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Um dos mais importantes cineastas iranianos, Dariush Mehrjui, foi morto a facadas na noite de sábado (14) junto com sua esposa, em sua casa, perto de Teerã, anunciou a autoridade judiciária neste domingo.

O cineasta de 83 anos dirigiu "A Vaca", em 1969, um dos primeiros filmes da nova onda do cinema iraniano e que levou o prêmio do júri no Festival de Veneza em 1971.

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Mehrjui também foi diretor e produtor por seis décadas, durante as quais enfrentou a censura antes e depois da Revolução Islâmica de 1979. Com sua longa trajetória, contribuiu para o reconhecimento internacional da Sétima Arte de seu país.

Sua mulher, Vahideh Mohammadifar, de 54 anos, era roteirista e cenógrafa.

"Durante a investigação preliminar, descobrimos que Dariush Mehrjui e sua esposa, Vahideh Mohammadifar, foram assassinados com múltiplas facadas no pescoço", anunciou o chefe da Justiça da província de Alborz, perto de Teerã, Hussein Fazeli-Harikandi, citado pela agência de Justiça Mizan Online.

Ele relatou que o cineasta havia enviado uma mensagem à sua filha Mona, por volta das 21h (horário local), para convidá-la para jantar em sua casa em Karaj, cidade a cerca de 40 quilômetros da capital. Quando chegou, uma hora e meia depois, descobriu os corpos de seus pais com ferimentos fatais no pescoço.

A polícia disse que não havia sinais de invasão da casa, embora "tenham sido encontradas pistas que provavelmente estão relacionadas com o assassino".

O ministro da Cultura iraniano, Mohammad-Mehdi Esmaili, declarou ter solicitado "esclarecimentos sobre as circunstâncias deste triste e doloroso incidente".

Em entrevista publicada neste domingo pelo jornal Etemad, a esposa do cineasta dizia ter recebido ameaças e que sua casa havia sido roubada.

"A investigação mostrou que nenhuma queixa foi apresentada pela entrada ilegal na propriedade da família Mehrjoui e pelo roubo de seus bens", acrescentou Fazeli-Harikandi.

- Comédias sociais -

O ministro prestou uma homenagem a "um dos pioneiros do cinema iraniano" e "o criador de obras eternas".

Nascido em 8 de dezembro de 1939, em Teerã, Mehrjui estudou filosofia nos Estados Unidos antes de voltar para o Irã, onde lançou uma revista literária e, em 1966, seu primeiro filme, "Diamond 33", uma paródia dos filmes de James Bond.

Mais tarde, fez filmes com forte dimensão social, como "A Vaca" (1969), "Mr. Naive" (1970), "The Cycle" (1974), "Os inquilinos" (1987) e "Hamoun" (1990).

Entre 1980 e 1985, o cineasta permaneceu na França, onde dirigiu "Voyage au pays de Rimbaud". Retornando ao Irã, triunfou nas bilheterias com "Os Inquilinos".

Em 1990, filmou "Hamoun", uma comédia de humor ácido sobre as 24 horas na vida de um intelectual angustiado por seu divórcio e por suas preocupações intelectuais, em um Irã invadido pelas empresas tecnológicas Sony e Toshiba.

Na década de 1990, Mehrjui também fez retratos de mulheres em Sara" (1993), "Pari" (1995) e "Leila", este último um melodrama sobre uma mulher estéril que incentiva o marido a se casar com uma segunda esposa.

"Fui muito influenciado por Ingmar Bergman e Michelangelo Antonioni", disse ele em uma entrevista à imprensa iraniana.

Os tribunais de Teerã condenaram 400 pessoas a penas de prisão de até dez anos por sua participação nos protestos após a morte de Mahsa Amini há quase três meses — anunciou a Justiça iraniana, nesta terça-feira (13).

O Irã enfrenta manifestações que são consideradas "distúrbios" pelas autoridades.

A morte sob custódia em 16 de setembro desta curdo-iraniana de 22 anos provocou um movimento de protesto sem precedentes no país. Ela foi presa por violar o código de vestimenta da República Islâmica.

"Durante as audiências sobre os manifestantes na província de Teerã, 160 pessoas foram condenadas a penas que variam de cinco a dez anos de prisão; 80 pessoas, a penas de dois a cinco anos; e 160 pessoas, a penas de até dois anos", disse o chefe da Justiça em Teerã, Ali Alghasi-Mehr, citado pela Mizan Online, agência de notícias do Poder Judiciário.

A execução nos últimos dias de dois jovens de 23 anos em relação com os protestos gerou uma onda de condenação internacional.

Desde o início do movimento, milhares de pessoas foram presas. Em 3 de dezembro, a principal agência de segurança do Irã disse que mais de 200 pessoas morreram durante os protestos.

O filho do último xá do Irã se solidarizou nesta quinta-feira (20) com os ucranianos, afetados por ataques com drones russos, supostamente vendidos por Teerã, e instou novas e duras sanções contra o regime da república islâmica.

"Nossos corações estão com o povo ucraniano, que defende sua soberania", disse Reza Pahlavi a jornalistas, após discursar em sua casa, em Washington, onde vive exilado, sobre os protestos que sacudiram o Irã nas últimas semanas.

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"Acusamos o regime islâmico não só de ter destruído por completo a nossa liberdade", como "agora também de cooperar com quem está pondo em risco a soberania de outro país", afirmou.

Nesta quinta, a União Europeia (UE) impôs sanções a três generais iranianos e uma empresa, acusados de fornecer estes drones, que mataram cinco pessoas em Kiev na segunda-feira e destruíram centrais elétricas e outra infraestrutura civil crucial na Ucrânia. O Reino Unido se somou a estas medidas.

Funcionários americanos e europeus dizem ter evidências de que a Rússia comprou drones iranianos de baixo custo que explodem com o impacto. Rússia e Irã negaram estes apontamentos em uma sessão do Conselho de Segurança da ONU, convocada pelos países ocidentais na quarta-feira.

Pahlavi disse que tinha poucas dúvidas de que o Estado clerical do Irã, que substituiu a monarquia de orientação oriental de seu pai, após a revolução de 1979, opera em todo o mundo.

"A pergunta não é o que o regime iraniano está fazendo. A pergunta é como o mundo vai reagir e se vai tomar medidas claras para condenar as ações do regime através de sanções com consequências dolorosas", expressou.

Pahlavi defende a formação de uma democracia secular no Irã e não necessariamente a restauração da monarquia, uma opção que tem um apelo limitado dentro do país.

