi preso em abril de 2016 na Operação Vitória de Pirro, desdobramento da Lava Jato. Segundo a investigação, em 2014, Argello integrava duas CPIs da Petrobras e teria cobrado R$ 5 milhões de cada empreiteira do cartel da estatal para barrar a convocação de seus executivos.

Segundo os delatores da Odebrecht, o ex-senador teria recebido R$ 2,8 milhões do Grupo em 2010 e em 2014, em troca de defender "os interesses da empresa".

Em abril, Fachin acolheu pedido da Procuradoria-Geral da República para que as investigações fossem conduzidas em Curitiba, base de Moro, "tendo em vista a relação dos fatos com a Operação Lava Jato, em trâmite na 13.ª Vara Federal e a ausência de autoridade detentora de foro por prerrogativa de função no STF".

No agravo contra a decisão monocrática, a defesa de Argello argumentava que o caso que o envolve "não se encaixa minimamente no esquema" da Lava Jato, pois não há acusação de que o então senador teria atuado para nomear ou manter qualquer um dos dirigentes da Petrobras, ou tivesse intercedido perante estes em favor de alguma empresa.

Segundo a defesa do ex-senador, "como os fatos aconteceram em Brasília, a competência deveria ser declinada para a Seção Judiciária do Distrito Federal".

Ao levar o caso à Segunda Turma, o ministro Fachin reiterou os fundamentos de sua decisão que acolheu o pedido da PGR. O ministro destacou que, na peça inicial da PET 6643, a Procuradoria assinalou que Argello é réu em ação penal que tramita em Curitiba no âmbito da Lava Jato, na qual já houve sentença condenatória e se encontra em fase de apelação.

Logo, assinala Fachin, o direcionamento de cópias das delações de Cláudio Mello Filho e Marcelo Odebrecht a Moro "se deve em razão da prevenção".

Na mesma sessão, os ministros da Segunda Turma rejeitaram, também por unanimidade, embargos declaratórios opostos pela defesa do ex-senador contra decisão semelhante do ministro Fachin na PET 6840, relativa às delações de outros executivos ligados à Odebrecht, Márcio Faria da Silva e Rogério Santos de Araújo.

A rescisão do acordo firmado com executivos do Grupo J&F abriu brecha para que parlamentares voltem a discutir regras mais rígidas para que Ministério Público Federal e Polícia Federal negociem delações premiadas. A intenção é usar a recém-criada CPMI da JBS para debater medidas que, na prática, dificultem e possam até inviabilizar novas colaborações.

Entre as regras previstas estão itens como estabelecer na lei benefícios predefinidos a delatores de acordo com o grau de colaboração, limitando a vantagem à metade da pena máxima prevista para o crime admitido. Assim, um delator que confessar ter corrompido um político, por exemplo, teria de cumprir no mínimo seis anos de prisão, uma vez que a pena máxima para este crime é de 12 anos.

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Casos como o dos irmãos Joesley e Wesley Batista, da JBS, que negociaram imunidade penal em troca de provas que incriminassem o presidente Michel Temer, seriam proibidos.

Outra proposta em discussão é a de fixar um prazo para que candidatos a delatores que estejam presos provisoriamente negociem um acordo de colaboração. "Se passar um determinado tempo que o cidadão está encarcerado, não é possível mais delatar", afirmou Carlos Marun (PMDB-MS), relator da CPMI e um dos entusiastas da revisão da lei que trata das colaborações premiadas.

A escolha de Marun para relatar a CPMI provocou rebelião no colegiado na semana passada. Ao menos quatro parlamentares deixaram a comissão após ele assumir a função. E o receio é, justamente, que o governo use a comissão para outros fins, que não seja o de investigar irregularidades envolvendo a empresa de processamento de carnes.

Delações

O uso das delações premiadas como forma de obtenção de provas em investigações está prevista na Lei das Organizações Criminosas, sancionada pela presidente cassada Dilma Rousseff em 2013. Alguns pontos, porém, ainda estão em discussão no Supremo Tribunal Federal (STF), como a permissão para que a PF assine acordos por conta própria.

O maior envolvimento da PF nas negociações é justamente um dos pontos que devem ser debatidos na CPMI. Subrelator da comissão, o deputado Delegado Francischini (SD-PR) defende o aval da instituição antes de qualquer acordo ser assinado. "Seria uma espécie de fase prévia do acordo, que teria de passar por averiguação da PF", disse Francischini, que é delegado da PF.

Antes mesmo da CPMI, as mudanças nas regras das delações já eram discutidas na comissão especial da Câmara que trata da reformulação do Código de Processo Penal, mas o relator, deputado João Campos (PRB-GO), resiste em incluir o tema em seu relatório.

Para o presidente da comissão especial, deputado Danilo Forte (PSB-PE), no entanto, esse entendimento ganhou força após os problemas apresentados no acordo da J&F. "Hoje há um poder excessivo concentrado na mão dos procuradores", afirmou Forte.

O presidente da CPMI, senador Ataídes Oliveira (PSDB-TO), disse que os depoimentos de envolvidos na delação da J&F podem contribuir para o debate. Questionado se apoia uma revisão da lei, disse que sim, embora a legislação atual o agrade. "Se for para melhorar a lei a bem do nosso País, sim (apoia a revisão), mas, no momento, a lei da delação muitíssimo me agrada."

A previsão tanto na comissão parlamentar de inquérito quanto na comissão especial é ter uma proposta concreta até o fim do ano.

Lava Jato

O procurador regional da República Carlos Fernando dos Santos Lima, integrante da força-tarefa da Lava Jato em Curitiba, criticou as propostas em discussão no Congresso e apontou mudanças que podem inviabilizar delações. "Temos que lembrar que um colaborador pode estar sendo investigado ou acusado por um ou outro crime, mas terá de trazer prova de muitos outros, até então desconhecidos das autoridades. Qual será o incentivo para esse comportamento se, ao final, receberá pena por esses outros crimes?", questionou Lima, em referência à proposta de limitar benefícios.

Para o procurador, a rescisão do acordo de executivos da J&F, em vez de enfraquecer, fortalece o instituto da delação. "O que aconteceu com a JBS prova muito mais a força do instituto do que sua fraqueza, pois Joesley está na cadeia e as provas estão aí, válidas. E é bom que se rescindam alguns acordos, pois isso trará para os colaboradores a certeza de que não se está brincando com o instituto."

