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Equipes de resgate escavavam nesta quinta-feira (3) escombros em um bairro de Beirute, capital do Líbano, em busca de sobreviventes das duas explosões que, em 4 de agosto, destruíram parte da cidade e mataram 190 pessoas. Havia uma pequena esperança: bombeiros relataram a detecção de um fraco batimento cardíaco cerca de 2 metros abaixo dos destroços. "Pode haver sobreviventes", afirmou o governador da cidade, Marwan Abboud. Sete pessoas continuam desaparecidas, segundo o exército libanês.

Um mês depois da tragédia, autoridades ainda não conseguiram determinar a causa das explosões - embora tenham ordenado a prisão de alguns dos possíveis responsáveis. Parte das vítimas ainda não se recuperou e as consequências econômicas, que devem perdurar no país, que já vivia uma crise, começaram a ser sentidas.

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Até agora, 21 pessoas, a maioria delas funcionárias portuárias ou alfandegárias, foram presas por algum tipo de envolvimento no incidente. Na última segunda-feira, 31, o juiz Fadi Sawwan, responsável pelas investigações, expediu dois mandados de prisão contra o diretor de transporte marítimo do Ministério dos Transportes e um alto funcionário, informou a agência estatal de notícias National News.

Apesar das prisões, as circunstâncias exatas da explosão ainda não são totalmente conhecidas. Nenhuma evidência conclusiva foi encontrada na primeira fase dos interrogatórios, afirmou Sawwan.

Uma das linhas de investigação trabalha com a possibilidade de que o incidente tenha se originado durante a soldagem de uma porta quebrada no armazém número 12. Três trabalhadores, todos atualmente sob custódia, teriam gerado faíscas que causaram o incêndio - que, por sua vez, causou a explosão.

Documentos que surgiram após a tragédia indicam que algumas autoridades tinham conhecimento há meses de que 2.750 toneladas de nitrato de amônio estavam sendo incorretamente armazenadas em um depósito do porto.

Oficiais franceses, russos e americanos colaboram com a investigação. O caso deve ser transferido para a mais alta corte do país, e não caberá recurso.

Vítimas

A explosão deixou 190 mortos e feriu mais de 6,5 mil pessoas. Entre elas, ao menos 150 devem ficar permanentemente incapacitadas, segundo uma contagem do Ministério da Saúde do país. "O número pode ser ainda maior, mas ainda estamos no processo de vasculhar os casos em vários hospitais antes de chegar a uma contagem exata", disse Joseph al-Hilw, diretor de assistência médica do Ministério, segundo a Al Jazeera. A maioria dessas 150 pessoas teve perda de visão e/ou de membros.

Além disso, muitas pessoas enfrentam agora o transtorno de estresse pós-traumático, que deve levar muito tempo para ser superado, segundo as autoridades. O Ministério se responsabilizou pelo tratamento vitalício dos sobreviventes; no caso de refugiados, agências da ONU precisarão arcar com os custos.

Consequências econômicas

A explosão causou até US$ 4,6 bilhões em danos físicos, disse o Banco Mundial em um relatório divulgado na segunda-feira. Ela deixou quase 300 mil pessoas desabrigadas, destruiu grande parte do porto e danificou bairros inteiros.

Os setores social, de habitação e de cultura foram os mais afetados, sofrendo danos substanciais que totalizam entre US$ 1,9 bilhão e US$ 2,3 bilhões e US$ 1 bilhão e US$ 1,2 bilhão, respectivamente, acrescentou o órgão.

O Líbano está atolado na pior crise econômica e financeira de sua história moderna, com uma dívida externa girando em torno de 170% do PIB. Juntas, a crise, a pandemia e a explosão elevaram a taxa de pobreza de 28%, em 2019, para 55% em 2020.

Prevê-se que a fome piore, com mais de 50% da população sob risco de não ter acesso a alimentos básicos até o final de 2020. Entre US$ 35 e US$ 40 milhões serão necessários nos próximos três meses para atender às necessidades básicas de 90 mil pessoas afetadas pela explosão.

Para muitos libaneses,a explosão foi a tragédia que fez o copo transbordar. Alguns começaram a deixar o país, com uma empresa de pesquisa relatando um aumento de 36% nas partidas diárias de passageiros. De acordo com dados do Google, a busca no país pela palavra "imigração" atingiu seu maior pico nos últimos dez anos.

Relembre o caso

No dia 4 de agosto, duas fortes explosões atingiram a região do porto de Beirute. Registradas em vídeos que rapidamente tomaram as redes sociais, elas foram sentidas em cidades vizinhas e até no Chipre, ilha que fica a 240 quilômetros de distância. Testemunhas relataram tremor e janelas quebradas em várias partes da capital do Líbano.

O primeiro choque, segundo a TV Al-Manar, veículo oficial do Hezbollah, aconteceu pouco antes das 18 horas (12 horas em Brasília). Ele teria provocado um incêndio em um depósito de fogos de artifício. Philip Boulos, que governa a região de Beirute, disse que uma equipe de bombeiros foi enviada para conter o fogo. Alguns minutos depois, veio a segunda explosão.

De acordo com o governo, o choque mais violento aconteceu após o fogo atingir 2,7 mil toneladas de nitrato de amônio que estavam incorretamente armazenados no local.

O nitrato de amônio é um fertilizante amplamente usado na agricultura - e já esteve ligado a outras explosões no passado. O composto, por si só, é relativamente pouco explosivo, mas tem grande potencial para causar estragos.

A carga havia chegado ao Líbano em setembro de 2013 a bordo de um navio de carga de propriedade russa com uma bandeira da Moldávia e descarregada e colocada no armazém 12 do porto. (Com agências internacionais).

O Exército libanês informou na quinta-feira (3) que encontrou outras 4,35 toneladas de nitrato de amônio perto da entrada 9 do porto de Beirute, local de uma grande explosão causada pelo mesmo produto há exatamente um mês. A tragédia matou cerca de 190 pessoas e deixou 6,5 mil feridos. O governo estima que os prejuízos cheguem a US$ 15 bilhões.

A explosão de 4 de agosto foi sentida em cidades vizinhas e até no Chipre, ilha que fica a mais de 250 quilômetros de distância do Líbano. As autoridades disseram que o acidente foi causado por cerca de 2.750 toneladas de nitrato de amônio armazenadas de forma irregular por anos no porto da capital.

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Na quinta-feira, o presidente libanês, Michel Aoun, ordenou que fossem feitos reparos na velha infraestrutura de reabastecimento do aeroporto de Beirute e pediu uma investigação após um relatório indicar que milhares de litros de combustível vazaram do sistema. A notícia aumentou o temor de que o país possa enfrentar outra tragédia. "Nenhuma explosão nos espera", disse o responsável pelo aeroporto, Fadi el-Hassan, em uma tentativa de acalmar a população.

O Exército não esclareceu a origem das 4,35 toneladas de nitrato de amônio, nem como elas foram parar no porto, mas disse que o material foi levado para um local seguro.

As 2.750 toneladas que explodiram há um mês tinham sido apreendidas em 2013 de um navio russo com bandeira da Moldávia, que havia feito uma parada de emergência por problemas técnicos. A carga havia sido armazenada em um galpão do porto da capital do Líbano.

Apesar de o diretor-geral da alfândega, Badri Daher, e do gerente do porto, Hassan Koraytem, alertarem repetidamente sobre o perigo de se manter o nitrato de amônio sem as medidas de segurança exigidas, os alertas foram ignorados.

