Como toda criança já teve o sonho de voar, José Rodolfo Garrido Andrade, de 54 anos, não foi diferente. Com 14 anos de idade, o "Pepe" não ficou satisfeito em comprar o avião de brinquedo como todos os outros garotos. Para ele, construí-los para voar era mais interessante do que deixa-los empilhados em cima de uma estante, e foi assim que a empresa Aeropepe surgiu, através de um sonho de infância.
Situada no agora "ex-aeroclube" de Pernambuco, no bairro do Pina, Zona Sul do Recife, a empresa de aviação é fruto de muito esforço e luta diária do garoto fascinado por mecânica. Pepe nunca fez um curso ou ingressou em uma faculdade para aprender a construir um avião, ele simplesmente foi atrás das informações, mergulhou no mundo dos livros e aprendeu sozinho a fazê-los. “Não possuía família rica muito menos recursos financeiros, mas tinha a vontade de fazer que coisas voassem”, conta.
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O autoditada que nunca terminou a faculdade de física, sempre foi envolvido com aviação. Ele frequentava o aeroclube do Recife desde os seus 14 anos e começou a fazer aeromodelos pequenos. “Não fazia aqueles bonitinhos pra ficar parado na estante, eu fazia para voar”, enfatizou Pepe. Desde cedo ele começou a se envolver com pessoas que tinham o mesmo objetivo. “Sempre tive, por conta da minha paixão ou habilidade por aviação, a oportunidade de conhecer pessoas que tinham sempre uma formação e cultura nesse ramo maior que a minha. Lógico, aprendi a tirar proveito prático disso”, explica.
Com o passar do tempo, Pepe deixou a brincadeira de lado e começou a produzir aviões para voar, e o advento da aviação ultraleve básica proporcionou para o jovem uma oportunidade de fazer acontecer o seu sonho. “Aviação sempre foi uma coisa séria, rigorosa, muito cheia de certificações e homologações. Aí apareceram uns ‘malucos’ que começaram a voar através da asa delta, só que os próprios já estavam ficando velhos, cansados e com pouca resistência física a partir daí tiveram a brilhante ideia de colocar motores”, diz.
Segundo ele, esse hábito virou um esporte de massa porque ele era fácil de montar e qualquer um, mesmo as pessoas sem informação, poderiam pilotar o invento. “O esporte requeria uma grande responsabilidade. Aconteciam muitos acidentes e com isso as autoridades aeronáuticas começaram a fechar o cerco”, conta. Em seguida as pessoas começaram a aprimorar os ultraleves para ter mais performance sem deixar de lado uma atividade mais fácil do que o piloto privado e comercial que eram restritos devido os critérios de homologação, e com isso nasceu a categoria aviação experimental que perpetua até hoje.
“Essa categoria permitiu que pilotos com uma mínima instrução, com pouca formação e com um nível mínimo de capacidade, mas com segurança, de voar e de ter direitos iguais aos os demais pilotos comerciais. Só que os níveis, locais e altitudes de voo são diferentes”, explica Pepe. Passando a fase do ultraleve primário e básico, ele chegou os mais avançados que conseguem ir a lugares mais distantes, são mais velozes e são economicamente viáveis para as pessoas que vão fazer viagens longas.
Quando montou a empresa, o proprietário sempre priorizou a mão de obra local. “Contratamos as pessoas daqui sem nenhum conhecimento sobre o que é material composto e nós demos treinamento adequado. Hoje, temos funcionários que estão conosco desde o início da empresa”, afirma. O pessoal que morava nas comunidades locais, deixaram de ser pedreiro ou carpinteiro e aprenderam, através de cursos, a fazer soldas especiais, com processo de gases, entre outras. Atualmente a empresa conta com apenas dois dos sete funcionários devido o fechamento do Aeroclube.
Segundo o proprietário, a Aeropepe concorre com empresas do mundo inteiro. Os ultraleves produzidos por ele 'entram na briga' com os alemães, italianos, americanos e canadenses. “Os brasileiros estão começando a acordar para essas novas tecnologias”, diz. Ele sempre acompanhou a vida útil de seus aviõezinhos. Desde o primeiro dono até o quarto ou quinto, se houver. Só que agora com a eminente mudança do local da empresa, a Aeropepe passa por uma fase ruim. O homem que apredeu a voar sozinho, se sente de mão atadas.