Tópicos | Vinicius Castello

A segunda reportagem sobre o crescimento de políticos de grupos de minorias, que buscam protagonismo nas eleições municipais do próximo ano, escutou o vereador Vinícius Castello (PT-PE) da cidade de Olinda. O parlamentar afirmou que se colocou a disposição do Partido dos Trabalhadores para disputar a prefeitura do município de mais de 340 mil habitantes.

De olho em 2024

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Se na reportagem anterior, a vereadora Flávia Hellen (PT) brincou ao afirmar que o partido do presidente Lula (PT) tem “a bola e uma rede sem goleiro”, quando se referiu as próximas disputas municipais, Vinícius Castello afirma que a sigla está com a “faca e o queijo na mão” para competir em 2024.

“Eu acredito que o partido dos trabalhadores tem todas as possibilidades de ocupar o Executivo da cidade de Olinda, não só pela sua força, mas sim por ser um partido que está inserido em toda a cidade. Essa força vem principalmente, por a gente ter de volta o maior líder político da América Latina, um dos maiores líderes políticos do mundo, como presidente do Brasil”, pontua o parlamentar.

É com essa confiança que o político deseja enfrentar a próxima disputa do município. Porém, o vereador, que está em seu primeiro mandato, ainda segue com a dúvida: a sua sigla, que está pela quinta vez no comando da Presidência, escolherá um jovem parlamentar que tem papel ativo na militância da esquerda no estado ou apoiará outra figura política de alguma legenda da base governista?

Mesmo ainda não tendo essa resposta, o petista acredita que será importante disputar a próxima eleição, pois a mesma cidade que o escolheu em 2020 para uma cadeira na Câmara dos Vereadores, ainda deseja ter um gestor que resolva os problemas da sua população. Além disso, Vinícius enxerga que o apoio dos seus eleitores alimenta a sua vontade em querer ocupar a prefeitura.

“Apesar de eu ser hoje uma das principais figuras de oposição da cidade e um dos políticos com maior inserção na sociedade olindense, é importante que a gente consiga perceber e entender também que isso é fruto de uma construção social. Uma construção junto com os movimentos sociais, junto com a juventude, com a periferia, com as vozes que foram silenciadas e que agora estão tendo a oportunidade de construir ao meu lado uma perspectiva política que vise dar protagonismo para a classe trabalhadora”, diz.

Trajetória

Posicionado na oposição do segundo mandato do prefeito Professor Lupércio (PSD-PE), Vinícius Castello se elegeu na última eleição municipal com 2.007 votos. Sua campanha ficou conhecida pelo trabalho de mobilização nas redes sociais, na qual conseguiu alcançar a confiança dos eleitores olindenses através de publicações que explicavam seus projetos para o desenvolvimento da cidade.

Criado na Barreira do Rosário, na periferia do município, Vini conseguiu o feito de ser o vereador mais jovem e o primeiro assumidamente LGBTQIAP+ do município. Ele, que é formado em direito pela Universidade Católica de Pernambuco (Unicap), foi a primeira pessoa da sua família a entrar em uma instituição de ensino superior e a concluir uma graduação. No ambiente acadêmico, coordenou o Quilombo Marielle Franco, coletivo de estudantes negros e negras da Unicap. Foi através desse coletivo, que mais de 1,6 mil estudantes conquistaram bolsa de estudos.

Em 2022, o parlamentar disputou a Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe), mas acabou como suplente. Mesmo com o resultado não esperado, a derrota foi vista com bons olhos pelo petista. “Saí de 2.007 votos em 2020, quando ganhei para vereador, para 22.713. Isso só mostra que o trabalho que faço em Olinda é reconhecido pelos pernambucanos. Esses votos me deram força e fôlego para poder começar a construir dentro do partido essa possibilidade de dialogar a respeito da disputa municipal aqui na cidade”.

Foto: Júlio Gomes/LeiaJá

Vinícius, que defende as bandeiras do movimento negro e LGBTQIAP+, ao entrar na Câmara de Vereadores precisou lidar com diversos ataques. Um deles, aconteceu em junho do ano passado, quando o vereador Jojó Guerra (PL-PE) o chamou de "viado" ao falar sobre um projeto de lei que previa a proibição da discriminação pela orientação sexual e de gênero em Olinda.

Ciente que poderá enfrentar preconceitos ao tentar disputar a Prefeitura de Olinda, o vereador ver a política como um caminho “árduo e desafiador”, mas diz que vem enfrentando esses ataques com muita luta e responsabilidade.

"Ser uma pessoa jovem, uma pessoa negra, uma pessoa LGBT, uma pessoa que não é herdeira, dentro dessa estrutura política, é lidar com a violência, é lidar com a tentativa de boicote. Mas, já passou o tempo de eu não acreditar na potência de corpos como os meus”, pontua.

Qual será a decisão do PT?

O LeiaJá procurou o Partido dos Trabalhadores para saber se Vinícius representará a sigla na disputa do próximo ano. No entanto, o secretário geral do PT em Pernambuco, Sérgio Goiana, afirmou que devido Olinda possuir mais de 100 mil habitantes, quem decide o nome para a corrida eleitoral é o diretório nacional do partido.

Já a senadora Teresa Leitão (PT-PE), em entrevista a Folha de Pernambuco na última segunda-feira (4), afirmou que no município a sigla “está com uma pré-candidatura”, porém “ainda não bateu martelo”. Ela pontuou que não existe outro nome colocado na disputa a não ser o de Vinícius.

 

Em entrevista ao LeiaJá, nesta terça-feira (28), o vereador Vinícius Castello (PT-PE), que se colocou a disposição do Partido dos Trabalhadores para a disputa pela Prefeitura de Olinda do próximo ano, fez duras críticas aos últimos acontecimentos envolvendo a gestão do prefeito Professor Lupércio (PSD-PE). O vereador, que foi criado na periferia olindense, citou problemas que estão sendo denunciados pelos moradores do município com a maior densidade populacional de Pernambuco, segundo o último Censo do IBGE.

De acordo com parlamentar, “os vários problemas” enfrentados pelos mais de 345 mil habitantes, obrigam uma “atuação mais árdua” do seu mandato, que desde o início de 2021 “busca soluções” para resolvê-los. “São problemas muitos reais que tornam a nossa atuação, como parlamentar, mais árdua. Pois a gente precisa fiscalizar, a gente precisa denunciar, a gente precisa participar”.

