Tópicos | resiliência

O cientista político Miguel Lago enxerga uma "resiliência muito grande do bolsonarismo" mesmo com a saída de Jair Bolsonaro da Presidência da República. Para ele, a capacidade de mobilização dos apoiadores não depende da máquina pública, mas essencialmente da atuação do ex-presidente como um líder oposicionista. "Sem o Bolsonaro, o bolsonarismo se fragmenta", afirmou Lago, em entrevista ao Estadão.

Estudioso da convergência entre políticas de saúde, tecnologia e democracia, Lago lançou recentemente o livro Do que falamos quando falamos de populismo (Editora Companhia das Letras) junto com o também cientista político Thomás Zicman de Barros - um ensaio no qual os dois investigam os diferentes significados que o termo adquiriu ao longo da história e como ele está inserido no atual debate político do País.

##RECOMENDA##

Lago, que é professor da School of International and Public Affairs da Universidade de Columbia e na École d'Affaires Publiques de Sciences Po Paris, avalia que tanto o presidente Luiz Inácio Lula da Silva quanto Bolsonaro "dividem a sociedade entre povo e elite, o povo sendo uma coisa boa e a elite, uma coisa ruim". A seguir os principais trechos da entrevista:

Bolsonaro perdeu a eleição por margem pequena de votos. O bolsonarismo se tornou nestes últimos quatro anos uma força política real. Vai perder oxigênio sem o poder?

Eu acho que não. Existe uma resiliência muito grande do bolsonarismo. Acho que realmente ele conseguiu algo extraordinário, que foi conquistar corações e mentes na sociedade. O bolsonarismo é uma força muito grande. Bolsonaro conseguiu ideologizar grande parte da sociedade brasileira, e isso é um feito único na nossa história. Claro, não tendo o governo, você perde muito da sua capacidade de pautar, vai ser difícil o bolsonarismo aprender a pautar estando na oposição. O governo é que pauta. Em termos de mobilização, vai haver um desafio grande para o bolsonarismo. Mas eu não acho, sinceramente, que seja um movimento que tivesse a sua força unicamente pelo fato de ser Estado, pelo fato de ser governo. A capacidade de mobilização não depende da máquina pública.

Bolsonaro tem atributos e meios para se manter como principal líder da oposição ao novo governo?

Sem o Bolsonaro, o bolsonarismo se fragmenta. Ele é o fenômeno aglutinador do bolsonarismo. Sem ele, a extrema direita vai se fragmentar em algumas extremas direitas.

A "máquina" de comunicação de Bolsonaro deixa algum tipo de legado para a forma como se faz política no Brasil? É possível o próximo governo se apropriar dessa estratégia?

Lula teria todas as condições, mas eu acho que a própria montagem de governo mostra que não, que ele não está aprendendo com essa forma de fazer política. Tem um elemento aí, que o Bolsonaro soube usar justamente sua força eleitoral como uma maneira de não ceder a certas pressões político-partidárias. O Lula, pela montagem dos ministérios e a entrega de pastas importantes e absolutamente estratégicas nas mãos de partidos completamente descompromissados com o futuro do País, está recorrendo ao presidencialismo de coalizão que a gente sempre viu, muito mais do que um governo do PT. Vários ministérios estratégicos foram entregues por uma questão de loteamento político.

Lula discursa contra as "elites" e evoca uma dicotomia entre povo e "mercado". Bolsonaro termina o seu governo recorrendo ao populismo. Quais características sobrepõem os dois nesse conceito?

Existem algumas características, mínimos denominadores comuns do que seria o populismo. Um deles é essa dicotomia de divisão da sociedade entre povo e elite, isso é constante. Tanto Lula quanto Bolsonaro dividem a sociedade entre povo e elite, o povo sendo uma coisa boa e a elite, uma coisa ruim. Só que as elites que o Bolsonaro denuncia são, na realidade, as elites intelectuais, culturais e administrativas. Para Bolsonaro, o povo é quem é 'cidadão de bem' nos moldes dele, e tudo que não é cidadão de bem seriam as elites, os maus. Os dois são populistas, mas com graus diferentes, e a significação do que é povo e elite é muito diferente.

