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Os ucranianos celebrarão o Natal no dia 25 de dezembro este ano, e não em 7 de janeiro com faziam até agora, seguindo a Igreja ortodoxa russa, o que representa uma ruptura de tradição em plena guerra com Moscou.

A nova data da celebração cristã, determinada em função do calendário gregoriano, foi aprovada pelo Parlamento da Ucrânia em julho e promulgada pelo presidente Volodimir Zelensky.

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"O povo ucraniano está submetido há muito tempos à ideologia russa em quase todas as esferas da vida, inclusive com o calendário juliano e na celebração do Natal em 7 de janeiro", afirmava o projeto de lei.

"Mas o poderoso renascimento da nação ucraniana prossegue e a luta contínua e frutífera por sua identidade contribui para a tomada de consciência e o desejo de cada ucraniano de viver sua própria vida, com suas próprias tradições, suas próprias festas", acrescenta o texto.

A decisão de alterar a data em que os cristãos celebram o nascimento de Cristo é parte de uma série de medidas adotadas pela Ucrânia para estabelecer uma distância da Rússia, como as mudanças de nomes de ruas e cidades que recordam a época em que o país, independente desde 1991, era parte da União Soviética.

A lei ilustra ainda a distância entre as igrejas da Ucrânia e da Rússia, que aumentou desde a invasão russa, em fevereiro de 2022.

A Igreja Ortodoxa ucraniana, que passou vários séculos sob tutela religiosa da Rússia, se declarou independente do Patriarcado de Moscou e "autocéfala" em 2019.

A parte da Igreja ucraniana que havia permanecido fiel a Moscou também declarou sua independência em maio de 2022, em repúdio ao apoio à invasão prestado pelo patriarca russo Kirill.

Algumas igrejas ortodoxas, incluindo as da Rússia e da Sérvia, continuam utilizado o calendário juliano para suas celebrações religiosas e não o gregoriano, concebido no fim do século XVI.

Durante o regime soviético (1917-1991), que defendia o ateísmo, as celebrações de Natal sofreram uma fusão com as festas de Ano Novo, que continuam sendo a principal celebração para muitas famílias ucranianas.

Na ceia de Natal, os ucranianos têm o costume de servir 12 pratos sem carne, incluindo a "kutiá", elaborada com grãos de trigo, mel, uva-passa, nozes moídas e sementes de papoula.

A Rússia atacou novamente os portos da Ucrânia no Mar Negro, incluindo o importante terminal de Odessa, informaram nesta quinta-feira (20) as autoridades ucranianas, na terceira noite de bombardeios desde que Moscou se retirou do acordo para a exportação de grãos, um pacto crucial para a alimentação mundial.

Ao menos 20 pessoas ficaram feridas na madrugada de quinta-feira em bombardeios russos contra a cidade portuária de Odessa e Mikolaiv, na costa do Mar Negro, sul da Ucrânia, anunciaram as autoridades locais.

O governador da região de Mikolaiv, Vitaliy Kim, informou no Telegram que os bombardeios deixaram 18 feridos.

"Os russos atacaram o centro da cidade. Um estacionamento e um edifício residencial de três andares estão em chamas", disse Kim.

O prefeito da cidade portuária, Oleksandr Senkevich, afirmou que pelo menos cinco prédios residenciais sofreram danos durante o ataque.

Em Odessa, que fica 100 quilômetros ao sudoeste de Mikolaiv, duas pessoas foram hospitalizadas após um bombardeio russo, anunciou o governador Oleg Kiper.

Esta foi a terceira noite consecutiva de ataques na região costeira desde que Moscou se retirou do acordo que permitia a exportação de cereais ucranianos pelo Mar Negro. O pacto expirou na segunda-feira (17).

A Rússia advertiu na quarta-feira que vai considerar como possíveis alvos militares os navios que seguem em direção à Ucrânia após o fim do acordo.

O início da ofensiva russa, em fevereiro de 2022, provocou o bloqueio dos portos ucranianos no Mar Negro até julho do ano passado, quando foi assinado um acordo, com mediação da Turquia e da ONU, que foi prorrogado em duas oportunidades.

O Kremlin, no entanto, anunciou na segunda-feira a saída do pacto após meses de reclamações da violação de um dispositivo do acordo para permitir a exportação dos produtos agrícolas e fertilizantes russos.

As autoridades ucranianas informaram na quarta-feira que os ataques russos destruíram 60.000 toneladas de grãos que seriam exportados.

O presidente russo, Vladimir Putin, declarou que a Rússia está disposta a retornar ao acordo se a "totalidade" de suas demandas for respeitada.

O bloqueio desde segunda-feira do corredor para as exportações ucranianas levou a cotação do trigo na quarta-feira a 253,75 euros por tonelada nos mercados europeus, uma alta de 8%.

- Ataque na Crimeia -

Na Crimeia, a península no sul da Ucrânia anexada pela Rússia em 2014, um ataque com drone matou uma adolescente e atingiu vários prédios administrativos, informou nesta quinta-feira o governador local designado por Moscou.

"Em consequência do ataque de um aparelho aéreo não tripulado, quatro edifícios administrativos foram danificados", afirmou Serguei Aksionov.

"Infelizmente uma adolescente morreu", lamentou Aksionov.

As autoridades locais ordenaram na quarta-feira a saída de milhares de civis de suas casas após um incêndio em uma área militar da Crimeia. De acordo com a imprensa russa, explosões foram registradas em um depósito de munições.

A Ucrânia intensificou os ataques contra esta península, que é um ponto crucial para o abastecimento das tropas russas no território do país vizinho.

Na segunda-feira, drones navais ucranianos atacaram a ponte de Kerch, uma ligação vital entre a Rússia e o território anexado.

- Ucrânia pede patrulhas no Mar Negro -

Na frente de batalha, os combates se concentram no leste da Ucrânia, onde a contraofensiva iniciada em junho por Kiev enfrenta dificuldades para romper as linhas russas, apesar do envio de armas pelos países ocidentais.

O exército russo afirmou que suas forças avançaram mais de um quilômetro durante várias "operações de ataque" ao norte da cidade de Kupiansk, nordeste da Ucrânia.

O conselheiro da presidência ucraniano, Mikhailo Podolyak, afirmou que o país precisa de 200 a 300 veículos blindados adicionais para romper as linhas russas e de 60 a 80 caças F-16, além de cinco a 10 sistemas de defesa antiaérea Patriot, de fabricação americana, ou seu equivalente francês SAMP/T.

Podolyak também pediu uma análise sobre a instauração de um mandato da ONU para criar patrulhas militares com a participação dos países da região do Mar Negro para garantir a segurança de suas exportações.

Grande parte da Ucrânia, incluindo sua capital, Kiev, prosseguia sem energia elétrica e sem abastecimento de água nesta quinta-feira (24), após novos ataques russos contra infraestruturas do país.

Nove meses após o início da invasão russa e a poucas semanas do começo do inverno (hemisfério norte), milhões de ucranianos passarão o dia sem energia elétrica e com frio, embora as autoridades esperem uma situação melhor até a noite.