Na terça-feira (1°), as autoridades judiciais libanesas emitiram ordens de prisão para mais quatro suspeitos acusados pela explosão. Já haviam sido emitidos mandados para 21 suspeitos. Segundo uma fonte, os quatro novos suspeitos seriam o chefe dos serviços de inteligência militar do porto, um oficial de segurança do Estado e dois membros da segurança geral.

As circunstâncias exatas da explosão ainda não são conhecidas, mas as suspeitas recaem sobre determinados trabalhos de soldagem realizados no armazém, que teriam desencadeado um incêndio que, por sua vez, provocou a explosão.

Reforma

Os Estados Unidos pediram que os líderes libaneses promovam reformas profundas nos sistema político após a explosão, garantindo que sua mensagem seja consistente com a do presidente francês, Emmanuel Macron, que visitou o país nesta semana.

"Este governo precisa realizar reformas, os libaneses exigem uma mudança real e os EUA usarão seu peso diplomático e recursos para garanti-la", disse o secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo. "A situação não pode mais continuar como antes, é simplesmente inaceitável. Acho que o presidente Macron disse o mesmo."

Pressão externa

Desde a explosão no porto de Beirute, o presidente francês tem pressionado as autoridades libanesas para reformar o país. Durante sua segunda visita ao Líbano em um mês, Macron conseguiu, na terça-feira, que os líderes políticos se comprometessem a formar um novo governo em 15 dias para realizar as mudanças exigidas pela população.

Macron deu ao Líbano até o final de outubro para começar a realizar as reformas, ou então a ajuda financeira enviada ao país será retida. Ele também alertou que sanções serão impostas se ficar comprovado algum caso de corrupção.

Ontem, Pompeo questionou a participação no governo libanês do movimento xiita Hezbollah, aliado do Irã e considerado uma organização terrorista por Washington. "Conhecemos a história do Líbano: todos entregam suas armas, exceto o Hezbollah. É o desafio atual", afirmou Pompeo.

O novo primeiro-ministro libanês, Mustapha Adib, ex-embaixador na Alemanha, nomeado na segunda-feira, vem mantendo consultas parlamentares para formar um novo governo o mais rápido possível.

Normalmente, o processo de formação pode demorar meses, em razão de artimanhas políticas. No entanto, a pressão internacional, especialmente da França, e também dos libaneses, amplificada pela explosão, tornou mais urgentes as mudanças para tirar o país da pior crise econômica em décadas.

Na quarta-feira, o papa Francisco disse que o Líbano enfrenta um "perigo extremo" e não pode ser "deixado por conta própria". Em uma longa mensagem dedicada aos libaneses, o papa pediu aos crentes do mundo "um dia universal de jejum e oração pelo Líbano hoje, quando se completa um mês da terrível explosão no porto de Beirute". (Com agências internacionais)

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

O Líbano, que enfrenta um "perigo extremo", não pode ser "abandonado à própria sorte", afirmou nesta quarta-feira (2) o papa Francisco em uma longa mensagem dedicada ao país após sua audiência geral.

O pontífice pediu aos fiéis do mundo uma "jornada universal de jejum e oração pelo Líbano na próxima sexta-feira, 4 de setembro", quando completará um mês a grande explosão no porto de Beirute, que devastou a capital do país e matou 188 pessoas.

Para a data, Francisco enviará ao Líbano seu braço direito e secretário de Estado, o cardeal Pietro Parolin.

"Um mês depois da tragédia que castigou a cidade de Beirute, penso de novo no querido Líbano, em sua população particularmente colocada à prova", disse o papa, que segurava uma bandeira do país, entregue durante a audiência por um jovem padre maronita.

"Diante dos dramas repetidos que os habitantes desta terra vivem, temos consciência do extremo perigo que ameaça a própria existência do país. O Líbano não pode ser abandonado à própria sorte", insistiu o papa.

"Durante 100 anos, o Líbano foi um país de esperança. Nos períodos mais sombrios de sua história, os libaneses mantiveram sua fé em Deus e demonstraram a capacidade de fazer de sua terra um lugar de tolerância, respeito e coabitação único na região", elogiou Francisco.

"O Líbano hoje é mais que um Estado, é uma mensagem de liberdade e um exemplo de pluralismo tanto para o Oriente como para o Ocidente. E pelo bem do país, mas também do mundo, não podemos nos permitir perder este patrimônio", completou.

O papa fez um apelo aos políticos libaneses e aos líderes do país para que se envolvam "com sinceridade e transparência na reconstrução, deixando de lado os interesses partidários e tendo em mente o bem comum e o futuro da nação".

Paralelamente, a comunidade internacional deve apoiar o país e "ajudá-lo a sair desta grave crise".

Em uma mensagem aos habitantes do Líbano, Francisco afirmou: "Recuperem a coragem, irmãos, não abandonem vossas casas e vossa herança".

Esta foi a primeira audiência geral do papa Francisco ao ar livre e com público desde o início da pandemia de coronavírus. Quase 500 pessoas, com máscaras de proteção, compareceram à cerimônia, celebrada em um pátio do palácio episcopal, e não na imensa praça de São Pedro.

O presidente Michel Aoun afirmou, neste domingo (30), que "chegou a hora" de declarar o Líbano como um "Estado laico", durante um discurso por ocasião do centenário do país.

"Peço a proclamação do Líbano como um Estado laico", disse Aoun no discurso, no qual apontou que o país precisa "mudar o sistema", após a enorme explosão no porto de Beirute no início de agosto e de meses de profunda crise econômica.

Aoun fez este apelo ao assegurar que está "convencido" de que "só um Estado laico é capaz de proteger o pluralismo, preservá-lo, transformando-o em unidade verdadeira".

O presidente libanês fez estas declarações às vésperas de uma visita de seu contraparte francês, Emmanuel Macron, que já tinha se declarado favorável a profundas reformas no país do Oriente Médio, ao visitar Beirute pouco após a mortal explosão ocorrida no porto da cidade em 4 de agosto.

Mais da metade da população do Líbano pode ter dificuldades para conseguir comida devido ao agravamento da crise econômica no país e à destruição de grande parte da infraestrutura portuária da capital, advertiu a ONU neste domingo.

Em Beirute, dias após a fatídica explosão de 4 de agosto, grupos de manifestantes indignados ergueram forcas fictícias com silhuetas de papelão representando os principais líderes, com a corda em volta do pescoço, incluindo o chefe do Hezbollah, outrora considerado intocável.

Essa cena inédita derrubou um velho tabu e foi seguida pela acusação, por parte de um tribunal internacional, de um membro do Hezbollah no assassinato do ex-primeiro-ministro libanês Rafic Hariri, há quinze anos. Um novo golpe para o partido xiita aliado do Irã e da Síria.

"Nas horas que se seguiram à explosão, muitos acusaram o Hezbollah", afirma Fares al Halabi, um organizador das manifestações em massa contra o governo em outubro passado.

Muitos libaneses viram nesta explosão, que devastou bairros inteiros da capital e matou pelo menos 181 pessoas, uma prova flagrante de que a corrupção mata e responsabilizaram seus líderes pela tragédia.

Um sentimento de raiva que se fez presente nas redes sociais, como demonstrado em uma imagem da grande fumaça provocada pela explosão, em forma de cogumelo, coberta com um turbante preto com a mensagem "Sabemos que foi você", em alusão ao chefe do Hezbollah, Hasán Nasralá.

Vários libaneses consideram que a responsabilidade da explosão deve recair em todos os partidos no poder, principalmente no Hezbollah, que domina a vida política.