O corretor Lúcio Bolonha Funaro afirmou em seu acordou de colaboração premiada que o presidente Michel Temer tem negócios com a empresas Rodrimar e por isso influenciou diretamente a aprovação da MP 595/13, conhecida como Medida Provisória dos Portos, para defender interesses de grupos ligados a ele. A MP foi aprovada em maio de 2013.

Na segunda-feira, 12, o ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal (STF), autorizou abertura de inquérito para investigar a relação de Temer com a Rodrimar, que atua no Porto de Santos (SP). "Os elementos colhidos revelam que Rodrigo Rocha Loures, homem sabidamente da confiança do Presidente da República, menciona pessoas que poderiam ser intermediárias de repasses ilícitos para o próprio Presidente da República, em troca da edição de ato normativo de específico interesse de determinada empresa, no caso, a Rodrimar S/A", assinalou Barroso ao abrir a investigação contra Temer.

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Em sua colaboração, Funaro, que é apontado como principal arrecadador de propina do grupo político de Temer, o PMDB da Câmara, não citou valores. Mas segundo o corretor, após a aprovação da MP, ele acredita que tenham recebido comissão o presidente Temer, Eduardo Cunha e Henrique Eduardo Alves. Funaro também não soube informar como foi operacionalizado os pagamentos, mas que Cunha teria contado sobre a atuação no caso dos Portos.

"Após a provação da MP acredita que tenham recebido uma comissão pela aprovação da mesma as seguintes pessoas dentre outras: Temer, Cunha, Henrique Alves (que era presidente da câmara a época), o Ministro dos Transportes, tendo conhecimento de repasses por Gonçalo Torrealba proprietário do Grupo Libra", diz o anexo sobre o tema.

O jornal O Estado de S. Paulo revelou em 2016 que graças a uma emenda parlamentar incluída por Cunha na nova Lei de Portos, o Grupo Libra foi o único beneficiário de uma regra que permitiu a empresas em dívida com a União renovar contratos de concessão de terminais portuários. Na campanha de 2014, o Grupo Libra doou R$ 1 milhão para Temer, então candidato à vice-presidência.

"Essa referida Medida Provisória foi feita para beneficiar os grupos já instalados nos Portos, tendo Eduardo Cunha como o articulador e o responsável pela arrecadação frente a algumas empresas tinham interesse na redação dessa MP", explica Funaro em um dos anexos aos quais o jornal teve acesso.

Defesas

Em nota divulgada nesta quarta-feira, 13, a Secretaria de Comunicação da Presidência da República afirmou que as declarações do corretor Lúcio Funaro não são dignas de crédito. "Versões de delator já apontado pelo Ministério Público Federal (MPF) como homem que traiu a confiança da Justiça não merecem nenhuma credibilidade. O criminoso Lúcio Funaro faz afirmações por 'ouvir dizer' ou inventa narrativas para escapar de condenação certa e segura", diz o comunicado.

A Presidência também contestou a afirmação de que Temer, quando vice-presidente, tramava diariamente com o ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ) a deposição de Dilma Rousseff. "No caso do impeachment, o delator se arvora estar bem melhor informado do que os jornalistas de vários veículos de comunicação de Brasília, que acompanharam de perto todo o caso e noticiaram acordo fechado por Eduardo Cunha com o governo da ex-presidente Dilma Rousseff, pelo qual ele teria apoio do PT na Comissão de Ética da Câmara dos Deputados. Esses veículos publicaram que, como o PT não cumpriu seu acordo, Cunha deu seguimento ao pedido de impeachment", argumentou o Planalto.

O advogado Délio Lins e Silva Júnior, que defende Eduardo Cunha, afirmou que não vai se manifestar até a delação de Funaro ter seu sigilo baixado.

A assessoria de imprensa da Rodrimar divulgou nota sobre o assunto. "A Rodrimar recebeu serenamente a notícia de autorização do Supremo Tribunal Federal para a abertura de um inquérito determinado a apurar se o setor portuário foi beneficiado pelo recente 'decreto dos portos'. Em seus 74 anos de história, a Rodrimar nunca recebeu qualquer privilégio do Poder Público", diz o texto.

"Prova disso é que todos os seus contratos estão atualmente sendo discutidos judicialmente. O 'decreto dos portos' atendeu, sim, a uma reivindicação de todo o setor de terminais portuários do país. Ressalte-se que não foi uma reivindicação da Rodrimar, mas de todo o setor. Os pleitos, no entanto, não foram totalmente contemplados no decreto, que abriu a possibilidade de regularizar a situação de cerca de uma centena de concessões em todo o país. A Rodrimar, assim como seus executivos, estão, como sempre estiveram, à disposição das autoridades para qualquer esclarecimento que se fizer necessário".

A reportagem entrou em contato pelo telefone apontado na página do Grupo Libra como sendo o canal de comunicação com a empresa e encaminhou e-mail para o endereço disponível na site da companhia, mas não obteve resposta. O espaço permanece aberto para manifestação.

Em delação que embasou parte do relatório da Polícia Federal sobre o "quadrilhão do PMDB da Câmara", o corretor Lúcio Funaro afirmou que esteve com o presidente Michel Temer em três ocasiões. Ele citou um encontro na base aérea de São Paulo, outro durante comício em Uberaba (MG) nas eleições municipais de 2012 e uma terceira numa reunião de apoio à candidatura de Gabriel Chalita à Prefeitura de São Paulo, também em 2012. Na época, Temer era vice-presidente.

A delação de Funaro já foi homologada pelo ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal, mas permanece em sigilo. O corretor, que está preso desde julho de 2016, disse que trabalhou na arrecadação de dinheiro para as campanhas do PMDB em 2010, 2012 e 2014 e estima ter conseguido R$ 100 milhões para o partido e outras siglas coligadas nesse período.

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Até hoje, Temer só havia admitido um encontro com o corretor, na base aérea. Segundo Funaro, em dois dos encontros estava acompanhado do deputado cassado Eduardo Cunha (PMDB), preso em Curitiba.