A escaladora iraniana Elnaz Rekabi, que competiu sem o hijab (véu) em um torneio na Coreia do Sul, retornou nesta quarta-feira (19) a Teerã, onde foi recebida com aplausos por uma multidão no aeroporto.

Rekabi competiu com a cabeça descoberta, utilizando apenas uma faixa no cabelo em um campeonato em Seul no domingo.

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O gesto foi interpretado por alguns como uma demonstração de solidariedade ao movimento de protestos que abala o Irã há um mês, após a morte de Mahsa Amini, uma jovem detida em Teerã pela polícia da moral porque seu véu supostamente permitia observar alguns fios de cabelo.

A República Islâmica exige que as atletas iranianas utilizem o véu inclusive nas competições no exterior.

Rekabi, 33 anos, desembarcou no aeroporto internacional Imã Khomeini nesta quarta-feira, de acordo com um vídeo divulgado pela agência estatal IRNA.

"Uma heroína" 

Dezenas de pessoas se reuniram para recebê-la. Rekabi foi muito aplaudida, segundo as imagens divulgadas na internet pelo jornal reformista Shargh.

"Elnaz é uma heroína", gritaram os manifestantes.

A escaladora estava com um capuz e um boné de beisebol. Ela foi recebida por sua família e depois conversou com a imprensa estatal.

"Devido ao ambiente que existia durante a final da competição e ao fato de que fui chamada de maneira inesperada para iniciar a escalada, eu me confundi com meu equipamento técnico e isto me levou a esquecer o hijab", disse.

"Retorno ao Irã em paz, em perfeita saúde e de acordo com meus planos. Peço desculpas ao povo do Irã por causa das tensões criadas", acrescentou, antes de afirmar que não tem a intenção de abandonar a seleção nacional.

A multidão, que incluía mulheres sem véu, cercou o veículo no qual a atleta deixou o aeroporto, mais uma vez sob aplausos.

"Uma recepção digna de de uma heroína, incluindo mulheres sem o véu obrigatório, do lado de fora do aeroporto de Teerã para a atleta Elnaz Rekabi. Persistem as preocupações com sua segurança, afirmou a ONG Centro para os Direitos Humanos no Irã (CHRI), que tem sede em Nova York.

 Propaganda estatal? 

Os comentários feitos pela atleta confirmam uma mensagem publicada na terça-feira em sua conta no Instagram, na qual ela pediu desculpas por "qualquer preocupação" que pode ter provocado e afirmou que a decisão de retirar o véu "não foi intencional", e sim porque foi chamada para competir antes do previsto.

A República Islâmica é acusada por ativistas de pressionar as pessoas a apresentarem declarações de contrição na televisão e nas redes sociais.

Os observadores "não devem ser influenciados pela propaganda estatal", alertou o CHRI.

Grupos de defesa dos direitos humanos expressaram preocupação com a atleta depois que vários amigos denunciaram que não conseguiram entrar em contato com Rekabi.

Em um comunicado enviado à AFP, a embaixada iraniana em Seul negou "qualquer informação falsa e desinformação" sobre a situação da atleta.

Na primeira fase da competição, a atleta estava com uma bandana, mas na escalada principal estava com o cabelo descoberto.

O gesto coincide com os protestos após a morte de Amini, de 22 anos, nos quais várias mulheres retiram os véus nas ruas, universidades e escolas do país.

A violência nas ruas provocaram dezenas de mortes, a maioria de manifestantes, mas também há vítimas fatais entre os integrantes das forças de segurança, e centenas de detidos.

A porta-voz do Alto Comissariado para os Direitos Humanos das Nações Unidas, Ravina, Shamdasani, afirmou que a ONU "acompanhará de perto" o caso.

Pelo menos 35 pessoas morreram nas manifestações iniciadas há mais de uma semana no Irã, após a morte de uma jovem detida pela polícia moral por usar o véu de forma "inapropriada" - conforme balanço oficial divulgado neste sábado (24).

Os manifestantes tomaram as ruas das principais cidades do Irã, incluindo sua capital, Teerã, por oito noites consecutivas desde a morte de Mahsa Amini, de 22 anos. Esta jovem curda foi declarada morta depois de passar três dias em coma.

"O número de pessoas que morreram nos recentes distúrbios no país subiu para 35", informou a imprensa estatal, elevando o número oficial anterior de pelo menos 17 mortos, incluindo cinco membros das forças de segurança.

Na província de Guilán (nordeste), o chefe da polícia anunciou hoje "a prisão de 739 manifestantes, incluindo 60 mulheres", apenas nesta região, desde o início dos protestos, segundo a agência de notícias iraniana Tasnim.

Na sexta-feira (23), novos protestos aconteream em todo país. Os vídeos que circulavam na Internet mostraram confrontos em Teerã e em outras grandes cidades, como Tabriz. Em algumas imagens, viam-se agentes das forças de segurança nas cidades de Piranshahr, Mahabad e Urmia atirando, com o que parecia ser munição real, contra manifestantes desarmados.

Em um vídeo compartilhado pela ONG Iran Human Rights, com sede na Noruega, um membro uniformizado das forças de segurança dispara com um fuzil de assalto AK-47 contra manifestantes no Ferdowsi Boulevard, em Teerã.

Segundo a organização, outras imagens mostram o "fluxo de forças de segurança do Estado (...) em uma rodovia em Teerã", na noite de sexta-feira.

Também houve uma onda de prisões de ativistas e de jornalistas, incluindo Niloufar Hamedi, do jornal reformista Shargh, que noticiou a morte de Amini. Desde segunda-feira, pelo menos 11 jornalistas teriam sido detidos, conforme a organização Comitê para a Proteção dos Jornalistas (CPJ).

De acordo com o grupo de direitos curdos Hengaw, com sede na Noruega, os manifestantes "tomaram o controle" de partes da cidade de Oshnavih, na província do Azerbaijão Ocidental.

Segundo a Anistia Internacional, com sede em Londres, evidências coletadas em 20 cidades no Irã indicam "um padrão terrível das forças de segurança iranianas, atirando, deliberada e ilegalmente, com munição real contra manifestantes".

Em paralelo, milhares de pessoas saíram às ruas de Teerã na sexta-feira em uma manifestação a favor do hijab, em homenagem às forças de segurança que tentam sufocar o que a imprensa oficial chama de "conspiradores". Também houve manifestações de apoio às forças de segurança em cidades como Ahvaz, Isfahan, Qom e Tabriz.