As três centrais nucleares sob controle de Kiev foram reconectadas à rede e, em poucas horas, devem voltar a abastecer as residências que estão sem energia elétrica, assim como os sistemas de distribuição de água.

As usinas reconectadas são as de Jmelnitski e Rivne (oeste) e a de Pivdennoukrainsk (sul), que haviam sido desconectadas pelo sistema de proteção automática após os ataques russos que afetaram muitas instalações do sistema de energia ucraniano.

"Caso não aconteçam novos ataques, poderemos reduzir consideravelmente a falta de energia elétrica até o fim do dia", afirmou o ministro da Energia, German Galushchenko.

No conjunto do país, "a situação é difícil, mas, em algumas regiões, o fornecimento de energia elétrica aumentou", disse ele, antes de destacar que "as infraestruturas críticas em todo país" foram reconectadas.

O Exército russo negou, nesta quinta-feira, ter lançado ataques contra Kiev na véspera, afirmando que os danos na capital ucraniana foram causados por mísseis antiaéreos "ucranianos e estrangeiros".

"Nenhum ataque foi realizado em Kiev. Todos os danos na cidade relatados pelo regime de Kiev são consequência da precipitação de mísseis antiaéreos estrangeiros e ucranianos, instalados em áreas residenciais da capital ucraniana", declarou o porta-voz do Ministério russo da Defesa, Igor Konashenkov.

Ele declarou, porém, que o Exército russo realizou "ataques em larga escala" no dia anterior contra "o sistema de comando militar ucraniano e contra infraestruturas energéticas ligadas a ele".

"O objetivo dos ataques foi alcançado. Todos os alvos indicados foram atingidos", prosseguiu, assegurando que estes bombardeios prejudicaram "a circulação ferroviária das reservas do Exército ucraniano, de armas estrangeiras, equipamentos militares e munições".

- Crime contra a humanidade -

O Ministério da Energia informou que os ataques deixaram sem energia elétrica "a grande maioria dos consumidores" do país, que tinha quase 40 milhões de habitantes antes da invasão russa em 24 de fevereiro deste ano.

A Força Aérea ucraniana afirmou que a Rússia disparou quase 70 mísseis de cruzeiro contra o país na quarta-feira e que 51 foram derrubados. Os ataques atingiram infraestruturas energéticas cruciais que já haviam sido danificadas por outros bombardeios similares.

Após as derrotas militares que obrigaram a Rússia a recuar no nordeste e no sul da Ucrânia, Moscou optou, a partir de meados de outubro, por ataques frequentes e em larga escala contra as instalações de energia às vésperas do inverno.

Ontem, em um discurso por videoconferência ao Conselho de Segurança da ONU, o presidente ucraniano, Volodimir Zelensky, denunciou um "crime contra a humanidade".

"Com temperaturas abaixo de zero, milhões de pessoas sem abastecimento de energia, sem calefação e sem água, isso é, obviamente, um crime contra a humanidade", afirmou Zelensky durante a reunião de emergência que ele mesmo convocou.

- Zero grau -

A Rússia afirma ter como alvos instalações direta, ou indiretamente, vinculadas ao Exército ucraniano e considera que apenas as autoridades de Kiev são responsáveis pelo sofrimento da população por sua resistência às tropas de Moscou.

Em Kiev, que atualmente registra temperaturas próximas a 0°C, quase 70% da população estava sem acesso à energia elétrica na manhã de quinta-feira.

O prefeito Vitali Klitschko disse que "as empresas do setor de energia estão fazendo todo possível para restabelecer a eletricidade o mais rápido possível".

O restante do país também foi afetado pelos cortes.

Em Kharkiv, a segunda maior cidade do país, na fronteira com a Rússia, os "problemas no abastecimento de energia elétrica" continuam afetando a população civil, afirmou o governador Oleg Synegubov.

Na região central de Poltava acontece o mesmo. "Mas, nas próximas horas, forneceremos energia para as infraestruturas críticas e, depois, para a maioria das casas", prometeu o líder regional Dmytro Lunin.

Na região de Dnipro (sul), a "situação continua complicada", afirmou o governo local.

As obras de reparo na rede também estão em curso nas regiões de Rivne, Cherkasy (centro), Kirovograd (centro) e Zhitomir (centro-oeste).

Outra consequência direta dos ataques russos é que a Moldávia, que já registrava grandes problemas no setor de energia pela guerra na Ucrânia, também foi vítima de cortes de energia elétrica na quarta-feira.

Com o rosto sujo de lama, recrutas ucranianos atravessam uma planície portando fuzis. Mas eles não estão na Ucrânia, e sim em terras usadas pelo Exército britânico na Inglaterra, para onde viajaram a fim de desenvolver habilidades no campo de batalha.

Em parceria com o Exército britânico, esses civis recrutados pelas Forças Armadas da Ucrânia aprendem a manusear armas, técnicas de salvamento e simulações de combate, antes de irem para a linha de frente. O primeiro grupo chegou em julho ao Reino Unido, que se comprometeu a formar até 19.000 ucranianos, dos quais 5.700 já receberam treinamento.

O grupo tem pouca ou nenhuma experiência militar, e apenas cinco semanas para desenvolver habilidades de combate de alto nível. "Antes do começo da invasão, eu era apenas mais um civil", diz um dos recrutas, apelidado de Panda. "Depois da invasão, eu já não podia continuar assim, não podia viver uma vida civil, de forma que me alistei", conta o homem, que trabalhava como engenheiro.

- Sobreviver e atacar -

As duas principais habilidades que os recrutas desenvolvem “são como sobreviver em um campo de batalha e como ser o mais letal possível em um combate corpo a corpo”, explica o tenente-coronel Kempley Buchan-Smith, comandante do batalhão britânico de infantaria 5 Rifles.

Os recrutas ucranianos se submetem a um "programa de treinamento exaustivo", que inclui manuseio de armas, guerra de trincheiras e urbana, primeiros socorros e regras dos conflitos armados segundo o direito internacional. Eles retornam posteriormente à Ucrânia com equipamento doado pelo Exército britânico, que inclui coletes e capacetes.

A formação se baseia em um programa existente para treinar tropas ucranianas chamado Operação Orbital, que começou em 2015 e já capacitou mais de 22.000 soldados.

Desde a invasão russa, em fevereiro, o Reino Unido tem apoiado com firmeza as Forças Armadas ucranianas, e anunciou hoje que irá fornecer àquele país mísseis de defesa aérea e, pela primeira vez, foguetes capazes de derrubar mísseis de cruzeiro.

video-am/acc/mb/lb

O Exército ucraniano anunciou, neste domingo (19), que conseguiu frear os ataques russos perto da cidade de Severodonetsk, no leste do país, palco de intensos combates durante semanas nesta guerra que, de acordo com a segundo a Otan, poderá durar "anos".

"Nossas unidades conseguiram frear o assalto na região de Toshkyvka", declarou o Exército ucraniano no Facebook.