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Recentemente, um dos assuntos mais falados envolvendo a cidade é a exoneração de servidores. Lideranças políticas do município, como o Márcio Botelho (PP-PE), que é o atual vice-prefeito, e o próprio Vinícius, se posicionaram publicamente para denunciarem as demissões de centenas de trabalhadores do município. Mesmo com os opositores cientes de que a decisão da prefeitura foi tomada a partir de uma recomendação do Ministério Público de Pernambuco (MPPE), eles acusam que as exonerações estão paralisando serviços básicos do município.

Em julho, o MPPE recomendou que a gestão Lupércio demitisse todos os servidores temporários que foram admitidos para cargos previstos em concursos públicos já homologados. Ainda de acordo com o órgão, após várias denúncias encaminhadas à 4ª Promotoria de Justiça de Defesa da Cidadania de Olinda, foi constatado que a cidade mantinha "um grande número de contratos temporários" enquanto aprovados em concursos aguardam nomeação.

“Me posicionei, na verdade, muitos meses antes. Eu falava de como a gestão municipal estava em descontrole, fazendo contratos exorbitantes, convocando diversas pessoas para poder, de fato, se fortalecer politicamente. A gente percebia que a situação só se agravava cada vez mais. Foi uma falta de planejamento interno muito grande dentro de uma cidade que você precisa ter muita responsabilidade. E, infelizmente, essa consequência foi sentida por quem vive o dia a dia do município”, afirmou o Vinícius Castello.

Ele ainda revelou que por ter denunciado esses problemas, teve que enfrentar alguns ataques vindos de Lupércio. “O prefeito foi a público para me chamar de mentiroso. Chamou a oposição de mentirosa”.

Questionado sobre a insegurança, que fez o município ser considerado, por uma pesquisa do Instituto Fogo Cruzado, como a terceira cidade que mais sofre com a violência armada no estado, o vereador petista fez questão de pontuar que a “falta de diálogo entre Lupércio e a governadora Raquel Lyra” contribui para “a difícil tarefa” em diminuir os números da criminalidade em Olinda. Vinícius também culpa o “aceleramento desenfreado das desigualdades” que, segundo ele, ocasiona o aumento das violências.

“Percebe-se uma quantidade muito grande de pessoas em situação de rua. Isso é pelo sucateamento da própria gestão nos centros de população de rua. A gente percebe que faltam políticas de ressocialização e de assistência. Se não tem uma gestão que se responsabilize, desde a base até todas as outras fases, em evitar que pessoas escolham a criminalidade como a última alternativa, a gente tem um aumento gradativo de uma violência que mata. É isso que está acontecendo na cidade. As pessoas estão morrendo. Não só as pessoas que são envolvidas na criminalidade, mas também os trabalhadores e trabalhadoras”, explicou.

O parlamentar acredita que esses problemas podem prejudicar os planos de Lupércio no próximo ano, quando o atual gestor for apoiar a candidatura de um nome político para assumir a vaga que será deixada por ele na Prefeitura de Olinda.

“Não vai ser tão fácil como ele acredita que será a próxima disputa. E, infelizmente, o que ele poderia utilizar como plataforma, que é uma cidade bem cuidada, ele não pode ter essa carta, pois não foi isso que ele fez nesses sete anos de gestão”, completou.

O PT deve apostar no vereador Vinicius Castello para disputar a Prefeitura de Olinda. Neste sábado (14), o senador Humberto Costa (PT) defendeu o nome do advogado e ativista social para representar o partido nas eleições de 2024. Nomes de possíveis candidatos como Gleide Ângelo (PSB), Izabel Urquiza (PL), Márcio Botelho (PP) e Mirella Almeida (PSD) criaram uma expectativa em torno da disputa municipal do próximo ano.

Ainda sem definição sobre o posicionamento nas eleições em Olinda, o PT vai começar o debate na próxima semana sobre seus representantes, mas Humberto Costa antecipou que Vinicius Castello será indicado pelo partido: "Vinicius é do PT e é o nome que nós vamos oferecer à federação".

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Outros nomes do próprio PT, como o do deputado estadual João Paulo, podem ser indicados pelas lideranças, mas o próprio parlamentar já mostrou a intenção de concluir a legislatura na Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe).

Por sua afinidade com o eleitorado olindense, a ex-prefeita e atual ministra da ministra da Ciência, Tecnologia e Inovação, Luciana Santos (PCdoB), não pode ser esquecida. Um nome forte que também pode receber apoio do PT, mas que ainda depende das negociações da federação.

"É preciso fazer uma avaliação onde a gente veja viabilidade eleitoral de cada candidato e lá em Olinda o PT tem um nome que já mostrou que tem essa viabilidade. Vamos analisar outros nomes de outros partidos, do próprio PCdoB e do PV, e vamos ver o que se constrói", concluiu o senador.

Apesar de ainda faltar pouco mais de um ano para as eleições municipais, a cidade de Olinda já vem mostrando que a disputa pela prefeitura será acirrada, principalmente pelo motivo do atual prefeito do município, Professor Lupércio (SD-PE), ainda não ter batido o martelo sobre quem será seu escolhido para entrar na disputa por sua sucessão.

Além disso, nomes fortes de políticos da oposição vêm manifestando interesse em concorrer ao cargo.  Para o cientista político Arthur Leandro, "a avaliação da gestão de Lupércio certamente influenciará a eleição, mas a disputa ainda é incerta", principalmente pelas estratégias que ainda estão sendo adotadas pelos partidos. 

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 "O prefeito Lupércio, filiado ao Solidariedade, enfrenta o desafio de escolher um sucessor para a próxima eleição em Olinda. Em março de 2023, Lupércio anunciou a chegada de novos secretários e a adesão de partidos como MDB, PSD e UB, ampliando sua base de apoio", disse o especialista ao avaliar as primeiras decisões do prefeito olindense que visam a corrida eleitoral. 

No entanto, o atual vice-prefeito de Olinda, Márcio Botelho (PP-PE), um dos nomes que era ventilado por Lupércio para a disputa, não faz mais parte dos planos do Solidariedade. Em março deste ano, Botelho se filiou ao Partido Progressista, rompendo sua contribuição com o grupo do atual gestor. O ato de filiação, além de marcar o início da pré-candidatura de Márcio à Prefeitura da cidade, confirmou que ele é uma forte figura de oposição dentro do governo municipal. 

Lupércio agora luta para buscar um outro político que seja capaz de manter o Solidariedade por mais 4 anos no cargo máximo da cidade. No momento, a pessoa mais cotada para ser sua candidata é a secretária da Fazenda e Planejamento, Mirella Almeida. 

Um outro forte nome que continua sendo lembrado para suceder o atual prefeito, é o da ex-deputada federal Marília Arraes (SD-PE). Ela vem de duas derrotas consecutivas para o Executivo, e pode surgir como novidade em Olinda. 