O ambiente virtual impulsiona o populismo?

Totalmente. O populismo é uma lógica política de mobilização da sociedade. Você mobiliza a partir de um antagonismo, de uma rivalidade. O ambiente virtual favorece algumas construções narrativas do bolsonarismo mais popular. As redes sociais têm uma arquitetura de sociabilidade e maneira de comunicar e interagir que favorecem discursos sensacionalistas, mensagens curtas e potentes. É uma grande fragmentação de perfil, e a maneira de se conectar com outros perfis seria através de um influenciador. O influenciador desempenha um tipo de engajamento com seus seguidores que se parece com o que seria uma liderança populista. As redes sociais catapultam influenciadores para a política e, portanto, fortalecem uma lógica populista.

O sr. defende que o Brasil vive uma revolução cultural que molda as opções e escolhas políticas nos últimos 20 anos. É um processo em curso ou consolidado? Que alerta essa revolução traz para o futuro governo de Lula e do PT?

Está em curso. O bolsonarismo conseguiu encarnar essa revolução social e cultural, por isso acho que Bolsonaro como candidato estava muito mais atualizado com essas mudanças na sociedade brasileira do que a candidatura do Lula. Outras forças políticas, desde a direita democrática até o centro e a esquerda, não conseguiram captar o que a extrema direita de Bolsonaro conseguiu captar na sociedade brasileira e se conectar com isso. Tem muito a ver com uma mudança de perfil religioso, os evangélicos são minoria do ponto de vista estatístico, mas maioria do ponto de vista político. O deputado católico não é comparável a um deputado evangélico pastor. Os neopentecostais ditam grande parte da vida política, hábitos de consumo e disciplinares de maneira que outras igrejas não fazem. Esse é um elemento absolutamente fundamental porque ele é cultural, não religioso. Bolsonaro captou isso como ninguém. Ele identificou esse processo dando ministérios inteiros para essas denominações e passou a significar seus atos como presidente a partir de uma leitura neopentecostal da Bíblia, foi uma inserção da cultura religiosa na política como nunca havia se visto antes.

Muitos defendem que Lula e o PT deveriam apostar em um governo de transição. Qual a chance de o futuro governo se consolidar realmente como um governo "menos petista"?

O governo é menos petista do que se tem falado. Ele não é resultado das forças que apoiaram Lula para ganhar as eleições. Grande parte do PSDB, do Cidadania e partidos que apoiaram Lula no segundo turno não tiveram reconhecimento, no entanto o União Brasil, que na maioria dos Estados estava fechado com Bolsonaro, recebeu (ministério). Essa aliança ministerial responde muito mais aos anseios de governabilidade do que, necessariamente, à frente ampla que se construiu. Grandes figuras do PT não entraram nesses ministérios e tinham essa expectativa, e certamente vai haver tensões no próprio partido ao longo do governo. Claro que houve a correta decisão de chamar Simone Tebet e Marina Silva. É um governo muito menos petista do que o primeiro governo do Lula.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Milton Tiago de Mello acaba de completar 107 anos com ótima saúde. Ao longo de toda a sua (longa) vida, o doutor em veterinária nunca teve nenhuma doença que requeresse internação hospitalar. Passou incólume por toda a pandemia de Covid-19, embora várias pessoas em sua casa, inclusive sua mulher, ainda antes da vacina estar disponível, tenham tido a doença.

Tamanha resiliência chamou a atenção da geneticista Mayana Zatz, coordenadora do Centro de Estudos do Genoma Humano e Células-Tronco (CEGH-CEL), da Universidade de São Paulo (USP). Ela estuda os centenários em busca dos segredos genéticos para a sua longevidade e resistência à Covid-19.

##RECOMENDA##

Em um novo estudo publicado na Nature, a pesquisadora descobriu que três super idosos que apresentaram formas muito leves da doença ou assintomáticas, entre eles Mello, têm uma frequência duas vezes maior de algumas variantes do gene MUC22 - ligado à produção de muco, responsável pela lubrificação e proteção das vias respiratórias. Outros estudos já tinham relacionado a baixa presença dessas variantes a casos mais graves da doença.