MP dos Portos

A relação entre Temer e Cunha foi outro tema abordado na delação. Conforme o corretor, ambos atuaram durante a tramitação da Medida Provisória dos Portos para defender interesses de grupos privados aliados. O delator afirmou que Temer articulou a indicação do ex-ministro da Agricultura Wagner Rossi para a presidência do Porto de Santos (SP).

De acordo com a colaboração de Funaro, Temer também tinha conhecimento do pagamento de propina pela Odebrecht por contrato da Diretoria Internacional da Petrobras. O corretor disse que quem lhe passou a informação foi Cunha.

Em nota, o presidente afirmou que "não tem relação pessoal com Lúcio Funaro" e, "se esteve com ele, foi de maneira ocasional e, se o cumprimentou, foi como cumprimenta milhares de pessoas". A Odebrecht diz colaborar com as investigações. Os outros citados por Funaro não foram localizados pela reportagem. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

A segunda denúncia criminal contra o presidente Michel Temer deve ser oferecida pela Procuradoria-Geral da República na semana que vem, a última de Rodrigo Janot à frente do Ministério Público Federal. O procurador-geral disse aos seus interlocutores que a acusação - que desta vez terá como base pelo menos sete delações premiadas - só sairá de seu gabinete quando e se estiver madura.

Se confirmadas as previsões, a denúncia virá, portanto, depois do desfecho do caso Joesley Batista. Janot quer resolver o quanto antes a situação do acordo de delação premiada do Grupo J&F, atualmente em processo de revisão.

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A nova acusação que envolve o presidente da República é diferente da primeira - em que o foco era apenas sua atuação. Agora, a denúncia será mais ampla, pois ela trata da formação de uma organização criminosa, o que implica a atuação de um grupo. O procurador-geral da República prepara uma acusação que se fundamenta em delações anteriores à do Grupo J&F e também a um acordo posterior, o do corretor Lúcio Funaro, apontado pelas investigações como "operador de propinas" do deputado cassado Eduardo Cunha (PMDB-RJ).

O procurador sustentará que há uma organização criminosa formada pelo grupo ligado a Temer com base em depoimentos que foram prestados desde as primeiras delações - do ex-diretor de Abastecimento da Petrobrás Paulo Roberto Costa e do doleiro Alberto Youssef. Também devem ser usados elementos do acordo da Odebrecht, do operador Fernando Soares, conhecido como Fernando Baiano, e do ex-diretor da Transpetro Sérgio Machado.

Dentro da Procuradoria-Geral da República, a avaliação é de que ainda que se levante qualquer questionamento sobre o acordo de delação premiada do Grupo J&F, a nova denúncia contra Temer se sustentará, pois ela "é robusta e se fundamenta em outros pilares", além da gravação do presidente feita pelo empresário Joesley Batista no Palácio do Jaburu.

A defesa de Temer tem usado o argumento das "fragilidades" no acordo, incluindo a concessão do perdão judicial aos colaboradores, para atacar Janot e as investigações do procurador sobre o peemedebista.

Reta final. As investigações por organização criminosa, que tiveram início em 2015, na primeira leva de inquéritos da Lava Jato encaminhada ao Supremo Tribunal Federal, têm sido transformadas em denúncias na reta final de Janot. O procurador-geral da República quer concluir as acusações contra parlamentares dos três principais partidos que teriam atuado na Petrobrás - PP, PT e PMDB - antes de deixar o cargo.

Janot já encaminhou as denúncias com relação ao PP e ao PT e, agora, sua equipe conclui as peças sobre o PMDB do Senado e da Câmara. O procurador-geral chegou a pedir ao ministro Edson Fachin, relator da Lava Jato no Supremo, a inclusão do presidente Michel Temer na investigação relacionada ao chamado "quadrilhão" do PMDB da Câmara. Fachin não incluiu o nome do presidente, mas disse que o procurador poderia seguir nas investigações relacionadas à JBS.

Apesar de o pedido não ter sido atendido, a PGR apura a suposta atuação do presidente no que considera uma organização criminosa formada por políticos e operadores para praticar crimes de corrupção e lavagem de dinheiro. O presidente tem negado as acusações.

O ex-ministro Guido Mantega (Fazenda/Governos Lula e Dilma) propôs um acordo ao Ministério Público Federal (MPF) no Distrito Federal para colaborar com as investigações da Operação Bullish, segundo apurou a reportagem. Não se trata de um acordo de delação premiada, mas sim de um termo de compromisso. A defesa do ex-ministro propôs que ele esclareça alguns fatos investigados e colabore com as investigações. Em troca, Mantega não será alvo de um pedido de prisão preventiva.

As informações foram reveladas pelo Buzzfeed Brasil.

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Deflagrada em maio, a Bullish investiga aportes bilionários do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) nas empresas do Grupo J&F, de Joesley Batista. O executivo falou sobre a intermediação de Mantega durante delação premiada firmada com a Procuradoria-Geral da República.

Mantega já havia indicado outras vezes que não faria um acordo de delação, o que implicaria confessar crimes e indicar pessoas que participaram de atos ilícitos. Ele mantém essa perspectiva até o momento.

O termo de ciência e compromisso firmado com o MPF indica que o ex-ministro irá ajudar nas investigações e confessar erros. A estratégia já foi usada com investigados da Operação Greenfield, que tramita no mesmo juízo, para evitar medidas cautelares como o bloqueio de bens.

O acordo, acertado com o procurador Ivan Marx, precisa ser homologado na 10.ª Vara Federal em Brasília.

O Ministério Público Eleitoral (MPE) quer que as provas colhidas na ação de cassação da chapa Dilma Rousseff-Michel Temer sejam incluídas em dois processos contra o PT e o PP que tramitam no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Os partidos temem a incorporação de novos elementos de prova - entre eles depoimentos de delatores da Odebrecht - aos processos, que podem levar à suspensão de recursos do Fundo Partidário e até mesmo à extinção das siglas.

PT e PP são alvos de investigação no TSE a partir de suspeitas de que foram financiados por recursos provenientes da Petrobrás, com pagamento de propina travestido de doação, conforme acusações do ex-diretor de abastecimento da estatal Paulo Roberto Costa e do doleiro Alberto Youssef. Além das duas legendas, o PMDB também é alvo.