- Gestos de desafio -

Amini morreu após ser detida pela polícia moral iraniana, encarregada de aplicar e fazer cumprir o rígido código de vestimenta das mulheres no país. Segundo as ONGs, ela recebeu um golpe na cabeça enquanto estava presa. A informação ainda não foi confirmada pelas autoridades, que abriram uma investigação a esse respeito.

Alguns manifestantes tiraram seu hijab em sinal de desafio e o queimaram, ou cortaram simbolicamente o cabelo, em meio à ovação da multidão, de acordo com imagens publicadas nas redes sociais.

Na sexta-feira, o ministro iraniano do Interior, Ahmad Vahidi, insistiu em que Amini não havia sido agredida.

"Relatórios foram recebidos de agências de supervisão, testemunhas foram entrevistadas, vídeos foram revisados, opiniões forenses foram obtidas e se comprovou que não houve qualquer agressão", declarou Vahidi.

A Anistia Internacional rejeita, no entanto, a investigação oficial e pede ao mundo que tome "medidas significativas" contra a repressão "sangrenta".

burs/dv/pc/avl/tt

Um cientista iraniano retornou nesta segunda-feira (8) a Teerã após sua libertação da prisão nos Estados Unidos, no âmbito de uma troca de detentos, segundo a República Islâmica, que espera que o ato seja repetido entre os países rivais.

Majid Taheri - um ítalo-iraniano que trabalhava em uma clínica de Tampa, Flórida - estava detido nos Estados Unidos há 16 meses. O cientista foi liberado na quinta-feira, enquanto Teerã liberou Michael White, um ex-militar da Marinha americana detido na República Islâmica em julho de 2018.

Em sua chegada ao aeroporto internacional Imã Khomeini de Teerã, Taheri foi recebido por Hosein Jaberi Ansari, vice-ministro das Relações Exteriores A imprensa iraniana publicou fotos dos dois homens conversando com jornalistas.

"Espero ver a libertação (de outros iranianos detidos no exterior) em um futuro próximo", declarou Ansari.

O vice-ministro afirmou que o cientista foi liberado após meses de esforços do ministério, em coordenação com a Suíça, que representa os interesses dos Estados Unidos no Irã, já que os dois países não têm relações diplomáticas desde 1980

Taheri, que se apresentou como "médico iraniano acusado de ter evitado as sanções americanas", agradeceu o ministro iraniano das Relações Exteriores, Mohammad Javad Zarif.

"Agradeço ao governo da República Islâmica do Irã, aos queridos dirigentes, entre eles o senhor Zarif, que trabalhou duro, e outras autoridades que levaram meses para conseguir minha libertação", declarou.

Taheri foi o segundo cientista a retornar dos Estados Unidos para o Irã na semana passada, após a volta de Cyrous Asgari na quarta-feira.

Taheri foi acusado de violar as sanções americanas ao enviar um artigo técnico ao Irã. Em dezembro ele se declarou culpado de violar as obrigações de declarações financeiras, por depositar 277.344 dólares em um banco, comparecendo várias vezes com dinheiro em espécie, de acordo com documentos judiciais.

Nesta segunda-feira, o cientista rejeitou as acusações, que chamou de "injustas e falsas", de acordo com a agência Fars.

"Ajudava a universidade a desenvolver uma vacina contra o câncer, em particular para as mulheres", disse.

O Irã ofereceu diversas vezes a possibilidade de uma troca de prisioneiros com os Estados Unidos.

As relações tensas entre os dois países passam por uma fase glacial desde que o presidente Donald Trump se retirou, em 2018, do acordo internacional sobre o programa nuclear iraniano, assinado três anos antes.

Trump, que considera insuficientes as garantias negociadas em 2015, iniciou uma campanha de pressão máxima contra a República Islâmica, inimiga de Washington há mais de 40 anos.

Após a libertação de White, Trump expressou, no entanto, a esperança de avançar com o Irã.

"Obrigado ao Irã, isto demonstra que um acordo é possível", escreveu o presidente americano no Twitter.

Três americanos continuam detidos no Irã, todos de origem iraniana. Teerã, que não reconhece a dupla cidadania, os considera como seus cidadãos.

O cientista iraniano Cyrous Asgari, liberado depois de permanecer vários anos detido nos Estados Unidos, retornou ao país, informou nesta quarta-feira (3) a imprensa de Teerã.

A informação foi divulgada pelas agências Tasnim, Isna e Mehr que publicaram em suas contas no Telegram a mesma foto de Asghari, com uma máscara de proteção devido à pandemia do novo coronavírus, sendo recebido por duas mulheres.

Asgari foi acusado em 2016 de roubo de segredos industriais durante uma visita acadêmica a Ohio e foi absolvido em novembro de 2019. Apesar da absolvição, ele permanecia detido nos Estados Unidos, provavelmente por motivos relacionados às leis de imigração.

Em março, o cientista iraniano afirmou ao jornal britânico The Guardian que a polícia de imigração americana o mantinha em um centro de detenção da Louisiana sem instalações sanitárias e se recusava a autorizar seu retorno ao Irã, mesmo após a absolvição.

Asgari, 59 anos, pesquisador da Universidade Tecnológica Sharif em Teerã, parece ter sido liberado em uma troca de prisioneiros, algo pouco frequente entre os dois países, que não têm relações diplomáticas desde 1980.

O Irã mantém cinco americanos detidos, enquanto 18 iranianos estão em prisões dos Estados Unidos.

Abatidas depois de vários dias trancadas em casa por medo do novo coronavírus, Chahpar Hachémi e sua filha Parmis finalmente decidiram fazer compras, nas ruas estranhamente vazias de Teerã. Apesar do medo de contrair a doença, Hachémi e sua filha de 13 anos caminharam pela capital iraniana, com Parmis usando a única máscara protetora que a família dispõe.

Segundo o balanço oficial atualizado anunciado pelas autoridades, o vírus matou 77 pessoas em um total de mais de 2.300 pessoas infectadas. O Irã é o país com mais mortes por COVID-19 depois da China. As escolas foram fechadas em todo o país, entre outras medidas tomadas pelas autoridades para conter a propagação do vírus.

"É extremamente difícil para nós, mas não posso pegar um táxi ou ônibus, mesmo que meus pés doam", diz Hachémi. "Minha filha estava deprimida em casa, então eu a trouxe às compras para animá-la". As crianças "não vão mais à escola e têm medo do vírus", acrescentou a dona de casa de 45 anos.

Nas proximidades, carros e ônibus circulam em intervalos irregulares na rotatória de Vanak, uma das principais da capital. Há vários dias, os engarrafamentos monstruosos que compõem a vida cotidiana de Teerã desaparecem.

