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A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) anunciou que devido à pandemia de Covid-19, doença causada pelo novo coronavírus (SARS-CoV-2), as provas do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa) de 2021 e 2024 serão adiadas para os anos de 2022 e 2025, respectivamente. Os resultados do Pisa geram um ranking mundial e permitem que cada país analise seus números, faça comparação com os pontos obtidos por outras nações e com isso planeje políticas públicas para a educação. 

O Pisa é um teste aplicado a cada três anos com o objetivo de avaliar a qualidade do ensino em diversos países do mundo, através de provas respondidas por estudantes na faixa etária dos 15 anos, terminando o ciclo da educação básica na maioria dos países. 

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Em todas as edições são avaliados os domínios leitura, matemática e ciências, mas a cada novo Pisa um deles é escolhido como o principal, tendo mais questões na prova. Em 2022, será a vez da matemática, junto a testes adicionais de letramento financeiro, já aplicado em 2015, e de pensamento criativo, esse inédito. Já o Pisa 2025 terá como objetivo principal a inclusão de avaliações de língua estrangeira. 

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Gina Vieira Ponte tinha 8 anos quando decidiu o que queria ser quando crescesse: professora. Foi pelo cuidado e atenção dados a ela, criança negra vítima de racismo na escola, pela professora Creusa Pereira, que Gina decidiu que queria também dar atenção e, quem sabe, mudar a vida de crianças e adolescentes. Hoje, professora premiada e reconhecida em todo o país, ela faz parte de uma categoria profissional cada vez menor. 

Um relatório divulgado esta semana pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), mostra que a porcentagem de estudantes que querem ser professores passou de 5,5% em 2006 para 4,2% em 2015.

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O relatório Políticas Eficazes para Professores é baseado nas respostas de estudantes de 15 anos no questionário do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa), avaliação da qual participaram 70 países.

No Brasil, de acordo com o questionário do último Pisa, em 2015, a porcentagem dos que esperam ser professores é ainda menor que a média dos países da OCDE, 2,4%. Os números excluem aqueles que querem ser professores universitários e considera apenas os que desejam ser mestres em escolas do ensino básico e médio.

“Vivemos em um país em que as representações sobre o que é ser professor são muito ruins. É muito recorrente que se replique casos de professores agredidos, de enfrentamento com alunos, com pais. Tem greve de professores, que precisam se organizar para garantir melhores salários. O aluno, dentro da escola, percebe o quão desafiador é para o professor realizar o trabalho dele”, diz Gina.

Após atuar como professora por 27 anos em escolas públicas, Gina hoje trabalha com formação de professores no Centro de Aperfeiçoamento dos Profissionais de Educação, da Secretaria de Educação do Distrito Federal. A educadora ganhou diversos prêmios pelo projeto Mulheres Inspiradoras, que busca incentivar a leitura de obras literárias escritas por mulheres e sobre mulheres.

Segundo Gina, o que a move é o contato com crianças e adolescentes. “Aprendo muito, me sinto renovada”, diz. Mas, com muitos professores, também passou por momentos difíceis e precisou reduzir o tempo em sala de aula. “Adoeci porque vi que os estudantes não se engajavam. Temos um modelo educacional esgotado, que não dialoga com a especificidade de uma geração de nativos digitais”.

Como formadora de professores, ela busca sempre levar o questionamento: "O que estou fazendo faz sentido? O que estou propondo gera engajamento, envolvimento?"

Carreira não atrai os melhores

O relatório mostra ainda que os estudantes que escolhem ser mestres têm, em geral médias menores no Pisa que os estudantes que escolhem outras carreiras formais como cientistas, engenheiros, profissionais da saúde, cientistas sociais, entre outras.

Segundo a OCDE, a diferença é maior entre países com pior desempenho no Pisa. O Brasil está entre eles. Dentre os 70 países, ficou 63ª posição em ciências; a 59ª posição em leitura e a 65ª posição em matemática - competências avaliadas no Pisa.

Enquanto os estudantes que querem ser professores no Brasil tiraram em média 354 pontos em matemática e 382 em leitura, aqueles que querem seguir outras profissões formais ficaram em média com 390 em matemática e 427 em leitura. De acordo com os critérios da OCDE, de 30 a 40 pontos no Pisa equivalem a um ano de estudos. Isso significa que os estudantes que querem ser professores estão cerca de um ano atrás dos demais.

Segundo o diretor do Interdisciplinaridade e Evidências no Debate Educacional (Iede), Ernesto Martins Faria, o que mostra a atratividade da carreira docente é "se os melhores alunos querem ser professores, se consegue atrair os alunos de alto índice de proficiência. Se um aluno que pode entrar em qualquer faculdade, diz que espera ser professor, então isso significa que deve haver valorização da sociedade por essa carreira", ressalta. "O Brasil precisa pensar em como tornar a carreira docente mais atrativa. Ter mecanismos de atração sem desvalorizar os professores que já estão atuando", acrescenta.