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Os processos não são sigilosos, mas as peças que os compõem são de acesso restrito no TSE. Relatora dos casos do PT e do PP, a ministra Rosa Weber atendeu ao pedido do Estado para ter acesso aos autos. O ministro Luiz Fux, relator do processo contra PMDB, não havia se pronunciado sobre a solicitação da reportagem até a conclusão desta matéria.

Enquanto o PT e PP pediram o arquivamento sumário dos processos, o vice-procurador-geral eleitoral, Nicolao Dino, se manifestou pelo prosseguimento da apuração nos dois casos.

'Revanchismo'

Dino também pediu que fossem acionados o juiz federal Sérgio Moro, o coordenador da força-tarefa da Lava Jato em Curitiba, Deltan Dallagnol, e o ministro Herman Benjamin, relator da ação contra a chapa Dilma-Temer no TSE, para que compartilhassem provas - inclusive sigilosas. Segundo Dino, Moro pode ter "novos elementos de prova" que interessem às investigações.

A reportagem apurou que os pedidos de Dino foram vistos pelos partidos como um ato de "revanchismo" do MPE, que havia pedido a cassação da chapa Dilma-Temer, mas acabou derrotado no julgamento concluído em junho do ano passado. Além de rejeitar a cassação da chapa, a maioria do TSE também foi a favor de descartar os depoimentos de delatores da Odebrecht no julgamento final.

Suspensão

Conforme destacou Dino, uma possível sanção para os partidos investigados é a suspensão da participação no fundo partidário pelo prazo de um ano. Isso poderia agravar ainda mais o quadro financeiro das agremiações - só em 2016, o PT recebeu R$ 98 milhões via fundo partidário, e o PP, R$ 47,3 milhões, segundo dados do TSE. Esse dinheiro é utilizado para arcar despesas com o funcionamento regular dos partidos, como pagamento de empregados, aluguel de imóveis e viagens de dirigentes.

Ao pedir o arquivamento do processo, o PT alega que a prestação de contas da campanha presidencial da chapa Dilma-Temer de 2014 foi aprovada com ressalvas pelo TSE em dezembro de 2014. Também argumenta que as prestações do partido referentes a 2012, 2013 e 2014 ainda estão tramitando na Corte Eleitoral, devendo as doações sob suspeita serem analisadas nessas prestações.

Em uma manifestação de 71 páginas encaminhada ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o PT defendeu a existência de partidos políticos para a consolidação da democracia e questionou a "sanha investigatória" contra a sigla. O partido alega ainda que cumpriu, na íntegra, a legislação eleitoral, tendo apresentado, na forma e no tempo exigido toda a documentação referente ao financiamento da campanha eleitoral de 2014.

O PP, por sua vez, alega falta de delimitação do objeto no processo, o que inviabilizaria o exercício da ampla defesa e do contraditório. O vice-procurador-geral eleitoral, no entanto, discordou da argumentação dos partidos. Procurada, a assessoria do PMDB não respondeu à reportagem. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Por 3 a 1, a Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu nesta terça-feira, 15, retirar do juiz federal Sérgio Moro acesso às menções feitas por delatores da JBS ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e ao ex-ministro da Fazenda Guido Mantega. Em uma nova derrota para o relator do caso JBS, ministro Edson Fachin, o colegiado decidiu que a cópia dos termos de colaboração da JBS com citações a Lula e Mantega deverão ficar apenas com a Justiça Federal do Distrito Federal.

"O que houve aqui foi remessa dos termos de colaboração sem que tenha havido desmembramento (das investigações). Entendo que nessa hipótese, não há exatamente desmembramento nem definição de competência", disse Fachin na sessão desta terça-feira.

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Fachin havia determinado o envio das cópias dos termos de colaboração para o Paraná e para o Distrito Federal, mas as defesas de Lula e Mantega entraram com recursos para reverter a decisão e deixar as menções apenas no DF.

Contas

O termo de colaboração 1 do empresário Joesley Batista, do Grupo JBS, descreve o fluxo de duas supostas "contas-correntes" de propina no exterior, cujos beneficiários seriam os ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff.

O empresário informou à Procuradoria-Geral da República que o saldo das duas contas bateu em US$ 150 milhões em 2014. Ele disse que o ex-ministro Guido Mantega (Fazenda/Governos Lula e Dilma) operava as contas.

"Me parece que tem razão o agravante (Guido Mantega), porque se os fatos não guardam relação com a questão da Lava Jato, o tema não deveria ter sido encaminhado a Curitiba, mas sim às varas competentes do Distrito Federal", disse o ministro Gilmar Mendes, que chegou à sessão da Segunda Turma perto do final, depois de cumprir agenda no México.

O voto de Gilmar foi acompanhado pelos ministros Ricardo Lewandowski e Celso de Mello. Dias Toffoli não compareceu à sessão.

"Peço vênia para reformular o meu voto, convencido de que estou agora de que a melhor solução nesse momento é definirmos um dos juízos e nesse caso me parece que em razão do que dispõe o Código de Processo Penal em relação à competência territorial, onde supostamente os alegados delitos foram cometidos, me parece que o foro adequado neste momento seria a Seção Judiciária do Distrito Federal", comentou Lewandowski, que havia votado inicialmente com Fachin, mas acabou mudando o voto.

Defesas

Procurado pela reportagem, o advogado Fábio Tofic, defensor de Mantega, comemorou a decisão da Segunda Turma.

"É mais uma decisão importante no sentido de decidir que o Paraná não é o foro universal para julgar essas delações e que, nesse momento, o critério de competência que deve ser observado é o territorial", afirmou o advogado, destacando que os supostos fatos narrados pelos delatores teriam ocorrido no Distrito Federal, sede do governo federal.

Nem a assessoria nem a defesa de Lula haviam respondido à reportagem até a publicação deste texto. Na época em que a delação da JBS veio a público, os advogados do ex-presidente alegaram que as afirmações de Joesley Batista em relação a Lula "não decorrem de qualquer contato com o ex-Presidente, mas sim de supostos diálogos com terceiros, que sequer foram comprovados".

"A verdade é que a vida de Lula e de seus familiares foi - ilegalmente - devassada pela Operação Lava Jato. Todos os sigilos - bancário, fiscal e contábil - foram levantados e nenhum valor ilícito foi encontrado, evidenciando que Lula é inocente", dizia nota, divulgada em maio.