Os resultados não impressionaram muito o pesquisado. "A dra. Mayana quer acreditar que a minha longevidade está relacionada à questão genética", afirmou Mello, em entrevista por telefone.

Ele destaca a convivência com a mulher, a médica psiquiatra Angela, de 90 anos, com quem está casado há 60, e com os demais parentes e amigos que o cercam. Nas paredes da casa em que vive, no Distrito Federal, Mello coleciona os troféus adquiridos ao longo de mais de um século de vida. Entre os mais caros ao veterinário, o encontro com a rainha Elizabeth, do Reino Unido, 20 anos atrás, quando foi eleito membro honorário da Sociedade Zoológica de Londres, patrocinada pela monarca. Em outra parede, uma foto com João Paulo II, no Vaticano.

"Não é pouca porcaria não", disse, às gargalhadas. "Mas quando você tiver a minha idade, vai ter acumulado tudo isso também."

Peso

"Quanto mais idosa a pessoa fica, maior o peso da genética", afirma Mayana Zatz. "Porque isso significa que ela já enfrentou todo tipo de intempérie ambiental e continua firme. Ou seja, tem uma genética forte. Mas é óbvio que vida social e as conexões são muito importantes."

Embora os idosos em geral sejam os mais vulneráveis a casos graves de Covid-19, alguns centenários que não tinham sido vacinados apresentaram casos muito leves da infecção ou assintomáticos, como Milton Thiago de Mello.

O grupo da geneticista Mayana Zatz, da USP, estudou os casos de três centenários, com mais de 105 anos, com essas características. O trabalho revelou que, a despeito da idade avançada, os três indivíduos apresentaram uma resposta imunológica robusta. Além disso, constatou ela, nenhum deles apresentava variantes genéticas conhecidas por enfraquecer o sistema imunológico.

Linhagens

Em outro estudo realizado pelo mesmo grupo de cientistas, foram investigados 87 indivíduos com mais de 90 anos que tiveram Covid-19 assintomática ou com sintomas leves e 55 indivíduos com menos de 60 anos que tiveram uma forma grave da doença ou morreram. Todas as amostras foram coletadas no início de 2020, antes do início da vacinação.

Os especialistas constataram que os idosos que tiveram a versão mais leve da doença apresentaram as mesmas variantes do MUC22 que os supercentenários.

"Conseguimos células reprogramadas dos centenários, derivadas em laboratório para células pulmonares, cardíacas, musculares e neurônios", contou Mayana. "Vamos infectar essas linhagens com as duas variantes do vírus, a delta e a ômicron, para entender melhor como esses genes protetores atuam nos diferentes tecidos."

A resiliência é a capacidade de encarar os contratempos da vida com serenidade, de tal maneira que seja possível olhar para o futuro com foco na solução dos problemas em vez de lamentar as dificuldades que se apresentam. É a habilidade de superar obstáculos, desafios e adversidades, sem se deixar abater por eles. Na vida e no empreendedorismo, é um bem precioso que ajuda a ir além e, principalmente, a manter a caminhada.

O político norte-americano Eric Greitens certa vez defendeu que “ninguém escapa da dor, do medo e do sofrimento. No entanto, da dor pode vir a sabedoria, do medo pode vir a coragem, do sofrimento pode vir a força – se tivermos a virtude da resiliência”. É nisso que se resume o conceito da resiliência – palavra tão usada nos últimos tempos, mas que nem todo mundo entende mais profundamente. Que fique bem claro: ser resiliente não é ser um “super-herói”, uma pessoa de ferro, que não se abala por nada; é, pelo contrário, saber atravessar as dificuldades tirando delas aprendizados e mantendo o foco na meta. Ser resiliente ajuda no desenvolvimento pessoal e profissional.

Um indivíduo resiliente possui a capacidade de tornar os obstáculos uma força impulsionadora para alcançar o sucesso. Para isso, uma outra característica se faz necessária: aprender com os erros, os fracassos e as falhas. É certo que ninguém gosta de errar ou perder. Somos socialmente programados para ver vergonha na derrota. Mas a verdade é que os erros são, de fato, grandes professores. Ora, quando você falha em algo, no mínimo aprende uma maneira de como não fazer tal coisa. Deve, portanto, corrigir suas ações para tentar novamente o sucesso. E o mais importante: não desistir. Sempre ouvi que o sucesso é questão de fazer até dar certo, e não se der certo. Esta é uma poderosa inspiração, a essência da resiliência.