Alguns acusam o movimento xiita de ter guardado a enorme quantidade de nitrato de amônio que causou a catástrofe, e que estava armazenada no porto, para usá-la na guerra da Síria, onde apoia o governo. Uma acusação que o Hezbollah negou firmemente.

Caem os tabus

A tragédia ocorreu em meio a um Líbano afundado em uma grave crise política, econômica e social, e acentuou a rejeição das ruas aos líderes e ao Hezbollah, que também está na mira da justiça internacional.

Na terça-feira, o Tribunal Especial para o Líbano (TSL), com sede em Haia, declarou culpado um suposto membro do partido, Salim Ayash, pelo atentado que matou Rafic Hariri em 2005.

A investigação não estabeleceu nenhum vínculo direto com os líderes do Hezbollah ou com o governo sírio, mas reconheceu o caráter "político" do crime. Depois disso, o lema "Hezbollah terrorista" não demorou a se espalhar pela rede libanesa.

Um partido "como qualquer outro"

O envolvimento do Hezbollah no conflito sírio, oficialmente desde 2013, também manchou a imagem do movimento, construída durante décadas como "resistência" contra Israel.

No entanto, ao se envolver com a política libanesa, o Hezbollah se expôs ao risco de ser responsabilizado pelas decisões do Estado, das quais a explosão de 4 de agosto é um exemplo palpável.

Por muitos anos, "o Hezbollah conseguiu se apresentar como um partido anti-establishment", lembrou Naji Abou Khalil, militante do Bloco Nacional, partido que participou nos protestos.

Segundo ele, hoje o Hezbollah é visto mais como um "partido como qualquer outro" do que como um partido da resistência.

"E agora? Além desse desastre, a catástrofe do coronavírus?", lamenta Roxane Moukarzel. Ainda em estado de choque após a explosão que devastou bairros inteiros de Beirute em 4 de agosto, os libaneses voltam ao confinamento nesta sexta-feira (21) em razão do aumento de casos da Covid-19.

Ao confinamento, adotado por duas semanas, soma-se um toque de recolher das 18h às 6h, para fazer frente aos índices recordes de contaminação dos últimos dias, elevando o saldo desde o início da epidemia no Líbano para 10.952 casos, incluindo 113 mortes.

Preocupada com as consequências da epidemia, Moukarzel é a favor do confinamento, em particular após a explosão no porto da capital que deixou pelo menos 181 mortos e milhares de feridos.

Um primeiro confinamento de um mês foi imposto em meados de março, antes de ser gradualmente suspenso. Mas o aeroporto só voltou a reabrir em 1º de julho, e com atividade reduzida. Um novo confinamento foi imposto no final de julho, mas durou apenas cinco dias em razão da explosão. O aeroporto de Beirute opera normalmente.

"Do ponto de vista econômico, fechar o país não é bom porque as pessoas querem vender, mas é melhor perder um pouco do que adoecer", afirma Moukarzel.

"Não há vagas nos hospitais. Se as pessoas começarem a adoecer, onde vão colocá-las?", questiona a mãe de 55 anos.

As autoridades temem que o setor da saúde tenha dificuldades para responder a um novo pico de infecções pelo vírus, especialmente porque alguns hospitais perto do porto foram seriamente danificados.

O reconfinamento não afetará os esforços de limpeza e resgate nos bairros mais afetados pela explosão, segundo as autoridades.

Lojas de alimentos, supermercados e outros comércios poderão funcionar, mas com medidas preventivas.

A pandemia de Covid-19 apenas acentuou a crise econômica sem precedentes no Líbano, com alta da inflação, restrições draconianas às retiradas de dólares e milhares de pessoas que perderam seus empregos ou grande parte de sua renda.

Mesmo antes da explosão de uma enorme quantidade de nitrato de amônio armazenada no porto - o que provocou a ira dos libaneses, que acusam as autoridades de serem responsáveis por sua negligência - o índice da população considerada pobre dobrou com a crise, de acordo com estimativas da ONU.

- "Nada para comer" -

Sentado em sua oficina de carpintaria, em um distrito de Beirute longe do porto, Qassem Jaber, de 75 anos, não vê como outro confinamento seria útil.

"Não há trabalho. As pessoas não têm dinheiro e não têm nada para comer", diz.

O comerciante está determinado a permanecer aberto para ajudar as pessoas a reconstruírem suas casas.

"O que o coronavírus tem a ver? Estamos superando", acrescentou.

Para este muçulmano xiita, o Hezbollah agiu bem, convocando seus apoiadores a evitarem grandes reuniões este ano por ocasião do Ashura, que comemora o martírio do ímã Hussein, neto do profeta Maomé, um dos eventos fundadores do Islã xiita.

Normalmente, milhares de xiitas se reúnem nas ruas para as comemorações, que acontecem na sexta-feira.

Mas o líder do Hezbollah, Hassan Nasrallah, ordenou que as comemorações públicas fossem suspensas devido ao ressurgimento da epidemia.

"A situação saiu do controle, há muitos casos e os hospitais não podem mais lidar com isso", afirmou Nasrallah na segunda-feira, instando seus partidários a simplesmente colocarem bandeiras pretas na frente de suas casas e empresas para marcar o evento.

"Eles cancelaram o Ashura para que ninguém fosse infectado", aponta Jaber.

"Todos os dias, temos 100, 200, 300 novos casos. Se eles mantivessem o Ashura, todos estariam colados uns aos outros. Não seria bom", acrescentou.

O papa Francisco rezou pelos povos do Líbano e de Belarus, que vêm enfrentando graves problemas sociais e políticos nas últimas semanas, durante o Angelus deste domingo (16).

"Continuo a rezar pelo Líbano e pelas outras situações dramáticas no mundo que causam sofrimento nas pessoas. O meu pensamento vai também para a querida Belarus. Sigo com atenção a situação pós-eleitoral naquele país e faço um apelo pelo diálogo, pela rejeição da violência e pelo respeito à Justiça e ao direito. Confio todos os cidadãos deste país à proteção de Nossa Senhora, Rainha da Paz", disse aos presentes na Praça São Pedro.

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O Líbano passa por um período de reconstrução tanto por conta das explosões do dia 4 de agosto, que deixaram mais de 200 mortos e 300 mil desabrigados, como pela renúncia coletiva de todo o governo, amplamente acusado de corrupção.

Já Belarus vem registrando, desde o dia 8 de agosto, protestos diários dos moradores por conta da polêmica reeleição de Aleksandr Lukashenko, a sexta consecutiva. Tanto opositores como eleitores denunciam fraudes no pleito e perseguição dos candidatos que tentaram concorrer à disputa. Quase sete mil pessoas foram presas durante as manifestações.

Da Ansa

Em sua primeira sessão desde a explosão que arrasou Beirute, na semana passada, o Parlamento do Líbano aprovou a declaração de estado de emergência que dá mais poderes ao Exército em meio a protestos contra a classe política, apontada como responsável pela tragédia. Para grupos de direitos humanos, a medida representa uma ameaça às liberdades no país.

O estado de emergência com duração de duas semanas havia sido declarado pela primeira vez pelo presidente libanês, Michel Aoun, no dia da explosão, na terça-feira (4), mas precisava da aprovação parlamentar para torná-lo oficial.

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A partir de agora, o Exército poderá impor toques de recolher, ordenar o fim de assembleias ou reuniões e censurar publicações na imprensa que considere uma ameaça à segurança nacional. A medida também estende a capacidade de oficiais de julgar civis em tribunais militares e deve durar até 21 de agosto - com possibilidade de ampliação.