 Porém, vale ressaltar que, mesmo com um currículo vitorioso em curto tempo, Lupércio não tem sorte em eleger aliados. Nas eleições de 2018 e 2022, ele tentou emplacar sua esposa, Cláudia Lupércio, na Assembleia Legislativa de Pernambuco (ALEPE), no entanto a primeira-dama perdeu nas duas ocasiões.

"A conjuntura estadual e nacional podem influenciar o resultado final, e a avaliação da gestão de Lupércio certamente terá peso na escolha do eleitorado", afirma Arthur Leandro.

O bolsonarismo de olho na disputa 

Após ser anunciada pelo presidente estadual do Partido Liberal e ex-prefeito de Jaboatão dos Guararapes, Anderson Ferreira (PL-PE), como a nova presidente do PL Mulher em Pernambuco, a ex-secretária de Desenvolvimento Econômico de Olinda, Izabel Urquiza (PL-PE), é cotada como o principal nome do bolsonarismo na disputa. A escolha do partido do ex-mandatário Jair Bolsonaro (PL) em firmar o nome de Izabel entre o eleitorado feminino da direita pernambucana é estratégica. Ela foi candidata a vice-governadora do estado na chapa encabeçada por Anderson, nas eleições do ano passado.

Os dois terminaram a corrida em terceiro lugar, atrás da adversária Marília Arraes, e da atual governadora, Raquel Lyra (PSDB-PE). No município, a chapa obteve 26,61% dos votos, sendo a mais votada no primeiro turno. Devido o resultado expressivo entre os eleitores olindenses, Izabel passou a ter seu nome credenciado na disputa eleitoral do município em 2024. 

A atual presidente do PL Mulher é filha da ex-prefeita da cidade, Jacilda Urquiza (UB), que governou Olinda entre 1996 e 2000, pelo PMDB, seu partido na época. Izabel Urquiza também já se candidatou para o executivo municipal, disputando as eleições nos anos de 2012 e 2016, sem sucesso.

A esquerda na corrida eleitoral

Um dos vereadores que mais faz críticas à gestão Lupércio, o petista Vinícius Castello (PT-PE), também é cotado para participar da disputa.

O parlamentar, que se identifica como oposição ao segundo mandato de Lupércio, ganhou notoriedade no carnaval deste ano, quando denunciou para o Ministério Público a ação da Prefeitura do município de proibir a venda de bebidas que não fossem do patrocinador da festa. 

No início deste mês, Vinícius fez um protesto inusitado para pressionar o prefeito, professor Lupércio (Solidariedade) pela entrega da UPA 24 horas do bairro de Rio Doce. Com direito a balões, bolo, vela, chapéu de festa e confetes, o político ao lado dos vereadores Jesuíno Araújo (Cidadania) e Dete Silva (PCdoB) cantou uma paródia de "parabéns para você" com uma letra que lembrava um ano de atraso da entrega da unidade hospitalar. 

Ainda não se sabe como o vereador conseguirá se firmar na disputa, pois além de ter que enfrentar as negociações dentro do Partido dos Trabalhadores, será necessário o apoio de todas as siglas que fazem parte da Federação do partido, que se une ao Partido Verde e Partido Comunista do Brasil. A corrida eleitoral ainda terá muitas novidades até as postulações estarem firmadas, mas o certo é que as peças já começaram a se movimentar e a disputa pelo executivo olindense vai movimentar os diferentes campos político-partidários da cadeira de Lupércio.

Em protesto realizado nesta segunda-feira (5), funcionários do Hospital Brites de Albuquerque, localizado no bairro da Cidade Tabajara, em Olinda, denunciaram o risco de fechamento da unidade hospitalar. O ato também cobrou um posicionamento da governadora do estado Raquel Lyra (PSDB-PE) e do prefeito Professor Lupércio (SD-PE).

Médicos, enfermeiros, auxiliares e a equipe do administrativo, iniciaram o protesto após receberem aviso prévio e a informação de que o hospital poderá fechar as portas no final deste mês.

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Atualmente, a unidade possui 90 unidades de tratamento intensivo (UTIs), sendo 60 para adultos e 30 para o público infantil, além de 40 leitos clínicos e 20 de enfermaria pediátrica. Cerca de 642 funcionários trabalham no local. O hospital também conta com laboratórios de radiologia, análises clínicas e eletrocardiograma. Serviços de psicologia e nutrição também são prestados.

A população olindense também procura o local por ele ser uma referência para o município, principalmente pelos seus serviços obstétricos. Na pandemia do Covid-19, serviu como um hospital de campanha, sendo administrado por uma Organização Social de Saúde (OSS).

Inicialmente, o contrato de gestão com a OSS, assinado em abril de 2020 previa um vínculo de seis meses, porém, o mesmo termo ainda comunicava que tal prazo poderia ser estendido até o fim da situação emergencial provocada pela crise sanitária em Pernambuco.

Com o último estado de emergência estendido até o dia 30 de junho, o contrato deve ser encerrado, sendo assim, serão suspensas as atividades da unidade.

Vereador de Olinda participou do protesto

O vereador Vinícius Castello (PT-PE) acompanhou o protesto e culpabilizou o prefeito do município, assim como também a governadora pelas ''possíveis transferências, caso se confirme o fechamento''.

''Estarei acompanhando o caso e preocupado com o desmonte que a saúde tem enfrentado nesse Governo. Prefeito Lupércio, o senhor precisa agir como gestor e ampliar o que funciona na cidade, não é assim que se cuida das pessoas e não iremos parar até que haja alternativas que respeite a vida de quem precisa da saúde pública para viver com dignidade'', escreveu Castello em suas redes sociais.

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A data em que completa três da morte do menino Miguel Otávio, foi marcada por um protesto nas ruas da capital pernambucana. O ato realizado na tarde desta sexta-feira (2), contou com a participação da família do garoto, movimentos sociais e lideranças políticas locais, que pedem urgência na conclusão do processo judicial.

Em junho de 2020, Miguel caiu do nono andar de um edifício de luxo, chamado Píer Maurício de Nassau, no bairro de São José, região central do Recife, após ser abandonado em um elevador de serviços por Sarí Corte Real, a ex-patroa de Mirtes Renata Santana, mãe do garoto.

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''Hoje estamos aqui marcando os três anos sem o meu filho, e hoje também se completa 1 ano e 2 meses em que a condenação saiu e Sarí recorre em liberdade. Ela está vivendo a vida dela como se nada tivesse acontecido, então a gente não pode parar enquanto ela não estiver atrás das grades. Ela cometeu um crime contra uma criança e tem que ser presa'', afirmou Mirtes.