O problema não está restrito ao Brasil. As maiores diferenças de desempenho em matemática foram observadas na Bulgária, Geórgia, em Israel, na Letônia, no Líbano, Peru, em Portugal, na Turquia, nos Emirados Árabes Unidos e no Uruguai. Nesses países, os estudantes que querem ser professores tiraram pelo menos 40 pontos a menos que os demais que desejam seguir carreiras formais.

Na outra ponta, no Japão e na Coreia do Sul, estudantes que querem ser professores tiveram desempenho melhor em matemática que os demais e não houve diferença significativa entre os grupos em leitura. Na Áustria e and Eslovênia, estudantes que querem ser professores tiveram melhor desempenho em leitura e não houve diferença significativa em matemática.

Professores desvalorizados

O relatório da OCDE, mostra também que o salário é uma das principais causas que levam os estudantes a não se interessar pela carreira de professor. “Em países onde os salários dos professores é mais alto, estudantes de 15 anos tendem a desejar mais seguir a profissão. O mesmo ocorre em países onde os professores acreditam que a profissão é valorizada pela sociedade”, diz o texto.

Em média, entre os países da OCDE, o salário dos professores dos anos iniciais do ensino fundamental, do 1º ao 5º ano, com formação superior, é o equivalente a 81% dos salários de outros profissionais com o mesmo nível de formação. Entre os professores do 6º ao 9º ano, o salário equivale a 85% e, entre os do ensino médio, a 89%, dos salários das demais carreiras.

No Brasil, professores de escolas públicas ganham, em média, 74,8% do que ganham profissionais assalariados de outras áreas, ou seja, cerca de 25% a menos, de acordo com o relatório do 2º Ciclo de Monitoramento das Metas do Plano Nacional de Educação (PNE), do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep). Essa porcentagem era, em 2012, 65,2%.

“Acho que é consenso de todos os lados, de todos os campos políticos, que política educacional é caminho para o desenvolvimento do país”, diz o presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE), Heleno Araújo. “A educação muda a vida da pessoa e, para ter educação de qualidade, tem que ter pessoas animadas com autoestima elevada, com alegria e disposição para fazer o trabalho no dia a dia”.

A OCDE recomenda que os governantes “considerem melhorias nas condições de trabalho dos professores para tornar a carreira mais atrativa para os melhores estudantes. Ao mesmo tempo, poderiam aumentar o nível de autonomia e responsabilidade, as oportunidades de crescimento intelectual e possibilidades de progressão de carreira que agradem os professores”.

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De acordo com uma pesquisa realizada em 34 países e mais de 100 mil professores pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), o Brasil é o líder do ranking de violência nas escolas. 

A pesquisa ouviu profesores e diretores de instituições de ensino do segundo ciclo do ensino fundamental e do ensino médio. Ao todo 12,5% dos professores afirmam sofrer agressões verbais ou intimidações por parte dos alunos pelo menos uma vez por semana, enquanto a média mundial foi de 3,4%. Em segundo lugar aparece a Estônia, com 11% e a Austrália com 9,7%. Os países que registraram os menores índices de violência foram a Coreia do Sul, Malásia e Romênia, que tiveram índice zero.

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Para a psicopedagoga, especialista em educação especial e em gestão escolar, Ana Regina Caminha Braga, “As causas dessa violência podem ser diversas. Vemos casos, por exemplo, que são desde alunos com possíveis distúrbios até a falta de valorização do professor. Esse quadro pode ser amenizado ou até mesmo revertido se tivermos um intenso trabalho dos núcleos da educação em conjunto com a comunidade e, obviamente, com as famílias dos alunos”, explica.

Outro estudo internacional sobre professores, ensino e arendizagem, o Talis (Teaching and Learning International Survey) mostra que somente 12,6% dos professores brasileiros se sentem valorizados pela sociedade, enquanto a média mundial é de 31%. Para Ana Regina, “O impacto está diretamente ligado a motivação do professor em elaborar aulas dinâmicas com estratégias adequadas para cada turma ou que atenda as especificidades dos alunos ou da maioria. O reconhecimento em qualquer área faz com que o profissional se sinta parte de um grupo e esteja inserido na instituição em que trabalha”, diz a especialista.

Nesta segunda-feira (21), em Brasília, o Brasil se tornou o primeiro país não membro da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) a integrar o conselho diretor do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa). Participaram da assinatura da associação o ministro da educação, Aloizio Mercadante, e o secretário geral da OCDE, Angel Gurría.

O Pisa foi acordado pela primeira vez no ano de 2000. Trata-se de uma avaliação que aborda provas escritas de leitura, matemática e ciências. Além disso, parte dos estudantes responde a testes eletrônicos de leitura e resolução de problemas matemáticos. Segundo boletim da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (Ocde), no período de 2000 a 2009, o Brasil ficou entre as três nações que mais evoluíram no programa.

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O principal objetivo do Pisa é ajudar os países e analisar como seus sistemas de ensino se comparam em âmbito global, no que diz respeito a critérios de qualidade, eficiência e equidade. “O Brasil vem usando os resultados do Pisa para ajudar a orientar reformas destinadas a melhorar as escolas do país, com resultados excelentes até agora”, falou Gurría, conforme informações do Ministério da Educação (MEC).

 

 

 

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