A decisão do Parlamento veio em um momento de fortes protestos - as autoridades são acusadas de negligência ao manter, por 6 anos, 2.750 toneladas de nitrato de amônio em condições inadequadas no porto de Beirute. O governo sabia da existência do material e dos perigos de deixá-lo no local.

A turbulência derrubou, na segunda-feira, o primeiro-ministro Hassan Diab, mas muitos ministros permaneceram alegando que uma saída em massa colocaria o país de volta ao impasse que enfrentou no ano passado, quando protestos forçaram a renúncia de outro primeiro-ministro Saad Hariri.

Karim Makdisi, professor associado de política internacional da Universidade Americana de Beirute, classificou a aprovação das medida como "um passo muito perigoso que pode levar ao abuso do poder do exército sem recurso para os cidadãos".

A sessão do Parlamento teve de ocorrer no teatro do Palácio da Unesco, em Beirute, pois os prédios do Legislativo foram atingidos pela explosão.

Karim Nammour, advogado e membro do conselho do The Legal Agenda, um grupo que monitora as políticas públicas no Líbano, disse que a declaração do estado de emergência seguiu uma "abordagem repressiva" semelhante à de emergências anteriores. "A lei realmente não especifica o que constitui uma ameaça à segurança, então isso pode ser interpretado sem critério para incluir outras atividades que não são necessariamente ameaçadoras, mas não são compatíveis com o regime ou visão dos poderes sobre como as coisas deveriam ser", disse.

Karim também afirma que permitir que as autoridades militares proíbam qualquer publicação de conteúdo que considerarem uma ameaça à segurança é o aspecto mais alarmante da medida de emergência, pois a imprensa tem desempenhado um papel importante ao responsabilizar as autoridades pelo desastre.

Os esforços de recuperação ainda estão em seus estágios iniciais na cidade, onde a explosão causou cerca de US$ 15 bilhões (R$ 80,4 bilhões) em danos, de acordo com o governo de Beirute. Grupos internacionais e organizações não governamentais assumiram a liderança nos esforços de ajuda.

Investigação

Ontem, David Hale, diplomata americano número três na hierarquia do Departamento de Estado dos EUA, visitou Beirute e disse que o FBI, o Departamento Federal de Investigação, participaria de uma apuração sobre a causa da explosão. "O FBI vai juntar forças com investigadores libaneses e estrangeiros, depois de receber um convite do Líbano", disse. Ao todo, 171 pessoas morreram 6,5 mil ficaram feridas na explosão no porto, que devastou metade de Beirute.

Autoridades francesas também abriram uma investigação por causa da presença de vítimas do país na tragédia.

Hale, que se encontrará com líderes libaneses e representantes da sociedade civil hoje, também lembrou que Washington apoia a formação de um governo "que responda à vontade de seu povo e esteja verdadeiramente comprometido e aja para adotar reformas". "Estamos a caminho de restaurar o que acredito que todos os libaneses querem ver: um Líbano liderado pelo povo libanês." (Com agências internacionais)

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

O FBI trabalhará com investigadores libaneses e internacionais para esclarecer as causas da explosão que devastou o porto de Beirute na semana passada, anunciou David Hale, número três na diplomacia americana, nesta quinta-feira na capital libanesa.

"Quero anunciar que o FBI vai juntar forças com investigadores libaneses e estrangeiros muito em breve, depois de receber um convite do Líbano" para tentar esclarecer as causas da explosão que matou mais de 171 pessoas e deixou pelo menos 6.500 feridos, anunciou o oficial, ao visitar as áreas destruídas.

As autoridades libanesas anunciaram o início de uma investigação sobre a explosão causada por toneladas de nitrato de amônio armazenadas em um armazém no porto da capital.

O presidente Michel Aoun se opôs, entretanto, a uma investigação internacional.

As autoridades francesas também abriram uma investigação devido à presença de vítimas francesas e forneceram apoio logístico ao Líbano para esclarecer as causas da deflagração.

Hale, que se encontrará com líderes libaneses e representantes da sociedade civil na sexta-feira, também lembrou que Washington apoia a formação de um governo "que responda à vontade de seu povo e esteja verdadeiramente comprometido e aja para adotar reformas".

A explosão acentuou a agitação popular em relação a uma classe política acusada de corrupção e incompetência e forçou a renúncia na segunda-feira do executivo presidido por Hassan Diab.

No último dia 4 de agosto, o mundo acompanhou com perplexidade às imagens da explosão na região portuária de Beirute, capital do Líbano. O acidente causado pelo armazenamento de 2,75 mil toneladas de nitrato de amônio (NH4NO3), matou 160 pessoas, deixou mais de 5 mil feridos e desabrigou a população que vivia em um raio de 10 km do local da tragédia.

De acordo com as autoridades libanesas, o nitrato de amônio estava estocado há mais de seis anos no porto de Beirute. O produto, utilizado na composição de insumos agrícolas, inseticidas e aplicado na confecção de explosivos, é considerado seguro, mas pode se tornar ameaça se não armazenado de maneira correta, como explica o químico e pesquisador do Instituto de Pesquisas Tecnológicas João Paulo Amorim de Lacerda.

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“O nitrato de amônio é uma substância estável em condições normais, ou seja, temperatura e pressão ambiente. O risco existe quando se mistura com outras substâncias químicas como compostos orgânicos, ácidos, alguns metais, liberando muito calor e gases que, dentro de um espaço confinado, podem levar às explosões”, destaca o especialista.

No mercado brasileiro, o produto representa 3% do que o país utiliza como fertilizantes na agricultura. Dados da consultoria especializada em agronegócio StoneX mostram que foram importadas cerca de 1,2 milhão de toneladas de nitrato de amônio em 2019.

Entretanto, com o incidente ocorrido no Líbano, a atenção dos profissionais especialistas no assunto foi posta em alerta ao redor do mundo. No Brasil, o Conselho Federal de Química (CFQ) reiterou, por meio de nota à imprensa, a importância do papel dos estudiosos do setor em relação à preservação da vida e da saúde da população.

“Considerando a responsabilidade pública do Sistema CFQ e os Conselhos Regionais de Química (CRQs) de proteger a sociedade brasileira, vimos reforçar a importância do envolvimento do profissional da Química no armazenamento de produtos químicos, especialmente os perigosos, por apresentarem potencial risco à saúde humana, ao meio ambiente e/ou às propriedades públicas ou privadas”, cita o comunicado.

Para Lacerda, é essencial que o manejo e o transporte desse tipo de composto químico tenham o acompanhamento de pessoas qualificadas. “O manuseio de um produto desse tipo exige a presença de um profissional capacitado e que conheça as características do produto, pois assim será apto a tomar providências para manter os riscos o mais baixo possível”, ressalta o pesquisador.

Ainda segundo ele, a tragédia do Líbano deve servir de exemplo para que os países reforcem os protocolos de segurança relacionados a produtos químicos tidos como perigosos.

“Os avanços na química e nas ciências em geral tornam a vida mais prática e por vezes resolvem questões cruciais para a humanidade, mas cada substância apresenta seus riscos se usada de maneira errada”, completa.

O governo brasileiro enviou uma missão ao Líbano nesta quarta-feira (12) com seis toneladas de alimentos, remédios e uma delegação liderada pelo ex-presidente Michel Temer, em apoio ao país atingido por explosões mortais.

Minutos antes de decolar em um dos dois aviões militares da base da Força Aérea em São Paulo, o ex-presidente (2016-2018) afirmou esperar que o Brasil possa cumprir "não apenas essa missão humanitária".