Créditos: Júlio Gomes/LeiaJá

A avó do menino, Marta Alves, pontua que a negligência de Sarí contra Miguel, deve ser enxergada como um caso de racismo. ''Foi racismo e maldade, pois quando ela apertou o botão do elevador, ela colocou Miguel para a cobertura do edifício. Ela poderia ter apertado para o térreo, onde a mãe dele estava. Ela cometeu um crime e tem que pagar. Até mesmo pessoas que cometem crimes de menor potencial, são presas, então por que ela não é presa? Só por ser branca?'', questiona.

Marta revezava com a filha, Mirtes, no trabalho como empregada doméstica na casa de Sarí, mulher do ex-prefeito do município de Tamandaré, Sérgio Hacker (PSB-PE). No momento da tragédia, a mãe do garoto estava passeando com o cachorro da família na parte térrea do prédio.

O comunicador e integrante da Articulação Negra de Pernambuco, Igor Travassos, diz que o caso é um exemplo do ''reflexo de uma sociedade que não enxerga crianças negras como merecedoras de carinho e de cuidado''.

''Se fosse ali o filho ou a filha da amiga de Sarí, ela não teria aquele mesmo comportamento de simplesmente deixar uma criança no elevador a própria sorte. A gente está falando de uma criança de cinco anos de idade, uma criança negra, que foi colocada ali'', disse Igor.

No ato foi possível observar outras pessoas falando sobre questões raciais que circundam o caso. A assistente social Jarda Araújo, disse que o caso Miguel é um exemplo preocupante entre tantos outros que acontecem no Brasil. ''Esse ato mostra que o Recife é aliado a luta das empregadas domésticas e de mulheres negras como a mãe e a avó de Miguel. O que aconteceu com Mirtes, talvez esteja acontecendo com outras mulheres. Não podemos fechar os olhos para essa realidade'', pontuou.

Em entrevista, a advogada Maria Clara D’Ávila, assistente de acusação, lamentou a narrativa adotada pela defesa de Sarí, que tentou culpar o próprio Miguel pela sua morte, alegando que a sua mãe não soube educá-lo.

''A construção do argumento da defesa era no sentindo de desatribuir totalmente a responsabilidade de Sarí sobre os cuidados que ele exercia com Miguel no momento dos fatos, e atribuir essa própria responsabilidade ao Miguel e a própria família de Mirtes e Marta. É uma argumentação racista que busca adultizar uma criança e, tirar a reponsabilidade de Sarí''.

Lideranças políticas comentaram sobre o caso

A deputada estadual Dani Portela (PSOL-PE), que esteve no ato, relembrou que a morte de Miguel foi durante um período crítico da pandemia do Covid-19, no qual a população era incentivada a ficar em casa para se proteger, porém ''Mirtes, assim como outras mulheres, não pode ter esse direito''.

''Nem mesmo quando Mirtes foi contaminada pelos patrões por covid ela foi dispensada do trabalho. Como as escolas e creches tinham fechado, Mirtes não tinha uma alternativa senão trazer Miguel para o trabalho. E, quando Mirtes entregou o cuidado de sua criança para Sarí, ela não esperava que a patroa não cuidaria dele'', disse a parlamentar.

O vereador da cidade de Olinda, Vinícius Castello (PT-PE), falou da importância da luta da família por pedido de justiça. ''O protagonismo de Mirtes como mulher negra, vem enfrentando toda uma estrutura política e sistemática que privilegia pessoas que sempre tiveram privilégios, por serem ricas e brancas''.

Créditos: Júlio Gomes/LeiaJá

No ano passado, um projeto apresentado pelo vereador na Câmara Municipal de Olinda, instituiu o Dia Menino Miguel. A casa legislativa foi a primeira do país a realizar a homenagem.

A ex-deputada estadual pelo estado, Jô Cavalcanti (PSOL-PE), disse durante o ato que a manifestação mostra ao Brasil o quanto Pernambuco deseja respostas sobre o caso. ''Esse ato de hoje cobra respostas. O movimento de hoje cobra respostas da justiça, algo que a família de Miguel vem tanto querendo.''

Outra liderança que também esteve presente no protesto foi a secretária de Justiça e Direitos Humanos de Pernambuco, Lucinha Mota. Ela é reconhecida por sua luta por justiça após o assassinato da filha Beatriz em 2015, que tinha sete anos de idade, no colégio em que estudava no município de Petrolina, sertão do estado.

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Através de uma publicação em sua página oficial do Instagram, o vereador Vinícius Castello (PT-PE), criticou a Prefeitura de Olinda a respeito da ausência de soluções que evitem inundações em bairros próximos ao Canal do Fragoso. Com ironia, o post provocou o prefeito Professor Lupércio (Solidariedade-PE) ao informar que sua gestão ''pretende aproveitar'' as enchentes ''e inaugurar parque aquático no Fragoso''.

Com a chuva que afeta a Região Metropolitana do Recife nos últimos dias, o canal vem transbordando e a água invadindo as residências próximas a obra. Com isso, a Secretaria de Desenvolvimento Urbano e Habitação (Seduh) do Governo de Pernambuco, informou que a permanência desse problema é a falta de drenagem no município.

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Na última semana, a Prefeitura de Olinda afirmou que equipes da ''Operação Inverno'' aturaram, ao longo da quarta-feira (24), na limpeza do canal. Porém, moradores continuam enfrentando os transbordamentos durante dias chuvosos.

Vinícius Castello culpabilizou a gestão do Professor Lupércio e define o problema como um ''caos'' para a população olindense.  Além disso, ironizou a situação. ''Com as fortes chuvas e sem nenhuma alternativa para evitar os alagamentos constantes na nossa cidade, a gestão municipal do prefeito Lupércio irá aproveitar o caos para criar um parque aquático em Olinda'', escreveu em seu perfil nas redes sociais.

Seguidores do vereador comentaram a publicação e criticaram a Prefeitura de Olinda. ''Um absurdo de incompetência de Lupércio'', escreveu um usuário. ''Acredito que a população de Olinda deveria ter mais responsabilidade ao escolher seus governantes. A gestão do'professor' vem se firmando como umas das mais irresponsáveis. Talvez, se esse problema fosse na frente da casa de algum gestor público, isso já teria sido resolvido, porém como é em uma comunidade carente, a prefeitura finge demência'', apontou outra seguidora.