A assessoria de Dilma, por sua vez, reiterou que a ex-presidente "jamais teve contas no exterior" e que "rejeita delações sem provas ou indícios".

O procurador Ivan Marx, do Ministério Público Federal (MPF) em Brasília, afirmou que o empresário Joesley Batista e executivos do Grupo J&F esconderam, em suas delações premiadas, crimes praticados no Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Apesar da imunidade penal obtida pelos delatores no acordo com o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, Marx disse que pretende apresentar denúncia pelos delitos e cobrar R$ 1 bilhão a mais da companhia por prejuízos ao erário.

Responsável pela Operação Bullish, que mira nos negócios do banco com o grupo, Marx afirmou que as fraudes em aportes bilionários feitos no conglomerado estão demonstradas na investigação. "Onde eu digo que eles estão mentindo é no BNDES. A Bullish apontou mais de R$ 1 bilhão de problemas em contratos. Os executivos vão lá, fazem uma delação, conseguem imunidade e agora não querem responder à investigação", disse à reportagem.

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As delações dos executivos da J&F, que controla a JBS, serviram de base da denúncia contra o presidente Michel Temer por corrupção passiva. A Câmara vetou o prosseguimento da acusação. Janot, porém, deverá oferecer uma outra denúncia contra o peemedebista, com as delações como um dos elementos, por obstrução da Justiça e organização criminosa.

Entre 2005 e 2014, o BNDES aportou R$ 10,63 bilhões na J&F para viabilizar a aquisição de outras companhias, o que a transformou em líder mundial no segmento de proteína animal. A política foi amplamente adotada nos governos Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff.

Em delação, homologada pelo Supremo Tribunal Federal (STF), executivos da J&F disseram ter pago propina ao ex-ministro da Fazenda Guido Mantega para não atrapalhar os trâmites das operações no BNDES. Mantega nega. Porém, alegaram que não houve interferência na análise técnica e na concessão dos aportes. Laudos da Bullish, deflagrada em maio, apontam, porém, fraudes em ao menos seis aportes.

Marx disse que as investigações mostram, no mínimo, a ocorrência de gestão temerária nas operações. Para ele, isso justifica processar tanto os gestores do banco quanto os executivos, na condição de coautores. "O BNDES não fez isso sozinho. Foi sempre por demanda deles (JBS)", afirmou, ressaltando que os crimes estão "muito bem detalhados" no inquérito. "A empresa errou quando se ‘esqueceu’ que o problema dela é o BNDES." A operação avalia agora se houve outros delitos, além da gestão temerária. Não há prazo para eventual denúncia.

Procurada, a JBS não se manifestou. O BNDES informou que não comentaria o caso.

Delação

Marx disse que não é sua tarefa, mas da PGR, tomar medidas para suspender ou anular colaborações. "O que me cabe é dizer que tenho prova dos crimes e processá-los."

O procurador criticou ainda a conduta adotada com delatores, de chamá-los para complementar depoimentos quando se demonstra que ocultaram informações. "Se você provar, eu faço recall", disse.

Marx avalia também ajuizar ação de improbidade administrativa para cobrar da JBS prejuízos causados pelas operações do BNDES, por ora calculados em R$ 1 bilhão. Segundo ele, esse valor não foi compensado pelo acordo de leniência de R$ 10,3 bilhões firmado pelas Operações Greenfield, Sépsis, Cui Bono?, Carne Fraca e também Bullish. O acordo foi divulgado, em nota do MPF, no dia 31 de maio.

A negociação foi conduzida pelos procuradores da Greenfield, que apura desvios em fundos de pensão. Marx disse que não participou da proposta. "Nós (da Bullish) não aderimos a esse acordo", afirmou.

Marx tem feito outras críticas aos delatores da JBS. Como mostrou nesta segunda-feira, 14, a Coluna do Estadão, ele alega que a empresa tem sonegado documentos. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

A filha do apresentador Silvio Santos, Patrícia Abravanel, e seu marido, o deputado Fabio Faria (PSD-RN), vão acionar o Supremo Tribunal Federal (STF) para tentar anular parte da delação do ex-diretor de Relações Institucionais do grupo J&F, Ricardo Saud. O casal questiona trecho do acordo do executivo em que ele cita suposta reunião na casa do empresário Joesley Batista na qual teria sido acertado o pagamento de propina ao deputado do PSD do Rio Grande do Norte. O caso foi revelado pela repórter Andreia Sadi, da GloboNews.

Na sua delação, Saud relatou aos investigadores da procuradoria-geral da República (PGR) ter pago cerca de R$ 10 milhões em propina para o deputado Fábio Faria. O pagamento teria como contrapartida a conquista, por uma empresa do Grupo J&F, do controle do serviço de água e esgoto no Rio Grande do Norte. Segundo Saud, o pagamento teria sido efetuado, mas a J&F desistiu do contrato.

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"Em face da afirmação de Ticiane, esposa de Joesley Batista, maior acionista do grupo JBS, que textualmente disse que as declarações do diretor do Grupo Ricardo Saud não são verdadeiras, vamos peticionar perante o STF, para a Ministra Rosa Weber, para que ela analise a validade da colaboração do diretor", afirmou o advogado do casal, o criminalista José Luis Oliveira Lima.

A afirmação citada pelo advogado foi por meio de uma mensagem de voz no celular enviada pela esposa de Joesley Batista, Ticiana Vilas Boas, para Patrícia Abravanel. A mensagem é de 1º de junho. No áudio, a esposa de Joesley afirma que poderia ser testemunha da esposa do deputado porque a delação é um "absurdo" e o encontro citado por Saud em sua delação "foi um jantar normal, eu não vi nada de dinheiro, de nada que beirasse ser ilícito".

"Oi, Pati, sou eu, Tici. Estou ligando para você e mandando essa mensagem para te falar do meu apoio, que eu estou do seu lado, quer dizer, não existe lado nessa história. Estou fora do país, já tem um tempo, como já tinha te falado e optei por não ver notícia, não ver televisão, estou péssima, me magoa muito. Mas me mandaram um print de notícias relacionadas a você, que parece que um executivo da JBS falou que você estava num jantar de propina, uma loucura total. E hoje recebi outro print de que você vai ter que depor", conta Ticiane.