"O inimigo se retirou", acrescentou a corporação.

Serguii Gaidai, governador de Lugansk, região onde fica Severodonetsk, classificou como "mentiras" as declarações, segundo as quais a Rússia controla toda localidade.

"É verdade que eles controlam a maior parte da cidade, mas não completamente", frisou.

Em Severodonetsk, há mais de 500 civis, incluindo 38 crianças, entrincheirados em uma fábrica de produtos químicos para se protegher dos bombardeios, relatou Gaidai, acrescentando que a planta voltou a ser atingida por ataques aéreos nas últimas horas.

Há vários dias, tenta-se estabelecer um corredor humanitário para sua retirada, sem sucesso. Russos e ucranianos acusam um e outro por sua instalação ainda não ter sido possível.

De Moscou, o Ministério russo da Defesa afirmou, neste domingo, que "a ofensiva contra Severodonetsk está sendo realizada com sucesso".

"Unidades da milícia popular da República Popular de Lugansk, apoiadas pelas Forças Armadas russas, libertaram a cidade de Metolkin", a sudeste de Severodonetsk, relatou o ministério à imprensa.

- "Não há lugar seguro" -

Depois de fracassar em sua tentativa de tomar Kiev no início da ofensiva, em 24 de fevereiro passado, o objetivo da Rússia agora parece ser assumir o controle total da bacia de mineira do Donbass, composta pelas regiões de Lugansk e Donetsk. Desde 2014, esta região já é parcialmente controlada por separatistas pró-Rússia apoiados por Moscou.

"Não há lugar seguro", admitiu o governador em uma entrevista à AFP, de Lysychansk, na região de Lugansk. Os russos "bombardeiam nossas posições 24 horas por dia", descreveu.

"Tem um ditado que diz: você tem que se preparar para o pior, e o melhor virá", diz Gaidai. "Claro que temos que nos preparar", reitera o funcionário, que teme que os russos cerquem a cidade e bloqueiem as estradas que garantem o abastecimento.

Com uma população de cerca de 100.000 habitantes antes da guerra, apenas 10% permanecem em Lysychansk.

E, na cidade, tudo e todos parecem estar se preparando para combates nas ruas: os soldados cavam buracos e colocam arame farpado; a polícia coloca carros incendiados para parar o trânsito; e muitos moradores que ainda estavam lá decidem, enfim, ir embora.

"Largamos tudo e vamos embora. Ninguém pode sobreviver a um ataque desses", lamenta a professora de história Alla Bor.

- "Não vamos dar o sul para ninguém" -

Neste domingo, o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, manifestou sua determinação de continuar resistindo no sul, após uma visita às cidades de Mykolaiv e Odessa no sábado.

"Não daremos o sul para ninguém. Vamos recuperar tudo. O mar será ucraniano e será seguro", prometeu, em um vídeo publicado no Telegram, após retornar para a capital do país, Kiev.

"Estão confiantes e, olhando nos olhos deles, é óbvio que não duvidam de sua vitória", acrescentou Zelensky, referindo-se às suas tropas.

Seu otimismo diverge, no entanto, do panorama sombrio apresentado pelo secretário-geral da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), Jens Stoltenberg. Em entrevista publicada neste domingo pelo jornal alemão Bild, ele avalia que a guerra pode durar "anos" e, por isso, os países ocidentais devem se preparar para um apoio duradouro à Ucrânia.

"Temos de estar preparados para que isso dure anos", afirmou Stoltenberg.

"Não devemos esmorecer em nosso apoio à Ucrânia, mesmo que os custos sejam altos, não apenas em termos de apoio militar, mas também no aumento dos preços da energia e dos alimentos", completou.

"As perdas são importantes, muitas casas foram destruídas, a logística civil foi afetada, e há muitos problemas sociais", admitiu Zelensky.

"Pedi que as pessoas que perderam seus entes queridos recebam uma maior assistência. Vamos reconstruir tudo o que foi destruído. Os mísseis russos são menores do que a vontade de viver do nosso povo", declarou.

Mykolaiv tinha meio milhão de habitantes antes da guerra e segue sob controle ucraniano, mas fica perto de Kherson, uma região praticamente ocupada pelos russos.

Além disso, está localizada na estrada para Odessa, o maior porto da Ucrânia. Esta última também está sob controle ucraniano e no centro das negociações, pois há milhões de toneladas de grãos ucranianos bloqueados ali. A Rússia, que controla esta zona do mar Negro, argumenta que as águas estão minadas.

burs-bl/es/mb/tt

Um novo comboio da ONU deve chegar a Mariupol, nesta sexta-feira (6), para retirar os civis refugiados na siderúrgica de Azovstal, o último foco de resistência neste porto do Donbass, no sudeste da Ucrânia.

A missão coincide com o anúncio da Rússia de uma trégua de três dias, a partir de quinta-feira, para permitir a fuga de civis presos no complexo industrial, embora as tropas ucranianas denunciem que ela não está sendo cumprida.

Apesar desta incerteza, o subsecretário-geral da ONU para Assuntos Humanitários, Martin Griffiths, anunciou ontem que o comboio seria enviado para esta cidade que está sitiada pelas tropas russas desde quase o início da invasão russa, em 24 de fevereiro.

As autoridades locais afirmam que ainda há cerca de 200 civis presos na rede de corredores subterrâneos da siderúrgica, onde também resistem as últimas unidades de defesa ucranianas.

"A operação está começando. Rezamos por seu sucesso", disse a vice-primeira-ministra da Ucrânia, Iryna Vereshchuk, por telefone à AFP.

Também na quinta-feira, o presidente russo, Vladimir Putin, garantiu que "continua disposto" a garantir uma retirada "segura" dos civis, mas exigiu que Kiev ordene aos combatentes que ainda estão na fábrica que "deponham as armas".

As informações a esse respeito que chegam até o momento são contraditórias.

Enquanto o Kremlin garante que os corredores humanitários "estão funcionando" e que a trégua está sendo respeitada, o Exército ucraniano garante que as forças russas continuam sua ofensiva contra a siderúrgica.

As forças russas "em certas áreas, com o apoio da aviação, retomaram suas operações para assumir o controle da fábrica", denunciou o Ministério ucraniano da Defesa, em um comunicado nesta sexta.

No total, quase 500 civis já foram retirados de Mariupol nos últimos dias, conforme as autoridades ucranianas.

- Ofensiva contida -

Após mais de dois meses de cerco, as tropas russas controlam quase toda Mariupol, uma cidade às margens do Mar de Azov de quase 500.000 habitantes antes da guerra no sul do Donbass.

Sua captura total seria uma importante vitória para a Rússia antes de 9 de maio. Nesta data, comemora sua vitória sobre a Alemanha nazista em 1945, realizando um grande desfile militar na Praça Vermelha de Moscou.

Além disso, em um nível estratégico, esta cidade permitiria a consolidação da conexão entre os territórios ocupados no leste do Donbass com a península anexada da Crimeia, no sul.