Veja a publicação:

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A Câmara Municipal de Olinda aprovou o Projeto de Lei que institui o primeiro Estatuto Municipal de Liberdade Religiosa de Pernambuco. De autoria de Vinicius Castello (PT), o projeto recebeu o aval dos vereadores nessa terça-feira (13). A proposta tem como objetivo combater toda e qualquer forma de intolerância e discriminação religiosa, além de desigualdades motivadas em função da fé e do credo religioso que possam atingir, coletiva ou individualmente, a sociedade civil. Agora, o estatuto segue para a sanção do prefeito de Olinda, Professor Lupércio.

Segundo o parlamentar, a liberdade religiosa está na base das conquistas dos direitos humanos fundamentais. “Nenhuma pessoa pode ser privilegiada, beneficiada, prejudicada, perseguida, privada de qualquer direito ou isenta de qualquer dever por causa das suas convicções ou práticas religiosas”, explica.

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O Estatuto pontua os princípios e garantias da liberdade religiosa e prevê diretrizes básicas para o enfrentamento à intolerância. Nele, ainda, ficam instituídas sanções administrativas para aqueles que violarem este direito, a exemplo do pagamento de multa que pode variar entre R$ 200 a R$ 3.000 para o infrator primário ou o dobro do valor estabelecido anteriormente para aquele que seja reincidente.

“Vivemos hoje um momento marcado pela intolerância religiosa. Há templos vandalizados e profanados, pessoas perdendo a vida por professar a sua fé, e impedidas de exercer sua liberdade de consciência e crença no ambiente estudantil, profissional e acadêmico. O Município de Olinda precisa de leis que realmente protejam as religiões e a liberdade de crença”, afirmou Vinicius.

O projeto institui ainda o Dia Municipal de Combate à Intolerância Religiosa, a ser comemorado anualmente no dia 21 de janeiro, unificando a data comemorativa com a União e o Estado. Além disso, ele prevê o Prêmio Promoção da Liberdade Religiosa, que objetiva homenagear ações praticadas por pessoas e organizações cujos trabalhos em prol da liberdade religiosa tenham se destacado.

*Da assessoria de imprensa

O vereador Jojó Guerra (PL) chamou o vereador Vinicius Castello (PT) de "viado" durante sessão no plenário da Câmara Municipal de Olinda, na Região Metropolitana do Recife (RMR), nessa terça-feira (26). A fala foi transmitida ao vivo pela internet.

Apesar do tom "elogioso" ao colega, Jojó repetiu o termo durante sua participação. "Como você bem fala e brinca, né? Eu acho que, nesse momento, posso falar isso, se você declara que você é um viado. Eu acho que você ter feito esse papel e ter defendido o que você escolheu, é direito seu. Diferentemente de outras pessoas. Que você como viado mesmo, é muito mais homem", afirmou.

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O vereador foi repreendido pelo presidente da Câmara, Saulo Holanda (SD), que ameaçou denunciá-lo ao Conselho de Ética. "É bom ter respeito aqui dentro da Casa. O senhor tá com quebra de decoro aí. Cada um tem seu compromisso com sua igreja e com sua religião, mas respeite aqui dentro", advertiu.

Jojó é 2º vice-presidente da Câmara e fiel da Igreja Evangélica Assembleia de Deus. Ele retomou a fala e explicou que foi criticado em sua igreja por ter votado a favor de um projeto de Castello. "As pessoas que são evangélicas, igual a mim aqui, comunicaram ao Jurídico, ao Administrativo, para não colocarem o nome delas. O discípulo do prefeito professor Lupércio pegou esse vídeo, levou para o lado dentro da comunidade para dizer que eu tinha votado a favor dos gays, LGBTQIA+, para estarem dentro das igrejas fazendo o que quisessem fazer, se casar, de estar lá frequentando", disse.

Antes da participação de Jojó, o próprio vereador Vinicius Castello já havia se definido na tribuna como “viado”. Ele defendeu seu projeto e reforçou que a proposta não tinha qualquer ligação religiosa. O objetivo da proposta seria proibir a discriminação relacionada à orientação sexual e de gênero em Olinda.

O projeto foi sancionado com vetos pela Prefeitura. O autor disse que houve pressão de núcleos religiosos e disseminação de discurso de ódio, através de notícias falsas, dentre elas, a de que placas LGBTQIA+ seriam colocadas dentro das igrejas.

Vinicius se pronunciou sobre o ocorrido em seu perfil nas redes sociais e considerou que o "elogio" feito por Jojó Guerra foi homofóbico.

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A cidade de Olinda pode passar a ter lei que proíbe práticas discriminatórias em razão da orientação sexual e identidade de gênero a partir do projeto de lei proposto pelo vereador Vinicius Castello (PT). O projeto foi aprovado na Câmara de Vereadores em segunda discussão e aguarda a sanção do prefeito Lupércio (Solidariedade). 

O autor do projeto salientou o avanço histórico que foi a aprovação da matéria para a cidade. “Apesar de tardio, infelizmente foi preciso um parlamentar LGBT assumir uma cadeira na Câmara para algo ser feito, é uma medida de combate contra a LGBTfobia muito bem-vinda. Com esta lei garantimos para a população o tratamento igualitário para todas as pessoas e punição dos que cometem este crime de ódio em nossa cidade”, disse Vinicius Castello. . 

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“São avanços importantes que nos fazem perceber que é preciso tornar essa cidade um lugar de todas as pessoas, sem qualquer discriminação e só garantiremos tais mudanças ocupando a política e modificando esses espaços. Muito obrigado a cada pessoa que confia nesse parlamentar que vos fala, pois sei que o intuito não é só ocupar, mas efetivar projetos que humanizem e que nos faça refletir sobre como esses espaços precisam da nossa interferência”, expressou o petista em publicação no Instagram. 

Eleito com 2007 votos em Olinda, Vinicius Castello (PT), de 27 anos, é o primeiro vereador LGBTQIA+ a ocupar uma vaga na Casa Legislativa e se mostra como uma forte liderança política que vem movimentando não apenas a Câmara de Vereadores, mas também a própria Marim dos Caetés. Além de vereador, ele é ativista em direitos humanos, advogado, vice-presidente da Comissão de Igualdade Racial da Ordem dos Advogados de Pernambuco (CIR-OAB/PE) e coordenador do Quilombo Marielle Franco, um coletivo de estudantes negras e negros da Universidade Católica de Pernambuco (Unicap). 

Ele também é o primeiro parlamentar a proibir homenagens a escravocratas e ditadores em todo o Brasil e coleciona, até este primeiro um ano e meio de mandato, o título de parlamentar que mais aprovou leis antirracistas em Pernambuco. 