Ainda no áudio, a esposa de Joesley, que também é apresentadora de TV, se dispõe a depor caso a filha de Silvio Santos seja chamada pela Polícia Federal. "Então, o que eu quero falar é que eu acho um absurdo isso tudo... que está acontecendo. Aquele jantar, imagina só, não tem nada a ver... do que falaram, foi um jantar normal, eu não vi nada de dinheiro, de nada que beirasse ser ilícito... Se você for chamada para depor ou tiver qualquer tipo de implicação para você, eu sou sua testemunha de defesa e vou deixar claramente que é um absurdo", diz Ticiane na mensagem a que o jornal O Estado de S. Paulo também teve acesso.

Defesas

Em nota, o grupo J&F afirmou: "Nenhum dos colaboradores mentiu em qualquer depoimento prestado à Procuradoria-Geral da República e ao Ministério Público Federal. Os colaboradores apresentaram grande número de informações e provas à PGR e em atendimento aos demais ofícios do MP, que estão sendo tratados dentro dos trâmites legais. Sobre a questão trazida pela reportagem, é importante esclarecer que o fato ocorreu na data e evento conforme relatados, em conversa reservada, sem a participação nem conhecimento das esposas. Os colaboradores continuam à disposição para cooperar com a Justiça."

Já Ticiana Villas Boas confirma a veracidade da mensagem de voz que enviou em apoio a amiga e colega de trabalho Patricia Abravanel. E diz que, como revela o áudio, nem ela nem Patrícia, durante o período em que estiveram juntas no jantar em sua casa, presenciaram qualquer conversa com conteúdo ilícito. Em vários momentos do encontro, os casais se dividiram em grupos de homens e mulheres, e Ticiana imaginou que Patrícia, assim como ela, não sabia que nas conversas entre os maridos eles trataram de propina. Por isso ela se solidarizou e se dispôs a defendê-la caso fosse necessário, com a intenção de evitar que Patrícia fosse envolvida no caso.

O advogado do casal Fabio Faria e Patrícia Abravanel, José Luis Oliveira Lima, afirmou: "Em face da afirmação de Ticiane, esposa de Joesley Batista, maior acionista do grupo JBS, que textualmente disse que as declarações do diretor do Grupo Ricardo Saud não são verdadeiras, vamos peticionar perante o STF, para a Ministra Rosa Weber, para que ela analise a validade da colaboração do diretor."

O ministro do Supremo Tribunal Federal, Luiz Fux, é o novo relator do inquérito para investigar suposto repasse da Odebrecht, no valor de R$ 800 mil, via caixa dois, em 2010, ao senador Fernando Collor (PTC-AL). As investigações foram tiradas das mãos do relator da Lava Jato na Corte, Edson Fachin, pela Ministra Cármen Lúcia por não terem relação direta com a operação, que apura desvios na Petrobras e outras estatais.

Neste caso, Collor foi delatado por executivos da Odebrecht Ambiental, que disseram pagar os valores ao senador em troca de apoio à privatização dos esgotos de Alagoas.

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'Roxinho'

O ex-presidente Fernando Collor de Mello - "roxinho" na lista da Odebrecht, em razão da célebre frase "eu tenho aquilo roxo", proferida nos anos 1990, teria sido beneficiário de caixa dois da Odebrecht Ambiental em razão do lobby pela privatização do saneamento de Alagoas, segundo o ex-presidente da empresa de saneamento do Grupo.

Os valores teriam sido operacionalizados entre os executivos e o primo do senador Euclydes Mello, de acordo com a delação da empreiteira.

A presidente do STF, Cármen Lúcia afirmou, em despacho que "inexiste conexão ou continência entre os fatos narrados no presente Inquérito e aqueles relacionados à denominada 'Operação Lava Jato'".

Esgoto da Odebrecht

Em 2009, a maior construtora do país tinha em seus planos pleitear a concessão à iniciativa privada do sistema de saneamento do Estado de Alagoas, de acordo com o ex-presidente da Odebrecht Ambiental Fernando Reis.

"O investimento era chamado Sistema Adutor do Agreste, que tinha como objeto o abastecimento de água aos municípios de Arapiraca, Coité do Nóia, Igaci e Craíbas dos Nunes e a Mineração Vale Verde. Chegamos a participar de um processo público de Proposta de Manifestação de Interesse (PMI) e apresentamos estudo de viabilidade em setembro de 2009. Em duas ou três visitas à Maceió, percebi que havia no Estado uma enorme oportunidade para investimentos privados no setor de saneamento, que tem os piores índices de cobertura do Brasil, chegando até a estudar a privatização da Companhia Estadual Casal", afirmou o Fernando Reis.

A fim de viabilizar o projeto, os representantes da empreiteira disseram se reunir com o ex-presidente no aniversário dele, em seu apartamento. No encontro, estavam os executivos Alexandre Barradas e Fernando Reis, além de Euclydes Mello e Fernando Collor.

Após ouvir a proposta de privatização da Companhia Alagoana de Saneamento, Collor disse que era favorável à iniciativa privada e chegou a afirmar que queria que a Odebrecht "fizesse obras". Na mesma reunião, ficou definido o repasse, via caixa dois.

Segundo o ex-executivo da Oderbrecht Alexandre Barradas, Collor foi "propositivo". "Quero que você faça as obras", teria dito o ex-presidente.

"Senador, nós não fazemos obras. Nosso negócio é investimento, é gestão. Inclusive quem faz a obra não somos nós. Nós contratamos as obras", relatou Barradas. "Quero, quero, quero. Preciso ganhar", teria respondido Collor.

Defesa

Collor se pronunciou sobre a delação da Odebrecht no dia 12 de abril, quando seu teor foi revelado. "Nego, de forma veemente, haver recebido da Odebrecht qualquer vantagem indevida não contabilizada na campanha eleitoral de 2010", disse o senador na ocasião.

O ministro Edson Fachin, relator da Lava Jato no Supremo Tribunal Federal (STF), determinou a remessa à Justiça Federal de São Paulo de cópia dos depoimentos dos executivos da Odebrecht relativos a supostas doações eleitorais feitas por intermédio da Cervejaria Petrópolis. A decisão, tomada na Petição (PET) 6694, reconsidera determinação anterior de envio das cópias à Seção Judiciária do Paraná, e leva em conta que os supostos fatos se passaram na cidade de São Paulo.