Desde o início da invasão, Moscou conseguiu reivindicar o controle total de apenas uma grande cidade, Kherson, no sul, perto da Crimeia.

Ontem, o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, reconheceu que o apoio ocidental a Kiev conteve a ofensiva contra a Ucrânia.

"Os Estados Unidos, o Reino Unido, a OTAN como um todo compartilham permanentemente informações com as Forças Armadas ucranianas. Combinadas com entregas de armas (...) essas ações não permitem que a operação seja concluída rapidamente", disse ele à imprensa.

Peskov fez essas observações depois que o jornal The New York Times publicou que as informações fornecidas por Washington a Kiev permitiram que vários generais russos fossem abatidos - o que foi negado ontem pelo Pentágono.

Essas ações, apontou Peskov, "não têm capacidade para impedir" os objetivos da Rússia nesta guerra que, após dez semanas, causou milhares de mortes e o exílio de mais de cinco milhões de pessoas.

- Arrecadação de fundos -

Na frente diplomática, os países ocidentais continuam a aumentar sua pressão sobre a Rússia, que está sujeita a uma série de sanções sem precedentes.

O presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, manifestou-se a favor do confisco dos bens russos congelados na União Europeia no âmbito destas sanções, de modo a contribuir para a reconstrução da Ucrânia.

Os líderes das grandes potências do G7 farão uma reunião virtual no domingo (8), dedicada em grande parte à guerra na Ucrânia, anunciou hoje uma porta-voz do chanceler alemão, Olaf Scholz.

Segundo a mesma fonte, o encontro contará com a participação do presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, que lançou uma campanha global de arrecadação de fundos por meio de uma plataforma digital.

"Em um clique, você pode doar fundos para ajudar nossos defensores, salvar nossos civis e reconstruir a Ucrânia", disse ele.

Além disso, o primeiro-ministro polonês, Mateusz Morawiecki, anunciou a captação de mais de 6 bilhões de euros (US$ 6,3 bilhões) para o país, obtidos em uma conferência de doadores realizada em Varsóvia.

Além da ajuda financeira e militar, os aliados da Ucrânia também adotaram sanções sem precedentes contra a Rússia.

No que seria sua medida mais severa até agora, a Comissão Europeia propôs que todos os 27 Estados-membros da UE proíbam gradualmente as importações de petróleo russo.

O primeiro-ministro nacionalista húngaro, Viktor Orban, opôs-se firmemente a este embargo e acusou a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, de "atacar" a unidade do bloco.

A Hungria é totalmente dependente do petróleo russo, e um embargo seria equivalente a "uma bomba nuclear em sua economia", alegou Orban.

A guerra também esteve presente no Conselho de Segurança da ONU, onde vários países e o secretário-geral desta organização, António Guterres, pediram o fim da violência, embora sem referência às negociações de paz atualmente paralisadas.

"A invasão da Ucrânia pela Rússia é uma violação de sua integridade territorial e da Carta das Nações Unidas", frisou Guterres.

O Brasil concedeu 74 vistos e 27 autorizações de residência humanitária a ucranianos entre os dias 3 e 31 de março deste ano. As informações, divulgadas nesta segunda-feira (11), em Brasília, constam do Boletim Migração Ucraniana.

“Receber imigrantes e refugiados ucranianos é um ato humanitário. Os imigrantes fazem parte da história do país e o governo federal está empenhado em auxiliar os que procuram por seus direitos como segurança, moradia e trabalho no Brasil”, afirmou o ministro da Justiça e Segurança Pública, Anderson Torres.

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O balanço também aponta que, em 2022, foram reconhecidos quatro refugiados, havendo 37 processos de refúgio em andamento. A concessão de vistos e autorizações de residência humanitárias foi possibilitada pela edição da Portaria Interministerial Ministério da Justiça/Ministério das Relações Exteriores nº 28, que atendeu às necessidades de ucranianos afetados pelo conflito armado na Ucrânia.

Visto Humanitário

Em relação aos procedimentos, o visto humanitário pode ser solicitado no exterior e permite a entrada no Brasil pelo prazo de 180 dias. Para conseguir autorização de residência por acolhida humanitária é preciso ir a uma unidade da Polícia Federal em solo brasileiro e pedir a Carteira de Registro Nacional Migratório (CRMN).

O trabalho, que também contou com o apoio da Organização Internacional para as Migrações (OIM) e do Obmigra (Observatório das Migrações Internacionais) contém orientações e canais de acesso a informações para requerer o visto ou a autorização de residência por acolhida humanitária e para a solicitação de refúgio no Brasil.

Histórico

Entre os que chegaram ao país nesse período, a maioria é do sexo masculino e possui entre 25 e 39 anos. Os homens somam 83% do contingente de imigrantes ucranianos e 46% do total são do sexo masculino na faixa etária entre 25 e 39 anos.

As mulheres somam 17% e a maioria delas, cerca de 10% do total de imigrantes, têm entre 25 e 39 anos. Entre homens e mulheres, não houve imigrantes acima de 65 anos e apenas 2% tinham menos de 14 anos na data de entrada no país.

Nos 12 anos que se estendem de 2010 a 2021, o principal meio de entrada de ucranianos no Brasil foi a via marítima. Em 2019 registrou-se o maior fluxo migratório: 22.201 ucranianos entraram e 21.189 saíram do país.

Média mensal

No primeiro trimestre de 2022, a média mensal de entradas de imigrantes foi de 1.685 pessoas e a de saídas, de 1.531 pessoas. Dos movimentos de entrada neste ano, mais de 60% referem-se a tripulantes e outros 20% a visitantes, que não precisam de visto para permanecer por até 90 dias no país. O movimento migratório, incluindo visitantes e temporários, é documentado pelo Sistema de Tráfego Internacional.

Os principais amparos indicados pelos imigrantes são trabalho marítimo (67%), reunião familiar (12%), trabalho com transferência de tecnologia (6%) e outros amparos (15%). O termo amparo é utilizado para a classificação do motivo descrito pelo migrante quando solicita sua residência, segundo a legislação nacional.

Em relação aos refugiados, foram 15 reconhecidos entre janeiro de 2010 e dezembro de 2021, de 74 solicitações recebidas no período.

Omar Alshakal fugiu de sua Síria natal, devastada pela guerra, e viveu em acampamentos para refugiados antes de fundar sua própria associação na ilha grega de Lesbos. Quando viu o êxodo dos ucranianos, dispôs-se a ajudá-los.

"Compreendo o medo dessas pessoas, porque eu mesmo venho de uma zona de guerra", afirmou Omar, de 28 anos.

"Tento ajudar o máximo de pessoas que posso e dar a elas esperança para o futuro", explicou à AFP, tremendo de frio no posto fronteiriço de Siret, no norte da Romênia.

Alshakal contou ter passado pelas prisões sírias na adolescência, por participar de manifestações contra o governo de Bashar Al-Assad.