"Tendo em vista os vínculos tradicionais entre ambos os países, que (o Brasil) também possa ajudar a solucionar os embates políticos, com autorização, naturalmente, das autoridades libanesas", colaborando com "a pacificação interna aquele país", acrescentou.

O presidente Jair Bolsonaro se despediu pessoalmente da delegação, e qualificou a missão como um "ato simbólico, mas que vem do fundo do coração de todo o povo brasileiro".

Os suprimentos são antibióticos, analgésicos, seringas, 100 mil máscaras cirúrgicas e 300 respiradores pulmonares doados pelo Ministério da Saúde, além de alimentos fornecidos pela comunidade de origem libanesa instalada no país, estimada em cerca de dez milhões de pessoas.

Temer, de 79 anos, é o oitavo filho de um casal de libaneses que emigrou para o Brasil em 1925. Por responder a vários processos de corrupção pendentes na Justiça, Temer obteve autorização judicial para viajar ao exterior. Em 2019, o ex-presidente ficou preso por alguns dias e desde então tem seu passaporte retido pela Justiça, que deve autorizar suas viagens ao exterior.

Integram a delegação o presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf, e senadores e demais governantes. Eles farão escala em Fortaleza, Ilha do Sal (Cabo Verde) e Valença, antes de desembarcar no Líbano.

As enormes explosões ocorridas em 4 de agosto - causadas por toneladas de nitrato de amônio armazenadas indevidamente no porto de Beirute - deixaram 171 mortos e ao menos 6.000 feridos, além de centenas de milhares de desabrigados. A tragédia gerou protestos que levaram à renúncia do primeiro-ministro libanês, Hassan Diab.

No país, os manifestantes também pedem a renúncia do chefe de Estado, do chefe do Parlamento e dos deputados dos partidos políticos, acusados ha tempos por corrupção e considerados responsáveis pelo desastre.

O ex-presidente Michel Temer disse que ficou surpreso e honrado com o convite do presidente Jair Bolsonaro para que coordenasse a ajuda humanitária do Brasil ao Líbano. Temer acredita que a missão ajudará a melhorar a imagem internacional do País. Em entrevista ao Estadão, ele disse que o convite representa uma mudança na política externa do governo Bolsonaro, que estaria finalmente caminhando para uma diplomacia multilateral.

Como o sr. recebeu o convite do presidente Bolsonaro para coordenar a missão brasileira?

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Fiquei surpreendido, mas muito honrado. Tenho relações familiares com o Líbano. Meus pais nasceram e cresceram lá, casaram-se no Líbano, tiveram os três primeiros filhos lá e mais cinco depois. Eu sou o último. Portanto, tenho uma ligação umbilical com o país. Quando estive duas vezes lá, sempre fui muito bem recebido, como presidente da Câmara dos Deputados e como vice-presidente. No domingo (9), o presidente Bolsonaro fez o anúncio na reunião com os presidentes Donald Trump (EUA) e Emmanuel Macron (França). O pessoal que ouviu me conhece. Então, recebi entre surpreendido, honrado e emocionado em face das minhas origens.

O sr. tem contatos com sua família libanesa?

Fui visitar a terra em que meus pais nasceram, uma cidade pequena nas montanhas. No dia em que cheguei, quando era vice-presidente, inauguraram uma avenida modesta na cidade com o meu nome. Tenho primos nessa cidade e em Trípoli (80 km de Beirute). Não falo com eles mensalmente, mas mantenho contato.

Os libaneses querem apoio econômico e investimentos. Até onde vai a margem para o sr. tratar disso?

Posso dizer que, além das 6 toneladas (de mantimentos) no avião e das 4 mil toneladas de arroz por via marítima, em todo o Brasil tem gente querendo contribuir. Além daquilo que está chegando, poderá ir um novo carregamento. O outro ponto é que, como tenho boas relações com as autoridades, vou ver se converso um pouco sobre a possibilidade de o Brasil ajudar diplomaticamente na intermediação de acordos. Está muito tumultuada a política lá. Brasil e França são os que mais têm vínculos com o Líbano e talvez pudessem ajudar no diálogo.

O sr. e o presidente Bolsonaro parecem mais próximos. Como está a relação de vocês?

O presidente Bolsonaro nunca criticou o meu governo, pelo contrário. Em várias oportunidades, eu o via dizendo: 'Se não fosse o Temer ter feito a reforma trabalhista, ter enfrentado a previdência'. Então, ele sempre fez referências elogiosas ao meu governo. Segundo ponto: não tenho tanto contato com ele. Tive uns três contatos ao longo do tempo. Ele deve ter ouvido entrevistas em que dou palpites. Digo: 'Olha, aquela coisa de falar na saída (do Alvorada) não é boa, porque é a palavra do presidente faz a pauta do dia'. Creio que, às vezes, ele possa ter levado isso em conta. Mas é um contato cordial, tanto que ele me convidou. Aliás, é uma coisa muito típica nos EUA. Não é incomum que presidentes peçam para ex-presidentes realizarem missões humanitárias.

Em entrevistas, o sr. sempre evitou fazer críticas a Bolsonaro e adotou um tom diplomático.

Tenho como método fazer observações com cautela. Ex-presidentes, ao meu modo de ver, devem ser discretos com relação ao presidente. Se não você não ajuda o País. Eu faço observações, críticas, muitas vezes, mas a título de colaboração, não de oposição.

O sr. acredita que Bolsonaro mudou um pouco sua posição com relação ao início do governo? Esse convite para o sr. é uma sinalização nesse sentido?

Pode ter sido. Certamente, deve ter passado por ele a ideia de que fui um ex-presidente que teve boa relação com o Congresso, com o Judiciário e sou descendente de libaneses.

Como o sr. avalia a política externa do governo?

O gesto do presidente Bolsonaro designando um ex-presidente e dando ajuda humanitária ao Líbano é uma mudança na política externa, convenhamos. Especialmente voltada para um país árabe. Segundo ponto: eu sempre sustentei a necessidade do multilateralismo. Precisamos nos dar bem com todos os países. Veja que nossos principais parceiros são China e EUA. Eu fazia na ONU aqueles discursos de abertura (da Assembleia-Geral) e sempre enfatizava a ideia do multilateralismo, nunca do isolacionismo. Tenho a impressão de que o presidente Bolsonaro está começando a trilhar esse caminho.

O sr. acredita que essa ação no Líbano melhora a imagem externa do Brasil?

Acho que contribui muito. Mas é preciso que o governo libanês esteja de acordo com isso, para fazermos essa intermediação. É um mero oferecimento, nada mais do que isso. O Brasil tem de descendentes o dobro de habitantes do Líbano. Então, temos toda a razão para imaginar um Líbano pacificado. Se pudermos colaborar com isso, muito bem. Teria um efeito externo positivo.

Como recebeu a decisão do juiz Marcelo Bretas, que o liberou para a viagem?

Eu tinha certeza que ele autorizaria imediatamente, como autorizou. Nas vezes anteriores, fui convidado para falar em Oxford. Ele negou em um primeiro momento, mas o tribunal deu autorização. Depois, fui falar em Salamanca e em Madri. Ele também negou, mas o tribunal autorizou. Quando vou, falo bem do Brasil, divulgo o país. Nessa hipótese, como se tratava de uma situação humanitária e politicamente importante, ele deferiu imediatamente.