A PET 6694 foi apresentada pelo Ministério Público Federal a partir das declarações prestadas por cinco delatores da Odebrecht - Benedicto Barbosa da Silva Júnior, o "BJ", Luiz Eduardo da Rocha Soares, Olívio Rodrigues Júnior, Hilberto Mascarenhas Alves da Silva Filho e o ex-presidente do grupo Marcelo Odebrecht, que está preso desde junho de 2015.

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Eles narram uma "parceria" entre a empreiteira e a cervejaria para doações eleitorais.

Em abril, atendendo a pedido do Ministério Público Federal, o ministro determinou a remessa do caso para a Justiça Federal do Paraná, onde atua o juiz Sérgio Moro, por não haver o envolvimento de pessoas com foro por prerrogativa de função no STF.

Por meio de agravo regimental, a Petrópolis pediu a reconsideração da decisão, alegando que, segundo os relatos dos colaboradores, as doações se dirigiram a diversos políticos que atualmente detêm foro perante o Supremo. Por isso, pretendia a manutenção da competência do Supremo para conduzir as investigações, com a redistribuição dos autos.

Em nova petição, a Petrópolis requereu o arquivamento dos autos ou, ao menos, sua remessa à Justiça Federal de São Paulo.

Ao analisar o pedido, o ministro Fachin observou que o procurador-geral da República Rodrigo Janot não vislumbrou, no exame inicial das declarações, a ocorrência de ilícitos atribuíveis a detentores de foro no Supremo, "razão pela qual é necessária a declinação dos autos para tratamento adequado no primeiro grau de jurisdição".

"Ainda que a cervejaria tenha confessadamente feito doações eleitorais a vários agentes políticos, a manifestação do Ministério Público Federal afirma que a licitude dessas operações deve ser objeto de apuração adequada, o que afasta, por ora, qualquer fixação de competência no Supremo."

Prosseguindo no exame, Fachin "não constatou, a priori, relação dos fatos com a Operação Lava Jato, que tramita perante a Seção Judiciária do Paraná, devendo prevalecer, assim, a regra do artigo 70 do Código de Processo Penal, segundo o qual a competência, de regra, é determinada pelo lugar em que se consumar a infração".

Defesa

Quando foi divulgado o teor da delação da Odebrecht, a empresa informou: "Todas as doações feitas pelo Grupo Petrópolis seguiram estritamente a legislação eleitoral e estão devidamente registradas."

Acolhendo nova manifestação da Procuradoria-Geral da República (PGR), o ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF), arquivou as citações feitas por delatores da Odebrecht à senadora Marta Suplicy (PMDB-SP) e aos deputados federais Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE) e Roberto Freire (PPS-SP), ex-ministro da Cultura, de que teriam recebido recursos não contabilizados para campanhas eleitorais.

O motivo é a prescrição da punição, ou seja, a impossibilidade de condenar os investigados devido a prazos processuais. Considerando que a pena máxima prevista no delito sob suspeita (caixa 2 eleitoral) é de 5 anos, a prescrição normalmente seria de doze anos, mas o tempo cai para a metade (6) porque os parlamentares têm mais de 70 anos. Como os supostos fatos narrados pelos delatores teriam ocorrido até 2010, não é possível puni-los a partir de 2017.

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Foi a PGR quem pediu a abertura de inquéritos contra os parlamentares em março, mas o próprio ministro Fachin havia apontado a possibilidade de prescrição. Quase quatro meses depois, a PGR se manifestou neste sentido e o ministro concordou.

Procurado pela reportagem, Jarbas Vasconcelos comemorou a decisão e disse que ela foi tomada rápido. "O ministro Fachin seguiu o caminho lógico e natural. Eu não tenho nem o que dizer, não vou exaltar o despacho, porque não tem sentido. Foi uma decisão rápida, ao contrário do que normalmente pratica a Justiça. Quando a gente ficava pendente de alguma coisa, fica pendurado", disse.

"Para mim, a coisa era tão clara, transparente, fácil, que em momento algum me levou à inquietação ou chateação. Ia ser resolvido mais cedo ou mais tarde. Foi mais cedo, então pra mim foi ótimo", disse o deputado. O deputado e ex-ministro da Cultura Roberto Freire afirmou que recebe com tranquilidade. "Era o esperado. Não tenho o que comentar. Não há o que se discutir", disse. A assessoria de imprensa de Marta Suplicy foi contatada e até a edição deste texto não respondeu.

Devolução

No caso dos dois deputados, o inquérito será arquivado. Já o inquérito da senadora segue com possibilidade de ser aberto quanto ao outro nome que a PGR havia pedido para investigar, Márcio Toledo, marido de Marta Suplicy.

"Sendo o pedido de inquérito também direcionado a outro investigado, Márcio Toledo, antes do arquivamento definitivo dos autos determino nova vista à Procuradoria-Geral da República para, em 3 (três) dias, requerer o que de direto", determinou o ministro Fachin.

O caso que delatores da Odebrecht narraram sobre Marta Suplicy e Márcio Toledo foi o de pagamento de vantagens não contabilizadas no âmbito de campanhas eleitorais da política, no ano de 2008, à Prefeitura Municipal de São Paulo e, no ano de 2010, ao Senado Federal. Esses repasse teriam sido efetuados a pedido de Márcio Toledo, arrecadador das campanhas da parlamentar, e foram nos valores, respectivos, de R$ 550 mil e R$ 500 mil. As doações seriam implementadas por meio do Setor de Operações Estruturadas do Grupo Odebrecht.

O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Celso de Mello rejeitou um mandado de segurança impetrado pelo Instituto Brasileiro do Direito de Defesa (Ibradd) que pedia invalidar a decisão do ministro Edson Fachin de homologar a delação de executivos do grupo empresarial J&F.

O instituto alega que os colaboradores "resolveram a situação criminal de suas pessoas físicas com um acordo light e excepcionalmente favorável". Segundo o Ibradd, a homologação jamais poderia ter sido feita "em segredo de justiça", por decisão monocrática.