Em 2013, uma bomba explodiu em seu caminho, enquanto transportava feridos para o hospital. Sobreviveu e viajou para a Turquia, onde recebeu tratamento. Junto com dois amigos, decidiu, então, lançar-se a nado no mar Egeu. Esta viagem de 14 horas levou-o à Grécia, porta de entrada para a União Europeia, onde sonhava se estabelecer.

Depois de uma breve passagem pela Alemanha, fundou a associação Refugee4Refugees, em Lesbos, em 2017.

"Aprendi inglês lá, para poder me comunicar com os outros voluntários", disse ele.

- Separação -

Abalado pelas notícias da agressão russa à Ucrânia, Omar Alshakal voou para Siret, na Romênia. Desde 24 de fevereiro, mais de 130.000 refugiados já passaram por este posto fronteiriço, a maioria mulheres acompanhadas de menores.

No primeiro dia, recordou, "vi uma menina de cerca de cinco anos, que chorava e chamava pelo pai", obrigado a permanecer na Ucrânia, onde foi decretada uma mobilização geral.

Sua ONG alugou um abrigo a dois quilômetros da fronteira, capaz de acomodar entre 50 e 100 refugiados. Alimentos e produtos de higiene já estão empilhados em um anexo do estabelecimento, junto com agasalhos e cobertores.

- Uma grande família -

Formada por uma dezena de pessoas, sua pequena equipe pede reforços, pois as necessidades no terreno são enormes.

"Quero que se sintam como uma grande família, prontos para ajudar uns aos outros nestes dias sombrios", confessou, acrescentando que "estaremos juntos, na alegria e na tristeza".

Alshakal também quer ir para o outro lado da fronteira, onde poderá ser "ainda mais útil".

Viajar com o passaporte sírio não é fácil, porém. "Já na fronteira romena nos perguntaram por que estávamos lá, o que queríamos fazer", contou.

Algum dia voltará para seu país natal? Alshakal diz que sim. "Minha vida não é aqui, mas na Síria, com minha família, que não vejo há quase 12 anos", desabafou.

Seus pais, uma irmã e um irmão esperam por ele. "Mas, por enquanto, vivo um dia de cada vez. Não tenho projetos pessoais. Espero apenas que um dia ninguém mais precise de ajuda. E este é meu sonho", afirma.

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Brasileiros e imigrantes latinoamericanos e ucranianos chegaram, na manhã desta quinta-feira (10), ao Aeroporto Internacional dos Guararapes - Gilberto Freyre, no Recife, em uma primeira escala no Brasil, rumo a Brasília, onde continuarão o processo de repatriação. Destes, cerca de 20 passageiros são cidadãos ucranianos, aos quais o Governo Federal concedeu o visto humanitário, válido por seis meses. Estas são pessoas cujo processo imigratório pôde ser feito de forma mais rápida por já possuírem critérios de obtenção do visto.

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No total, foram 74 pessoas trazidas ao Brasil em aeronaves diferentes, por meio de uma iniciativa da Força Aérea Brasileira (FAB). O grupo já estava fora da zona de guerra na Ucrânia, após acolhimento na Polônia, país vizinho. De acordo com a delegada chefe de imigração da Polícia Federal em Pernambuco, Luciana Martorelli, o pouso no Recife foi considerado técnico, já que a cidade é o ponto brasileiro mais perto da Europa. Nenhum passageiro ficou na capital pernambucana ou precisou sair da aeronave.

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A primeira aeronave da Operação Repatriação pousou no Recife às cinco da manhã de hoje (10). Foi um jato Legacy, trazendo cinco tripulantes e 11 passageiros; dentre eles havia gestantes, lactantes e crianças de colo. A segunda aeronave, de maior porte, foi um KC-390 Millennium, que pousou por volta das 6h42 e trouxe 15 tripulantes e 63 passageiros, além de alguns animais de estimação.

“O KC [aeronave] saiu como um voo de “carga”, porque ele levava insumos e medicamentos, e só tinha a bordo a tripulação, e talvez cinco ou seis passageiros, que eram os diplomatas do Ministério das Relações Exteriores. Na volta, ele veio com tripulação, carga e passageiros. O Legacy [aeronave menor] foi contratado [pela FAB], mas a tripulação é toda brasileira, e trouxe as famílias que tinham alguma dificuldade em enfrentar uma viagem tão longa, num avião com menos conforto, como é o KC”, explicou a delegada de Imigração ao LeiaJá.

Apesar de não terem abandonado a aeronave, os passageiros passaram pelo controle migratório padrão, mesmo se tratando de um avião cargueiro. “O que sai de qualquer Estado nacional em direção a um país estrangeiro é feito controle migratório. O controle não se restringe a esse trabalho de cabine, do aeroporto normal. A gente o faz em fronteira seca, em navio, e aqui na base aérea quando o avião sai da base, mas o destino dele é um país estrangeiro. E se faz controle migratório também em aeronaves oficiais, como é o caso do KC e qualquer aeronave da FAB. Isso vai para o Sistema de Tráfego Internacional”, acrescentou Martorelli.

Todos os passageiros, inclusive tripulantes, seguiram à Base Aérea de Brasília, no Distrito Federal. Apenas a tripulação do Legacy, com cinco pessoas, foi substituída no Recife. No total, o grupo realizou três escalas antes do destino: Varsóvia (Polônia) - Lisboa (Portugal), Lisboa (Portugal) - Ilha do Sal (Cabo Verde), e Ilha do Sal (Cabo Verde) - Recife.

“Todo mundo seguiu para Brasília e, de lá, eles serão redirecionados para os seus locais. Não vieram só brasileiros no voo, havia argentinos e um colombiano [negociação diplomática através do acordo 18 do Mercosul]. Para os ucranianos, o Brasil baixou um decreto concedendo o chamado visto humanitário. O país já concedeu visto humanitário aos haitianos, aos sírios e aos venezuelanos. É uma movimentação diplomática regular quando há um grande estresse na região, que no Haiti não foi de guerra, mas de catástrofe natural, e aquela população precisa se deslocar com rapidez. O Brasil é um país muito aberto a receber essas populações em crises humanitárias”, finalizou a chefe de polícia.

O ritmo de saída de refugiados que fogem dos combates na Ucrânia acelerou nas últimas 24 horas, com mais de 160.000 pessoas atravessando a fronteira, elevando o total para mais de 2,3 milhões, segundo o último balanço da ONU publicado nesta quinta-feira(10).

- 2.316.002 refugiados -

O Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur) contabiliza 2.316.002 refugiados que fugiram da guerra da Ucrânia, segundo os dados publicados nesta quinta-feira às 11h GMT (8h de Brasília).

São 160.731 refugiados adicionais na comparação com terça-feira.

A marca dos dois milhões foi superada na véspera, somente 12 dias depois do início do conflito, disse Filippo Grandi, alto comissário para os refugiados, o que representa o fluxo de exilados mais rápido no continente europeu desde a Segunda Guerra Mundial.