Sim, a vida colocará inúmeros obstáculos no caminho. Sim, muitos deles parecerão grandes demais, intransponíveis. Mas há que se ter em mente que, com as ferramentas certas, nenhum muro é alto o bastante para não ser ultrapassado. Ser resiliente é buscar essas ferramentas, suportar os pedregulhos que caem e continuar tentando até chegar ao fim da jornada. Desistir não é uma opção. Persistir, sim.

Com intuito de apresentar aos estudantes de medicina alternativas de resiliência durante a sua graduação e vida profissional, a Coordenação do Curso de Medicina da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), em parceria com o grupo de humor 'Roda Gigante', realiza uma live, nesta sexta-feira (16), às 18h, por meio do YouTube. A ação surgiu a partir do professor José Júnior Diniz, docente de Otorrinolaringologia do Departamento de Cirurgia, em conjunto com o grupo de mentoria do programa e a Federação Internacional de Associações de Estudantes de Medicina (IFMSA).

Segundo a organização do evento, foi observado um estresse nos alunos ocasionado pela pandemia da Covid-19 e pela nova modalidade de ensino distância. Com bastante leveza e humor, o encontro pretende trazer um diálogo de forma interativa para todos os docentes e estudantes com o propósito de ocasionar um relaxamento para esse momento pandêmico que estamos vivendo.

##RECOMENDA##

A pandemia do coronavírus veio realmente para revirar vidas, carreiras, empreendimentos e estruturas sociais. O desemprego foi um dos piores reflexos dessa situação – sem contar, obviamente, as mais de 330 mil vidas perdidas até agora. Segundo o IBGE, o índice de desemprego no Brasil ficou em 14,2% no trimestre finalizado em janeiro, somando 14,3 milhões desocupadas. Nesses momentos, em que o desespero vem, é preciso desenvolver a poderosa força da resiliência e tomar atitudes para encontrar saídas viáveis.

A resiliência pode ser definida como a habilidade de suportar as adversidades da vida e manter a determinação, tendo a capacidade de lidar bem com os problemas que aparecem pela frente sem esmorecer ou se desesperar. O desemprego repentino é, de fato, um baque na vida de qualquer pessoa que tem contas a pagar ou uma família a sustentar. Não é fácil. Mas é preciso manter a cabeça no lugar. E se mexer. Além de procurar uma recolocação, nessas horas pode-se (e deve-se) pensar em empreender. É o chamado empreendedorismo de sobrevivência. Todo dia vemos diversas pessoas que se reinventaram durante a pandemia, passando a produzir e oferecer produtos e serviços que fizeram sucesso atendendo a necessidades de determinados nichos de mercado. É preciso ter uma boa visão, pensar em possibilidades e, acima de tudo, colocar os planos em prática, correr atrás, trabalhar muito.

Com as atividades comerciais fechadas ou sensivelmente diminuídas na maioria dos municípios brasileiros, a internet tem se tornado uma ótima saída para geração de renda. E aí existem diversas frentes a serem abordadas, inúmeras oportunidades de negócio. Os aplicativos de entrega estão cada vez mais expandidos e podem ser bons aliados. Pode não ser fácil no começo, mas, mais uma vez, a resiliência bem desenvolvida faz do empreendedor um ser “inquebrável”, capaz de superar os obstáculos, tomar “porradas” da vida, mas não desistir. Acredito muito na lei do retorno, então, se você verdadeiramente se esforçar e colocar seu coração em um propósito, a vida se encarrega de recompensar toda dedicação e o universo vai conspirar a seu favor.

É sempre importante lembrar que, quando você desiste de algo, desiste também de tudo que vem depois. Ter esse pensamento em mente pode ajudar a manter a motivação no nível necessário para que você não pare. Caiu? Reerga-se, ainda mais forte e calejado, crie “couro grosso”, torne-se invencível. Você é capaz de dar a volta por cima. Se for para desistir, lembre-se: desista de desistir.

