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Desigualdade, marginalização e uso insustentável da terra e do oceano expõem ainda mais a população mundial às mudanças climáticas induzidas pelo homem. Segundo relatório do Painel Intergovernamental sobre o Clima (IPCC), da ONU, divulgado nesta segunda-feira (28), entre 3,3 bilhões e 3,6 bilhões de pessoas estão vulneráveis hoje a esses efeitos - com consequências diferentes entre países e regiões, mas marcadamente piores conforme a fragilidade socioambiental.

No caso brasileiro, o documento aponta efeitos negativos na produção agrícola, com reflexos sobre a economia e a segurança alimentar, a maior exposição da Amazônia aos efeitos das mudanças climáticas e da ação humana e o perigo de no futuro grandes massas migratórias no Nordeste serem causadas por eventos extremos como secas e inundações mais frequentes.

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O último documento do IPCC mostrou, em agosto de 2021, que a Terra está esquentando mais rápido do que era previsto e se prepara para atingir 1,5ºC acima do nível pré-industrial já na década de 2030, dez anos antes do que era esperado. Com isso, haverá eventos climáticos extremos com maior frequência, como enchentes e ondas de calor.

A estimativa da população hoje exposta aos efeitos das mudanças climáticas representa até mais do que 50% da população mundial, de 7,8 bilhões de pessoas. Mesmo que a temperatura exceda temporariamente 1,5ºC acima dos níveis pré-industriais, os impactos esperados são severos e alguns até irreversíveis.

"Abdicar da liderança é criminoso. Os maiores poluidores globais são culpados de destruir a nossa própria casa", disse o secretário-geral da ONU, António Guterres. "Negação e procrastinação não são estratégias, mas a receita para o desastre", acrescentou o enviado especial do governo americano para o clima, John Kerry.

Mais atingidos

Apesar dos esforços para atenuar esses efeitos, as populações e os ecossistemas menos capazes de lidar com as mudanças climáticas têm sido os mais atingidos, diz o documento aprovado no domingo por 195 membros do IPCC. São locais marcados por padrões de desenvolvimento ligados a colonialismo e governança ineficaz.

As Américas Central e do Sul estão altamente expostas, diz o relatório. A região é vulnerável e fortemente afetada pelo aquecimento global, situação amplificada por desigualdade, pobreza, crescimento populacional e alta densidade populacional nas cidades, com a ocupação de áreas de risco.

Nesse contexto, diz o documento, algumas regiões do Brasil têm alta probabilidade de sofrer consequências drásticas. Na Amazônia, as mudanças no uso da terra e o desmatamento a deixarão mais suscetível a eventos extremos e incêndios florestais.

No Sudeste brasileiro, são esperadas mudanças no padrão de chuvas e secas que trarão impactos para a vida econômica das grandes aglomerações urbanas. Já no Nordeste, assim como região andina e norte da América Central, os efeitos das mudanças climáticas, como secas e inundações, podem causar o deslocamento forçado de populações.

Neste ano, no Brasil, por exemplo, fortes chuvas, mais concentradas e frequentes, atingiram os Estados da Bahia, de Minas, de Goiás, do Espírito Santo e do Rio de Janeiro. Mais de 200 mortes foram registradas em Petrópolis neste mês em decorrência de temporais e deslizamentos.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Elevação do nível dos mares, derretimento de calotas polares e outros efeitos do aquecimento global podem ser irreversíveis durante séculos e são "inequivocamente" impulsionados por emissões de gases causadores do efeito estufa da atividade humana, afirma nesta segunda-feira (9) em novo relatório o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês), que trabalha sob os auspícios da Organização das Nações Unidas.

O IPCC, organização de 195 governos, chegou ao novo relatório a partir de análises durante três anos de 14 mil estudos científicos com revisões pelos pares. Trata-se da primeira grande avaliação internacional da pesquisa sobre mudanças climáticas desde 2013, no primeiro dos quatro relatórios do IPCC esperados para os próximos 15 meses.

