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O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, pediu ao Supremo Tribunal Federal (STF) a abertura de um novo inquérito para investigar o senador Fernando Bezerra Coelho (PSB-PE) com base na delação da Odebrecht.

O senador já é investigado no âmbito da delação da Odebrecht em um outro inquérito, que apura as suspeitas de que o parlamentar recebeu uma soma de R$ 200 mil não contabilizados na campanha eleitoral de 2010. O dinheiro teria sido pago em duas parcelas, por meio do Setor de Operações Estruturadas do Grupo Odebrecht, conhecido como o departamento de propina da empreiteira.

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No pedido encaminhado ao ministro Edson Fachin, do STF, na segunda-feira, 24, Janot menciona outras suspeitas, levantadas pelos executivos Carlos Fernando do Vale Angeiras e João Carlos Lyra Pessoa de Mello Filho, que firmaram acordo de colaboração premiada com o Ministério Público Federal.

De acordo com o procurador-geral da República, os dois delatores afirmaram que, durante a execução das obras do Cais V e do Píer Petroleiro no Porto de Suape, o senador Fernando Bezerra Coelho e o então governador de Pernambuco, Eduardo Campos, "foram beneficiados por propina paga pelas empreiteiras Odebrecht, OAS e Andrade Gutierrez".

Ao pedir a instauração do novo inquérito, Janot também solicitou a realização de novos depoimentos dos delatores e que o senador seja ouvido para apresentar sua versão dos fatos.

O relator do processo é o ministro Edson Fachin, que deverá decidir se atende ou não o pedido de Janot a partir de agosto, quando o STF retoma os trabalhos.

Defesa

Procurada pela reportagem, a defesa do senador Fernando Bezerra Coelho informou em nota que "desconhece o teor do pedido da PGR". Segundo a defesa do senador, os conteúdos das delações "são absolutamente inverídicos".

"O senador sempre trabalhou, única e exclusivamente, pelo desenvolvimento do país e do Estado de Pernambuco, e está à disposição para esclarecer quaisquer questões no devido momento processual", diz a nota.

A nota também afirma que "todas as doações feitas à campanha dele cumpriram rigorosamente a legislação e todas as contas foram devidamente apresentadas e aprovadas pela Justiça Eleitoral".

A Procuradoria-Geral da República (PGR) pediu a abertura de um inquérito no Supremo Tribunal Federal (STF) para investigar o senador José Serra (PSDB-SP) sob a suspeita de que ele teria recebido doação não contabilizada na campanha eleitoral à Presidência da República em 2010.

Com base em depoimentos do delator Joesley Batista - dono do Grupo J&F, que controla a empresa JBS -, a PGR suspeita que Serra possa ter cometido o crime de caixa 2 eleitoral, prática que prevê até 5 anos de prisão.

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Joesley contou em depoimento que Serra teria lhe procurado, na sede do grupo empresarial JBS, em São Paulo, para pedir financiamento para a disputa eleitoral presidencial de 2010. O delator disse que passou R$ 7 milhões não contabilizados, e outros R$ 13 milhões oficialmente declarados - totalizando R$ 20 milhões para a campanha presidencial.

De acordo com o delator, o repasse não contabilizado ocorreu por meio de "emissão de nota fiscal, pela LRC Eventos e Promoções, no valor de R$ 6 milhões, para simular a aquisição de um camarote de um autódromo de Fórmula 1" e de "emissão de nota fiscal, no valor de R$ 420 mil, emitida pela empresa APPM Análises e Pesquisas".

Por entender que não há conexão com nenhuma investigação que esteja no gabinete do ministro Edson Fachin, relator da Lava Jato, a PGR pediu que o novo inquérito seja distribuído livremente entre os ministros, por sorteio.

A PGR pede que o Supremo autorize a tomada de depoimento de Serra e também dos representantes legais das empresas LRC Eventos e Promoções e APPM Análises e Pesquisas "para os esclarecimentos necessários referentes aos serviços supostamente por elas prestados e que deram origem às notas fiscais nos valores de R$ 6 milhões e R$ 420 mil, respectivamente. A PGR quer também obter as notas fiscais para conferir se são autênticas.

Defesa

Por meio de nota, a assessoria de imprensa do senador negou as acusações. "O senador José Serra reitera que todas as suas campanhas eleitorais foram conduzidas dentro da lei, com as finanças sob responsabilidade do partido. E sem nunca oferecer nenhuma contrapartida por doações eleitorais, como aliás confirma o senhor Joesley Batista", disse o texto.

Em um voto contundente pontuado com críticas à atuação do Ministério Público, o ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), disse nesta quarta-feira, 28, que há uma ameaça de Estado policial no País.

"Há uma ameaça sim, verdadeira, abusiva, que vilipendia a dignidade da Corte. E não venham dizer que a Corte deve lealdade ao Ministério Público. A Corte deve lealdade à Constituição", disse Gilmar Mendes, que defendeu a colocação de "limites" em absurdos.

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"Um sistema que oferece vantagens sem medida propicia a corrupção dos imputados, incentivados a delatar não apenas a verdade, mas o que for mais solicitado pelos investigadores. Todos sabem que isso está ocorrendo. Não há controle sobre isso. Também incentivaria a corrupção em sentido amplo dos próprios agentes públicos, que teriam a alternativa de usar a investigação para quaisquer propósitos pessoais", criticou o ministro.

Para Gilmar Mendes, "é muito fácil abrir inquérito, o difícil é fechar".

Peregrinação

Ao comentar o processo de indicação dos ministros do STF, Gilmar dirigiu-se aos colegas: "Poucos aqui podem dizer que não fizeram peregrinação política para serem indicados".

"Eu até poderia dizê-lo, mas não vou satanizar um colega que teve de fazer", continuou, sem citar nomes.

Superada a discussão sobre a relatoria do caso JBS, mantida com o ministro Edson Fachin, o julgamento no Supremo Tribunal Federal (STF) sobre os acordos de delação premiada deverá se concentrar, nesta quarta-feira (28), na discussão sobre a possibilidade de revisão das cláusulas de colaborações já homologadas. Entre os ministros que já votaram, Ricardo Lewandowski foi o único a se manifestar favorável à possibilidade de revisão.

O julgamento será retomado com o voto de Gilmar Mendes, dois dias depois de o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, apresentar denúncia contra Michel Temer. Gilmar fez duras críticas à atuação do Ministério Público na semana passada, quando começou a discussão sobre os limites de atuação do magistrado nos acordos de delação. "A Procuradoria pode muito. Mas pode tudo? É isso que a lei autoriza?", questionou Gilmar. "Me parece que nós temos de esclarecer o que se pode fazer, sob pena de ficarmos em platitudes."

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No STF, a expectativa é de que Gilmar faça um voto longo e contundente. Ele já reconheceu que o caso da JBS é ainda mais delicado", por causa da concessão de imunidade penal aos delatores. Como informou o Estado no sábado, integrantes da Corte dizem acreditar que o STF vai impedir a revisão de acordos. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes e Luís Roberto Barroso trocaram farpas durante o julgamento desta quinta-feira, 22, sobre a validade da homologação da delação do Grupo J&F - holding que inclui a JBS - e a manutenção do ministro Edson Fachin como relator do caso.

A discussão entre os integrantes da Corte girou em torno do impacto de uma eventual invalidação de uma gravação ambiental no acordo de colaboração premiada já firmado.

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"Para dar um exemplo real: se, num caso concreto, o Supremo vem a declarar ilegítima, por qualquer razão, uma gravação ambiental que, no entanto, foi levada em conta no momento da celebração do acordo. Eu acho que a eventual invalidação da gravação ambiental não contamina a colaboração premiada se o procurador-geral tiver proposto o acordo e o relator tiver homologado", disse Barroso.

"Portanto, eu acho que nós tiraremos a segurança jurídica do instituto da colaboração premiada se não definirmos isso, e não diremos qual é o papel do relator. Eu acho que é muito importante essa discussão", frisou Barroso.