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Ao LeiaJá, o vereador contou que não trabalha com “pautas específicas”, mas que é pautado pelas “subjetividades humanas na área dos direitos humanos”. “Temos a pauta periférica, LGBT, que me perpassa como ser humano. Eu gosto de estar evidente não enquanto figura representativa de determinada área, gosto de ser visto como ativista dos direitos humanos. Gosto que as pessoas consigam entender que o meu corpo está para além de uma discussão racial, e isso me deixa confortável para dizer que o que eu me preparo e defendo são as pautas universais dos direitos humanos”. 

->> No plenário: ‘Eu sou bicha mesmo’, diz vereador de Olinda

“Acredito que as perspectivas que eu tive dentro da favela conseguem determinar mudanças estruturais que movem toda a sociedade. Com esses olhares, consigo interferir em pautas referentes às mulheres, pessoas com deficiência, LGBT. O mandato o qual ocupo não é de maneira autônoma quanto a voz que se fala. Boto o mandato para discussões coletivas e, a partir desse momento de escuta, é onde me sinto com competência para abordar todas as questões dentro dessa visão de construção coletiva, entendendo que esse espaço é de diálogo e de escuta. Assim, eu consigo entender o instrumento de transformação de demandas coletivas muito complexas, amplas e me coloco na defesa dos direitos humanos para que eu possa interferir em tudo o que envolva os nossos direitos”, disse. 

História de vida

Vinicius Castello iniciou na militância dos 15 para os 16 anos, a partir de um curso promovido pelo GTP+ (Grupo de Trabalhos em Prevenção Posithivo), e com a luta estudantil ele teve contato com movimentos sociais. “Pude me formar num curso promovido pelo GTP+ que me trouxe várias visões de direitos humanos e de sociedade. Foi um espaço onde tive muito acesso a travestis, transsexuais, e pude entender muitas visões e olhares que ainda não tinha acesso, e também começar a entender sobre a luta coletiva e a sociedade de modo geral. Foi a partir da luta estudantil que pude ter acesso a questões que perpassam a sociedade, e através dos movimentos sociais, que sempre estive muito presente enquanto construção de militância, muito de maneira autônoma, porque sempre preservei a minha autonomia dentro dos espaços por me entender como uma pessoa que interferia tanto como as outras do movimento”. 

Coletivo Quilombo Marielle Franco

A criação do Coletivo Quilombo Marielle Franco, um grupo de estudantes negras e negros de acolhimento e aquilombamento para outros estudantes da Unicap é um dos feitos que mais orgulha o petista. “Ele trouxe uma pauta antirracista muito gigante para a Universidade e acredito que se hoje a Unicap, a universidade mais elitista e mais branca de Pernambuco, quiça do Nordeste, tem maior representatividade de pessoas pretas, é muito da interferência que o Quilombo teve nessa construção de diálogo”. Dentre as ações feitas pelo coletivo dentro da universidade, a aquisição de 100 bolsas para pessoas pretas, indígenas e de baixa renda é uma das principais, destaca Castello. 

Vinicius Castello conseguiu ocupar a cadeira de vereador de Olinda na primeira eleição que disputou, mesmo sem ser conhecido politicamente. “Mesmo não sendo conhecido no cenário político, consegui, na primeira oportunidade, reunir um grande grupo de pessoas que, de forma consciente, puderam se juntar a mais de dois mil votos para dar apoio a um perfil totalmente diferente aqui na cidade. Conseguimos fazer uma construção e credibilidade que foi construída durante esses anos, e foi a partir disso que conseguimos chegar em conjunto e apoio a todas essas pessoas aqui, na primeira Câmara do Brasil”. 

“Uma mudança efetiva na Câmara de Olinda”

Dentre vários projetos de transformação e modificação social no município de Olinda, que sempre foi vista como “conservadora, retrógrada, ultrapassada”, projetos como a mudança do nome social de pessoas trans e travesti, o primeiro Estatuto Étinico de Desigualdade do País e a proibição de nomes escravocratas e de ditadores são feitos na vereança em destaque pelo parlamentar. “São projetos que muito me orgulham porque, apesar de muitas resistências, a gente pôde conseguir aprová-los por unanimidade projetos que não eram vistos como possibilidade real. E tudo isso foi feito a partir de uma construção de diálogo e muito pedagógica com meus pares; são projetos para fazer repensar e trazer uma mensagem de mudança efetiva na Câmara de Olinda, trazendo diálogos impetrados por mim enquanto mandatário, mas acredito que a função que estamos tendo nesta cidade é de humanizar e fazer com que as pessoas consigam enxergar e fazer com que a população não se sinta apagada”. 

“É importante fazer refletir o nosso impacto, principalmente porque é um mandato extremamente respeitado pelos outros parlamentares, não temos conflitos, mas acho que o fato dos nossos corpos e pautas serem trazidas nesses espaços trazem mudanças mais importantes”, afirmou. 

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De acordo com o vereador, a atual legislatura bateu recorde de emendas orçamentárias. “Essa Câmara não colocava nenhum tipo de emenda para projetos orçamentários, e a gente hoje bate recorde. Se colocassem nove projetos de lei durante toda a legislatura era muito; com projetos que interferem em políticas públicas, acredito que temos mais de 170 protocolados (ao total na Casa). A pauta mudou, a qualidade mudou, o modo que transmitimos para as pessoas mudou, e acredito que isso é muito impacto que trouxemos para a política, que é algo humanista”, observou. 

Com o reforço de que locais de poder podem e devem ser ocupados por pessoas pretas, periféricas, LGBTQIA+, deficientes, Castello comentou que o mandato não é “único e exclusivamente sobre a pessoa que encabeça qualquer tipo de projeto”. “É o entendimento mais puro de que qualquer tipo de espaço e poder precisa refletir em pensamento, ideias, vivências, experiências, determinadas situações de que as pessoas com capacidade técnica podem ter a oportunidade de entender e, em conjunto, implementar políticas”. 

Não à toa, o mandato do petista é composto por pessoas que representam vários segmentos da sociedade. “Para mim, é um compromisso ter um mandato com equidade de gênero, raça e sexualidade que realmente consiga trazer outros atores que vieram da mesma vivência e realidade que a minha, não na sua totalidade, mas acredito e enxergo que as vivências interferem diretamente para que a gente consiga entender que esse universo é importante, que a gente possa lidar com as limitações que a burguesia traz, com o privilégio. Preciso trazer pessoas reais que vivenciaram e vivenciam, mas respeitando e tentando, de maneira audaciosa, tornar equânime espaços que precisam ser de todas as pessoas”. 