A nuvem de poluição que geralmente cobre a cidade de mais de oito milhões de habitantes também diminuiu acentuadamente com a diminuição do tráfego. Pouco conforto para Pejman, arquiteto de 39 anos, que compartilha seus medos sobre a epidemia.

"A doença virou nossas vidas de cabeça para baixo", disse ele à AFP. "Temos medo. Não há máscara ou álcool em gel. As pessoas precisam, mas não conseguem encontrá-lo". As atividades comerciais também estão sofrendo. Colegas de Pejman, suspeitos de estarem infectados, foram forçados a ficar em casa, relata o arquiteto.

"Isso teve um efeito ruim nos nossos negócios. Agora eles medem nossa temperatura todas as manhãs antes de entrar no escritório", acrescentou Pejman. A desaceleração econômica também é palpável nas ruas. Para passar o tempo, os vendedores jogam, os funcionários limpam meticulosamente as portas e janelas dos restaurantes vazios e os taxistas incansavelmente por clientes.

Hamid Bayot, que administra um negócio de suco de frutas na rotatória de Vanak, diz que suas vendas caíram 80% desde o anúncio dos primeiros casos de contaminação em 19 de fevereiro. E isso, apesar das medidas de saúde adotadas pelos comerciantes para tranquilizar os clientes.

"Desinfetamos tudo três vezes ao dia, mas as pessoas têm medo e não compram nada de nós", diz Hamid Bayot. "Se continuar, iremos à falência e teremos que fechar nossa loja".

Para enganar o tédio dos jovens iranianos, o canal de notícias - geralmente austero - da televisão estatal transmite programas leves, que vão desde a Pantera Cor-de-Rosa até um documentário sobre as filmagens do filme "O Regresso" com o ator americano Leonardo Dicaprio.

"Temos que ficar em casa e não fazer nada. Não podemos ver nossos amigos e não estamos mais felizes", lamenta Parmis Hachémi, através da máscara que sua mãe lhe deu.

O Irã negou, nesta segunda-feira (13), ter tentado "acobertar o caso", em referência a sua responsabilidade pelo avião de passageiros ucraniano derrubado por erro perto de Teerã na última quarta.

"Nestes dias de tristeza, houve críticas aos responsáveis e às autoridades do país. Alguns responsáveis foram inclusive acusados de mentir e de tentar acobertar o ocorrido, quando, sincera e honestamente, este não foi o caso", disse o porta-voz do governo, Ali Rabii.

"A verdade é que não mentimos. Mentir é disfarçar a verdade de maneira intencional e consciente. Mentir é acobertar informações. Mentir é conhecer um fato e não dizê-lo, ou deformar a realidade", acrescentou Rabii.

"O que dissemos na quinta-feira estava baseado nas informações que haviam sido apresentadas ao conjunto do governo e segundo as quais não havia qualquer relação entre o acidente e um (disparo de) míssil", insistiu o porta-voz.

Nesta segunda-feira, pelo terceiro dia consecutivo, vídeos foram transmitidos em redes sociais que pareciam mostrar manifestações, particularmente na Universidade Sharif, em Teerã, em Sanandaj, no Curdistão e em Isfahan.

Nas imagens, manifestantes gritavam palavras de ordem contra as autoridades da República Islâmica. Convocações para novos protestos na terça, quarta e quinta-feira foram divulgadas nas redes sociais.

O chefe da diplomacia americana, Mike Pompeo, acusou Teerã nesta segunda-feira de querer "fazer tudo" para encerrar as manifestações e disse que os Estados Unidos estão ao lado dos iranianos "em seus pedidos de liberdade. e da justiça ".

As Forças Armadas iranianas admitiram, no sábado, sua responsabilidade na tragédia do voo PS572 da Ukraine International Airlines. A aeronave foi derrubado em 8 de janeiro, antes do amanhecer, pouco depois de decolar de Teerã.

Na quinta e na sexta-feiras, a Organização de Aviação Civil iraniana e o governo negaram a hipótese de que o avião tivesse sido derrubado por um míssil, mencionada desde a quarta à noite pelo Canadá.

As 176 pessoas a bordo do avião, iranianos e canadenses em sua maioria, morreram na tragédia.

O anúncio da responsabilidade das Forças Armadas provocou uma onda de indignação no Irã.

Na noite de sábado, uma cerimônia em homenagem às vítimas em uma universidade de Teerã se transformou em uma manifestação contra as autoridades, aos gritos de "morte aos mentirosos". A polícia conseguiu dispersar a multidão.

Ontem à noite, várias mobilizações foram registradas em Teerã, conforme vídeos publicados nas redes sociais que não puderam ter sua veracidade confirmadas.

O Irã negou categoricamente nesta sexta-feira (10) a tese de que o avião ucraniano que caiu na quarta-feira perto de Teerã tenha sido derrubado por um míssil, como afirmam vários países, entre eles o Canadá, que perderam vários de seus cidadãos.

Na tragédia, morreram 176 pessoas, a maioria iraniano-canadenses, mas também britânicos, suecos e ucranianos.

O chefe da diplomacia americana, Mike Pompeo, também afirmou que seu país acreditava que a aeronave americana "provavelmente" foi abatida por um míssil iraniano.

No início desta noite, Kiev anunciou que os especialistas ucranianos enviados ao Irã conseguiram acesso às caixas-pretas.

O acidente ocorreu de madrugada de quarta, logo após o Irã disparar mísseis contra bases militares utilizadas pelos militares americanos estacionados no Iraque em resposta ao assassinato pelos EUA contra um general iraniano.

Canadá e Reino Unido disseram que o avião, um Boeing 737, foi abatido por um míssil iraniano, provavelmente por engano, e vários vídeos que apontam para esta tese foram postados nas redes sociais.

"Uma coisa é certa, este avião não foi atingido por um míssil", disse o presidente da Organização de Aviação Civil Iraniana (CAO), Ali Abedzadeh, em uma entrevista coletiva em Teerã.

O voo PS752 da companhia Ukraine Airlines International (UAI) decolou de Teerã rumo a Kiev e caiu dois minutos depois.

Um vídeo de cerca de 20 segundos mostra imagens de um objeto luminoso que sobe rapidamente para o céu e toca o que parece ser um avião.

O vídeo, que não foi formalmente autenticado pela AFP, foi publicado por vários meios de comunicação, como o jornal "The New York Times".