Nesse momento, o ministro Ricardo Lewandowski interrompeu Barroso e o questionou: "Ministro Barroso, Vossa Excelência aventou uma nulidade que chamamos de relativa, mas se o plenário se defrontar com uma nulidade absoluta, ele vai fechar os olhos a isso?".

Depois da fala de Lewandowski, Gilmar Mendes entrou na discussão e afirmou que no caso em questão - a delação da JBS - se discute o emprego de ações controladas nas investigações.

"Esse caso, por exemplo, se discute se não se tratou de uma ação controlada por parte do Ministério Público e não por parte do relator. Essa é uma questão que está posta no debate. A Folha de S. Paulo sustenta que a gravação foi combinada previamente com o Ministério Público e que houve treinamento, mas há essa questão. Vamos dizer que se prove esse fato a posteriori...", comentou Gilmar Mendes.

Barroso então afirmou: "O colaborador premiado não tem culpa. Ele seguiu autoridade pública." Gilmar Mendes questionou: "Veja, essa questão não vai poder ser analisada pelo relator?"

"A prova sim, mas não pra validade da colaboração", respondeu Barroso. Para Gilmar Mendes, "essa questão que vai ser posta".

"Eu já não concordo. Todo mundo sabe o caminho que isso vai tomar. Já estou me posicionando, sou contra. Todo mundo sabe o que se quer fazer aqui lá na frente. Eu não quero que se faça lá na frente. Já estou dizendo agora", frisou Barroso.

Irritado, Gilmar Mendes disse a Barroso: "Essa é a opinião de Vossa Excelência, deixa os outros votarem."

"Mas tá todo mundo votando", respondeu Barroso.

"E respeite os votos dos outros", prosseguiu Gilmar Mendes.

Barroso então concluiu: "Claro, estou plenamente respeitando o voto dos outros, estou ouvindo Vossa Excelência. A questão não é só essa, temos outras considerações. Agora não pode ser 'ah, acho que vou perder, então vou embora'. Estamos discutindo".

Pouco antes de o plenário do Supremo Tribunal Federal (STF) discutir a validade da delação dos executivos do Grupo J&F, o ministro Alexandre de Moraes, do STF, disse nesta quarta-feira, 21, que a Corte vai decidir o que for "melhor para o Brasil".

"Todo mundo que está fazendo prognóstico está chutando o que acha correto. Tenho absoluta certeza de que o Supremo vai decidir o que for melhor para o Brasil, dentro obviamente do que a Constituição e a legislação autorizam. Diferentemente do que muita gente que está fazendo prognósticos, (dizendo) que vai ter muitas divergências, briga aqui e ali, acho que é uma questão técnica que deve confluir para uma decisão que, ao encerrar, todo mundo vai achar que é o correto, o razoável", afirmou o ministro a jornalistas, depois de participar de seminário em Brasília promovido pelo Instituto Brasiliense de Direito Público (IDP).

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Indagado sobre a possibilidade de revisão dos benefícios do acordo, Moraes evitou fazer comentários. "Isso é uma das questões do julgamento que vão ser analisadas. Não posso antecipar em uma hora o que vou votar", disse o ministro.

Conforme informou o jornal O Estado de S. Paulo nesta quarta-feira, a tendência na Corte é de formar maioria para confirmar a constitucionalidade das medidas tomadas pelo relator, ministro Edson Fachin, e manter o acordo em pé. Pelo menos cinco ministros votariam junto com Fachin.

Seminário

Moraes participou pela manhã de um painel sobre organizações criminosas e sistema penitenciário no âmbito de um seminário sobre direito administrativo e administração pública, promovido pelo IDP.

"O Brasil desde a reabertura democrática trata com absoluto descaso, hipocrisia e preconceito a questão de segurança. Não por outros motivos o Brasil chega agora a essa situação", disse Moraes, ao falar do quadro de segurança pública nacional.

"Se fez uma confusão mental e conceitual de que segurança é sinônimo de ditadura. Isso só existe no Brasil. Defender segurança pública passou a ser sinônimo de ser fascista, de ser contrário à democracia, sem que as pessoas pensassem um segundo", comentou o ministro.

Ex-ministro da Justiça do governo Temer, Moraes afirmou que a questão de segurança pública tem sido tratada com "hipocrisia" e "ideologia" pela sociedade brasileira. "A sociedade prefere gastar R$ 1 bilhão, R$ 2 bilhões em qualquer coisa, menos em presídio", afirmou Moraes, que enfrentou uma crise no sistema penitenciário no início deste ano.

Para o ministro do STF, a situação dos presídios, que ocupou destaque na imprensa em janeiro deste ano, acabou sendo deixada de lado.

"Bastou voltar o Congresso em fevereiro, ninguém mais fala (sobre isso). Não há continuidade na discussão sobre segurança. Ninguém liga pra questão de segurança", criticou.

Assim como fazia na época em que comandava o Ministério da Justiça, Moraes voltou a afirmar que o Brasil prende muito e mal. "Prisão tem de ser para crimes com violência, grave ameaça e outras hipóteses como corrupção, reiteração. O restante, para quê? Sai muito mais barato investir em penas alternativas, prestação de serviço à comunidade, mas fiscalizar", frisou o ministro.

Em petição encaminhada ao Supremo Tribunal Federal (STF), advogados que irão defender o acordo firmado pelo grupo J&F, dos irmãos Wesley e Joesley Batista, sustentam que a delação dos empresários é efetiva.

"Sras Ministras e Srs. Ministros, o objeto da presente discussão é o acordo de colaboração mais efetivo do qual se tem notícia, pelo qual executivos de uma empresa entregaram milhares de agentes políticos e usaram da ação controlada, estando em situação processual mais favorável do que inúmeros outros colaboradores", sustentam os advogados.

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A defesa do acordo é encabeçada pelo criminalista Pierpaolo Bottini. Ao Supremo, os advogados entregaram planilhas comparativas do que foi entregue e realizado pela J&F, confrontando com a situação de outros delatores. A intenção é mostrar que, além de o acordo ser legal, foi útil para os investigadores, é amplo e entrega provas contundentes contra agentes públicos.

Na peça, eles também sustentam a competência do ministro Luiz Edson Fachin, relator da Operação Lava Jato no Supremo, para analisar o acordo - como a delação de Fabio Cleto, ex-vice presidente de Fundos e Loterias da Caixa.

"Ainda que sejam superados os argumentos expostos acima, as questões suscitadas versam sobre competência relativa - uma vez que territorial - que não invalidam os atos até então praticados", escrevem os advogados. A intenção, com essa argumentação, é manter a validade do acordo assinado e dos atos já realizados com base na delação, mesmo que o STF entenda que Fachin não deve continuar como relator.

Para sustentar a efetividade, continuam os advogados: "Tal acordo resultou, até o momento, na prisão de um ex-deputado, de um procurador da República, de um advogado, e na denúncia de um Senador, além da instauração de inúmeros inquéritos e da assinatura de um acordo de leniência que garantiu aos cofres públicos um valor superior a R$ 10 bilhões."

Os advogados argumentam que anular a delação iria "inibir novos acordos" e "abalar um importante instrumento de política criminal".

Números.

O acordo de Joesley é contrastado com os de Marcelo Odebrecht, Ricardo Pessoa, da UTC Engenharia, Ricardo Pernambuco e seu filho Júnior, da Carioca Engenharia, Otavio Azevedo, da Andrade Gutierrez, e Sergio Machado, ex-presidente da Transpetro.

Segundo o levantamento, Joesley foi quem mais delatou agentes públicos. O número utilizado são os 1.893 citados nos anexos de Joesley e Ricardo Saud, diretor da J&F. Na comparação, Odebrecht fica em segundo, com 70 políticos; Ricardo Pessoa vem depois, com 50; e em seguida Otavio Azevedo (32), Sergio Machado (31) e Ricardo Pernambuco (9).

Apesar de listar esses dados, até o momento a empresa não detalhou como cada repasse foi realizado nem detalhou possíveis contrapartidas recebidas.