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"Já sabemos há décadas que o mundo está esquentando, mas o relatório nos diz que mudanças recentes no clima são disseminadas, rápidas e se intensificam, de maneira sem precedentes em milhares de anos", afirmou Ko Barrett, vice-presidente do painel. "Além disso, é incontestável que atividades mudanças causam mudanças climáticas."

O relatório destaca a responsabilidade humana por ondas recordes de calor, secas, tempestades mais intensas e outros eventos extremos de temperatura vistos pelo mundo nos últimos anos. Ele também detalha melhor estimativas de quão sensível é o clima a níveis crescentes de gás carbônico e outros gases estufas na atmosfera.

O documento estabelece as bases científicas para a COP26, cúpula sobre mudança climática prevista para novembro em Glasgow.

Um acordo global de 2015 em Paris previa que os países adotassem medidas para limitar o aumento da temperatura global a 1,5 grau Celsius, mas os esforços têm sido insuficientes.

O relatório desta segunda-feira projeta que, sem reduções rápidas nas emissões, as temperaturas globais podem subir mais de 1,5 grau Celsius ao longo dos próximos 20 anos.

O nível dos oceanos está aumentando 2,5 vezes mais rapidamente no século 21, se comparado ao ritmo de elevação do século anterior. Essa é uma das conclusões de relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês), apresentado nesta quarta-feira, 25. Pequenas ilhas ameaçadas de submergir e geleiras que desapareceram são alguns dos impactos das mudanças climáticas, já consideradas "irreversíveis" pelo grupo de especialistas em clima da Organização das Nações Unidas (ONU) responsável pelo relatório.

Segundo o estudo, o nível do mar poderá subir mais de 1 metro até o ano de 2100 se for mantido o atual aumento das temperaturas globais. Dois dias depois da Cúpula do Clima, em Nova York, o relatório enfatizou que as medidas para reduzir as emissões de gases de efeito estufa podem fazer grande diferença. Ao reduzir essas emissões, as mudanças prejudiciais aos oceanos não parariam subitamente, mas diminuiriam. Dessa forma, "haveria mais possibilidades de conservar ecossistemas e permitir que se ganhasse tempo", disse a climatologista Valérie Masson-Delmotte, que participou da elaboração do documento de 900 páginas do IPCC. Ganhar tempo para, por exemplo, construir diques ao redor de cidades costeiras, como Nova York, ou antecipar a retirada de populações de Estados insulares que podem se tornar inabitáveis até o fim do século.

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Um bilhão

De acordo com o informe da ONU, até meados do século, mais de 1 bilhão de pessoas viverão em áreas costeiras baixas, vulneráveis a inundações e outros eventos climáticos extremos potencializados pela elevação do nível do mar e pelas alterações climáticas. (Com agências internacionais).

O planeta precisa mudar urgentemente a maneira de usar e cultivar suas terras para garantir a segurança alimentar de seus habitantes e lutar contra a mudança climática, alertam os especialistas da ONU sobre o clima.

O Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês) pediu, em um relatório publicado em Genebra, ações em curto prazo contra a degradação dos solos, o desperdício de alimentos ou as emissões de gases que provocam o efeito estufa pelo setor agrícola.

As delegações dos 195 países membros do IPCC examinaram durante cinco dias o relatório, que tem como título "A mudança climática, a desertificação, a degradação dos solos, sua gestão sustentável, a segurança alimentar e os fluxos de gases do efeito estufa".

O informe examina como a mudança climática afeta os solos utilizados para o cultivo, para o gado ou para os bosques, assim como questões de segurança alimentar, as práticas agrícolas e a maneira como o desmatamento modifica o clima.

O texto, de 1.200 páginas negociadas linha por linha pelas delegações, foi divulgado em uma entrevista coletiva em Genebra.

A conclusão principal é que "nosso uso dos terras [...] não é sustentável e contribui para a mudança climática", afirmou a copresidente do IPCC, Valérie Masson-Delmotte.