"Vimos alguns vídeos", disse Abedzadeh. "Confirmamos que o avião ficou em chamas por cerca de 60 ou 70 segundos", embora, segundo ele, "não seja correto cientificamente que foi atingido por algo".

Na véspera, o presidente americano Donald Trump disse ter "suspeitas" sobre o acidente do avião ucraniano.

"Estava voando em uma área bastante difícil e alguém poderia ter se enganado", acrescentou.

As declarações de Trump coincidiram com informações neste sentido aventadas por meios de comunicação como a Newsweek, a CBS e a CNN.

- Tese não confirmada -

"As informações nas caixas-pretas são absolutamente cruciais" para a investigação, disse Abedzadeh.

"Qualquer declaração antes da extração dos dados não é uma opinião de especialistas", ressaltou.

Autoridades dos Estados Unidos entregaram ao presidente ucraniano Volodimir Zelenski "dados importantes sobre a catástrofe", segundo anunciou Kiev.

"Junto com o presidente Zelenski nos reunimos com autoridades americanas e recebemos informações que serão tratadas por nossos especialistas", disse no Twitter o ministro ucraniano das Relações Exteriores, Vadym Prystaiko.

A Comissão Europeia pediu, por sua vez, uma "investigação credível e independente". "Ainda não há provas conclusivas do que causou o incidente", assegurou o porta-voz europeu Stefan de Keersmaecker.

Cerca de 50 especialistas ucranianos chegaram a Teerã na quinta-feira para participar da investigação e da análise das caixas-pretas. Uma equipe canadense de dez pessoas está "a caminho" para tratar de questões relacionadas às vítimas.

A agência canadense de segurança nos transportes aceitou um convite da autoridade de aviação civil iraniana para participar da investigação.

Apenas alguns países do mundo, incluindo Estados Unidos, Alemanha e França, têm a capacidade de analisar caixas-pretas.

Na quinta-feira, o Irã convidou a Boeing, fabricante americana de aeronaves, para participar da investigação.

A Agência de Segurança dos Transporte dos EUA (NTSB, na sigla em inglês) anunciou que também participará.

Na França, o Escritório de Investigação e Análise para Segurança da Aviação Civil (BEA, na sigla em francês) disse que recebeu um aviso oficial do Irã e "elegeu um representante credenciado para participar da investigação".

Segundo o relatório preliminar da aviação civil iraniana, várias testemunhas observaram um incêndio no avião.

A aviação civil deu a entender que, entre as testemunhas, havia pessoas que estavam no chão, mas também outras que estavam em outra aeronave acima do Boeing.

Esta é a pior catástrofe da aviação civil no Irã desde 1988, quando o Exército americano alegou ter abatido por engano um Airbus da Iran Air. Nesta tragédia, 290 pessoas morreram.

É também o acidente mais mortal com a presença de vítimas canadenses desde 1985, quando o ataque a um Boeing 747 da Air India em 1985 matou 268 canadenses.

"Temos informações de várias fontes" indicando que "o avião foi abatido por um míssil iraniano", disse o primeiro-ministro canadense, Justin Trudeau, na quinta-feira, acrescentando que "não foi intencional".

Nesta sexta, as autoridades suecas suspenderam os voos diretos entre a Suécia e o Irã, citando uma "falta de clareza".

O grupo alemão Lufthansa também anunciou a anulação de seus voos diários com destino a Teerã até 20 de janeiro.

Um avião ucraniano que transportava 176 pessoas, a maioria iranianos e canadenses, caiu no Irã nesta quarta-feira (8), logo após decolar de Teerã, matando todos a bordo - anunciaram as autoridades iranianas e ucranianas.

O acidente com o Boeing 737 da Ukraine International Airlines (UIA) ocorre num momento em que o Oriente Médio atravessa um sério período de tensão e logo após Teerã disparar mísseis contra as forças americanas no Iraque.

Nada indica, porém, que esses eventos estejam relacionados. O presidente ucraniano, Volodimir Zelensky, advertiu para o risco de qualquer "especulação".

A televisão estatal iraniana transmitiu imagens do local do acidente, onde socorristas vasculhavam os destroços da aeronave. Várias equipes de resgate transportavam sacos contendo corpos, enquanto outras coletavam pertences pessoais dos passageiros.

O voo PS752 da UIA decolou às 6h10 (23h40 de terça-feira no horário de Brasília) do aeroporto Imã Khomeini, em Teerã, com destino ao aeroporto Boryspyl de Kiev, antes de desaparecer dos radares alguns minutos depois.

Ele caiu em terras agrícolas em Khalaj Abad, no distrito de Shahriar, cerca de 45 quilômetros a noroeste do aeroporto, de acordo com a imprensa estatal iraniana.

As autoridades ucranianas e iranianas descartaram qualquer chance de encontrar sobreviventes.

O aiatolá Ali Khamenei, o guia supremo iraniano, transmitiu no Twitter suas "sinceras condolências" às famílias das vítimas deste acidente "desastroso".

No aeroporto de Kiev Boryspil, flores e velas foram colocadas ao lado dos retratos da tripulação ucraniana, cinco homens e quatro mulheres que morreram no acidente.

"Conhecia todos", disse com voz rouca Artem, piloto da mesma companhia aérea, após depositar um buquê de rosas diante das fotos dos colegas mortos.

- Crianças e estudantes a bordo -

De acordo com a diplomacia ucraniana, estavam a bordo 82 iranianos, 63 canadenses, dez suecos, quatro afegãos e três britânicos. Outros 11 eram ucranianos, incluindo os nove tripulantes.

Inicialmente, Kiev havia informado que três alemães estariam a bordo, mas Berlim esclareceu que eram solicitantes de asilo registrados na Alemanha, sem revelar a nacionalidade deles.

Ao menos trinta vítimas eram da região de Edmonton, Canadá, que acolhe uma importante diáspora iraniana.

"Perdemos em torno de 1% da nossa comunidade neste voo", declarou um morador da região.

O Canadá abriga uma grande diáspora iraniana, e a UIA oferece voos relativamente baratos entre Toronto e Teerã, com escalas em Kiev. O primeiro-ministro canadense, Justin Trudeau, pediu uma "investigação profunda".

Segundo a lista de passageiros, pelo menos 25 tinham menos de 18 anos. Treze passageiros eram estudantes da Universidade Sharif, em Teerã, uma das mais prestigiadas do país, segundo a agência Isna.

A empresa aérea UIA informou que o Boeing 737 foi construído em 2016 e passou por uma revisão técnica há dois dias.

"Era um dos nossos melhores aviões com uma tripulação excelente e muito segura", declarou, em prantos, o presidente da empresa, Ievguen Dykhne, em uma entrevista coletiva em Kiev.