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Em sua decisão, assinada na última sexta-feira, 4, Celso de Mello destacou que o STF "não tem admitido a impetração de mandado de segurança contra atos de conteúdo jurisdicional emanados dos órgãos colegiados desta Corte ou de qualquer de seus Juízes, ressalvada, unicamente, a hipótese singular - de todo inocorrente - de decisão teratológica".

"Daí incidir, no caso, a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, cuja reiterada prática tem sempre enfatizado não se revelar processualmente viável, por inadmissível, mandado de segurança contra decisões de índole jurisdicional proferidas por esta Suprema Corte", observou o ministro.

Em junho, por 11 a 0, os ministros do STF decidiram manter o ministro Edson Fachin na relatoria da delação do grupo J&F e, por 9 a 2, reconheceram que cabe ao relator homologar monocraticamente os acordos.

O presidente Michel Temer (PMDB) afirmou que não tem medo de um acordo de delação premiada de Lúcio Funaro, apontado como operador de propinas no esquema investigado pela Lava Jato, e do ex-presidente da Câmara dos Deputados e ex-deputado federal Eduardo Cunha (PMDB). Segundo interlocutores dos dois, o presidente seria um dos alvos principais do que vier a ser revelado por eles. 

“As pessoas estão cansadas disso. Primeiro, não conheço Lúcio Funaro, segundo, não sei o que ele vai dizer. Portanto, não posso falar sobre hipóteses. Não tenho nenhuma preocupação com isso. Eduardo Cunha, sim, foi líder do PMDB, foi presidente da Câmara. Às vezes me perguntam, como é que você falava com ele? Meu Deus, estou falando com o líder do PMDB, com o presidente da Câmara... E eu não devo falar com ele?”, indagou, ao responder se tinha receio das delações durante uma entrevista concedida ao jornal Estadão, publicada na noite dessa sexta-feira (4). 

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Em julho, Lúcio Funaro foi transferido do Complexo Penitenciário da Papuda para a carceragem da Superintendência da Polícia Federal no Distrito Federal. A mudança foi solicitada pela defesa do operador para, sob os argumentos deles, facilitar a produção dos anexos da delação premiada que Funaro está negociando com a Procuradoria-Geral da República (PGR). 

Já Eduardo Cunha teria se visto pressionado a firmar um acordo após a decisão de Funaro. Especula-se a ideia de realizar um acordo ‘casado’ dos depoimentos dos dois. Informações publicadas em jornais de circulação nacional dão conta de que Cunha já teria mais de 100 anexos a sua delação e estaria produzindo, inclusive, a próprio punho na cadeia.  

Michel Temer foi um dos principais alvos da delação de um dos donos da JBS, Joesley Batista. Em áudio entregue a Polícia Federal (PF), Joesley gravou o presidente dando anuência para que o empresário mantivesse o pagamento de uma suposta mesada a Cunha para que ele ficasse calado e não firmasse acordos com a Lava Jato. 

Nas delações da Odebrecht e do Grupo J&F mais de 200 parlamentares foram citados, mas até agora nenhum processo foi aberto nos Conselhos de Ética da Câmara e do Senado. Partidos de oposição chegaram a protocolar duas representações com base na colaboração premiada dos irmãos Joesley e Wesley Batista. Os processos, porém, foram arquivados antes de serem analisados. Na atual legislatura (2015-2018), dois parlamentares foram cassados pelos Conselhos de Ética do Congresso.

Após a delação dos acionistas e executivos da J&F - que controla o frigorífico JBS -, Rede e PSOL apresentaram representações com pedido de cassação dos mandatos do senador Aécio Neves (MG), presidente licenciado do PSDB, e do hoje suplente de deputado Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR), ex-assessor do presidente Michel Temer no Palácio do Planalto.

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A representação contra Aécio era baseada no grampo em que o tucano foi flagrado pedindo R$ 2 milhões a Joesley sob a justificativa de que usaria o dinheiro para pagar sua defesa na Lava Jato. Mas, antes mesmo de ser analisado, o pedido de cassação foi arquivado pelo presidente do Conselho de Ética do Senado, João Alberto Souza (PMDB-MA). Recurso que pedia a reabertura do processo também foi rejeitado, por 11 votos a 4.

Já a representação contra Rocha Loures tinha como base vídeo gravado pela Polícia Federal no qual o peemedebista aparece saindo de uma pizzaria em São Paulo com uma mala contendo R$ 500 mil. Antes de ser instaurado, porém, o processo perdeu o objeto e foi arquivado, pois Loures deixou o exercício do mandato com o retorno à Câmara de Osmar Serraglio (PMDB-PR), de quem o ex-assessor de Temer era suplente.

O acordo de colaboração do Grupo J&F foi homologado em maio pelo ministro Edson Fachin, relator da Operação Lava Jato no Supremo Tribunal Federal. A Procuradoria-Geral da República apresentou denúncias (acusações formais) contra Temer, Aécio e Rocha Loures com base nas investigações.

‘Seletivas’

Partidos que mais protocolam representações nos conselhos, Rede e PSOL justificam que não entraram com outros pedidos para evitar arquivamentos. "Se a gente entupir o conselho, vai ter um monte de parecer prévio negando as representações. Porque o conselho é formado por um conjunto de figuras indicadas pelos partidos, em grande parte, para barrar qualquer investigação", afirmou o deputado Ivan Valente (PSOL-SP).

Valente defendeu uma "entrada seletiva" de representações. Para ele, é preciso concentrar a atuação em processos contra parlamentares com mais visibilidade política. "Os dirigentes partidários devem ser o foco, pessoas que têm uma função e responsabilidade maiores que parlamentar secundário. Se não fizer escolha, vai ter 70, 80 processos, sem desenvolvimento."

O deputado disse que o PSOL deve discutir novas representações "seletivas" quando o Congresso retomar as atividades, na próxima semana. Único representante da Rede no Senado, Randolfe Rodrigues (AP) também defendeu cautela. "O critério preliminar que definimos é o grau de escândalo do caso. Se entrar contra todos, nossa atividade parlamentar ficaria restrita a isso", afirmou.

As defesas de Aécio, Rocha Loures e Temer negam as acusações contidas na delação da J&F e nas denúncias da Procuradoria-Geral da República.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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