O valor da multa paga pelo empresário, R$ 110 milhões, segundo o documento, também é superior aos demais. Como não é citado o valor pago pelo herdeiro da Odebrecht, Sergio Machado fica em segundo, com R$ 75 milhões, seguido por Pessoa, com R$ 41 milhões.

Ponto mais contestado no acordo, a imunidade dada a Joesley e aos outros seis executivos só foi concedida a Ricardo Pernambuco Júnior, da Carioca Engenharia, que não será denunciado. Sobre os outros, todos cumprirão algum tipo de pena.

Interlocutores do presidente Michel Temer comemoraram o fato de os ministros do Tribunal Superior Eleitoral sinalizarem que não devem considerar as delações da Odebrecht na ação que pode cassar o mandato do presidente. Segundo uma fonte, o julgamento acontece dentro das expectativas do governo, que espera uma absolvição do presidente.

Para esse interlocutor, ficou claro que as delações da Odebrecht não devem incorporar a ação e isso seria positivo. No Planalto, até o momento, a avaliação é de que o julgamento se estenda até a sexta-feira e que o presidente seja absolvido por um placar de 4 a 3.

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Temer ficou acompanhando o julgamento de seu gabinete e recebeu diversos ministros. De acordo com um auxiliar, Temer está "tranquilo".

Na sessão da manhã desta quinta-feira, 8, a terceira do julgamento da chapa Dilma-Temer nas eleições de 2014, quatro dos sete dos ministros do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) sinalizaram que não vão incorporar as delações da Odebrecht em seus votos.

Os ministros Napoleão Nunes Maia, Admar Gonzaga e Tarcísio Vieira concordaram com a preliminar apresentada pelas defesas de que o uso das delações da Odebrecht extrapola o que foi pedido inicialmente pelo acusador, o PSDB.

O presidente o TSE, Gilmar Mendes, ainda não apresentou sua análise completa sobre este tema, mas deve se posiciona com este mesmo entendimento. A interpretação diverge da dos ministros Herman Benjamin, relator da ação, Luiz Fux e Rosa Weber. A sessão no turno da tarde está marcada para às 14h30.

Na sessão da manhã desta quinta-feira (8) a terceira do julgamento da chapa Dilma-Temer nas eleições de 2014, quatro dos sete dos ministros do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) sinalizaram que não vão incorporar as delações da Odebrecht em seus votos. Os ministros Napoleão Nunes Maia, Admar Gonzaga e Tarcísio Vieira concordaram com a preliminar apresentada pelas defesas de que o uso das delações da Odebrecht extrapola o que foi pedido inicialmente pelo acusador, o PSDB.

O presidente o TSE, Gilmar Mendes, ainda não apresentou sua análise completa sobre este tema, mas se posiciona com este mesmo entendimento. A interpretação diverge da dos ministros Herman Benjamin, relator da ação, Luiz Fux e Rosa Weber. A sessão no turno da tarde está marcada para as 14h30.

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Gonzaga, Nunes Maia e Vieira defenderam votar, primeiro, a preliminar que aponta "extrapolação da causa de pedir", antes de entrar no voto de mérito, no qual decide-se pela condenação ou absolvição. Eles entenderam que os juízes não podem incluir tudo que quiserem nos processos. "Será que são fatos realmente novos e não estavam no momento da propositura da situação? Tem que se considerar ainda mais os freios que são impostos não só pela Constituição, mas pela lei, pelo Código de Processo Civil", disse Admar.

Os delatores da Odebrecht, de acordo com o relatório de Herman Benjamin, trouxeram evidências de irregularidades como o pagamento de serviços de publicidade e compra de partidos políticos, via "caixa 2", pelo setor de Operações Estruturadas da Odebrecht, e a terceirização de caixa 2, com a utilização da Cervejaria Petrópolis - o que o relator vem chamando de "caixa 3".

As defesas apostavam as fichas na exclusão dos delatores da Odebrecht por entender que ela esvazia os argumentos para a condenação. Apesar de ainda não ter sido iniciado o julgamento do mérito, a maioria desenhada no debate sobre esta preliminar é um sinal positivo para Temer e Dilma.

A Procuradoria-Geral Eleitoral, no seu pedido de cassação do mandato de Temer e de decretação de inelegibilidade de Dilma, afirmou que há motivo para condenação mesmo sem incluir os delatores da Odebrecht, entendendo que há outros elementos que poderiam basear a condenação da chapa presidencial.

O ministro Herman Benjamin apontou, no relatório, o uso de laranjas na campanha e destacou que um relatório da PF mostrou irregularidade no pagamento a gráficas contratadas pela campanha de Dilma Rousseff e de Michel Temer. O ministro ainda não entrou no mérito, mas dá todos os indicativos de que pedirá a cassação de Temer e a inelegibilidade de Dilma.

O relator Herman Benjamin foi acompanhado pelo ministro Luiz Fux e pela ministra Rosa Weber no sentido de que não se pode descartar as provas produzidas na instrução.

"É impossível uma Corte descobrir fatos e não levar em consideração", disse Fux, indo além, apontando gravidade dos fatos apresentados e indicando qual deve ser seu posicionamento na hora do voto final.

"Não podemos deixar de passar a limpo esses fatos que, no meu modo de ver, são gravíssimos e contaminaram o processo eleitoral pela chaga da corrupção, iludindo o eleitor. Não se pode julgar sem atentar para a realidade política que se vive hoje. Somos uma Corte. Avestruz é quem enfia a cabeça", disparou Fux.

Na discussão que abriu a terceira sessão do julgamento da chapa Dilma/Temer, nesta quinta-feira (8) no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), os ministros Napoleão Nunes Maia, Admar Gonzaga e Tarcísio Vieira pediram para votar as questões preliminares antes do mérito. A questão preliminar em discussão é a que pede a exclusão da validade dos depoimentos e provas das delações da Odebrecht no caso.

Em contrapartida, os ministros Herman Benjamin e Luiz Fux entendem que não deve haver votação sobre se podem ou não serem utilizadas. A discussão segue em andamento.

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O debate foi lançado por Napoleão, que acredita que não se pode votar o mérito sem saber se pode considerar válido o uso de provas trazidas a partir dos delatores da Odebrecht.

Admar Gonzaga foi explícito ao dizer que "é preciso delimitar a causa de pedir". O ministro tem se posicionado no sentido de que os juízes não podem incluir tudo que quiserem nos processos.

"Será que são fatos realmente novos e não estavam no momento da propositura da situação? Tem que se considerar ainda mais os freios que são impostos não só pela Constituição, mas pela lei, pelo Código de Processo Civil", disse Admar.

Tarcísio disse que gostaria de entender o que estava sendo analisado. "Estamos decidindo sobre decidir a ampliação da causa de pedir ou já estamos proferindo voto sobre este tema? Me parece que o relator não ultimou sobre este tema e eu tenho um voto escrito", disse.

A Corte ainda discute o tema. Fux, no entanto, diz que não acatará uma possível limitação do voto.

"Eu tenho severas dúvidas sobre se a Corte pode deliberar isso e submeter seus integrantes a não votarem sob a ótica que eles pretendem votar. Se votar preliminar limitando a minha cognição, não vou me submeter a isso. Não vou me submeter", afirmou o ministro Fux.

A ampliação da causa de pedir é uma preliminar apresentada pela defesa da presidente Dilma Rousseff. Quer dizer, em outras palavras, que ouvir novas testemunhas, todos colaboradores premiados do grupo Odebretch, seria um atropelo procedimental.

A defesa alega que todos os fatos novos não guardam qualquer correlação com aqueles narrados no pedido inicial e que seria evidente a extrapolação do objeto; por isso, pede que o julgamento proferido pelo TSE se limite aos estritos termos dos fatos narrados há mais de 2 anos e 3 meses nas petições iniciais, excluindo-se as acusações perpetradas pelos depoentes do grupo Odebrecht.

O ministro do Tribunal Superior Eleitoral, Luiz Fux, afirmou, nesta quinta-feira (8), que o conteúdos das delações da Odebrecht e dos marqueteiros João Santana e Mônica Moura devem ser considerados no julgamento do processo que pede a cassação da chapa Dilma-Temer. Sob a ótica dele, não se pode julgar "sem atentar para a realidade política" atual.