As autoridades na zona de guerra e a ONU asseguram que este fluxo vai aumentar ainda mais. Várias tentativas de abrir corredores humanitários fracassaram desde o início da guerra, mas um novo acordo foi alcançado na manha desta quarta-feira.

Segundo a ONU, até quatro milhões de pessoas poderão abandonar o país por causa do conflito.

Antes do começo do conflito, a Ucrânia tinha mais de 37 milhões de habitantes nos territórios controlados por Kiev, o que não inclui a península da Crimeia - anexada pela Rússia em 2014 - nem as duas zonas que estão nas mãos dos separatistas pró-russos no leste do país.

- Polônia -

A Polônia recebe mais da metade dos refugiados, ou seja 1.412.503, segundo o balanço do Acnur de 8 de março.

Os agentes fronteiriços poloneses anunciaram nesta quinta-feira pela manhã que 1.430.000 pessoas entraram no país procedentes da Ucrânia durante o conflito. Na terça-feira, as autoridades registraram 142.400 entradas.

Antes da crise, 1,5 milhões de ucranianos já viviam na Polônia, em sua maioria para trabalhar em um país membro da União Europeia.

- Hungria -

A Hungria acolheu até o momento 214.160 refugiados, um pouco menos de 10% do total, segundo o Acnur.

O país conta com cinco postos fronteiriços com a Ucrânia e várias cidades limítrofes, como Zahony, colocaram edifícios públicos à disposição para alojar os ucranianos.

- Eslováquia -

165.199 ucranianos fugiram em direção à Eslováquia desde o início da guerra, segundo a agência da ONU.

- Rússia -

O número de pessoas que se refugiaram na Rússia se estabeleceu em 97.098 pessoas até a data de 8 de março, sem mudanças em relação à véspera.

O Acnur apontou que, entre 18 e 23 de fevereiro, 96.000 pessoas passaram dos territórios separatistas pró-russos de Donetsk e Lugansk para a Rússia.

- Moldávia -

O número de ucranianos chegados à Moldávia, um pequeno país de 2,6 milhões de habitantes e um dos mais pobres da Europa, não se alterou desde domingo na contagem do Acnur.

De acordo com as autoridades moldavas, em 24 de fevereiro, 270.306 pessoas entraram no país da Ucrânia e 169.364 partiram de outros lugares.

Segundo esta última cifra disponível, 82.762 refugiados chegaram à Moldávia, ainda que uma parte siga seu caminho rumo à Romênia ou Hungria, onde têm familiares.

- Romênia -

O Acnur contabilizou 84.671 refugiados até domingo. Como na Moldávia, muitos refugiados decidem seguir para outros países mais ao oeste.

- Outros países -

A agência da ONU também contabilizou que 258.844 pessoas refugiaram-se em outros países europeus, mais distantes das fronteiras ucranianas.

O 1º vice-presidente da Comissão de Relações Exteriores e de Defesa Nacional da Câmara dos Deputados, Rubens Bueno (Cidadania-PR), disse, em entrevista à Rádio Câmara, que tem participado de eventos junto à comunidade de ucranianos e descendentes no Brasil e que já há um comitê da sociedade civil para receber os imigrantes, com ramificações em vários estados. 

A comunidade ucraniana no Brasil é estimada em até 600 mil pessoas, sendo a maioria moradores de cidades do Paraná. “Como receber, onde receber, de que forma transportar, onde serão hospedados, como é que vai ser?”, questionou Bueno. 

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“Tem a questão de oferecer não só o teto, mas também a condição de trabalho para que eles possam se integrar rapidamente na economia do País, como fizeram ao longo de todos esses anos. Os ucranianos têm um papel muito importante na economia brasileira”, acrescentou. O deputado ressaltou que é preciso se preparar rapidamente para acolher a parcela da população ucraniana que escolher o Brasil como destino. 

Visto e autorização para residência

Uma portaria dos ministérios da Justiça e das Relações Exteriores regulamenta a concessão de visto temporário e de autorização de residência a ucranianos afetados pela invasão feita pela Rússia.

A regulamentação também beneficia os apátridas, pessoas que não têm a nacionalidade reconhecida por nenhum país, e que também tenham sido deslocados por causa da guerra.  Ucranianos e apátridas podem pleitear o visto temporário, que tem validade de 180 dias. 

Os ucranianos poderão solicitar também a residência temporária no Brasil, por um período de dois anos. A portaria, que está em vigor até 31 de agosto deste ano, também permite que os imigrantes ucranianos trabalhem no Brasil.  Rubens Bueno lembrou que a concessão de ajuda humanitária a quem está fugindo da guerra na Ucrânia é prevista pela Lei de Migração. 

Condenação da guerra

O deputado elogiou a atuação do corpo diplomático no enfrentamento às consequências da guerra, mas cobrou do governo uma condenação formal do ataque promovido pelos russos na Ucrânia. “O Brasil tem de mostrar firmeza em dizer: ‘Parem, chega, passou do limite’. Você está acompanhando aí civis, crianças sendo assassinadas brutalmente em uma guerra estúpida, de uma invasão a um país que não tem nada a ver”, afirmou Rubens Bueno.

“Nós somos aqui pela autodeterminação dos povos e, como tal, temos de trabalhar e continuar toda essa luta em defesa da democracia”, destacou. 

*Da Agência Câmara de Notícias

Diante da chegada em poucos dias de mais de um milhão de refugiados que fugiram da ofensiva russa na Ucrânia, muitos poloneses como Nicolas Kusiak, um administrador de 27 anos, se mobilizam para oferecer ajuda.

Voluntários, autoridades, organizações humanitárias, profissionais e empresas, além da grande população ucraniana radicada na Polônia, oferecem o essencial: um lugar para descansar em suas casas.

E especialmente calor humano para as crianças e mulheres, que precisaram deixar a Ucrânia sem os pais e maridos, mobilizados para defender o país.

"Aqui temos médicos de Israel e da França, eu os ajudo, atuo como tradutor porque entendo um pouco de ucraniano", afirmou Kusiak, de 27 anos, que está há quatro dias na área da passagem de fronteira de Medyka.

Polonês nascido na França, Kusiak é um gerente de eventos que fala quatro idiomas e decidiu trabalhar como tradutor para evitar mal-entendidos com os estrangeiros, depois de assistir na internet vídeos xenofóbicos que alertavam contra a entrada de árabes e africanos.

Também forneceu barracas, geradores, aquecedores e alimentos, depois procurou organizar a coordenação entre a polícia, médicos, os bombeiros que organizam o transporte e os voluntários que distribuem a sopa quente.

A mobilização pelos refugiados é geral, como demonstram as cenas na estação central de Cracóvia, por onde passam centenas de refugiados.

"Nosso ponto de recepção está cheio e temos muitas pessoas o tempo todo", conta à AFP a voluntária Anna Lach.

"Temos um local no subsolo que está sempre lotado e é por isso que outras pessoas aguardam aqui para ver se podem ficar e passar a noite", explica.