A renúncia do governo libanês abre, nesta terça-feira (11), uma fase de negociações e debates para determinar quem assumirá um país onde a revolta ressoa uma semana após a trágica explosão que devastou o porto de Beirute.

A tragédia de 4 de agosto alimentou a ira da opinião pública, ainda traumatizada com os 160 mortos e 6.000 feridos em uma cidade na qual bairros inteiros viraram campos de ruínas.

Desde o outono de 2019, o país tem sido palco de uma revolta popular sem precedentes, na qual milhares de libaneses saem às ruas para denunciar as dificuldades econômicas que só se agravam e uma classe política sem mudanças há décadas, acusada de corrupção e incompetência.

Para acalmar as ruas após a explosão, o governo do primeiro-ministro Hassan Diab renunciou na segunda-feira. Mas, exatamente uma semana após a tragédia do porto, os libaneses exigem que os responsáveis sejam levados à Justiça e sejam responsabilizados pela negligência do Estado.

"A república está desmoronando", foi a manchete do jornal L'Orient-Le Jour desta terça-feira.

"O apocalipse de 4 de agosto foi a manifestação mais dura e severa do mau funcionamento das instituições e do aparato estatal", comentou o jornal em seu editorial.

Nomeado no final de janeiro, o governo de Diab consistia em um único campo político, o do movimento xiita Hezbollah e seus aliados.

O governo cuidará dos assuntos correntes até que seu sucessor seja nomeado.

Diab era criticado há vários meses por sua incapacidade de responder à crise econômica, a desvalorização histórica da libra libanesa, escassez de combustível e hiperinflação.

- "Governo neutro" -

A grande questão é quem o sucederá, em um país acostumado a debates intermináveis entre forças políticas que passam vários meses negociando pastas antes de nomear um governo.

Resta saber se desta vez a magnitude do cataclismo os levará a mostrar velocidade.

Contará também a participação da comunidade internacional.

Citando fontes políticas, o jornal Al-Akhbar, próximo ao Hezbollah, assegura que Washington, Riade e Paris estão pressionando pela nomeação do ex-embaixador Nawaf Salam como chefe de um "governo neutro".

Este diplomata de grande experiência, que representou seu país na ONU, foi juiz da Corte Internacional de Justiça (CIJ).

A posição do influente Hezbollah e a de seu aliado, o presidente do Parlamento Nabih Berri, ainda não é conhecida, disse o jornal.

Os libaneses permanecem quase indiferentes aos debates políticos. Eles ainda estão nos bairros devastados de Beirute, limpando por conta própria os escombros, enquanto criticam a inércia das autoridades.

- Pão para duas semanas -

O que causou a catástrofe foi um incêndio em um armazém onde 2.750 toneladas de nitrato de amônio estavam armazenadas por seis anos sem "medidas de precaução", como reconheceu o primeiro-ministro Hassan Diab.

O porto foi completamente arrasado.

Em um país mergulhado em uma severa crise econômica, a tragédia gerou insegurança alimentar.

Quase "85% dos alimentos do Líbano são importados e passam por este porto", disse David Beasley, diretor do Programa Mundial de Alimentos (PMA) na segunda-feira.

Ele falou do porto, onde um avião descarregava geradores, guindastes e elementos para fazer depósitos temporários.

O objetivo é restabelecer alguns serviços "em duas semanas" para garantir o abastecimento alimentar do país.

"No estado atual, os libaneses terão pão por apenas mais duas semanas, por isso é essencial lançar essas operações", disse Beasley.

O juiz da 7ª Vara Federal Criminal do Rio de Janeiro, Marcelo Bretas, autorizou que o ex-presidente Michel Temer (MDB) vá para o Líbano para chefiar a missão oficial brasileira que visa ajudar a capital do país, Beirute, após uma explosão no porto que devastou parte da cidade e deixou 163 mortos, mais de 6 mil feridos e 300 mil desabrigados. Temer é descendente de libaneses e foi convidado pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido) para comandar a ação humanitária brasileira.

Temer precisou pedir autorização judicial para viajar porque está impedido de deixar o país, como medida de restrição, desde que foi preso preventivamente em março de 2019.

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Na decisão, Bretas observa que "o motivo está plenamente justificado ante a natureza humanitária da missão oficial para a qualificação foi designada, em nome da República brasileira, e que, em outras ocasiões, a instância superior concedeu-lhe permissão de viagem". 

De acordo com o decreto que institui a missão oficial ao Líbano, a delegação -composta por 14 pessoas - vai ficar no país entre os dias 12 e 15 de agosto. O voo está marcado para as 11h de quarta-feira (12).

O primeiro-ministro do Líbano, Hassan Diab, anunciou nesta segunda-feira (10) sua renúncia ao posto. Em meio a uma crise econômica, Diab ficou ainda mais fragilizado no cargo após a grande explosão ocorrida há alguns dias no porto de Beirute, que provocou uma onda de protestos e insatisfação popular.

Em seu discurso de despedida, Diab atribuiu a explosão à corrupção e disse esperar uma investigação do fato. A explosão da semana passada deixou mais de 150 mortos e milhares de feridos. (FONTE: DOW JONES NEWSWIRES)

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Um terceiro ministro renunciou, nesta segunda-feira (10), no Líbano, enfraquecendo ainda mais uma classe política responsabilizada pelas explosões mortais do porto de Beirute, enquanto a indignação nas ruas não enfraquece.

Quase uma semana depois da tragédia que deixou pelo menos 158 mortos, 6.000 feridos e destruiu parte da capital, as autoridades, acusadas de corrupção, negligência e incompetência, ainda não responderam à principal pergunta: por que uma grande quantidade de nitrato de amônio estava armazenada no porto, no coração da cidade?

As explosões foram provocadas por um incêndio no armazém onde 2.750 toneladas de nitrato de amônio estavam armazenadas há seis anos sem "medidas de prevenção", segundo admitiu o próprio primeiro-ministro, Hassan Diab.

O presidente Michel Aoun, cada vez mais contestado, rejeitou uma investigação internacional. E as autoridades não informaram sobre o andamento da investigação local.

Diante da magnitude da tragédia e da raiva de uma população cansada, a ministra da Justiça, Marie-Claude Najm, apresentou sua renúncia, a terceira a deixar o governo após a ministra da Informação, Manal Abdel Samad, e do ministro do Meio Ambiente, Damianos Kattar.

Najm foi criticada na quinta-feira ao visitar o devastado distrito de Gemmayzé, nas proximidades do porto, poucas horas depois de um deslocamento ao mesmo setor do presidente francês Emmanuel Macron, recebido como um "herói".

- "Uma única pessoa" -

"A renúncia de ministros não é suficiente. Eles devem ser responsabilizados", disse Michelle, uma jovem manifestante que perdeu uma amiga na explosão.

"Queremos um tribunal internacional que nos diga quem os matou, porque eles (os líderes políticos) vão encobrir o caso", considerou.

De acordo com a Constituição, o governo cai se mais de um terço de seus membros renunciar. A imprensa local diz que outros ministros do governo de 20 membros, que devem se reunir à tarde, podem abandonar o barco.

Hassan Diab havia indicado que estava pronto para permanecer no cargo por dois meses, até a organização de eleições antecipadas em um país dominado pelo movimento armado do Hezbollah, um aliado do Irã e do regime sírio de Bashar al-Assad.

Durante as manifestações de sábado e domingo, reprimidas pelas forças de segurança, os manifestantes pediram "vingança" contra a classe política totalmente desacreditada após a tragédia em um país já atingido por uma crise econômica sem precedentes agravada pela epidemia de Covid-19.