As defesas dos réus, Dilma Rousseff e Michel Temer, defendem que as informações sejam desconsideradas, já que em 2014, quando o PSDB entrou com a ação, os fatos não eram conhecidos. 

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De acordo com Fux, um juiz pode ampliar as provas. Segundo ele, o argumento é previsto no Código do Processo Civil e garante um julgamento justo. 

"Não se pode julgar sem atentar para a realidade política que se vive hoje. Somos uma Corte. Avestruz é quem enfia a cabeça", disparou Fux. "É impossível uma Corte descobrir fatos e não levar em consideração. A jurisdição não pode viver apartada da realidade fática e no nosso caso da realidade política", acrescentou.

Fux fez dura crítica à hipótese de a Corte decidir descartar as provas trazidas ao processo. “Não podemos ser obstados da oportunidade de passar a limpo esses fatos", observou Fux. "Fatos, ao meu ver, são gravíssimos e contaminaram o processo eleitoral pelas chapas da corrupção, iludindo a vontade do eleitor”, complementou. 

A delação dos executivos do Grupo J&F deve abrir uma nova temporada de acordos de colaboração premiada na Operação Lava Jato. Investigadores e advogados esperam um crescimento no número de candidatos a colaboradores, em especial políticos e assessores, que podem ampliar denúncias contra o PT e o presidente Michel Temer.

São cerca de 15 negociações em andamento apenas em Curitiba, origem da força-tarefa que apura esquema de corrupção na Petrobras. Os ex-ministros Antonio Palocci (ex-Fazenda e ex-Casa Civil nos governos Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff, respectivamente) e Guido Mantega (ex-Fazenda de Lula e Dilma), por exemplo, podem delatar aos procuradores da Lava Jato repasses ilícitos à campanha pela reeleição de 2014, implicando PT e PMDB, que encabeçaram a chapa.

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"A delação da JBS, pela amplitude política de suas revelações, deve gerar uma avalanche de procura por acordos", disse Carlos Fernando do Santos Lima, procurador regional da República da Lava Jato no Paraná.

Com 158 acordos de delação e dez de leniência - espécie de delação para pessoas jurídicas - fechados, em Curitiba, em pouco mais de três anos de investigações da Lava Jato, o recado implícito no acordo dos irmãos Joesley e Wesley Batista, segundo os delatores, foi claro: quem primeiro procura o Ministério Público Federal (MPF) mais benefícios obtém.

Procuradores da força-tarefa da Lava Jato em Curitiba e Brasília, ouvidos pela reportagem, avaliam que as negociações de novas delações sofrerão um "efeito Odebrecht-J&F". Neste domingo, 4, a reportagem mostrou que o acordo assinado com os irmãos Batista, criticado pelos benefícios concedidos, rende até 2 mil anos de perdão das penas.

"Imagine quantos corruptos não devem estar pensando ou conversando com seus advogados sobre as vantagens de se adiantar e procurar o MPF para contar o que sabem, antes de serem delatados por comparsas, ou de serem acordados pela Polícia Federal ao nascer do sol. O recado é que a água está limpa para quem chega primeiro", afirmou o procurador da República Helio Telho Corrêa Filho, do Núcleo de Combate à Corrupção no MPF, em Goiás.

Fila

Na fila dos candidatos a delatores da Lava Jato em Curitiba, estão, além de Palocci e Mantega, o ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ), o ex-presidente da OAS José Adelmário Pinheiro Filho, conhecido como Leo Pinheiro, e o ex-diretor da Petrobrás Renato Duque. Desses, só Mantega não está preso - ele chegou a ser detido em 22 de setembro, na 34.ª fase da força-tarefa, mas foi solto um dia depois.

Apontados por executivos e ex-executivos da Odebrecht e J&F como responsáveis pelas "contas" de propinas destinadas aos governos Lula e Dilma, que chegaram a ter saldo de mais de R$ 500 milhões, segundo relatos de delatores, Palocci e Mantega são considerados dois homens-bomba da República, que podem duelar indiretamente para ver qual deles fecha antes um acordo. Os recursos, segundo os colaboradores, eram destinados para políticos, partidos e campanhas, entre 2004 e 2014.

A delação da J&F, homologada no mês passado pelo Supremo Tribunal Federal (STF), foi decisiva para que os petistas passassem a ser vistos como "delatores concorrentes". A reportagem apurou que, para a Lava Jato, não há espaço para Palocci e Mantega fazerem acordos de colaboração simultâneos. Conseguirá obter o benefício aquele que revelar mais fatos e apresentar o maior número de provas de corroboração.

Para a força-tarefa, Palocci e Mantega seriam também peças importantes para aprofundar investigações sobre o envolvimento de bancos no esquema de corrupção descoberto, além de fornecer a lista de empresas e negócios abarcados nos crimes.

Palocci - preso em 26 de setembro, na 35ª fase - tem proposta em consolidação, após contratar dois advogados de Curitiba, especialistas em delações premiadas, Adriano Bretas e Tracy Reinaldet. A defesa de Palocci não foi localizada para comentar o assunto.

O criminalista Fábio Tofic, defensor de Mantega, negou que seu cliente negocie um acordo. "Se alguém me provar que algum advogado esteve no Ministério Público em nome de Guido Mantega para negociar delação premiada, eu abandono o caso", afirmou o advogado.

Negativas

O MPF informou que não comenta acordos e investigações em andamento. Os ex-presidentes Lula e Dilma, por meio de seus advogados, têm negado envolvimento em crimes e recebimento de propina. O presidente Michel Temer afirma, por meio de sua assessoria de imprensa, que nunca recebeu qualquer dinheiro ilícito.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

O debate no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que pode cassar o mandato do presidente Michel Temer deve ser norteado pelo artigo 23 da lei que trata da inelegibilidade. As apostas no meio jurídico são de que o ministro Herman Benjamin, relator do processo, deve usar esse trecho da lei para respaldar o uso dos depoimentos de executivos da Odebrecht e do ex-marqueteiro do PT João Santana e sua mulher, Mônica Moura, para justificar seu voto.

Os depoimentos incriminam mais a chapa Dilma Rousseff-Michel Temer do que a denúncia que deu origem ao processo. É nesse ponto que entra o artigo 23 da Lei Complementar 64/1990, prevendo que o juiz pode levar em consideração fatos ainda não narrados pelas partes. O debate será sobre a abrangência do artigo, se o relator poderá citar fatos que nem sequer foram mencionados na acusação ou deverá usar apenas informações que foram ventiladas na peça inicial.

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Diz o artigo 23: "O Tribunal formará sua convicção pela livre apreciação dos fatos públicos e notórios, dos indícios e presunções e prova produzida, atentando para circunstâncias ou fatos, ainda que não indicados ou alegados pelas partes, mas que preservem o interesse público de lisura eleitoral".

A petição inicial apresentada pelos tucanos tratava inicialmente da ocultação de dados negativos da economia por parte de institutos oficiais, como o Ipea e o IBGE, o suposto uso de propaganda pela chapa em período vedado e o recebimento de doações de empreiteiras contratadas pela Petrobrás. Tudo isso, segundo o PSDB, desequilibrou a eleição de 2014 a favor da chapa vencedora.

Com o avanço da Lava Jato, depoimentos de delatores foram incluídos no processo por Benjamin. Ao TSE, disseram que houve o uso de caixa 2 na campanha e detalharam a compra de apoio de partidos para integrar a chapa e garantir mais tempo de televisão. Esse ponto, segundo ministros e advogados, é um dos mais delicados para Temer, já que beneficiou a chapa como um todo.

A defesa de Temer vai tentar, em um primeiro momento, restringir o entendimento sobre o artigo 23 da legislação eleitoral para evitar que os depoimentos de delatores sejam levados em conta no processo. Se vencer essa tese, aposta que consegue livrar o presidente de uma condenação. O Planalto estima que, nessas condições, serão 5 votos pela absolvição e 2 pela cassação de Temer, que viriam do relator e da ministra Rosa Weber, ou 4 a 3.