A pandemia está sendo a prova dos nove para mostrar que as chamadas indústrias 4.0 - aquelas que incorporam em larga escala tecnologias digitais na produção - são mais resilientes à crise. Em meio às turbulências desde março, essas empresas conseguiram atingir melhores resultados comparados aos da manufatura tradicional.

As indústrias 4.0 lucraram mais e mantiveram ou até ampliaram as contratações de trabalhadores em relação ao período pré-pandemia. Resultado: hoje estão com melhores perspectivas de faturamento para 2021. Isso é o que revela uma pesquisa da Confederação Nacional da Indústria (CNI), obtida com exclusividade pelo Estadão. Foram ouvidas cerca de 500 indústrias, de todos os portes.

##RECOMENDA##

A pesquisa, feita entre a última semana de outubro e meados de novembro pelo Instituto FSB Pesquisa, revela que 54% das indústrias que adotaram de uma a três tecnologias digitais na produção registram hoje um lucro igual ou maior que no período pré-pandemia. Esse resultado está sete pontos porcentuais acima do registrado pela indústria analógica.

A tendência se repete nas contratações. No mês passado, 30% das indústrias que adotaram até três tecnologias digitais tinham ampliado os quadros de funcionários em relação ao período pré-pandemia. Já o aumento do emprego na manufatura tradicional ocorreu com fatia menor, 21% das empresas, na mesma base de comparação.

Preconceito

Entre as tecnologias digitais, a maior parcela de empresas que ampliou o emprego, 37%, foi registrada nas companhias que adotaram a robótica avançada, aponta a pesquisa. Com esse resultado, cai por terra um velho preconceito. Desde que a indústria 4.0 começou a avançar no País, a partir de 2013, ela sempre esteve associada à ideia do desemprego, diz o economista João Emílio Gonçalves, gerente de Política Industrial da CNI. "Todos os momentos da história de mudanças tecnológicas estiveram ligados ao receio de redução expressiva no uso da mão de obra."

No entanto, pondera Gonçalves, quando se avaliam dados internacionais de uso de robôs na indústria, por exemplo, não se constata uma correlação entre o maior uso da tecnologia digital com o avanço das taxas de desemprego. É que, quando são incorporadas novas tecnologias, a demanda por empregos mais qualificados aumenta e a população se educa para desempenhar novas funções.

Na avaliação de Vinícius Fornari, especialista em política industrial da CNI e um dos responsáveis pela pesquisa, o desempenho mais favorável alcançado pela indústria 4.0 na pandemia em relação à manufatura tradicional se deve, em boa medida, à própria característica da indústria digital, que tem uma produção mais autônoma. "Com a adoção de tecnologias digitais, a produção fica mais flexível e a automação é maior."

E essas características, observa o especialista, acabaram se encaixando na crise provocada pela pandemia. O momento atual exigiu o distanciamento social e a paralisação de muitas atividades. As empresas que usavam essas tecnologias conseguiram manter o ritmo de produção no período de isolamento.

Reação rápida

A mineira Provest, confecção de médio porte com sede em Ipatinga e especializada em uniformes profissionais e equipamentos de proteção individual (EPIs), é um exemplo de indústria que conseguiu inovar e crescer na pandemia. "Estamos na contramão do mercado, principalmente do setor de confecção", diz o diretor de estratégia da empresa, Victor Araújo.

Neste ano, a companhia ampliou em 35,5% o faturamento sobre 2019 e superou as expectativas. E o lucro avançou na mesma proporção. Em meados do ano, a empresa dobrou de tamanho: chegou a ter quase mil funcionários diretos e indiretos. Em janeiro de 2020, eram 600 trabalhadores.

Nos últimos cinco anos, a empresa investiu cerca de R$ 3 milhões em equipamentos e soluções tecnológicas 4.0. Os recursos foram aplicados em quatro ferramentas importantes: internet das coisas, Big Data, integração dos processos e computação na nuvem.

Em março, quando foi decretada a pandemia, Araujo conta que a companhia correu para desenvolver produtos para atender às novas necessidades do mercado. Segundo ele, a empresa foi uma das primeiras a desenvolver a máscara de tecido. "Fabricamos mais de 2 milhões."