Outra voluntária, Maja Mazur, afirmou: "Temos mais locais na cidade onde podem ficar. Eles podem permanecer um ou dois dias antes da transferência. Nós oferecemos alguma bebida, algo quente, algo para comer e um local onde podem dormir".

Alguns refugiados desejam prosseguir a viagem rumo ao oeste da Europa, em meio ao sofrimento pela separação da família.

"Eu vim de Kharkiv com minha família, com meus dois filhos e meus pais", afirma a arquiteta Anna Gimpelson.

"Meu marido ficou em Lviv porque ainda pode servir no exército e não pode sair do país. Nossa cidade vive momentos realmente terríveis. Temos bombas por todos os lados e a casa dos nossos vizinhos não existe mais", acrescenta.

"Viajamos por três dias e agora vamos para a casa de um amigo em Düsseldorf (Alemanha). Pode ser que passemos algum tempo lá enquanto pensamos no que fazer", disse.

O governo polonês antecipa que o fluxo de refugiados continuará nos próximos dias.

"Preparar a infraestrutura para estarmos prontos para receber uma nova onda de refugiados sem saber qual será seu tamanho, este é o nosso principal desafio no momento", afirmou no domingo Michal Dworczyk, chefe de gabinete do primeiro-ministro polonês Mateusz Morawiecki.

A ONU anunciou no domingo que mais de 1,5 milhão de pessoas saíram da Ucrânia em busca de refúgio em 11 dias. Dois terços desse total entraram na Polônia.

Ao mesmo tempo, a unidade polonesa da Anistia Internacional pediu que as pessoas não esqueçam os refugiados do Oriente Médio, sírios e iemenita, bloqueados na fronteira com Belarus, e alertou sobre "a enorme injustiça" pelo tratamento desigual dos estrangeiros com base em sua nacionalidade.

Com apenas 15 anos, Arsen acaba de pisar no território da Moldávia, mas já espera retornar à sua Ucrânia natal, de onde fugiu após "três ou quatro dias de terror, escondido no porão de um prédio".

"Esse pesadelo tem que acabar", diz sua mãe Irina, com lágrimas nos olhos, tremendo por causa do vento gelado que sopra no posto fronteiriço de Palanca (leste da Moldávia).

Porém, mais do que o frio, ela é atormentada pelo medo.

"A situação na Ucrânia está se deteriorando. Por isso tive que tomar essa difícil decisão e ir embora", diz a professora de 40 anos, com seus dois cachorrinhos nos braços e cobertos por cobertores.

- Uma vida em uma mala -

A mulher, que prefere não dar seu sobrenome, colocou "documentos e algumas roupas" em uma mala para seus dois filhos adolescentes, deixando sua mãe para trás.

Ela "não queria sair de Odessa, porque muitas coisas a prendem" a esta cidade portuária do Mar Negro, a cerca de 40 km de Palanca.

"Ouvíamos os bombardeios, os mísseis", lembra Arsen, que quer ser "marinheiro", como seu pai atualmente embarcado na Argentina.

Na madrugada de quarta-feira, o som de aviões voando perto da fronteira foi ouvido em Palanca, onde o fluxo de refugiados não diminui.

Na estrada estreita que leva ao posto fronteiriço, escoltada por voluntários que distribuem chá, café e lanches, um engarrafamento se formou pouco antes da meia-noite, entre os veículos que vieram buscar refugiados e os que saem do local.

O presidente russo Vladimir "Putin é um monstro, ele diz que quer ajudar os ucranianos, mas eu não preciso da ajuda dele", reclama Irina. "Apesar de falar russo desde a infância, sou ucraniana", diz com orgulho.

- "Queremos viver no nosso país" -

Em cada canto há centenas de refugiados se abraçando e confortando uns aos outros, a grande maioria acompanhados de crianças.

"Seu irmão virá, você vai ver", diz Liudmila, uma mulher de 50 anos, a uma amiga, devastada por se ver sozinha no posto de fronteira com o filho de quatro anos nos braços.

Como ela, todos procuram transporte para Chisinau, capital da Moldávia, ou para a vizinha Romênia.

Alguns se espremem em até cinco ou seis pessoas, além das malas, no veículo de um membro da família ou voluntário. Outros caminham os cinco quilômetros do posto de fronteira até um acampamento erguido pelas autoridades moldavas em terreno lamacento sob a neve que cai.

Desde o início da agressão russa em 24 de fevereiro, a Moldávia, uma ex-república soviética entre a Romênia e a Ucrânia, viu cerca de 90.000 ucranianos cruzarem suas fronteiras.

Este país de 2,6 milhões de habitantes está entre os mais pobres da Europa e não está acostumado a receber refugiados. Pelo contrário, tem sido vítima de uma emigração maciça devido ao desemprego e à corrupção endêmicas.

Desde o início da década de 1990, cerca de um terço de sua população emigrou, uma queda demográfica entre as mais altas do mundo.

Em 2020, os moldávios elegeram a presidente Maia Sandu com uma plataforma pró-ocidente que a viu entrar em conflito com a gigante russa de gás Gazprom sobre os preços do gás.

A dívida disparou em outubro após um aumento brutal de juros decidido por Moscou.

No total, nos primeiros sete dias da invasão russa, mais de um milhão de ucranianos fugiram para países vizinhos, disse o alto comissário da ONU para os refugiados, Filippo Grandi, nesta quinta-feira.

Entre eles está Alexei, de 17 anos. Embora esteja entrando em um carro a caminho de Chisinau, seus pensamentos estão em outro lugar, na Ucrânia: "Queremos viver em nosso país, livres, sem o exército russo".

O presidente Jair Bolsonaro (PL), afirmou em entrevista à Rádio Jovem Pan, nesta segunda-feira, 28, que deve publicar até amanhã portaria que permitirá a entrada de ucranianos no Brasil por meio de concessão de visto humanitário.

"Está aberto via passaporte humanitário a vinda para o Brasil, de ucranianos. Serão muito bem-vindos. Até de familiares, temos grande parte de familiares de ucranianos no Paraná. Eles têm parentes lá, se quiserem trazer pra cá, o caminho está aberto".

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Segundo o presidente, os refugiados deverão procurar a embaixada do Brasil para fazer a solicitação do visto humanitário que deve ser "publicada hoje ou amanhã, a portaria nesse sentido, e serão cadastrados e poderão vir pra cá", afirmou.

Durante a madrugada, o barulho temido há vários dias acordou a capital ucraniana em pânico. Às 4h30, explosões rasgaram o céu de Kiev pela primeira vez desde a Segunda Guerra Mundial.

Ao amanhecer, as primeiras sirenes de alerta tocaram por vários minutos nos alto-falantes da capital.

"Acordei com o barulho das bombas, fiz as malas e saí correndo", disse à AFP Maria Kashkoska, de 29 anos, abaixada em uma estação do metrô, onde encontrou refúgio.

Abalada, a empresária afirmou que está "preparada para qualquer eventualidade".

Nas varandas, olhares preocupados e de dúvida: Foi um ataque aéreo, explosões? Que alvos foram atingidos?