Se perder a queda de braço, os advogados vão alegar que delação premiada não é prova definitiva, uma vez que ela apresenta caminhos de prova.

Benjamin não revela o conteúdo do seu voto, mas a posição do ministro em outros processos tem demonstrado que será pela cassação da chapa. Seu voto já deve indicar a solução a ser tomada em eventual cassação de Temer.

Recente julgamento que cassou o mandato do governador do Amazonas José Melo (PROS) levantou dúvidas se ele adotaria o mesmo raciocínio, para determinar a realização de eleição direta no País. O entendimento, na ocasião, foi o de que o TSE estava anulando a eleição ao considerar que ela foi contaminada por abuso de poder. Por isso, os votos dos eleitores não seriam contabilizados, o que permite a realização de nova eleição.

Caso se repita esse cenário, só haveria uma maneira de se evitar a eleição direta: renúncia ao mandato antes da notificação pela Justiça Eleitoral. (Colaborou Naira Trindade)

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Os delatores da JBS confessaram ter aberto um caixa de R$ 40 milhões para a compra de apoio político à campanha de Aécio Neves (PSDB-MG) à Presidência da República, em 2014, a pedido do tucano. Os valores teriam sido pagos por meio de doações oficiais - classificadas, mesmo assim, como "propinas", pelos executivos do grupo - e de notas fiscais frias de empresas indicadas pelos dirigentes partidários, segundo a delação. Outros R$ 60 milhões teriam sido destinados somente à campanha individual do senador afastado.

Repasses a todos os partidos da coligação do tucano - PTB, Solidariedade, DEM, PTN, PSL, PTC, PSDC , PMN, PT do B, PEN - são citados nas delações da JBS. O dono do grupo, Joesley Batista, teria autorizado os pagamentos - em acerto com o tucano -, que teriam sido operacionalizados pelo diretor de Relações Institucionais da J&F, Ricardo Saud.

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Somente para Aécio teriam sido destinados R$ 11 milhões - nas primeiras tratativas. Posteriormente, os valores chegaram a R$ 60 milhões, de acordo com os delatores.

A maior quantia do "caixa de propinas" supostamente acertado entre a empresa do setor agropecuário e o então candidato foi para o PTB. Segundo o delator Ricardo Saud, foram R$ 20 milhões pagos por meio de caixa dois, em espécie, e doações oficiais aos diretórios da legenda. "Isso tudo antes da eleição. Porque eles (dirigentes do PTB) falaram que só dariam apoio ao Aécio se pagassem antes da eleição", afirmou.

"Foram R$2 milhões entregues em espécie na casa do senhor Luiz Rondon, tesoureiro nacional do PTB. Além disso, alguns depósitos feitos por indicação do Luiz Rondon em algumas contas. Estão anotadas as três contas específicas", alegou.

O acordo de delação da JBS ainda menciona R$ 5 milhões ao diretório estadual do PTB da Bahia, R$ 4 milhões ao do Rio de Janeiro, R$ 3 milhões ao de Santa Catarina, R$ 1,5 milhão para o do Rio Grande do Sul, R$ 3,4 milhões ao Mato Grosso.

Outro partido que teria ficado com a maior parte das propinas acertadas entre Aécio e a JBS, de acordo com os delatores, foi o Solidariedade. Dos R$ 15 milhões direcionados à sigla, R$ 11 milhões foram doados oficialmente ao diretório nacional, segundo os executivos. Ricardo Saud, da J&F, ponderou que o Solidariedade, naturalmente, seria uma das legendas que apoiariam Aécio, mas, mesmo assim, foi acertada a "ajuda".

Os outros R$ 4 milhões foram viabilizados por meio de notas fiscais frias a empresas indicadas por Paulinho da Força, presidente da legenda, contaram os delatores. Os documentos foram entregues ao MPF.

O delator narrou inclusive um conflito entre Aécio e o senador Agripino Maia em torno da campanha do DEM em 2014. Inicialmente, segundo o executivo, estavam acertados R$ 10 milhões ao partido, mas, após um suposto desentendimento entre o presidenciável e o democrata, o financiamento teria sido interrompido.

"E o Agripino me ligava dia sim, dia não: 'cara, cadê o dinheiro, já foi autorizado, eu fui o coordenador da campanha'. Aquela coisa toda. Aí eu peguei e falei: 'Você vai me desculpar, mas não tem nada para o senhor, mandaram cancelar'".

De acordo com a delação, após uma conversa entre Aécio e Agripino, o caixa do DEM voltou a ser liberado. "Ele conversou, e voltou com 2 milhões. Esses 2 milhões foi feita a doação e pediu para depositar na conta do DEM", alegou Saud.

A JBS ainda dá conta de doações oficiais de R$ 150 mil ao PSL, R$ 650 mil ao PTC, R$ 50 mil ao PSDC, R$ 400 mil ao PTN, R$ 500 mil ao PEN, R$ 1 milhão ao PT do B, e R$ 1,3 milhão ao PMN - todas integrantes da coligação "Muda Brasil", que lançava Aécio à Presidência.

Os executivos relataram que a única legenda que lançou candidatura independente, em 2014, e entrou no pacotão apontado pelos delatores é o PSC, que alçou Pastor Everaldo ao Planalto. O diretor de Relações Institucionais da J&F Ricardo Saud alegou ter tratado do pagamento de R$ 100 mil, por meio de doação oficial, a pedido de Aécio Neves, junto a um interposto do partido.

"Como é que o pastor Everaldo era candidato e tá dando R$ 100 mil para o partido? parece que era pra ter um debate e tal", relatou. Pastor Everaldo também é citado pela Odebrecht em uma suposta propina para ajudar Aécio em debate eleitoral televisivo, na corrida presidencial de 2014.

Até mesmo o PMDB, que apoiou Dilma Rousseff, entrou para o pacotão de repasses da JBS para a "compra de apoio político" da candidatura de Aécio, segundo a versão dos delatores. Os executivos dizem ter doado R$ 1,5 milhão para a campanha de Ivo Sartori (PMDB-RS) ao governo estadual do Rio Grande do Sul.

"O Aécio pegou e pediu pra dar R$ 1,5 milhão para o PMDB do Rio Grande do Sul. Lá, o Ivo Sartori era dissidente, porque o PT tinha candidato. Aí, o Aécio deu 1,5 milhão desse dinheiro dessa propina para o Sartori. E aí fizemos doações oficiais dissimuladas", relatou.

Defesas

"São falsas as declarações dadas por Joesley Batista e Ricardo Saud, que atuaram em seus depoimentos como verdadeiros atores na tentativa de construir uma narrativa que sustente a história criminosa que fabricaram para ganhar os benefícios da delação e sobre a qual não apresentaram provas concretas", disse a assessoria do senador tucano.

"O senador Aécio Neves prestará à Justiça, por meio de sua defesa, todos os esclarecimentos sobre os assuntos mencionados e reitera que jamais recebeu propinas ou defendeu interesses da JBS, como o próprio Saud admite na declaração dada de que: 'Aécio nunca fez nada por nós'", finaliza a assessoria.

O PTB também se manifestou: "O Diretório Nacional do Partido Trabalhista Brasileiro afirma que a legenda recebeu doações de campanha da empresa JBS S.A. nas eleições gerais de 2014. Entretanto, o PTB ressalta que todas as doações recebidas pela referida empresa foram feitas por indicação do presidente nacional do PSDB, senador Aécio Neves (MG), candidato a presidente da República apoiado pelo partido naquela época. E reiteramos que as doações recebidas foram realizadas rigorosamente dentro das normas legais e devidamente declaradas à Justiça Eleitoral".

"O Diretório Nacional do PTB, portanto, esclarece que o partido jamais teve qualquer relação com a JBS nem com qualquer membro da empresa - seja pessoa física, seja pessoa jurídica. Certificamos que o partido não teve vínculo com a JBS no passado, não tem no presente e não terá no futuro".