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Na tarde desta sexta-feira (17) o Secretário Estadual de Saúde, André Longo, responsável pela Secretaria Estadual de Saúde de Pernambuco (SES-PE), desejou ao novo ministro da Saúde, Nelson Teich, luz e resiliência para “aguentar o chefe”, referindo-se ao presidente da República, Jair Messias Bolsonaro (sem partido). Durante a coletiva de imprensa do Governo do Estado sobre a Covid-19, na qual aparece ao lado do secretário de Saúde do Recife, Jailson Correa, Longo explicou a importância de manter e ampliar as medidas de isolamento social no enfrentamento à pandemia e criticou a postura do presidente.

“A gente lamenta muito que continue esse descaminho, essa mensagem dúbia do governo federal sobre a necessidade do isolamento. Ao novo ministro da Saúde a gente deseja muita luz, muita resiliência para aguentar o chefe. (...) Precisamos manter o isolamento social. em algum momento poderá ter a necessidade de ser ampliado. É preciso ter cautela. A gente espera que o ministro possa ser iluminado para trazer informações uníssonas para a sociedade e encontrar o caminho para a normalidade possível mas passando pela dificuldade”, declarou o secretário.

##RECOMENDA##

Até esta sexta-feira (17), Pernambuco já registrou 2006 casos da doença e 186 mortes. Desse total, 323 registros de Covid-19 foram oficializados apenas nas últimas 24 horas. Segundo o secretário, o aumento se deve a uma ampliação da testagem.

Manutenção do isolamento

André Longo destacou ainda que Pernambuco irá manter as medidas de isolamento no mínimo pelo restante do mês de maio, conforme decreto assinado nesta sexta (17) pelo Governador do Estado, Paulo Câmara (PSB). “Não há como haver uma recomendação sanitária diferente disso. Estamos em franca aceleração de casos e de óbitos. É preciso manter até que a gente supere essa fase. A curva será mais ou menos íngreme a depender do nosso comportamento. A fase de ápice e platô dependerá do nosso comportamento, com número de casos e óbitos expressivo a depender do nosso comportamento e da capacidade de leitos. Depois vamos chegar ao controle da epidemia. Na atual situação estamos no início da aceleração epidêmica. Poderá demorar de 45 a 60 dias, dependerá das medidas não farmacológicas”, afirmou ele.

LeiaJá também

--> Covid-19: mais 323 novos casos e 26 mortes em Pernambuco

--> Mesmo com casos de covid-19, subúrbio descumpre isolamento

 

 

Ao longo de 2015, as empresas brasileiras de capital aberto comprovaram a máxima popular de que "nada está tão ruim que não possa piorar". Mês a mês, elas viram seu valor de mercado despencar a patamares que não eram registrados desde 2009, depois da crise financeira global. Desde janeiro, o Ibovespa, principal indicador da Bolsa, caiu 12,2% e as companhias de capital aberto perderam R$ 151 bilhões em valor de mercado. Mas nem todo mundo chegou até aqui se lamentando. Há um grupo de empresas que vai se lembrar com certa satisfação do ano que a maioria quer esquecer.

Entre elas, no topo do ranking das que mais se valorizaram em 2015, estão exportadoras, empresas que atuam em mercados resilientes à crise, como o de medicamentos, e outras que, na visão de investidores, fizeram uma boa gestão, apesar da crise econômica e política. A lista de companhias foi elaborada pela Economática, empresa de informações financeiras.

##RECOMENDA##

##RECOMENDA##

Para Michael Viriato, coordenador do laboratório de finanças do Insper, essas empresas têm uma característica em comum: conseguiram combinar geração de caixa com menor endividamento. "Embora não seja uma regra a ser aplicada a todas as empresas de commodity, podemos dizer também que o dólar valorizado beneficiou as exportadoras."

As gigantes de papel e celulose, Klabin, Suzano e Fibria, lideram o ranking: na média, seus papéis subiram mais de 60%. Para Carlos Farinha, vice-presidente da Pöyry, consultoria especializada neste setor, a celulose sofre menos do que outras commodities porque atende a uma emergente classe média global que busca novos produtos, como papel higiênico e fraldas descartáveis.