Os sistemas alimentares geram, em seu conjunto, "até um terço de nossas emissões" de gases de efeito estufa, ressaltou Eduardo Calvo Buendía, copresidente do IPCC.

Pouca margem de manobra

O documento afirma que não resta mais tempo, pois o aquecimento das terras emergidas alcançou 1,53°C, o1 dobro do aumento global da temperatura (incluindo os oceanos).

Os riscos de instabilidade em termos de abastecimento alimentar poderiam ser "muito elevados" a 2ºC, explicou Masson-Delmotte.

A margem de manobra é muito pequena se os países desejam limitar a mudança climática e seus efeitos sobre as terras e, ao mesmo tempo, alimentar corretamente uma população que mundial que no fim do século pode superar 11 bilhões de pessoas.

Queremos "reduzir as emissões que saem das terras o máximo possível", mas sem esquecer "a outra parte da equação: as emissões de gases de efeito estufa principalmente fruto do setor de energia", insistiu à AFP Hoesung Lee, presidente do IPCC.

"Temos que pensar de maneira muito mais exaustiva como utilizaremos cada hectare. As terras têm que permitir cultivar nossa comida, proporcionar biodiversidade e água doce, dar trabalho a bilhões de pessoas e capturar bilhões de toneladas de carbono", indicou Piers Forster, professor da universidade de Leeds (Reino Unido).

Mudar os hábitos de alimentação

O IPCC elaborou diversas hipóteses para alcançar a meta de limitar o aumento da temperatura a 1,5°C ou a menos de 2°C em comparação ao período pré-industrial.

As hipóteses incluem a mudança do uso das terras, o reflorestamento e as bionenergias, entre outras medidas.

O informe adverte, no entanto, que a reconversão do uso dos solos (reflorestamento para capturar CO2, campos dedicados às bioenergias, etc) poderia ter "efeitos colaterais indesejáveis", como a desertificação ou a degradação do solo.

Para o IPCC, além de reduzir as emissões de gases do efeito estufa, também é necessário mudar os hábitos de consumo.

Atualmente "entre 25% e 30% da produção total de comida é desperdiçada", afirma o relatório, ao mesmo tempo que 820 milhões de pessoas no mundo passam fome.

Se nas regiões pobres as proteínas animais são insuficientes em alguns momentos, nos países ricos são consumidas em excesso e existem dois bilhões de adultos com sobrepeso ou obesos.

O informe aponta o benefício para o meio ambiente e a saúde das dietas menos ricas em carne mas "o IPCC não prescreve os regimes das pessoas", disse seu copresidente, Jim Skea.

"Espero que este informe chame a atenção midiática ainda mais que o anterior", e que cada um "se dê conta do significado das conclusões", declarou à AFP Greta Thunberg, a ativista adolescente sueca, que assistirá esta semana a uma cúpula de jovens pelo clima em Lausanne (Suíça).

O relatório do IPCC publicado nesta quinta-feira é o segundo de uma série de três "informes especiais".

O primeiro, divulgado no ano passado, abordou a questão da possibilidade de conter o aquecimento global a 1,5°C. O terceiro e último, previsto para setembro, examinará os oceanos e a criosfera (geleiras, etc).

O presidente do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), o indiano Rajendra Pachauri, afastou-se provisoriamente de seus compromissos oficiais, após a abertura de uma investigação por assédio sexual contra ele em seu país, poucos meses antes da conferência de Paris sobre o clima. Pachauri não presidirá na próxima sessão plenária deste grupo de especialistas das Nações Unidas sobre o clima em Nairóbi, devido a "assuntos que exigem sua atenção", informou o IPCC no sábado, em um comunicado breve.

Uma pesquisadora acusa o climatologista de enviar e-mails e mensagens por SMS, mas Pachauri desmente estas acusações, alegando que seu e-mail e celular foram 'hackeados'. O presidente do IPCC se apresentará esta segunda-feira (22) a um tribunal de Nova Délhi para evitar ter a prisão preventiva decretada e conseguir ser libertado sob fiança.