O presidente Zelensky, que interrompeu suas férias no sultanato de Omã para retornar à Ucrânia, ordenou uma investigação e anunciou a inspeção de "toda frota aérea civil ucraniana", independentemente da causa do acidente.

- "Evitar especulações" -

Zelenski também alertou contra possíveis "especulações" sobre o acidente e pediu que "versões não verificadas da catástrofe" não fossem divulgadas.

Em um primeiro momento, a embaixada ucraniana no Irã falou em "pane em um motor da aeronave, devido a razões técnicas", dizendo excluir "a tese de um ataque terrorista". Na sequência, removeu este trecho do comunicado à imprensa.

Uma fonte explicou à AFP que a declaração foi modificada porque a legação havia usado "informações não verificadas".

Imagens amadoras veiculadas pela mídia estatal iraniana mostram o avião em chamas perdendo altitude à noite e explodindo com o impacto no solo.

Stephen Wright, especialista em aviação e professor da Universidade de Tempere, na Finlândia, disse à AFP duvidar de que o avião tenha sido abatido.

"Há muita especulação afirmando que ele foi abatido. Acredito que este não foi o caso", comentou.

"O avião estava subindo (...) na direção certa, o que significa que algo catastrófico aconteceu", observou, referindo-se a "uma bomba, ou pane catastrófica".

A Boeing emitiu um comunicado indicando que está "disposta a ajudar por todos os meios necessários".

As duas caixas-pretas foram encontradas, segundo a Aviação Civil iraniana, que informou que não entregará os aparelhos aos Estados Unidos.

"Não daremos as caixas-pretas ao fabricante e nem aos americanos", destacou Ali Abedzadeh, diretor da Organização da Aviação Civil do Irã, citado pela agência Mehr.

Mais tarde, sem citar o Irã diretamente, o secretário de Estado americano, Mike Pompeo, pediu uma "cooperação total com toda a investigação e as causas" do acidente.

Apenas alguns países, incluindo Estados Unidos, Alemanha ou França, têm capacidade técnica para analisar caixas-pretas.

O acidente ocorreu logo após o Irã disparar 22 mísseis contra bases no Iraque usadas por militares americanos, em retaliação ao assassinato do general iraniano Qassem Soleimani.

Depois dos disparos de mísseis, muitas companhias aéreas, incluindo Air France, Lufthansa e KLM, anunciaram a suspensão de seus voos sobre Iraque e Irã.

Na terça à noite (7), a Agência Federal de Aviação americana (FAA, na sigla em inglês) proibiu os aviões civis americanos de sobrevoarem estes dois países e a região do Golfo.

A queda de um Boeing 737-800 de uma companhia ucraniana em Teerã não deixou sobreviventes, segundo a TV estatal do Irã. Havia entre 170 e 180 pessoas a bordo, de acordo com relatos preliminares.

A aeronave decolou na madrugada desta quarta-feira (8) rumo a Kiev, mas caiu minutos depois, nos arredores da capital iraniana. O desastre ocorreu horas após o Irã atacar posições americanas no Iraque, mas as primeiras informações indicam que o avião se acidentou por causa de problemas mecânicos.

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A Otan anunciou nesta terça-feira a retirada temporária de uma parte de seu pessoal no Iraque, após a suspensão de sua missão de formação das forças iraquianas, em razão das tensões entre Washington e Teerã.

"Estamos adotando as precauções necessárias para proteger nosso pessoal. Isso inclui o reposicionamento temporário de uma parte do pessoal em diferentes locais no interior e no exterior do Iraque", informou uma autoridade da Aliança Atlântica citada em comunicado.

A Otan, porém, "manterá uma presença no Iraque", acrescentou.

A França, por sua vez, anunciou nessa terça que "não tem a intenção" de retirar seus militares atualmente mobilizados no Iraque para missões de formação.

O país, que faz parte da coalizão internacional antijihadista liderada pelos Estados Unidos, conta com 200 militares no Iraque, segundo o Estado Maior.

Uma multidão estava reunida nas ruas de Teerã nesta segunda-feira (6) para acompanhar as cerimônias em homenagem ao chefe militar Qassem Soleimani, morto na última sexta-feira no ataque de um drone americano em Bagdá, no Iraque.

Carregando cartazes com o retrato de Soleimani, o general mais admirado do Irã, as pessoas se reuniram nos arredores da Universidade de Teerã, onde o líder supremo preside as cerimônias e orações pelo general.

Cercado do presidente iraniano, Hassan Rohani, do presidente do Parlamento Ali Larijani, do chefe da Revolução, general Hossein Salami, e do chefe da Autoridade judicial Ebrahim Raisi, o aiatolá Ali Khamenei fez uma oração em árabe pouco depois das 9h30 (3h no horário de Brasília), antes de deixar o local.

A morte do arquiteto da política expansionista iraniana no Oriente Médio como chefe da força Al-Quds dos Guardiães da Revolução provocou um recrudescimento das tensões entre Teerã e Washington.

Em um fria e ensolarada manhã, uma maré humana invadiu as avenidas Enghelab ("Revolução", em persa), Azadi ("Liberdade") e seu entorno, com bandeiras vermelhas (a cor do sangue dos "mártires"), ou iranianas, mas também libanesas e iraquianas.

Visivelmente emocionado, o aiatolá Khamenei pronunciou uma breve oração em árabe diante dos caixões do general Soleimani, do iraquiano Abu Mehdi al-Muhandis (número dois da coalizão paramilitar pró-iraniana Hashd al-Shaabi) e de outros quatro iranianos mortos no mesmo ataque.

O líder supremo e os outros dirigentes presentes deixaram o local rapidamente, antes de os caixões dos "mártires" abrirem caminho entre a multidão.

Como aconteceu no domingo, na cidade de Mashhad (nordeste), vários Guardiães da Revolução que estavam no caminhão à frente do cortejo fúnebre lançavam para a multidão kufiyas, blusas e outros objetos para dar a proteção dos "mártires" a quem os levasse.

- "Fazer EUA e Israel" -

"Foi um herói. Venceu o Daesh (acrônimo do grupo Estado Islâmico em árabe)", disse uma mulher à AFP, referindo-se ao compromisso do Irã contra o extremismo sunita no Irã e na Síria.

"O que Estados Unidos fizeram (ao matá-lo) é, sem dúvida, um crime", acrescentou.

