Trabalho de conclusão (o famoso TCC) aprovado, festa de formatura, colação de grau e diploma na mão, logo vem uma alegria pelo objetivo alcançado e um alívio por ter finalizado a graduação, uma fase importante, intensa e por vezes cansativa de quem pretende começar sua carreira através de um curso superior. No entanto, muitas vezes o alívio de soltar o grito de “me formei” logo é acompanhado de incertezas.
A procura pela inserção no mercado de trabalho pode gerar medo, nervosismo e ansiedade, desmotivando o jovem profissional que pode se sentir frustrado caso a vaga desejada demore a chegar. O LeiaJá buscou histórias de jovens profissionais recém-formados, além de especialistas em psicologia e gestão de carreiras para entender como se dá esse momento de transição e como os recém-formados podem manter a calma para planejar e organizar sua busca por emprego.
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“Sensação constante de que eu vou ficar desempregada”
Giovana Domingos se formou em Educação Física este ano, por uma instituição de ensino privada em Campinas, interior do Estado de São Paulo. Ela pegou o diploma recentemente e está à procura de emprego desde então, mas conta que já estava preocupada com o momento da formatura e se preparando para ele há um ano, se antecipando, por exemplo, ao tempo de espera para convocação em concursos.
“Eu comecei a fazer concurso público um ano antes, já fiz vários em várias cidades da região mas é demorado, chamam devagar ou demoram a iniciar as convocações”, afirma. Apesar de saber que conseguiu boas colocações em alguns certames e já ter participado de seleções para dar aulas em escolas particulares, ela relata muito medo e uma sensação constante de que não conseguirá atingir seus objetivos, ficando desempregada.
Entre as razões para seu medo, ela aponta um preconceito das escolas em relação à universidade pela qual se formou e também dificuldades financeiras que prejudicam o padrão de vida. “Minha mãe decidiu assumir dois empregos pra me ajudar no segundo ano da graduação, no primeiro ano eu passei fome e não tinha dinheiro para nada pois área da licenciatura não tem estágio remunerado”, conta Giovana.
Ela também relatou problemas com ansiedade, mas também explica que o fato de ter se formado lhe deu mais segurança para que no futuro ela tenha melhores condições de vida ao atingir seus objetivos profissionais, que é dar aulas em universidades. Pouco antes da publicação desta reportagem, Giovana recebeu a notícia de que foi aprovada em segundo lugar em um concurso público que prestou na área de Educação Física, na qual é formada, como era seu desejo.
“Medo e insegurança não agregam nada”
Daniel Marques de Souza se formou em Engenharia Civil neste mês de dezembro em uma universidade de São Paulo. Buscando seu primeiro trabalho fixo, ele se diz preocupado com o mercado de trabalho retraído em função da crise econômica, aumentando a concorrência e deixando os engenheiros menos experientes em desvantagem diante de profissionais que já têm carreiras mais longas e uma rede de contatos que lhes permitem ter mais indicações.
Para superar essa dificuldade, Daniel explica que pretende apostar em mais qualificação, especialização e estudo de idiomas para tentar se destacar. Apesar de acreditar que novos desafios são sempre interessantes, o jovem engenheiro afirma que em certos momentos o desânimo se sobressai.
“Por um momento você se sente mal por estudar 5 longos anos e não ter um emprego, mas ao mesmo tempo isso te motiva para buscar novas especializações”, conta Daniel, que também explica que busca tentar se manter tranquilo e o mais otimista possível pois para ele “o medo e a insegurança não agregam em nada, então busco analisar a situação atual do Brasil, em meio a tantos escândalos na área das construtoras e ver que existem milhões de pessoas na mesma situação, sendo grande parte, pessoas formadas”.
“É importante confiar no que foi construído”
A psicóloga Danielle Cavalcanti explica que quando o estudante vivencia a transição da vida acadêmica para o mercado de trabalho ele se vê diante de novos desafios, de uma realidade distinta, e é natural que nesse contexto sinta ansiedade e apareçam expectativas diante de um novo momento. “Muitas frustrações acontecem por pressa de alcançar um sucesso profissional imediato ou corresponder às expectativas da contemporaneidade em relação ao desenvolvimento de uma boa carreira”, lembra ela.
No entanto, Danielle explica que mesmo sendo comum se perguntar, por exemplo, se a preparação para o mercado foi suficiente ou se será possível conseguir reconhecimento com o seu trabalho, é preciso observar se a frequência e intensidade desses questionamentos geram pensamentos negativos recorrentes ou sensações desconfortáveis. Segundo ela, essa ansiedade se torna preocupante quando essas sensações se potencializam de forma que a pessoa sofra. Nesse ponto, ela aconselha que o jovem busque ajuda através de terapia.
Danielle também destaca que ser profissional é um dos muitos papeis que nós desempenhamos na vida e que “é importante ir cuidando dessa construção da identidade, pois trata-se de um processo individual” no qual não se deve fazer comparações com outras pessoas. Em lugar disso, a psicóloga orienta o jovem profissional a “buscar se conhecer e lapidar suas potencialidades para que possam lhe favorecer no percurso profissional”.
Como gerir o início da carreira?
A psicóloga Edla Lobo, que é sócia da empresa IdentificaRH, diz que o momento da transição da vida de estudante para a de profissional envolve, naturalmente, um nervosismo que já é esperado pelos empregadoreso. Assim, ela destaca que é importante que esse profissional recém-formado não se preocupe demasiadamente pois os empregadores estão acostumados com essa situação.
Outro ponto importante que Edla destaca é manter o foco no objetivo que o jovem deseja alcançar para não parecer perdido ou indeciso, passando segurança para os recrutadores nas entrevistas. Segundo ela, “o candidato que está certo do que quer leva vantagem porque faz um currículo melhor e tem uma entrevista bem direcionada, mas infelizmente isso é pouco trabalhado na universidade”.
Cuidar bem da própria imagem profissional, se inscrever no maior número possível de plataformas on-line de emprego (como por exemplo o LinkedIn, InformeVagasPE e Sine), ir a várias seleções e aumentar a rede de contatos profissionais também são fatores de grande importância apontados pela psicóloga. De acordo com ela “cuidados com a imagem pessoal e com a linguagem são imprescindíveis pois ainda hoje a redação é o que mais elimina jovens de processos seletivos e a maneira como você se apresenta será seu cartão de visitas para o recrutador”.
Edla também lembra que mesmo que esse início de vida profissional seja também uma fase de aprendizado em que o candidato às vagas de emprego não deve ser muito exigente pensando apenas em conseguir, logo na primeira tentativa o emprego dos sonhos, sendo mais importante priorizar o ingresso no mercado. Para ela, o profissional sem experiências deve buscar a oportunidade que vier dentro do que é razoável, aceitável, sem exploração, porém sem se preocupar demais com a remuneração no primeiro emprego pois “nenhuma empresa vai querer perder um profissional com um bom potencial, é um investimento da empresa dar oportunidade e de o jovem mostrar serviço e depois colher os louros disso”, conta Edla.
Edla lembra que profissionais que ficam muito tempo sem trabalhar ou estudar podem ser mal vistos por recrutadores, sendo importante não ficar parado, buscando trabalhar mesmo que informalmente, de forma voluntária ou fazer pós-graduações que estejam bem conectadas ao objetivo do jovem profissional também são atitudes recomendadas pela psicóloga.
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