Os problemas judiciais ocorrem no pior momento, em um ano crucial para as negociações mundiais sobre o clima, que concluirá com a conferência internacional de Paris, em dezembro. A reunião na capital francesa visa a fechar o acordo mais ambicioso já assinado para combater contra o aquecimento global, um pacto universal que sucederá o Protocolo de Kyoto após 2020.

Os especialistas do IPCC, que elaboraram cinco informes sobre as mudanças climáticas desde a sua criação, em 1988, terão um papel-chave nas negociações, em um momento em que a comunidade internacional não consegue entrar em acordo sobre o balanço da situação e as medidas a adotar.

Seu último informe, publicado em outubro de 2014, propõe diferentes cenários possíveis. O mais pessimista prevê uma elevação global das temperaturas no final do século XXI de 3,7ºC a 4,8ºC com relação ao período 1850-1900.

As emissões de dióxido de carbono (CO2) e dos demais gases de efeito estufa na atmosfera dobraram na primeira década do século 21 em relação aos últimos 30 anos do século 20. A revelação consta do relatório que o Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC) das Nações Unidas deve apresentar amanhã em Berlim. As negociações entre cientistas e delegados nacionais, porém, são lentas: até a noite de ontem, após cinco dias de trabalho, apenas 50% do documento havia sido revisado.

O relatório diz respeito às estratégias de controle e redução dos efeitos das mudanças climáticas geradas pela intervenção humana. Segundo o rascunho que ainda hoje será discutido pelos cientistas, "as tendências atuais de emissões de gases de efeito estufa estão no topo dos níveis projetados para a próxima década".

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O IPCC adverte ainda que o crescimento médio das emissões, de 2,2% ao ano na primeira década do século 21, foi superior ao 1,3% registrado entre 1970 e 2010. No biênio 2010 e 2011, o nível chegou a 3%, conforme o jornal britânico The Guardian.

Outro dado alarmante é que as emissões não pararam de crescer mesmo com a crise financeira internacional, que desacelerou o ritmo da atividade econômica mundial. Para cumprir o objetivo de limitar o aumento médio da temperatura da Terra a 2°C até 2100, países desenvolvidos, como os Estados Unidos, seriam obrigados a cortar até 2030 pela metade suas emissões de gases de efeito estufa em relação a 2010. Países emergentes, como China, Índia e Brasil, também precisam participar de esforços semelhantes - a despeito de terem contribuído menos para as emissões de CO2 desde o início da revolução industrial.

Custos- O rascunho do documento tende a desapontar investidores e líderes políticos que aguardam um balanço financeiro do custo das medidas de mitigação do aquecimento global. De acordo com dados obtidos pela agência Reuters, o texto afirma que uma dura redução das emissões de gases de efeito estufa implicaria uma perda "de consumo" avaliada entre 1% e 4% até 2030, de 2% a 6% até 2050, e de 2% a 12% até 2100, se comparado a nenhuma ação. "Estes custos não consideram os benefícios da mitigação, incluindo a redução dos impactos climáticos", ressalta o texto.

Os cientistas indicam, portanto, que haverá perda econômica, mas não detalham os dados, nem explicam o que consideram "consumo". "Nós vamos oferecer mais análise econômica desta vez, mas não vamos colocar isso como o único impacto", afirmou à agência o coordenador do IPCC, o indiano Rajendra Pachauri.

A distribuição de peixes e outras espécies marinhas deve sofrer uma grande redistribuição pelos oceanos em todo o mundo até 2060, diminuindo nas regiões tropicais e crescendo nas latitudes médias e altas, em decorrência das mudanças climáticas, indica o novo relatório do IPCC.

O relatório indica uma redução do potencial de pesca de até 20% em algumas regiões costeiras da América do Sul. Na região Antártica e na linha do Equador, pode chegar a 50%. Já em partes do Oceano Índico e no Hemisfério Norte, o potencial pode crescer 100%. A redistribuição pode reduzir suprimentos, lucros e empregos nos países tropicais.