"Declaramos também que o PTB não tem compromisso em ajudar a JBS, tendo em vista a atuação aberta, firme e intensa de parlamentares do partido na CPI do BNDES, comissão que teve por objetivo investigar irregularidades em empréstimos concedidos pelo banco. Por fim, reiteramos o apoio do Partido Trabalhista Brasileiro às investigações da Lava Jato, e queremos que as denúncias envolvendo a JBS S.A. sejam apuradas e a empresa seja devidamente punida por todos os crimes que cometeu". A nota é assinada por Roberto Jefferson, presidente nacional da legenda.

O senador José Agripino Maia, presidente do DEM, afirmou que nunca houve "qualquer entrevero com Aécio Neves" e que apenas ligou para o delator Ricardo Saud porque havia um atraso nas doações oficiais da JBS ao partido. "A minha ligação foi por conta de a doação ter sido feita a doação dia 2 de outubro, perto de quando se encerrava o período em que as doações poderiam ser utilizadas e distribuídas aos candidatos. Foi feita pelo retardamento da doação prometida e que não acontecia. Não teve entrevero entre eu e Aécio", afirmou.

"Todas as contas eleitorais do Solidariedade foram aprovadas pela Justiça Eleitoral", diz nota do partido. "A JBS fez uma doação legal de R$ 11 milhões, que foram distribuídos oficialmente entre diversos candidatos do partido pelo Brasil, portanto, não há irregularidade. Também é importante ressaltar que o Solidariedade foi um dos primeiros partidos a se definir na eleição de 2014, muito antes dos demais", finaliza a nota.

"Sobre a informação de que o Partido Social Cristão teria recebido recursos do Grupo JBS nas eleições de 2014, o partido esclarece que:

- O Grupo JBS não fez nenhuma doação para o Diretório Nacional e nem para a campanha presidencial do PSC;

- As campanhas do partido sempre foram modestas e feitas com recursos legais, informados à Justiça Eleitoral por meio das prestações de contas entregues ao TSE;

- É absolutamente fantasiosa a suposição de que atuação do partido na campanha de 2014 tenha sido influenciada por qualquer empresa".

O presidente do PMN Antônio Carlos Bosco Massarolo confirmou que o partido recebeu R$ 1,3 milhão, registrado em doações oficiais, da JBS, no entanto, disse desconhecer as tratativas do senador afastado Aécio Neves para angariar os recursos. Ele também afirmou que, como encabeçou a chapa eleitoral, o tucano ficou responsável pela arrecadação de campanha.

"A JBS provavelmente fez essa doação a pedido do Aécio Neves, porque o partido não tinha essas relações com a empresa. Não sei como foram as tratativas, mas, pelo que vi na imprensa, parece que o linguajar do Aécio não é dos melhores", afirmou.

Massarolo ainda esclarece que, quando a doação é feita ao partido, "é feito um recibo eleitoral é discriminado da origem". "Nas contas dos candidatos deve constar. À época, não existia nenhum tipo de ideia de que poderia haver esses embaraços legais da JBS", relatou.

O PSDC também se manifestou: "Em depoimento prestado pelo executivo da JBS, Valdir Aparecido Boni, à Procuradoria Geral da República em 4 de maio de 2017, o executivo afirma que todas as tratativas pertinentes as irregularidades fiscais que teriam beneficiado a JBS, em Rondônia, foram mantidas exclusivamente com o contador Clodoaldo Andrade, na sede da sua empresa, Rio Madeira Contabilidade Empresarial".

"Considerando que o senhor Clodoaldo Andrade, integra a direção do PSDC do Estado de Rondônia (...) e que no depoimento prestado pelo executivo Valdir Aparecido Boni, ele teria conhecido o referido contabilista na sede do PSDC (...) a Comissão Executiva do Diretório Nacional do PSDC, fundamentada em seu compromisso com a transparência e a legalidade, convocou o Presidente Estadual do PSDC em Rondônia, o Eng. Edgard Nilo Tonial e o Contador Clodoaldo Andrade, também integrante da Direção Estadual do PSDC naquele Estado, para comparecerem na sede operacional do partido em São Paulo - SP, e apresentarem a versão dos fatos.

Após a audiência, a Direção Nacional do PSDC, deliberará sobre as providências que se mostrarem necessárias, no âmbito partidário".

A reportagem entrou em contato com o PT do B, mas não obteve resposta até a publicação desta matéria. O espaço está aberto para manifestação.

Da mesma forma, entrou em contato com o PEN e o PTC, mas não consegui respostas. O espaço está aberto para os duas legendas.

Ministros do Supremo Tribunal Federal admitem a possibilidade de revisar os benefícios concedidos aos empresários do grupo J&F - holding que inclui a JBS - no acordo de delação premiada firmado com a Procuradoria-Geral da República. A previsão não é de consenso entre os integrantes Corte, mas tem sido defendida por alguns magistrados e até mesmo pelo relator da Operação Lava Jato, ministro Edson Fachin.

Alvo de polêmica, o acordo firmado pelo Ministério Público Federal prevê imunidade penal aos irmãos Joesley e Wesley Batista e demais delatores do grupo empresarial. Eles foram também autorizados a viver fora do País.

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Embora não comente o caso publicamente, ao homologar as delações dos acionistas e executivos do grupo J&F, Fachin citou expressamente decisão do plenário da Corte segundo a qual a homologação "limita-se a aferir a regularidade, a voluntariedade e a legalidade do acordo, não havendo qualquer juízo de valor a respeito das declarações do colaborador".

O relator da Lava Jato grifou, em seu despacho, trecho sobre a não realização de "juízo de valor" sobre os fatos delatados. Fachin ainda escreveu que "não cabe" ao Judiciário, "neste momento, a emissão de qualquer outro juízo quanto ao conteúdo das cláusulas acordadas". As menções são um indicativo do próprio relator sobre seu pensamento a respeito de benefícios acertados em delação firmada com o Ministério Público.

A Lei 12.850/13, que traz a regulamentação sobre a colaboração premiada, prevê que, na homologação, o juiz vai verificar a legalidade do acordo. Mas a eficácia do que foi delatado deve ser analisada na sentença que resultar de investigação feita com base na delação. Isso significa que é preciso, após as investigações, verificar se os fatos revelados se comprovaram e se o acordo surtiu efeito.

Atribuição

Na terça-feira, 23, dois ministros do STF defenderam publicamente esse entendimento ao participarem de um debate sobre delação premiada em Brasília. O ministro Marco Aurélio Mello afirmou enfaticamente que "quem fixa os benefícios é o Poder Judiciário".

"O MP não julga. Quem julga é o Estado-juiz e não o Estado-acusador", disse. Também presente ao evento, o único ministro do STF indicado pelo presidente Michel Temer, Alexandre de Moraes, afirmou que a fixação dos benefícios para os delatores só deve ser feita na fase final do processo, após ficar comprovado que o que foi dito pelos delatores é verdade e foi essencial para desbaratar a organização criminosa.

Em caráter reservado, um outro ministro da Corte também admitiu a revisão da colaboração da JBS. Integrantes do Supremo ouvidos ressaltaram que isso se aplica a qualquer acordo de delação premiada. Se a investigação não confirmar os fatos revelados em razão de problemas na delação, o delator pode ficar sem os benefícios previstos. O que foi dito e produzido em termos de provas continua sendo aproveitado pelo Ministério Público Federal.

Há consenso entre ministros ouvidos pelo Estado, no entanto, de que a discussão sobre o tema não seria feita de uma hora para outra, mas após as investigações serem realizadas. Com a imunidade penal, a Procuradoria-Geral da República abre mão de apresentar denúncia contra os delatores. Mas, para ministros, isso não significa que eles não serão investigados, uma vez que desdobramentos da colaboração premiada são objeto de inquéritos.

Nem todos os ministros concordam com a revisão de benefícios. Um magistrado ouvido sob condição de anonimato disse ao Estado não vislumbrar qual instrumento jurídico poderia ser usado para dar início a esse debate. Para ele, é papel do Congresso, e não do STF, regulamentar de forma mais clara o instrumento da delação.