"Esta é nossa mensagem para os Estados Unidos: vamos atingi-los, vamos fazê-los pagar pelo sangue vertido por sua culpa", disse Mehdi Ghorbani, que foi ao cortejo com mulher e filho.

Desde cedo, momentos de profundo silêncio se misturaram c om elegias interpretadas por famosos cantores religiosos, alternando com explosões de raiva, aos gritos de "Morte aos Estados Unidos".

Foi assim quando a filha de Soleimani, Zeinab, declarou que "o martírio de (seu) pai levará a um auge de resistência e fará Estados Unidos e Israel tremerem".

Presente em Teerã, o chefe do escritório político do Hamas palestino, Ismail Haniyeh, também causou furor na multidão.

Um homem levava um cartaz com a hashtag "#hard_revenge" (#dura_vingança, em tradução livre do inglês), e outros tinham mensagens em inglês para pedir a revanche pela morte de Soleimani. Também se ouvia "Morte aos Saúds" (a dinastia que reina na Arábia Saudita) e "Morte aos infiéis".

- Milhões de pessoas nas ruas -

A televisão estatal falou de "vários milhões" de pessoas nas ruas e anunciou uma "ressurreição sem precedentes da capital iraniana".

O frenesi causado pela chegada dos restos mortais do general Soleimani a Mashhad, ontem, obrigou as autoridades a anularem uma concentração prevista para acontecer à noite na capital.

Desde o assassinato do carismático militar, o mundo teme uma escalada da tensão no Oriente Médio.

Teerã prometeu uma resposta "militar", uma "dura vingança" que atingirá "o lugar certo na hora certa".

Embora a comunidade internacional tenha feito inúmeros apelos pela "desescalada", "prudência" e "moderação", o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, parece ignorá-los.

No domingo à noite, Trump reiterou que, se o Irã "fizer algo, haverá grandes represálias".

Trump também ameaçou impor sanções "muito fortes" contra o Iraque, depois que o Parlamento iraquiano votou uma resolução pedindo a retirada das tropas americanas em seu território. Já o Irã celebrou a decisão dos deputados.

Assim como havia acontecido na véspera, na noite de domingo, vários foguetes caíram perto da embaixada americana na ultraprotegida Zona Verde de Bagdá. Segundo testemunhas, não houve vítimas.

Neste contexto delicado, o Irã anunciou no domingo a "quinta e última fase" de seu plano de redução de compromissos em matéria nuclear. Informou ainda que vai se desligar de atender à obrigatoriedade de qualquer limite "ao número de suas centrífugas" de urânio.

Este plano é uma resposta à retirada unilateral dos Estados Unidos, em maio de 2018, do acordo internacional sobre o programa nuclear, firmado em 2015, e ao restabelecimento das sanções econômicas contra Teerã.

O Irã descobriu um novo campo de petróleo no sul do país, com cerca de 50 bilhões de barris de petróleo bruto, afirmou o presidente Hassan Rouhani neste domingo. A descoberta pode aumentar as reservas comprovadas do país em um terço, em meio às dificuldades provocadas pelas sanções impostas pelos Estados Unidos.

Rouhani fez o anúncio em um discurso na cidade de Yazd. Ele disse que o campo está localizado na província de Khuzestan, no sul do Irã, polo nacional da indústria de petróleo. Os 50 bilhões de barris seriam adicionados às provadas reservas iranianas de cerca de 150 bilhões.

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O novo campo de petróleo pode se tornar o segundo maior campo do Irã depois de um com 65 bilhões de barris em Ahvaz. Fonte: Associated Press.

Começou neste sábado (13) o julgamento do ex-prefeito de Teerã Mohammad Ali Najafi, acusado de matar sua segunda esposa - informou a imprensa iraniana. Najafi, de 67 anos, foi prefeito da capital do Irã entre agosto de 2017 e abril de 2018 e é considerado um dos líderes do movimento reformista.

Em 28 de maio, ele se entregou à polícia e admitiu ter matado sua segunda esposa, Mitra Ostad, 30 anos mais jovem do que ele, algumas horas antes. O corpo da vítima foi encontrado no banheiro da casa onde viviam, dentro de uma banheira.

Matemático brilhante e professor universitário, Najafi foi vice-presidente da República Islâmica e várias vezes ministro. Agora pode ser condenado à pena de morte.

A fama de Najafi e o escândalo em torno de seu segundo casamento - por não ter-se divorciado da primeira mulher, como exige a lei iraniana - contribuíram para o grande interesse que o caso desperta no país.

A tensão continuava a aumentar nesta terça-feira (25) com o anúncio de Teerã de que abandonará outros compromissos do acordo nuclear de 2015, em um contexto de confronto com os Estados Unidos.

No mês passado, o Irã havia informado que deixaria de obedecer aos limites impostos pelo acordo concluído em 2015 em Viena. O pacto trata de suas reservas de água pesada e urânio enriquecido.

Nesta terça-feira, Teerã foi mais longe, informando que, a partir de 7 de julho, reduzirá consideravelmente os compromissos contraídos no âmbito do acordo, segundo o secretário-geral do Conselho Supremo de Segurança Nacional (CSSN), almirante Ali Shamjani.

Hoje, o presidente americano, Donald Trump, classificou de "ignorante e ofensiva" a resposta do Irã à sua oferta de diálogo, feita após Washington anunciar uma nova bateria de sanções econômicas.

"O comunicado ignorante e ofensivo do Irã divulgado hoje mostra que eles não entendem a realidade", tuitou o presidente, um dia depois de impor sanções ao líder supremo da República Islâmica e aos principais comandantes militares, prometendo incluir o ministro das Relações Exteriores em sua lista negra.

Trump também advertiu o Irã de que um ataque aos interesses americanos provocará uma resposta "esmagadora".

Mais cedo, o Irã acusou o governo americano de fechar de forma "permanente" a via diplomática e de "mentir" sobre sua intenção de negociar.

Na segunda-feira, Trump anunciou sanções contra o guia supremo, o aiatolá Ali Khamenei, e o chefe da diplomacia, Mohamad Javad Zarif. Face da política iraniana de distensão com o Ocidente, Zarif é considerado um moderado e odiado pelos ultraconservadores iranianos.

"Ao mesmo tempo em que pedem negociações, eles tentam punir o ministro das Relações Exteriores. É evidente que mentem", declarou o presidente iraniano, Hassan Rohani.

- "Problemas mentais" -

"Sanções, para quê?", questionou Rohani. "Para congelar os ativos do guia? Mas nossos dirigentes não são como os dos outros países que têm bilhões em suas contas no exterior para que vocês possam impor sanções", completou.