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As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Uma noção bastante divulgada sobre as mudanças climáticas a fim de sensibilizar governantes a agir é que elas são democráticas - já estão atingindo e vão continuar afetando o mundo inteiro, sem exceção. O novo relatório do painel do clima da ONU (IPCC) que será divulgado no final do mês confirma esse cenário, mas deixa bem claro que os impactos dependem muito do grau de preparação de cada país para lidar com a questão. E aí os mais pobres ou as populações mais vulneráveis tendem a ser muito mais prejudicados. É o que se observa no segundo volume do relatório, que trata somente do impactos regionais. De acordo com uma versão preliminar do "Sumário para Formuladores de Políticas", documento mais político que acompanha o relatório, os riscos vão variar através do tempo e de país para país. De acordo com o relatório, países em desenvolvimento e comunidades rurais tendem a ser os mais atingidos por causa de impactos para a produção de alimentos, meios de subsistência e as economias locais.

Nesta parte, o documento distingue o nível de confiança de cada risco, partindo do médio para o muito alto, de modo a orientar governantes sobre onde pode ser melhor agir primeiro. As características físicas são determinantes (por exemplo, se uma região já é afetada por tempestades ou secas), mas fatores socioeconômicos são decisivos para estabelecer a vulnerabilidade de uma população e sua capacidade de adaptação. "A vulnerabilidade aumenta não só pelo clima, mas por fatores não climáticos, como o planejamento urbano, por exemplo", comenta o pesquisador argentino radicado no Brasil José Antonio Marengo, do Instituto Nacional de Mudanças Climáticas (Inpe). Autor líder do capítulo sobre América Central e do Sul, ele é o único representante do Brasil no grupo que define o "Sumário para Formuladores de Políticas". Os mais afetados serão os mais pobres e, entre eles, as mais vulneráveis são as mulheres. "Em muitos casos, elas não saem de casa, não veem quando está subindo uma enchente ou um deslizamento de terra", comenta Marengo.

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Brasil- Para o País, analisado dentro do bloco de América do Sul, fica claro o aumento já observado da média anual de chuva no sudeste (0,6 mm/dia de 1950 a 2008). Apesar de parecer um contraste com o cenário de seca que a região está vivendo, o dado tem de ser visto como uma média. Além disso, há um agravante. Boa parte dessa chuva tende a cair de uma vez só, em grandes tempestades, causando inundações e deslizamentos - e não chega a ser armazenada. Em outros dias, há pouca ou nenhuma chuva, o que pode dar a noção de seca, mesmo sem o volume total cair. Para o Nordeste, o IPCC volta a reafirmar o risco de aumento da aridez. A disponibilidade de água deve diminuir com a redução das chuvas e aumento da evapotranspiração nas regiões semiáridas.

Cerrado - Uma versão preliminar do relatório completo, que também está circulando na internet, traz alguns alertas para a Amazônia e o Cerrado brasileiro. O texto comenta que "mudanças no uso da terra contribuem significativamente para a degradação ambiental, exacerbando os impactos negativos das mudanças climáticas". Os cientistas reconhecem que o desmatamento na Amazônia está em queda, mas lembram que o do Cerrado segue crescendo. "A expansão da agricultura, em algumas regiões associadas a um aumento da precipitação, tem afetado ecossistemas frágeis, como as fronteiras da floresta amazônica e os Andes tropicais."

O relatório do IPCC (o painel de cientistas da Organização das Nações Unidas), que será divulgado no fim do mês, deve reforçar algumas noções dos impactos das mudanças climáticas no Brasil que os cientistas conhecem bem: o clima vai ficar mais instável, com alternância cada vez mais frequente de extremos climáticos - do muito quente para o muito frio; e do muito seco para o muito chuvoso. Cenários mais ou menos parecidos com os que estamos vendo atualmente nas Regiões Sudeste e Norte.

"O alerta é claro: temos de incorporar essa dimensão da variabilidade climática se quisermos evitar o colapso dos sistemas", afirma o climatologista Carlos Nobre, secretário de Políticas e Programas de Pesquisa e Desenvolvimento do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação.