Uma hora depois do despertar em pânico, ninguém tinha informações sobre a origem ou os alvos das explosões na capital e em seus arredores.

Sem esperar, os moradores de Kiev iniciaram a fuga.

As avenidas começaram a registrar trânsito intenso ainda de madrugada. Carros com famílias inteiras tentavam deixar a cidade e seguir para a região oeste, ou para áreas rurais, longe da fronteira com a Rússia.

A frente leste é a região com bombardeios mais intensos, mas nenhuma região da Ucrânia parece estar a salvo.

No outro extremo do país, na cidade costeira de Odessa e inclusive em Leópolis (Lviv), a cidade do oeste para onde Estados Unidos e outros países transferiram suas embaixadas, as sirenes, que anunciam a necessidade procurar abrigo de maneira urgente, também tocaram a cada 15 minutos.

"Mantenham a calma!", escreveu no Twitter o ministro da Defesa, Oleksiy Reznikov.

"Se possível, fiquem em casa. A situação está sob controle (...) Sua tranquilidade e sua confiança nas Forças Armadas ucranianas é a melhor ajuda neste momento", completou em uma mensagem à população.

- "Salvar nossas vidas" -

Muitos ucranianos não acreditaram até o último momento na guerra, que tomou a forma de ataques coordenados executados na quarta-feira à noite por Vladimir Putin contra o país vizinho.

Em Kiev, os preparativos haviam sido discretos até então.

Mas na noite de quarta-feira, após a proclamação do estado de exceção, o prefeito de Kiev, Vitali Klitschko, anunciou a instalação de postos de controle nas principais entradas da capital e o reforço dos controles de passageiros nas estações de trem e no aeroporto.

Do lado de fora da estação de metrô da Praça Maidan, no centro de Kiev, uma mulher tentava silenciar os gritos de seu gato, que ela acabou colocando em uma mochila.

"Temos que salvar nossas vidas, e esperamos que o metrô seja suficientemente seguro, pois é subterrâneo", disse Ksenia Mitchenka à AFP, antes de entrar correndo no metrô.

Muitas famílias chegaram à entrada da estação com malas e sacolas, com os olhos grudados nos telefones celulares. Os agentes abriram as catracas e indicavam o caminho. No final das intermináveis escadas rolantes, vários grupos de pessoas estavam sentados no chão.

"Vamos ficar aqui, é mais seguro, vamos esperar aqui", explicou uma jovem, que não quis revelar o nome e que levava na mala seus documentos, carregadores e muito dinheiro, "o essencial", segundo ela, para fugir em tempos de guerra.

Os ucranianos votam, neste domingo (31), no primeiro turno de uma eleição presidencial imprevisível, com um ator sem experiência política como favorito de acordo com as pesquisas, e desafios consideráveis para este país às portas da União Europeia e devastado por um conflito armado.

O levante de Maidan seguido pela anexação da Crimeia pela Rússia e a eclosão de um conflito com os separatistas pró-russos provocaram há cinco anos uma escalada entre Moscou e os Ocidentais.

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Eleito em meio a esta crise e valendo-se das aspirações pró-ocidentais dos ucranianos, o presidente Petro Poroshenko corre o risco de ser eliminado já neste primeiro turno. Ele é precedido nas pesquisas por Volodymyr Zelensky, de 41 anos, cuja única experiência de governança se resume à interpretação de um professor de história que de repente se torna presidente em uma série de televisão.

O ator aparece à frente de seus rivais com mais de 25% das intenções de voto, de acordo com as últimas pesquisas. Atrás, Petro Poroshenko aparece emparelhado a uma outra veterana da política ucraniana, a ex-primeira-ministra Yulia Tymoshenko.

No total, 39 candidatos disputam a votação que se encerra às 17h00 GMT (14h00 de Brasília), um recorde em 28 anos de independência desta ex-república soviética.

"Eu votei em Zelensky, talvez ele tenha sucesso", disse à AFP Roman, de 52 anos, morador de Lviv, um reduto nacionalista do oeste. "Os outros tiveram sua chance, mas não fizeram nada".

- Voto pela paz -

Irina, uma funcionária de 48 anos, optou por Petro Poroshenko. "Eu conheço bem os seus defeitos, mas Tymoshenko e Zelensky me agradam ainda menos", disse ela. "Votei para que a guerra acabe, eu quero (...) tranquilidade para a Ucrânia".

Em Mariupol, um porto industrial localizado a cerca de 20 quilômetros da linha de frente, Sergei, de 22 anos, votou em uma grande tenda, na esperança de progresso em direção à paz.

"O país está cansado, as pessoas também", disse o soldado ucraniano à AFP, recusando-se a revelar o nome de seu candidato.

A ascensão meteórica de Zelensky foi favorecida pelo desencanto dos eleitores ucranianos com suas elites salpicadas por escândalos de corrupção.

Os críticos de Zelensky questionam sua capacidade de governar o país, apelidando-o de "Zero", enquanto seus defensores o vEem como um novo rosto.

Ele também é acusado por alguns de ser um fantoche do oligarca Igor Kolomoisky, um inimigo de Poroshenko, o que ele nega.

"Sim, eu não tenho experiência", mas "tenho força e energia suficientes", disse Zelensky no início de março, em entrevista à AFP.

Poroshenko, de 53 anos, que iniciou uma série de reformas fundamentais, particularmente no exército e setor de energia, bem como na saúde pública e educação, é, contudo, amplamente criticado por esforços insuficientes na luta contra a corrupção.

"Ainda é preciso um mandato presidencial para que as reformas se tornem irreversíveis", pediu no sábado.

A incansável Tymoshenko, de 58 anos, acusada de populismo, prometeu, por sua vez, reduzir pela metade os preços da gasolina para a população, sob o risco de irritar os credores da Ucrânia.

Os três favoritos são a favor de continuar a aproximação com o Ocidente.

- Sem voto na Rússia -

País de 45 milhões de pessoas às portas da União Europeia, a Ucrânia é hoje um dos Estados mais pobres da Europa.

Enquanto embarcou numa queda de braço com a Rússia e voltou sua atenção para o Ocidente, experimenta atualmente a pior crise desde a sua independência em 1991.

A chegada dos pró-ocidentais ao poder em 2014 foi seguida pela anexação da península da Crimeia pela Rússia e por um conflito com separatistas no leste, que deixou mais de 13.000 mortos.

No sábado, o Exército ucraniano informou a morte de um soldado nessas regiões, a décima sexta baixa desde o início do ano em confrontos vistos na Ucrânia como uma "guerra pela independência" contra os rebeldes pró-russos apoiados militarmente pela Rússia, de acordo com Kiev e os ocidentais.

Mais de 2.300 observadores internacionais devem monitorar o processo de votação.

Decisão inédita, Kiev proibiu a presença de observadores russos nesta eleição e fechou as suas assembleias de voto na Rússia. Pelo menos 2,5 milhões de ucranianos vivem na Rússia, mas poucos devem voltar para votar.

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