Ministros destacaram trechos da lei de organizações criminosas que aponta que "a sentença apreciará os termos do acordo e sua eficácia". A norma estabelece que, "ainda que beneficiado por perdão judicial ou não denunciado, o colaborador poderá ser ouvido em juízo a requerimento das partes ou por iniciativa da autoridade judicial".

Nos acordos firmados até agora na Lava Jato, os procuradores têm negociado diretamente com as defesas de executivos as penas que serão impostas aos delatores. Segundo procuradores, a pena é um "parâmetro" a ser usado na fixação da pena.

O ministro Teori Zavascki (morto em janeiro) chegou a pedir à Procuradoria-Geral da República que fizesse ajustes em algumas colaborações, mas fez isso antes da homologação, não depois - caso dos acordos do senador cassado Delcídio Amaral (ex-PT-MS) e do ex-diretor da Petrobrás Paulo Roberto Costa.

Mandado de segurança

O ministro Celso de Mello, decano do STF, afirmou nesta quinta-feira que vai receber representantes do Instituto Brasileiro do Direito de Defesa (Ibradd) na próxima semana e somente depois vai analisar o mandado de segurança da entidade que pede a anulação da delação da JBS.

O documento recomenda ao STF que considere o acordo inconstitucional, ao criticar "o conteúdo light e excepcionalmente benevolente do referido acordo de colaboração". As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Em artigo publicado nesta quinta-feira (25) no jornal "Folha de S.Paulo", o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, voltou a defender o acordo de delação premiada firmado com a JBS.

Em resposta às críticas, Janot chamou de "leviandade" julgar as escolhas do acordo, "sem examinar as provas e seu alcance, desconsiderando as circunstâncias concretas". O site UOL publicou uma primeira manifestação de Janot na terça-feira, 23. Em artigo, o procurador-geral afirmou que a delação da JBS revelou "crimes graves".

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No texto desta quinta, Janot disse que, se fosse possível, jamais faria acordo de colaboração com criminosos. "Mas, desafortunadamente, o caminho tradicional para aplicação da lei penal tem-se mostrado ineficaz e instrumento de impunidade".

Desde que os termos da colaboração foram divulgados, há uma semana, o Ministério Público vem sendo alvo de críticas. Os irmãos delatores Joesley e Wesley Batista, donos do grupo J&F, entregaram documentos e gravações que embasaram inquéritos contra o presidente Michel Temer e o senador afastado Aécio Neves (PSDB-MG).

Pelo acordo, os delatores têm imunidade total em relação aos crimes confessados e cada um foi multado em R$ 110 milhões.

No artigo, o procurador-geral da República disse ainda que, por responsabilidade, se distanciou da "utopia" e do "aplauso fácil" para celebrar o acordo com os irmãos Batista.

Sobre a falta de perícia nas gravações feitas por Joesley e que foram incluídas nas investigações, Janot afirmou que "há muitas outras provas que sustentam o acordo" e que o inquérito requerido ao Supremo Tribunal Federal serve para viabilizar a realização da análise pericial. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, escreveu artigo para o portal UOL no qual defende o acordo firmado com os empresários do Grupo J&F, comandado por Joesley Batista. No texto, Janot aponta que delação é "muito maior que os áudios questionados", justifica a concessão de imunidade penal aos delatores - que não serão denunciados pelos crimes que revelaram no acordo - e diz estar "convicto" de que tomou a decisão correta.

É a primeira manifestação de Janot à imprensa após a vinda à tona da celebração do acordo com os irmãos Joesley e Wesley Batista e outros executivos do grupo.

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Ao dizer ter sido procurado pelos irmãos Batista no início de abril, Janot ressalta que os empresários entregaram crimes graves em andamento. "Trouxeram eles indícios consistentes de crimes em andamento - vou repetir: crimes graves em execução -, praticados em tese por um senador da República e por um deputado federal", escreve Janot, sem citar os nomes do senador Aécio Neves (PSDB-MG) e do deputado Rocha Loures (PMDB-PR), implicados na delação e flagrados em gravações.

Sobre a relação de Joesley com Temer, o procurador-geral aponta que os delatores: "apresentaram gravações de conversas com o presidente da República, em uma das quais se narravam diversos crimes supostamente destinados a turbar as investigações da Lava Jato".

Os fatos, nas palavras de Janot, são "aterradores" e vieram junto a "dezenas de documentos e informações concretas" sobre contas no exterior e pagamento de propina "envolvendo quase duas mil figuras políticas".

Ele aponta que os benefícios a Joesley e os demais 6 delatores da J&F "podem parecer excessivos", mas que a outra alternativa seria a não celebração do acordo de delação, o que acabaria sendo pior ao País.

"Jamais saberíamos dos crimes que continuariam a prejudicar os honrados cidadãos brasileiros, não conheceríamos as andanças do deputado com sua mala de dinheiro, nem as confabulações do destacado senador ou a infiltração criminosa no MPF", destaca o procurador-geral.

"Finalmente, tivesse o acordo sido recusado, os colaboradores, no mundo real, continuariam circulando pelas ruas de Nova York, até que os crimes prescrevessem, sem pagar um tostão a ninguém e sem nada revelar, o que, aliás, era o usual no Brasil até pouco tempo", escreveu Janot.

Ele fala das revelações feitas pelos irmãos Batista e funcionários do grupo sobre o Temer, Aécio, os ex-presidentes Dilma Rousseff e Luiz Inácio Lula da Silva e o procurador Ângelo Goulart, que repassava informações da Operação Greenfield à JBS. Aponta que os fatos citados foram graves o suficiente para conceder benefícios ao empresário que fez as revelações em troca do acordo de colaboração.

"Até onde o país estaria disposto a ceder para investigar a razão pela qual o presidente da República recebe, às onze da noite, fora da agenda oficial, em sua residência, pessoa investigada por vários crimes, para com ela travar diálogo nada republicano?", escreve Janot sobre o encontro de Temer com Joesley Batista no dia 7 de março, no Palácio do Jaburu. O presidente tem questionado uma suposta edição do áudio entregue pelo empresário com a conversa gravada, mas confirma o encontro.

Sobre Aécio, flagrado em negociação de R$ 2 milhões em propina, Janot questiona: "Quanto valeria para a sociedade saber que a principal alternativa presidencial de 2014, enquanto criticava a corrupção dos adversários, recebia propina do esquema que aparentava combater e ainda tramava na sorrelfa para inviabilizar as investigações?."

Na segunda-feira, o procurador-geral pediu que o Supremo Tribunal Federal, em plenário, determine a prisão preventiva de Aécio Neves e do deputado Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR), flagrado recebendo uma mala com R$ 500 mil.

Por fim, Janot aponta a situação de Dilma e Lula. Segundo a delação de Joesley, os ex-presidentes tinham duas "conta-correntes" de propina no exterior, cujo saldo bateu em US$ 150 milhões em 2014. "Que juízo faria a sociedade do MPF se os demais fatos delituosos apresentados, como a conta-corrente no exterior que atendia a dois ex-presidentes, fossem simplesmente ignorados?", escreve Janot.

"Foram as perguntas que precisei responder na solidão do meu cargo. A gravidade do momento, porém, fez-me compreender claramente que já tinha em mim as respostas há pelo menos trinta e dois anos, quando disse sim ao Ministério Público e jurei defender as leis e a Constituição do país", escreveu o procurador-geral da República. Janot não concedeu entrevistas desde que tudo veio à tona, a partir da semana passada.

Janot diz que, como procurador-geral da República, "não teve outra alternativa" senão conceder a imunidade penal aos delatores. Ele diz ter utilizado três premissas para admitir o benefício: "a gravidade dos fatos, corroborados por provas consistentes; a certeza de que o sistema de justiça de que o sistema de justiça criminal jamais chegaria a todos esses fatos pelos caminhos convencionais de investigação; e a situação concreta de que, sem esse benefício, a colaboração não seria ultimada e, portanto, todas as provas seriam descartadas."