Com isso no radar, a Klabin, cujos papéis subiram 81% neste ano, está mudando sua estrutura de receita para que, já em 2016, metade das vendas venha do mercado externo. Hoje, 67% do faturamento ainda se concentra no Brasil. Com essa divisão "meio a meio", o presidente da Klabin, Fabio Schwartzman, diz que a empresa fica protegida das oscilações de demanda aqui e lá fora.

A concorrente Suzano usou o momento positivo - com preço de celulose estável e dólar alto - para reequilibrar suas finanças e acelerar investimentos. A meta estipulada para 2016, de uma alavancagem de 2,5 vezes o Ebitda (potencial de geração de caixa), deverá ser antecipada para o primeiro trimestre, segundo Marcelo Bacci, diretor de relações com investidores da empresa.

Além das fabricantes de celulose, o dólar alto colocou na lista das ações que mais ganharam em 2015 os papéis da petroquímica Braskem. Apesar de ter seus dois maiores acionistas, a Petrobrás e o grupo Odebrecht, no centro das investigações da operação Lava Jato, a companhia foi a quarta que mais ganhou valor este ano. A empresa atribuiu o bom desempenho ao "sucesso das operações internacionais" e do "bom momento do mercado petroquímico global".

A companhia atingiu no terceiro trimestre um lucro líquido de R$ 1,5 bilhão, o maior de sua história, e tem um cenário positivo pela frente. Em relatório, os analistas do Itaú BBA projetam aumentos de receita e geração de caixa e redução de endividamento para a empresa até 2019.

Empresas ligadas a setores resistentes à crise, como Raia Drogasil e Hypermarcas, fabricantes de medicamentos, também conseguiram ganhar valor este ano. "Em épocas difíceis, o consumidor corta gastos com bens duráveis e direciona sua renda para produtos essenciais", diz Alex Agostini, economista-chefe da Austin Rating.

A Hypermarcas chegou a ser olhada com desconfiança pelos investidores neste ano, mas fez as pazes com o mercado depois de vender, no início de novembro, sua divisão de cosméticos para a multinacional Coty, para se concentrar em medicamentos.

Até o combalido setor elétrico conseguiu manter representantes na lista das empresas que se destacaram. Num ano em que o consumo de energia caiu e as despesas financeiras aumentaram, duas companhias viram seus papéis subirem mais de 25%: a EDP Energias do Brasil, que controla as distribuidoras Escelsa (ES) e Bandeirante (SP), e a Equatorial, com Cemar (MA) e Celpa (PA).

A primeira, na opinião de analistas, registrou alta fora da curva, já que seus papéis estavam muito desvalorizados no início do ano. "Mas esse ajuste não acontece se a empresa não entrega o que promete", disse Maytê Souza Dantas de Albuquerque, diretora financeira da EDP. Ela destaca a venda de ativos não estratégicos e a compra dos 50% na usina de Pecém I como fatores que afetaram positivamente o valor de mercado.

Já a Equatorial há tempos vem sendo tratada por investidores como porto seguro, sobretudo pelos resultados da reestruturação das distribuidoras do Maranhão e do Pará, que deixaram de ser deficitárias e saíram do ranking de pior atendimento.

Único do mercado financeiro na lista das maiores valorizações, o Santander atribui o bom desempenho a melhorias operacionais, como redução da inadimplência e retirada do banco do topo da lista de reclamações do Banco Central.

Futuro

Ter se destacado neste ano não garante tranquilidade em 2016. Apesar de, nos últimos meses, a regra no mercado de capitais ter sido de ações descendo a ladeira, muita gente defende que a bolsa brasileira ainda não está barata. "Não dá para atrair investidores com base no valor atual das companhias", afirma Ilan Goldfajn, economista-chefe do Itaú Unibanco. O grande fiel da balança, diz ele, será a redução da despesa financeira. Viriato, do Insper, não vê um horizonte favorável. "O cenário ainda é incerto."

Leianas redes sociaisAcompanhe-nos!

Facebook

Carregando