"Esta Casa Branca sofre de problemas mentais. Não sabe o que fazer", completou o presidente iraniano.

Irã e Estados Unidos romperam as relações diplomáticas em 1980, depois da Revolução Islâmica e da tomada de reféns na embaixada americana em Teerã. Uma aproximação aconteceu durante o governo de Barack Obama, com a conclusão do acordo internacional sobre o programa nuclear iraniano.

Com o acordo, Teerã se comprometeu a não produzir armamento atômico e a limitar drasticamente seu programa nuclear, em troca da suspensão de parte das sanções internacionais.

Após sua chegada ao poder, Trump decidiu retirar Washington de forma unilateral do acordo e a restabelecer as sanções econômicas.

Apesar das medidas punitivas, o conselheiro de Segurança Nacional americano, John Bolton, afirmou durante uma visita a Israel, outro país inimigo do Irã, que a porta segue aberta para "verdadeiras negociações" com Teerã. Ao mesmo tempo, criticou o que chamou de "silêncio ensurdecedor" dos iranianos ante a proposta de diálogo.

Nos últimos meses, a tensão aumentou entre os dois países, especialmente após a destruição, em 20 de junho, de um drone americano com um míssil iraniano.

Nesta terça-feira, a Rússia, aliada do Irã, apoiou a versão iraniana do incidente.

O secretário do Conselho de Segurança da Rússia, Nikolai Patrushev, afirmou que o drone americano estava no espaço aéreo iraniano, e não no espaço aéreo internacional, como indica Washington.

"Tenho informações do Ministério russo da Defesa de que o drone estava no espaço aéreo iraniano", declarou. "Não vimos provas do contrário", completou.

Diante do temor de um confronto entre os países, o Conselho de Segurança da ONU pediu "diálogo". França, Alemanha e Grã-Bretanha, países signatários do acordo nuclear com o Irã, defenderam a busca por alternativas para reduzir a tensão. A China fez um apelo por "sangue frio".

Em um movimento mais incisivo, porém, o ministro das Relações Exteriores da França, Jean-Yves Le Drian, declarou hoje que o Irã cometerá "um grave erro", se violar o acordo de 2015.

"As diplomacias francesa, alemã e britânica estão totalmente mobilizadas para fazer o Irã entender que não é de seu interesse", disse Le Drian à Assembleia Nacional, pedindo "ações conjuntas para evitar uma escalada" no Golfo.

Na quarta-feira (26), o Conselho de Segurança deve se reunir para examinar a aplicação do acordo nuclear iraniano. As divergências devem aumentar, pois o Irã anunciou que suas reservas de urânio enriquecido devem superar, a partir de quinta, o limite previsto no pacto.

Até o momento, a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) certificou que o Irã vem respeitando os compromissos assumidos em 2015.

Os Estados Unidos advertiram, nesta quinta-feira (3), o Irã a não levar adiante seus planos de lançar três veículos espaciais, porque considera que a ação violaria uma resolução da ONU sobre o programa nuclear de Teerã.

O secretário de Estado americano, Mike Pompeo, disse que a tecnologia utilizada pelos foguetes para o lançamento de satélites é "virtualmente idêntica" à dos mísseis balísticos, entre os quais se inclui aqueles que poderiam alcançar território americano.

"Os Estados Unidos não vão ficar esperando para ver como as destrutivas políticas do regime iraniano colocam em risco a estabilidade e segurança internacionais", apontou Pompeo em um comunicado.

"Recomendamos ao regime que reconsidere estes lançamentos provocadores e ponha fim a todas as atividades relacionadas com mísseis balísticos para evitar um maior isolamento econômico e diplomático", afirmou.

O governo iraniano anunciou em novembro que lançaria três satélites ao espaço "nos próximos meses".

O Irã apostou no desenvolvimento de um programa de satélites que poderia lhe fornecer os rendimentos que necessita diante da difícil situação econômica. As autoridades de inteligência americanas, no entanto, consideram que a tecnologia poderia ser facilmente aplicada a mísseis de longo alcance.

Segundo Pompeo, o lançamento iraniano vai contra uma resolução do Conselho de Segurança da ONU de 2015, que apoia o acordo assinado com a comunidade internacional para pôr fim ao programa nuclear de Teerã e que pede a interrupção do lançamento de mísseis balísticos.

No ano passado, o presidente americano, Donald Trump, saiu unilateralmente do acordo, que tinha sido negociado por seu antecessor Barack Obama, e restabeleceu as sanções contra o Irã.

As potências europeias ainda apoiam o acordo, porque consideram que o Irã está cumprindo o que foi pactado, embora compartilhem da preocupação dos Estados Unidos com o lançamento de mísseis.

O presidente do Irã, Hassan Rouhani, fez neste domingo seu primeiro discurso desde que os protestos generalizados começaram no país. Rouhani disse que as pessoas têm o direito de protestar, mas essas manifestações não podem arriscar a segurança e a vida das pessoas.

Rouhani também criticou o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, pelos seus tweets sobre o protesto, dizendo que ele "se esqueceu que chamou o povo iraniano de 'terroristas' há alguns meses".

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O presidente iraniano também reconheceu que as preocupações do público vão além da economia, e incluem alegações de corrupção e falta de transparência do governo.

Segundo uma agência de notícias semi-oficial, a polícia iraniana prendeu cerca de 200 pessoas ontem durante os protestos.

Os relatos da agência de notícias ILNA citaram Ali Asghar Nasserbakht, um vice-governador de segurança de Teerã, como fonte das informações. Nasserbakht disse que a polícia prendeu aqueles que estavam planejando revoltas e destruindo propriedades públicas. Ele também disse que cerca de 40 líderes foram detidos. Fonte: Associated Press.

A Guarda Revolucionária do Irã diz que lançou uma série de ataques com mísseis no leste da Síria em resposta aos atos do grupo Estado Islâmico contra Teerã.

O site da Guarda, bem como as agências de notícias semi-oficiais, informaram que os ataques neste domingo ocorreram em Deir el-Zour, na Síria. Segundo as informações, a Guarda Revolucionária lançou mísseis de médio alcance de superfície para a superfície visando a área.

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Tal ataque é raro desde o início da guerra civil na Síria, em que o Irã está apoiando o presidente Bashar Assad. Cinco terroristas ligados ao Estado Islâmico invadiram o parlamento iraniano e um santuário para o líder revolucionário, Ayatollah Ruhollah Khomeini, matando pelo menos 17 pessoas e ferindo mais de 50. Fonte: Associated Press.

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