O procurador-geral da República aponta que, "para os que acham que saiu barato", a J&F está sendo instada a pagar multa de R$ 11 bilhões pelo acordo de leniência que negocia com o Ministério Público Federal.

Ele menciona ainda que operações suspeitas no mercado de câmbio feitas pela JBS com base em informação privilegiada sobre o acordo não estão abrangidas pelo acordo e, portanto, Joesley Batista e os demais executivos "permanecem sujeitos à integral responsabilização penal" por esses fatos. O crime de "insider trading", em que se utiliza de informação privilegiada para operar no mercado, é punido com prisão e multa sobre o valor lucrado.

Para Janot, o foco do debate foi "deturpado" ao se iniciar o questionamento de um ponto "secundário", que são os benefícios concedidos pela Procuradoria-Geral da República a Joesley, Wesley e os demais executivos. A questão central, na visão do procurador-geral, é "o estado de putrefação de nosso sistema de representação política".

"Três anos após a deflagração da Operação Lava Jato, com todos os desdobramentos que se sucederam, difícil conceber que algum fato novo ainda fosse capaz de testar tão intensamente os limites das instituições. Mas o roteiro da vida real é surpreendente", escreve o procurador-geral.

A Polícia Federal informou nesta segunda-feira (22) que ainda não recebeu o gravador usado pelo executivo Joesley Batista, da JBS, para gravar a conversa com o presidente Michel Temer na noite de 7 de março no Palácio do Jaburu. Os peritos criminais federais que vão analisar o áudio reputam "fundamental" examinar o equipamento que o empresário usou.

Os peritos atuam no Instituto Nacional de Criminalística, órgão central de perícias da Polícia Federal. A PF pediu à Procuradoria-Geral da República que providencie a entrega do gravador. Os áudios dos diálogos de Joelesy e de outros executivos da JBS com os alvos da Operação Patmos já estão na PF - além de Temer, gravado por Joesley, são investigados o senador Aécio Neves (PSDB/MG) e o deputado Rocha Loures (PMDB/PR), aliado do presidente.

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Temer, alvo de inquérito no Supremo Tribunal Federal por suspeita de corrupção passiva, obstrução da investigação e participação em organização criminosa, alega que a gravação de sua conversa com Joesley foi editada e manipulada. Seu defensor, o criminalista Antônio Claudio Mariz de Oliveira, pediu a suspensão do inquérito até que a perícia federal seja realizada. O Plenário do STF vai decidir na quarta-feira.

A PF já recebeu os quesitos apresentados pela Procuradoria-Geral da República e pela defesa do presidente para elaboração do laudo pericial. Mas os peritos insistem que é "fundamental" o gravador utilizado por Joesley.

"Em análise técnica preliminar, o Instituto Nacional de Criminalística apontou que é fundamental ter acesso ao equipamento que realizou as gravações originais. Por esse motivo, a PF oficiou à Procuradoria, solicitando o aparelho", destacou a PF, em nota divulgada neste domingo, 21.

A PF assinalou que "não há prazo inicial estipulado para conclusão dos trabalhos periciais, especialmente diante da necessidade apontada de perícia também no equipamento".

Desde que firmou acordo de delação premiada com a Procuradoria, Joesley se mudou com a família para Nova York - sua saída do País, sem tornozeleira eletrônica, faz parte do pacto.

Investigadores avaliam que este é o acordo mais "generoso" da Lava Jato. Joesley e seu irmão, Wesley, vão pagar R$ 110 milhões cada um. O grupo tenta acordo de leniência, mas oferece um valor pouco superior a R$ 1 bilhão - a Procuradoria exige mais de R$ 11 bilhões.

O dinheiro do JBS, principal conglomerado brasileiro do setor de carnes, ajudou a eleger um em cada três dos integrantes da Câmara e do Senado. O grupo foi o principal financiador privado de candidatos na eleição de 2014.

Entre os documentos que os delatores do JBS entregaram à Procuradoria-Geral da República (PGR) está uma lista de deputados eleitos em 2014 e beneficiados por doações do grupo empresarial. Nela, há 166 nomes - 32% do universo de 513 deputados eleitos.

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No pacote de documentos também há uma relação dos atuais senadores, com um "OK" marcado ao lado do nome de cada parlamentar que recebeu recursos do JBS. A lista inclui 28 senadores, ou 35% do total de 81 parlamentares da Casa.

O grupo fundado por Joesley e Wesley Batista fazia lobby no Executivo, no Congresso e nos governos estaduais para obter vantagens e ganhar mercado. Em ao menos um caso, houve compra de votos na Câmara para aprovar legislação que dava ao grupo benefícios tributários, segundo confissão dos delatores ligados à empresa.

A existência dessa rede de influências pode provocar polêmicas futuras. Na hipótese de saída do presidente Michel Temer e eventual convocação de eleição indireta, um terço dos congressistas que elegerão o futuro presidente terá sido beneficiado por doações de campanha do causador da crise.

Proporção

Em números absolutos, o PP é o partido campeão de deputados eleitos conectados ao grupo empresarial: 27. Isso equivale a sete em cada dez eleitos. Em 2014, a legenda conquistou 38 vagas na Câmara. Em segundo lugar aparece o PT, com 20 financiados. O partido é seguido de perto pelo PR (19) e pelo PMDB (17).

O ranking muda quando se considera a proporção entre financiados e eleitos em cada bancada. No caso da Câmara, há cinco partidos que tiveram mais da metade de seus deputados eleitos financiados pelo JBS: PC do B (90%), PP (71%), PROS (64%), PDT (60%) e PR (56%). Além disso, o único deputado eleito pelo PTdoB recebeu recursos da mesma fonte.

Dos grandes partidos, o PT aparece em 10.º lugar, com 29% da bancada eleita financiada pelo grupo. O PMDB vem na posição seguinte, com 26%. Já o PSDB aparece no 19.º lugar - apenas 7% de seus deputados receberam contribuições do JBS em 2014.

Governismo

Naquele ano, o grupo empresarial ajudou a eleger bancadas majoritariamente alinhadas à então presidente, Dilma Rousseff (PT). Dos eleitos financiados pelo JBS, 92% integravam partidos da base dilmista. Vários desses partidos migraram para a base do atual presidente. Hoje, 75% dos eleitos com o apoio do JBS estão em legendas da base de Temer.

Os nomes e os valores apresentados à Procuradoria-Geral da República coincidem com os das prestações de contas entregues por partidos e candidatos à Justiça Eleitoral. Isso significa que, ao menos naquele documento específico, os valores citados são de "caixa 1", ou seja, os formalizados de acordo com a legislação.

Os deputados financiados não receberam contribuições diretamente do JBS. O dinheiro primeiro foi entregue às direções dos partidos e, depois, distribuído aos candidatos. Na delação não há elementos que indiquem se o JBS apontava ou não às cúpulas partidárias seus candidatos preferidos para disputar as eleições de 2014. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

O empresário Joesley Batista, dono da JBS, disse à Procuradoria-Geral da República (PGR) que sempre recebeu "sinais claros" - primeiro, pelo ex-ministro Geddel Vieira Lima (PMDB-BA) e depois, pelo presidente Michel Temer - de que era necessário fazer pagamentos ao ex-deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e ao corretor Lúcio Funaro, presos pela Lava Jato, para que ambos ficassem "calmos" e não partissem para a delação premiada.

O empresário contou que, em reunião no Palácio do Jaburu, no dia 7 de março, Temer lhe disse que Cunha o "fustiga", o que entendeu como "recado de que pagasse".

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O empresário relatou trecho de conversa com Temer no qual tratou dos interesses da JBS em vários órgãos do governo. "Sobre o BNDES, Temer intercedeu pessoalmente a favor do grupo do depoente, segundo ele afirmou, tendo falado com a presidenta (Maria Sílvia), o que foi infrutífero", diz trecho de documento da PGR.

Joesley relatou também que o presidente lhe assegurou que seria possível ter uma pessoa no Cade, com quem poderia ter uma "conversa franca"; e que faria serem atendidos pleitos do empresário com o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles.

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