Um ex-policial militar de Pernambuco, identificado como Devaldo Herculano da Silva, 48 anos, recluso no Presídio de Igarassu, Região Metropolitana do Recife, está sendo acusado por familiares de outros detentos de torturar e comandar o pavilhão individual da unidade, onde ele seria o "chaveiro". Herculano é apontado como um dos chefes do presídio e facilitador da entrada de drogas e celulares. O homem também é acusado de tentar se aproveitar sexualmente das mulheres dos presos nas visitas íntimas.
Os denunciantes apontam que o ex-PM é chaveiro do pavilhão individual de Igarassu e, por conta disso, exerce uma grande influência dentro da prisão, conseguindo comandar o que entra e o que sai. "Até as comidas que a gente leva é ele quem comanda o que pode ou não porque lá dentro tem uma mercearia onde ele vende de tudo cobrando mais caro", diz Katarina*.
##RECOMENDA##Para se ter noção, Katarina diz que uma água sanitária vendida no pavilhão custa R$ 10, já a Coca-Cola é vendida por R$ 20. “Vendem whisky, cerveja, drogas... Tudo à vontade. Os chaveiros tem contato direto com o diretor presencialmente e via WhatsApp”, afirma Lucrécia*. Us denunciantes garantem que o diretor do presídio, Charles Belarmino, está sendo conivente com tudo o que está acontecendo na unidade.
Aparentemente, o poder de comando do ex-PM é tão grande que ele consegue organizar uma comunidade de compras dentro do pavilhão. "Ele aluga barraco de pano na quadra para as visitas, cobra pedágio, é agiota na cadeia, dá em cima das mulheres dos presos e bota até eles no castigo para 'ficar' com elas", salienta Damião*.
Herculano também está sendo acusado de ser o 'facilitador' da movimentação de aparelhos celulares e até de drogas no pavilhão onde é chaveiro. No Facebook, o LeiaJá encontrou a conta “Pig Charles Belarmino” (nome do diretor da unidade), onde Herculano se apresenta como chaveiro do presídio de Igarassu e ex-PM. Na rede social, constatamos fotos em locais que aparentam ser o presídio, onde são vistas o uso desenfreado de aparelhos celulares o que - em tese - é proibido nas cadeias do Brasil. A ostentação de armas e drogas dão a ‘pitada’ do poder dos presos num local que deveria ser de ressocialização.
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O desmando é geral. O chaveiro do pavilhão família de Igarassu, Fabson Lemos Regis, mais conhecido como 'Cebola', também está sendo apontado como auxiliar do ex-PM. Fabson é tido como uma espécie de 'reprodutor' dos desmandos de Herculano. De acordo com os denunciantes, 'Cebola' também facilita o trânsito de drogas e celulares na unidade prisional e ainda espanca os detentos que não acatam as suas ordens ou andam 'fora da linha'.
Sobre eles
Fabson Lemos Regis foi condenado em 2014 a 9 anos e 4 meses de prisão, acusado de roubo a mão armada. Na época, a juíza Ângela Maria Teixeira de Carvalho Melo disse que Fabson "demonstrava periculosidade e conduta absolutamente voltada para o crime, demonstrando desprezo pela vida humana ou pela integridade física ou patrimonial de suas vítimas", avaliou.
Em 2007, Devaldo Herculano da Silva, 48 anos, foi submetido ao conselho de ética da Polícia Militar de Pernambuco por ter sido preso na cidade de Tacaimbó de posse de duas armas de fogo não registradas (um revólver calibre 38 e uma pistola calibre 380). Além disso, ele também foi acusado de ter matado Douglas Rodrigues de Melo Gualberto, que teve o seu corpo encontrado parcialmente carbonizado e com perfurações de projéteis cujo exame balístico comprovou que as balas eram do revólver de Herculano. Há dois meses, Herculano pediu na justiça pelo relaxamento de sua prisão, o que foi indeferido pelo Tribunal de Justiça de Pernambuco (TJPE).
Não é a primeira vez
A ostentação dos chaveiros não é algo novo na Penitenciária de Igarassu. Em 2015, Paulo Henrique Serpa, que na época cumpria pena por tráfico de drogas e homicídio, fazia questão de postar nas redes sociais a vida de luxo que levava dentro da unidade prisional. 'PH', como era conhecido, também atuava como chaveiro do Pavilhão D, cuidando da abertura e fechamento das celas.
Frutos do mar, cordão de ouro e até fotos tomando banho na "suíte vip", como fazia questão de falar, era o que tinha para o preso, que mantinha o seu ‘padrão de vida’ cobrando taxas de sobrevivência e comandando o tráfico de drogas interno, segundo apontou um agente penitenciário, da época, em entrevista ao G1.
Resposta Secretaria Executiva de Ressocialização
Em nota, a Secretaria Executiva de Ressocialização (Seres) informou que está "apurando as denúncias e identificando os envolvidos". O órgão do governo do Estado disse que intensificou as revistas nas portas de entrada "com a instalação de sistemas de inspeção de bagagens por raio x, portais detectores de metal, detectores de metal manual, scanners corporais, entre outros equipamentos de segurança".
*Nomes fictícios, para que as identidades dos denunciantes sejam preservadas.