Eleições antecipadas não são uma das principais reivindicações das ruas, já que o Parlamento é controlado por forças tradicionais que elaboraram uma lei eleitoral cuidadosamente calibrada para servir aos seus interesses.

"Todos significa todos", proclamaram nos últimos dois dias os manifestantes, apelando à saída de todos os dirigentes. Efígies de muitos deles, incluindo de Michel Aoun e Hassan Nasrallah, líder do Hezbollah, foram penduradas em forcas durante os protestos.

"Há apenas uma pessoa que controla este país, é Hassan Nasrallah", afirmou um dos nove deputados que anunciou sua renúncia, Nadim Gemayel. "Para eleger um presidente, nomear um primeiro-ministro (...) você precisa da autorização de Hassan Nasrallah".

- "Buscas continuam" -

Enquanto os libaneses continuam enterrando seus mortos, as equipes de resgate perderam todas as esperanças de encontrar sobreviventes das explosões.

Para desespero das famílias de cerca de 20 desaparecidos que acusam as autoridades de terem demorado na organização das buscas.

"Exigimos que as buscas continuem", afirmou nas redes sociais Emilie Hasrouty, cujo irmão estaria sob os escombros.

Na noite de domingo, os moradores acenderam velas em um morro com vista para o porto, para homenagear as vítimas.

Ao mesmo tempo, violentos confrontos ocorreram no centro da cidade pelo segundo dia consecutivo entre manifestantes e forças de segurança que dispararam gás lacrimogêneo e balas de borracha.

O drama relançou a contestação popular desencadeada em 17 de outubro de 2019 para denunciar a corrupção dos dirigentes, mas que havia perdido o fôlego com a pandemia do coronavírus.

A comunidade internacional, que há anos clama por reformas e pelo combate à corrupção no governo libanês, mostrou claramente, durante uma videoconferência no domingo co-organizada pela França e a ONU, que não confia mais no regime.

Vários países anunciaram que vão distribuir "diretamente" à população os 252,7 milhões de euros de ajuda às vítimas das explosões.

E exigiram uma investigação "transparente" sobre as causas do desastre que deixou quase 300.000 desabrigados, aos quais o governo ainda não prestou assistência.

"Não quero morrer no Líbano. Eles não vão mandar meu cadáver para minha família, vão nos jogar no mar." Hana, uma mulher bengali, de 30 anos, começou a chorar enquanto falava, explicando o que sentiu quando Beirute explodiu, no dia 4 de agosto, levando pelos ares metade da cidade, matando 150 pessoas e deixando 300 mil desabrigados - ela, inclusive.

Mãe de dois filhos, Hana deixou sua terra natal para fugir da pobreza. "Não fiz faculdade e não encontrava trabalho. Achava que aqui no Líbano conseguiria ganhar algum dinheiro para alimentar meus filhos, minha família." Ela veio para o Líbano com um contrato para fazer faxina em casas, mas sofreu com um sistema que a privava dos direitos mínimos, disse ela.

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Sua história é a mesma de milhares de pessoas que vivem no país. O Líbano tem aproximadamente 6,8 milhões de habitantes e quase 1,6 milhão de refugiados.

O país tem a maior população de refugiados per capita do mundo, segundo a ONU: um em cada seis habitantes. No total, o país abriga mais de 925 mil registrados, a maior parte (98%) chegou da Síria.

Vem sendo assim por anos. Os refugiados marcaram o país. A primeira onda em 1915, com a imigração armênia, fugindo do genocídio Otomano. À partir dos anos 1940 e 1950 os refugiados palestinos tomaram conta do país e seu acolhimento teve papel na guerra civil libanesa, entre 1975 e 1990.

Os refugiados no Líbano não têm status legal, o que significa que um quarto da população do país vive com acesso limitado a emprego remunerado, moradia, educação e saúde. Os refugiados precisam de uma autorização para trabalhar legalmente. Os que não a obtém costuma arranjar subempregos.

"Para onde vou agora, o que vou fazer? Até quando ainda vou dormir ao relento com meu filho?", pergunta Hana, relembrando seus primeiros pensamentos ao ouvir o estrondo da explosão. Ela agora vive com a família na escada do prédio onde era sua casa, esperando ajuda local e internacional para continuar viva.

"Estamos dormindo do lado de fora porque a construção pode desabar." Ela também disse que está recebendo água e comida dos voluntários que ajudam em Gemmayze e Mar Mikhael, as áreas mais afetadas pela explosão.

"Quem destruiu minha terra?", questiona o filho de Hana de 2 anos a todo momento. "Se você perguntar a ele qual é a sua terra, ele vai dizer que é o Líbano. Não sabe nada sobre Bangladesh, nasceu e foi criado nas ruas que agora estão em ruínas", explicou Hana.

Ela e sua família viviam com as mesmas dificuldades fundamentais que todos os libaneses sofrem, como cortes no abastecimento de água e de eletricidade, crise econômica e questões de segurança. Sete meses atrás, o contratante de Hana parou de pagar em dólares americanos, por causa da crise econômica pela qual o Líbano está passando.

Desde o fim do ano passado, ó país vinha passando por problemas: havia limitações para sacar dinheiro nos bancos e escassez de dólares. Em poucos meses, a libra libanesa perdeu 85% de seu valor. O Líbano importa cerca de 80% do que consome - e as importações são cotadas em dólar. Toda vez que há uma desvalorização da libra libanesa, os preços da comida sobem quase automaticamente.

Caminhando pelas ruas da cidade em ruínas, é possível se sentir dentro de um romance trágico. De um segundo para o próximo, os cidadãos de Beirute se viram juntando o que restava de suas memórias e pertences e atrás de parentes mortos.

Aluuel Biyar, do Sudão do Sul, por acaso estava no centro da explosão. Ela e sua família vieram para o Líbano em busca de refúgio, depois que a guerra civil do Sudão do Sul começou em 2013. Aluuel e a família estavam visitando amigos em Ashrafieh, uma área próxima à explosão.

"Não acredito que estou viva", foram as poucas palavras que Aluuel proferiu antes de cair no choro. "Eu estava sentada no sofá quando ouvimos a primeira explosão. Naquele momento, pensamos que era só um terremoto. Levei meu filho ao banheiro e ouvi a segunda explosão. Quando fugi do lugar onde estava, vi todos os cacos de vidro no sofá, a janela caída. Eu ainda estaria sentada lá se não fosse pelo meu filho".

Aluuel, que fugiu de seu país por causa da guerra, se viu em outro lugar sem segurança, bem ali onde esperava que sua nova cidade pudesse ser um pouco mais tranquila. "Não consigo descrever a sensação quando veio a explosão. Sinto que queria voltar para o Sudão do Sul, porque era mais seguro. Lá você sabe que as pessoas estão lutando com armas de fogo e evita sair de casa. O que aconteceu aqui é que a explosão atingiu todas as casas. Ninguém estava seguro!".

A história que levou à trágica explosão no porto de Beirute na terça-feira começou há mais de 6 anos, a 1.300 quilômetros da capital libanesa. O navio Rhosus, de bandeira moldava, deixou o porto de Batumi, na Geórgia, com 2.750 toneladas de nitrato de amônio a bordo. Nunca chegou a seu destino, Moçambique, onde a carga deveria ser vendida a uma fábrica de explosivos para uso civil.

A carga ficou estocada de maneira inapropriada em um armazém portuário. Inúmeras autoridades tentaram alertar para o risco. Reportagens da rede de TV Al-Jazira mostraram que autoridades portuárias escreveram ao menos seis cartas alertando sobre o perigo desde 2014.