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Segundo ele, a "incorporação" ou adaptação está intimamente ligada com a vida, o uso dos recursos, a infraestrutura local de cada país."A maioria dos países em desenvolvimento ainda é muito mal equipada para conviver com a variabilidade climática existente hoje. E imagine que, em cima dessa variabilidade, vamos ter as mudanças climáticas com mais extremos", explica. "Temos o exemplo clássico da convivência com a seca no Nordeste. Adaptar a infraestrutura urbana de uma grande cidade para as mudanças climáticas passa necessariamente por resolver grandes questões que vão muito além das mudanças climáticas. Que é a forma como a cidade se desenvolveu, a política de transporte público versus o automóvel, por exemplo", completa.

Nobre afirma que falar em adaptar a mobilidade de São Paulo, para as chuvas mais intensas, não tem nada a ver com aquecimento global. Trata-se conforme ele de um problema da urbanização."Se a cidade já fosse mais funcional no aspecto de mobilidade urbana, seria muito mais fácil se adaptar ao aumento da temperatura e da intensidade das chuvas e de inundações", pondera.

Crise no abastecimento

Para Nobre, o setor de abastecimento de água é o que ainda está reagindo mais na emergência.Mas a dimensão do longo prazo das mudanças climáticas precisa ser rapidamente incorporada nas políticas públicas do uso do recurso hídrico.

"Só responder na emergência não elimina todos os prejuízos econômicos, sociais e ambientais nem evita colapsos no longo prazo. E não estou dizendo que essa seca atual é uma decorrência das mudanças climáticas. Mas que, no futuro, a variabilidade climática, que é prevista por todos os cenários climáticos, tem de ser levada em consideração. O sistema tem de estar preparado para isso", adverte o cientista. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

A Floresta Amazônica poderá sofrer uma redução de 70% da extensão da sua área ao fim do século, se houver um aumento da estação seca. A projeção consta do relatório completo do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), que foi divulgado nesta segunda-feira, 30, na sequência do sumário para formuladores de políticas, anunciado na sexta passada, 27.

O material, com mais de mil páginas, traz com mais detalhes as bases físicas da ciência do clima e uma abordagem regional com projeções sobre como cada parte do planeta poderá ser afetada no futuro. O relatório lembra que no clima atual o crescimento intenso da floresta ocorre justamente durante a estação seca, quando a insolação é maior e há bastante água do período chuvoso armazenada nos aquíferos subterrâneos.

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Há muitas incertezas ainda sobre como a mudança climática vai afetar a seca na região, mas simulações que consideram um cenário de aumento do período sem chuva observam essa redução dramática na vegetação. O painel de cientistas alerta que o cenário poderá ficar ainda pior diante de um quadro de aumento do desmatamento, que tende a prolongar a estação seca. "Condições assim aumentam a probabilidade de incêndios naturais que, combinados com queimadas provocadas por atividades humanas, pode minar a resiliência da florestas às mudanças climáticas", escrevem os autores.

O relatório afirma que é muito provável (mais de 90% de chance) que a temperatura suba em toda a América do Sul, com o maior aquecimento projetado para o sul da Amazônia. A projeção é de um aumento da temperatura média de 0,5°C (centro-sul) a 1,5°C (Norte, Nordeste e Centro-Oeste) no País até o fim do século no cenário mais otimista; e de 3°C (sul e litoral do Nordeste) a 7°C (Amazônia) no pior cenário.

Chuva

Em relação às chuvas, porém, há incertezas, com diferentes estudos mostrando diferentes tendências para algumas regiões, explica a pesquisadora Iracema Cavalcanti, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), uma das autoras do capítulo que mostra as projeções regionais futuras. "Mas temos grande confiabilidade para algumas. Os resultados são muito robustos de que na Região Sul do País e na bacia do Prata as chuvas vão aumentar. E no inverno, há mais confiança de que haverá excesso de chuvas no oeste da Amazônia e menos no leste e no sul", diz.