Resistência e existência 

Com consciência do que o seu corpo representa na Casa Legislativa, o vereador Vinicius Castello se mostra totalmente como deve ser: desamarrado de possíveis tentativas de constrangimento e perseguição. Muito pelo contrário, ele ressalta ter uma boa relação com seus pares, que faz com que ele tenha um bom diálogo e resulta na aprovação por unanimidade de projetos importantes para a cidade e para o mandato. 

No entanto, recentemente, o parlamentar foi à tribuna em resposta a “ataques” sofridos na Casa por ser gay, ele disse não se sentir acuado por ser chamado de “travesti, de gay, de lésbica”, e evidenciou: “eu sou bicha mesmo e não estou preocupado com isso, não”

"Eu não entendo essa necessidade, esse tesão, essa vontade de querer constantemente me evidenciar enquanto uma pessoa LGBT como se eu tivesse vergonha disso ou fosse algo desprezível. Isso acontece porque, eu acredito que quando a direita conservadora nota que existe um parlamentar muito comprometido com a população e o nome dele é espalhado de uma maneira boa em relação a tudo o que se é feito e os trabalhos, a única maneira de me atacar é falando sobre a minha sexualidade”, afirmou. 

Na ocasião, que ocorreu no início de abril deste ano, ele  relembrou o que disse no seu primeiro discurso na Câmara após tomar posse da cadeira de vereador de Olinda. “Não sei se vocês se recordam, mas eu cheguei a falar no dia do meu primeiro discurso, em alto e bom tom, que eu sei o que o meu corpo acarreta nesses espaços, que eu sei a quem estou defendendo e, principalmente, sei quem são as pessoas que irão se incomodar com a minha presença nesses espaços”, cravou. “E volto a repetir que não devo satisfação para quem tem preconceito e acha que eu tenho que ficar acuado porque estão me chamando de travesti, de gay, de lésbica, de tudo, sabe. Eu fico rindo porque isso não me atinge. Já me atingiu quando eu tinha 16 anos e era um adolescente que não entendia sobre a vida”. 

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“Superem isso, estamos em um ano e meio de mandato e ainda tem gente preso na sua ignorância, na sua prepotência, e a única coisa que eu tenho a dizer é que essa bicha vai continuar avançando, essa bicha vai continuar trabalhando e eu não estou preocupado com as caras feias, comentários e qualquer tipo de gente preconceituosa, porque vão continuar me engolindo e eu estou super tranquilo em relação a isso”, assegurou. Ao finalizar seu discurso, o parlamentar fez um apelo “a quem quer cuidar”. “Vá cuidar da sua vida, porque a minha está bem cuidada, consolidada e não vão ser os comentários que vão parar a minha existência e a minha luta”. 

A atuação acessível para quem ele representa não acontece apenas no plenário da Câmara, nas propostas e na atuação meramente política, mas também nas redes sociais. Também recentemente ele postou dois stories (publicações que duram apenas 24 horas) no Instagram falando sobre trabalho, militância e diversão como uma forma de trabalho efetivo “eu milito, trabalho, e depois vou rebolar a raba, porque assim a gente consegue reparar dano”. “Não sei se vocês notaram, mas esse ano eu adotei a filosofia de reparação de danos, porque no passado eu estava frenético - não que eu não esteja esse ano -, mas ano passado eu estava demais, era tudo voltado para a militância”. 

“Estou aqui trabalhando, aí de noite vou fazer o que? Já vou rebolar a raba. E amanhã? Militância. Depois, sair um pouquinho, tem que ser assim. Tem que mesclar, tem que reparar danos, senão a militância consome (a mente)”, brincou. 

Nesta segunda-feira (28), Dia Internacional do Orgulho LGBTQIA+, ativistas dos Direitos Humanos reúnem-se ao redor de diálogos que buscam celebrar a potência desta população. No Brasil, país que lidera o número de homicídios de indivíduos LGBTQIA+ nas Américas, de acordo com a Associação Internacional de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transgêneros e Intersexuais (ILGA), a data também reacende o debate sobre a garantia de direitos e representação política.

“Em 1969, Marsha P Johnson se levantou contra a violência e brutalidade policial juntamente a outras lideranças negras, periféricas, LGBTQIA+, que existiam na subalternidade que criminalizava os nossos corpos”, explica o vereador de Olinda Vinicius Castello (PT), quando questionado sobre a importância do dia 28 de junho.

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O parlamentar, ativista do Movimento Negro Unificado (MNU) e advogado de 26 anos, faz questão de relembrar a atitude revolucionária que deu origem ao Dia do Orgulho, liderada pela drag queen norte-americana Marsha P Johnson, em um episódio conhecido como a Revolta de Stonewall, que ocorreu em Nova Iorque, nos Estados Unidos. Mais de 50 anos depois, jovens homossexuais como Castello ainda precisam usar suas mentes para articularem respostas contra o preconceito.

“Para mim democracia é olhar para a representação e entender que ela está condizente com a diversidade existente na sociedade. Eu acredito que a gente tá caminhando para o entendimento de que os corpos que precisam estar pautando e atuando politicamente, são corpos que entendem, entre outras coisas, o que é a desigualdade e o que é a violência no Brasil”, ressalta Vinicius, que já no início do mandato ocupa o cargo de presidente da Comissão de Direitos Humanos e Cidadania da Câmara de Olinda.

Em contraposição às forças conservadoras que tendem a essencializar a gestão do ativista, torna-se inegável a sua disposição em enxergar os processos políticos de maneira interligada. “Eu desejo que a gente consiga atingir o nível de democracia em que todas as pessoas, independente de classe, gênero, orientação sexual e identidade de gênero possam se sentir potentes e respeitadas em um país que também é delas. Resolvi enfrentar estas violências utilizando meu corpo político para dizer que basta todo tipo de opressão e retrocesso”.

A variedade de violências as quais Castello faz referência têm relação, infelizmente, com o número de agressões às pessoas LGBTQIA+ no estado de Pernambuco. Sobre o tema, o parlamentar lamentou: “Na semana que passou, uma criança ateou fogo em uma mulher trans [Roberta Silva, 40 anos] no Centro do Recife, e nesta segunda-feira nós estaremos nas ruas, novamente, para afirmarmos o porquê da nossa luta”.

O ranking da morte a o “a construção de novos horizontes”

Embora dados divulgados pela Secretaria de Defesa Social de Pernambuco (SDS) apontem para o aumento vertiginoso da violência contra LGBTQIA+ em todo o estado, a ação do conservadorismo na Câmara do Recife ainda encontra fôlego. Na última semana, enquanto a maioria dos parlamentares se reunia para negar um requerimento que solicitava o hasteamento da bandeira LGBT no Dia do Orgulho, mais uma mulher trans era atravessada pelo crime motivado pelo preconceito na capital.