No dia 4, o telhado do armazém pegou fogo e houve uma grande explosão, seguida por uma série de explosões menores que, segundo algumas testemunhas, soaram como fogos de artifício. Trinta segundos depois, houve uma explosão colossal, que soltou uma nuvem em forma de cogumelo para o ar.

Essa onda pôs no chão os edifícios próximos ao porto e provocou danos imensuráveis em grande parte do resto da capital, que abriga 2 milhões de pessoas.

Quando Aluuel voltou para casa, em Sin El Fil, ela descobriu que a explosão atingira a área com tanta força quanto à casa de sua amiga. Os vidros estavam estilhaçados, as portas, quebradas e os móveis, cobertos de cacos e sujeira. Ela ajudou a amiga a se mudar para sua casa e juntas limparam e consertaram tanto quanto puderam.

(TRADUÇÃO DE RENATO PRELORENTZOU)

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

O Brasil é um dos países que vai somar esforços para ajudar o Líbano a se recuperar da explosão ocorrida em Beirute, na última terça (4). Uma missão humanitária será enviada ao país, chefiada pelo ex-presidente brasileiro Michel Temer, que anunciou ter aceito o convite do atual chefe de Estado da nação, Jair Bolsonaro, neste domingo (9), através de comunicado publicado em sua conta no Twitter. 

Em conferência realizada com outros mandatários internacionais, Bolsonaro afirmou que enviaria ao Líbano medicamentos e outros insumos médicos, além de alimentos para ajudar o país na recuperação da explosão que vitimou mais de 100 pessoas e causou um estrago grandioso. Ele também anunciou que convidaria o ex-presidente Michel Temer, que é filho de libaneses, para chefiar a missão humanitária. 

Em seguida, na conta oficial de Temer no Twitter, foi publicada uma nota com o aceite do ex-presidente. O post dizia que Michel “está honrado com o convite feito pelo presidente Jair Bolsonaro para chefiar a missão humanitária do Brasil no Líbano. Quando o ato for publicado no Diário Oficial serão tomadas as medidas necessárias para viabilizar a tarefa”.

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O Papa Francisco enviou 250 mil euros para ajudar a Igreja no Líbano, atingida pela explosão no porto da capital, na terça-feira, informa o Vatican News, site de notícias do Vaticano. A ajuda foi enviada pelo Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral através da Nunciatura Apostólica, em Beirute.

De acordo com a publicação, o dinheiro será usado para auxiliar as pessoas afetadas pelo desastre, que deixou várias mortes e milhares de feridos e desalojados, destruindo ao mesmo tempo edifícios, igrejas, mosteiros, instalações civis e de saúde.

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"Diante das necessidades urgentes, uma imediata resposta de socorro foi dada pelas estruturas católicas, através de centros de acolhimento para pessoas deslocadas, junto com a ação da Cáritas Líbano, Cáritas Internationalis e várias Cáritas irmãs", afirma.

Novas manifestações são esperadas neste domingo (9) no Líbano, um dia após uma enorme mobilização marcada por ataques a ministérios lançados por manifestantes irritados contra uma classe dominante acusada de negligência após as explosões devastadoras em Beirute.

Diante da magnitude da tragédia e da indignação da população que exige a saída de todo o governo, a ministra da Informação, Manal Abdel Samad, anunciou sua renúncia, a primeira de uma autoridade governante.

Para ajudar o país, a França organizou uma conferência internacional por videoconferência neste domingo à tarde, três dias após a visita do presidente Emmanuel Macron a Beirute.

A tragédia foi causada na terça-feira por 2.750 toneladas de nitrato de amônio armazenadas por seis anos no porto de Beirute "sem medidas de precaução", segundo admitiu o próprio primeiro-ministro Hassan Diab.

A deflagração provocou uma cratera de 43 metros de profundidade, de acordo com uma fonte de segurança.

Enquanto cerca de 20 pessoas ainda estão desaparecidas, as buscas continuam nas ruínas do porto devastado, mesmo que as chances de encontrá-las estejam diminuindo. De acordo com o último balanço oficial, 158 pessoas morreram e 6.000 ficaram feridas na tragédia.

Em um Líbano já atingido por uma crise econômica sem precedentes agravada pela pandemia de COVID-19, a raiva aumenta entre a população.

Bairros inteiros da capital foram devastados pelas explosões e centenas de milhares de libaneses ficaram desabrigados.

"Preparem as forcas"

Esta tragédia, que ilustra a incapacidade do poder, deu fôlego novo à contestação sem precedentes lançada no final de 2019.

Neste domingo, nas redes sociais, novos protestos eram convocados à tarde na Praça dos Mártires, no coração de Beirute.

"Preparem as forcas, porque nossa raiva não será extinta da noite para o dia", diziam postagens online.

Desemprego, serviços públicos decadentes, condições de vida difíceis: uma revolta estourou em 17 de outubro de 2019 para exigir a saída de toda a classe política, quase inalterada por décadas. Mas a crise econômica se agravou e um novo governo instituído foi contestado. E o movimento perdeu força, especialmente com o novo coronavírus.

No sábado, os manifestantes invadiram brevemente os ministérios das Relações Exteriores, da Economia e da Energia, bem como a Associação de Bancos, sinalizando um endurecimento da contestação.

Milhares de libaneses se reuniram na Praça dos Mártires, brandindo vassouras e pás, em um momento em que a própria população realiza as operações de limpeza, sem que o governo tenha tomado medidas.

Os manifestantes também montaram forcas improvisadas, exigindo que os líderes fossem enforcados.

Grupos de manifestantes tentaram furar as barreiras de segurança protegendo o Parlamento. As forças de segurança dispararam gás lacrimogêneo e balas de borracha contra os manifestantes, que atiraram pedras de volta.

"Crime contra Humanidade"

Em um hotel da praça, um membro das forças de segurança morreu em uma queda fatal no sábado após ser atacado por "desordeiros", segundo a polícia.

Cerca de 65 feridos nos confrontos foram hospitalizados e 185 tratados no local, de acordo com a Cruz Vermelha Libanesa.

"Depois do enorme desastre em Beirute, eu apresento minha renúncia", disse Abdel Samad. "Peço desculpas aos libaneses, não conseguimos atender às suas expectativas".

"Não basta a demissão de um deputado aqui, de um ministro acolá", lançou, durante seu sermão, o patriarca maronita Béchara Raï, que goza de importante influência.

É necessário, "pela sua gravíssima responsabilidade, a renúncia de todo o governo (...)" e eleições antecipadas, declarou, evocando um "crime contra a Humanidade".

No sábado, Diab anunciou que proporá eleições legislativas antecipadas e disse que permaneceria no poder "por dois meses", enquanto as forças políticas se entendem em um país onde o poderoso movimento armado pró-iraniano Hezbollah domina a vida política.

A ajuda internacional continua chegando ao Líbano. A França montou uma "ponte aérea e marítima" para entregar mais de 18 toneladas de ajuda médica e quase 700 toneladas de ajuda alimentar.

Uma videoconferência de doadores está programada para 12h00 GMT (9h00 de Brasília), co-organizada pela França e pela ONU.

A opinião pública libanesa não confia no governo, e Macron enfatizou que a ajuda internacional iria diretamente para as populações e ONGs.

Apelando aos líderes libaneses por uma "mudança profunda", ele advertiu que não poderia "dar cheques em branco para sistemas que não têm mais a confiança de seu povo".

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