Com 90% de probabilidade, é seguro dizer que a ciência já tinha certeza, em 2007, quando foi divulgado o relatório anterior do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), de que a culpa do aquecimento que o planeta já vem experimentando e sofrerá ainda mais no futuro é do homem. No novo relatório, essa certeza aumentou ainda mais - mas numa proporção ainda maior se elevou o impacto do homem sobre a Terra. O planeta de 2013 é pior que o de 2007 e fica a dúvida se desta vez a mensagem dos cientistas vai conseguir sensibilizar os governantes e provocar ações.

"O IPCC é um corpo científico, fazemos ciência, não fazemos política pública. É a ONU e os governos que têm de ouvir a mensagem científica e agir. Nossa obrigação é mostrar que a urgência está aumentando e é isso que trazemos nesse relatório", afirma o pesquisador brasileiro Paulo Artaxo, da USP, e um dos autores principais do capítulo sobre nuvens e aerossóis.

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Essa conclusão, segundo Artaxo, está sintetizada em um dado que num primeiro olhar pode ser de difícil compreensão - a chamada forçante radiativa, que mede o conjunto das interferências humanas no clima. De 2005 (ano base medido no relatório de 2007) a 2011 (usado no texto atual), houve um aumento de 43% nesse valor.

Na prática ela reflete a alteração no balanço radiativo da atmosfera. "O que mantém a vida e o clima no planeta é esse equilíbrio entre o quanto entra de radiação solar na Terra e o quanto sai. A forçante expressa essa diferença", diz.

Quanto mais gases de efeito estufa se acumulam na atmosfera, mais a radiação fica retida. E o valor da forçante sobe. "No final das contas, ela reflete todos os mecanismos com os quais o homem está alternando o clima. E em cinco anos, essa interferência aumentou 43%. É uma alteração brutal", diz.

Ao comparar, nos dois relatórios, os efeitos das mudanças climáticas já sentidos pelo planeta, fica mais evidente essa piora. No texto de 2007, por exemplo, a elevação do nível do mar registrada desde 1901 era de 17 centímetros. Agora são 19 cm. O aumento da temperatura a partir de 1850 era de 0,76°C. No novo relatório, partindo de 1880, o clima esquentou 0,85°C.

Na versão anterior se considerava que o Ártico estava perdendo 2,7% de gelo por década. Na atual, vai de 3,% a 4,1%. Aumentou, ainda, o grau de certeza de que estamos experimentando mais noites e dias quentes. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Provocada em especial pela queima de combustíveis fósseis, a concentração de dióxido de carbono (CO2) na atmosfera da Terra hoje é a maior em 800 mil anos e sua taxa média de crescimento é a mais alta em 22 mil anos. Os dados - piores do que todos os estimados até aqui - foram divulgados nesta sexta-feira (27), pelo Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC), o grupo de experts das Nações Unidas, e revelam a gravidade da intervenção do homem, o fator mais importante do aquecimento global.

Reunidos em Estocolmo, na Suécia, para discutir com delegados governamentais uma síntese de 31 páginas do diagnóstico sobre o do estado do planeta, cientistas foram enfáticos em reiterar: "O aquecimento do sistema climático é inequívoco e, desde os anos 1950, muitas das mudanças observadas não têm precedentes ao longo de décadas a milênios". Uma constatação semelhante já havia sido feita em 2007, mas ainda é contestada por "negacionistas" - políticos e uma minoria dentre cientistas que não acreditam no aquecimento da Terra.

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Conforme o relatório, a concentração de CO2 na atmosfera aumentou 40% desde a era pré-industrial em razão das emissões oriundas da queima de combustíveis fósseis. Deste total, 30% foram absorvidos no período pelos oceanos, que por essa razão se tornaram mais ácidos e menos capazes de regular o clima. "A concentração de dióxido de carbono (CO2), de metano (CH4) e óxido nitroso (N2O) cresceram desde 1750 em razão da atividade humana", sentencia o relatório, sem deixar espaço para dúvidas - o grau de certeza sobre a ação do Homem é de 95%. "Em 2011 as concentrações destes gases de efeito estufa excederam os níveis pré-industriais em cerca de 40%, 150% e 20%, respectivamente", completa o texto, lançando a advertência mais forte dos cientistas: "Concentrações de CO2, de CH4 e N2O agora excedem substancialmente as maiores concentrações registradas em núcleos de gelo durante os últimos 800 mil anos."

O alerta prossegue: "As maiores taxas de crescimento nas concentrações atmosféricas ao longo do século passado eram, com muito elevado grau de certeza, sem precedentes nos últimos 22 mil anos".

A emissão de gases que causam aquecimento global na atmosfera, responsabilidade do homem, tem como efeito direto o aquecimento médio da Terra. Entre 1951 e 2010, "gases de efeito estufa certamente contribuíram para aquecer a temperatura global média da superfície entre 0,5ºC e 1,3ºC". No Hemisfério Norte, os 30 anos entre 1982 e 2011 foram o período mais quente em 1,4 mil anos. Mantida a tendência, no melhor dos cenários a temperatura vai se elevar 1,5ºC. O mais provável é que, mesmo tomadas medidas para reduzir as emissões de CO2, a média suba mais de 2ºC, o que já teria efeitos devastadores para os ecossistemas e para a humanidade - o impacto será analisado pelo IPCC em abril, no Japão.

Com mais CO2 e temperaturas mais altas, o derretimento de geleiras se intensifica, assim como o nível dos oceanos aumenta e a ocorrência de eventos climático extremos se torna mais frequente. "A influência do Homem no sistema climático é clara", afirmou Thomas Stocker, um dos coordenadores do relatório de ontem. Para o pesquisador suíço, se nada for feito a Terra viverá um cenário pior do que o pior estabelecido pelo IPCC. "A questão mais importante não é onde estamos hoje, mas onde estaremos em 10, 15 ou 30 anos. E isso depende do que faremos hoje."

Após lançar na semana passada o Plano Nacional de Gestão de Riscos e Respostas a Desastres Naturais, o governo já estuda outros mecanismos para se antecipar a cenários de mais desastres no futuro.

Para a Conferência do Clima, que ocorre no fim do ano no Qatar, está sendo programada a apresentação da revisão do Plano Nacional de Mudanças Climáticas, já com algumas definições dos planos setoriais. E para o ano que vem, o governo planeja ter uma estratégia nacional para adaptação às mudanças climáticas, de acordo com Carlos Klink, secretário do Ministério do Meio Ambiente para o assunto.

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Outra abordagem vem do Ministério da Ciência e Tecnologia. O secretário de Políticas e Programas de Pesquisa, Carlos Nobre, disse que iniciou estudos para elaborar uma rede nacional de detecção precoce de impactos de eventos extremos. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo

Nos últimos 30 anos, o aumento da ocorrência de desastres naturais no mundo foi responsável por perdas que saltaram de poucos bilhões de dólares em 1980 para mais de US$ 200 bilhões em 2010. No Brasil, em somente seis anos (2004-2010), os gastos das três esferas governamentais com a reconstrução de estruturas afetadas nesses eventos evoluíram de US$ 65 milhões para mais de US$ 1 bilhão - um aumento de mais de 15 vezes.

Os dados foram citados ontem durante evento de divulgação do Relatório Especial sobre Gestão de Riscos de Extremos Climáticos e Desastres (SREX), do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC). A elaboração do documento foi motivada justamente por conta dessa elevação já observada de desastres e perdas. O alerta, porém, é para o futuro - a expectativa é de que essas situações ocorram com frequência cada vez maior em consequência do aquecimento global.

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Alguns dos autores do relatório estiverem presentes ontem em São Paulo, em evento promovido pela Fapesp e pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), para divulgar para a comunidade científica e tomadores de decisão os resultados específicos de América Latina e Caribe. A principal conclusão é que para evitar os desastres naturais, os cuidados vão muito além de lidar com o clima. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo

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