Roberta Silva, de 40 anos, queimada viva na quinta-feira (24), enquanto estava no Cais de Santa Rita, área central da capital, simboliza mais um dos 1.854 ataques brutais à vida das pessoas LGBTQIA+ em Pernambuco só no primeiro trimestre de 2021. Destes, 46% das vítimas, ou cerca de 869 pessoas, foram violadas dentro de casa por parentes ou pessoas de confiança. Em 2019, neste mesmo período, o número havia sido de 333.

O atentado à Roberta Silva, 40 anos, que ganhou notoriedade após a advogada transexual e co-deputada estadual Robeyoncé Lima (PSOL), 30 anos, usar sua conta no Twitter para denunciar a invisibilização da violência, é resultado, segundo a parlamentar, da “banalização da violência contra corpos transexuais”. “Esse extermínio não é de agora, e quando a gente escuta a cisgeneridade branca dizer que está com medo de morrer de Covid, a gente responde: esse medo da morte pode ser novidade para vocês, mas pra gente não, porque há dez anos o Brasil figura o ranking dos países que mais mata transexuais no mundo”, ressalta.

O ranking da morte, citado por Robeyoncé Lima, é baseado em dados fornecidos pela da Antra (Associação Nacional de Travestis e Transexuais), que realiza, anualmente, relatórios sobre a vida de trans e travestis no Brasil. Infelizmente, de acordo com informações da Associação, a expectativa de vida desta população no país é de 35 anos, com destaque para mulheres trans negras, que são as que mais morrem. “São violências concatenadas, por isso não adianta pedir para a gente falar sobre transexualidade sem falar de raça e de classe”, confirma a parlamentar.

Quando pergunto sobre quais são as maiores dificuldades existentes no processo de elaboração de políticas públicas que possam desmobilizar a barbárie em curso também em Pernambuco, Robeyoncé aponta a ausência de informações a respeito destas violências em Pernambuco como um dos principais problemas.

“Nós, das Juntas Co-deputadas, conseguimos aprovar, por exemplo, um projeto de lei que estabelece que nos prontuários de saúde conste os campos de orientação sexual e identidade de gênero, para que a gente possa saber como está o acesso - ou a falta dele - da população LGBT ao Sistema Único de Saúde”, uma forma de gerar estatísticas e provar para o estado a necessidade do incremento de políticas públicas para a população, de acordo com a parlamentar.

Para Jarda Araújo, 25 anos, assistente social, secretária executiva de Juventude na prefeitura do Recife e mulher transexual, a movimentação política de pessoas trans e travestis durante o período de extremo conservadorismo no Brasil, representa “a construção de novos horizontes”.”É muito simbólico que seja exatamente agora que a gente esteja conseguindo construir, de forma massiva, este novo lugar, diferente do que seria há dez anos atrás”, explica, de maneira esperançosa, ao citar as mais de 30 candidaturas travestis ao redor do Brasil.

Sobre a violência brutal que acometeu Roberta Silva, a pesquisadora em saúde pública comenta: “Recife tem operacionalizado, de forma direta ou indireta, a travestifobia. E se nós não fizermos esse movimento de tornar público e nos movimentarmos politicamente, esses casos não vão ser ouvidos”. Jarda destaca também o fato de Roberta ter ficado, até a intervenção política da co-deputada Robeyoncé Lima, na ala masculina do Hospital da Restauração (HR), após ser socorrida.

“Enquanto rede, é preciso nos movimentarmos para fazer com que essas questões venham à tona e a partir disso a gente possa cobrar, tanto dos parlamentares, das mandatas, um posicionamento político em prol da nossa população, porque nós não buscamos por mais direitos que os demais, e sim uma equidade para que a gente possa acessar os nossos direitos como qualquer outra pessoa” diz, lembrando que o “respeito ao nome social é garantido pelas diretrizes do Sistema Único de Saúde”.

O futuro da política LGBTQIA+ em Pernambuco

Quando pergunto quem são as principais referências dos entrevistados, os nomes se repetem: Vinicius Castello admira Robeyoncé Lima, que também é citada por Jarda Araújo, articuladora social que, inclusive, imagina um futuro onde a possibilidade de ocupar um cargo eletivo já existe. Ademais, é também nos bastidores da política, ocupando cargos de assessoria parlamentar e articulação social, que a pluralidade tem demarcado espaço.

A estudante do curso de Ciência Política da UFPE (Universidade Federal de Pernambuco) e ativista bissexual Myrella Santana, 19 anos, por exemplo, foi uma das 70 candidaturas declaradamente LGBTQIA+ a se lançar no processo eleitoral de 2020. E, embora não tenha sido eleita, passou a atuar na assessoria parlamentar de Dani Portela (PSOL), vereadora mais votada para a Câmara Municipal do Recife.

Forjada nos movimentos sociais, Myrella explica que a política sempre ocupou um papel central em sua vida. “Eu acho que, inicialmente, veio muito da necessidade de entender que o que eu faço tem impacto direto na vida do outro. E no segundo momento, por me enxergar enquanto mulher negra bissexual e compreender que esse é um corpo político”, diz, enquanto explica que as decisões políticas atingem, sobretudo, aqueles que não costumam estar no centro das decisões políticas do país.

Outra trajetória que inspira é a de João Pedro Simões, ativista homossexual de 27 anos, cientista político e co-fundador do coletivo de estudante negros da UFPE, o Coletivo Afronte. Ele trabalha desde 2017 ao lado do vereador Ivan Moraes (PSOL), com quem começou ainda como estagiário e, posteriormente, foi contratado para desempenhar a função de assessor parlamentar.

João Pedro diz que o incentivo familiar foi essencial nos processos de tomada de decisões, além dos atravessamentos sociais, raciais e de sexualidade, que, segundo ele, são “marcadores sociais que influenciam muito no reconhecimento e autoavaliação sobre o quanto é possível adentrar na política”. “Existe toda uma gama de corpos que fazem parte da sigla LGBTQIA+, mas que ainda estão alheios à política institucional e isso é muito grave. É um projeto, obviamente, do ‘status quo’ que sustenta uma democracia que é, em tese, representativa mas não representa quase ninguém”, critica o assessor parlamentar.

Para o Dia do Orgulho LGBTQIA+, Simões, que é, também, uma promessa de futuro para ocupar um cargo eletivo no estado de Pernambuco, espera mobilizações em torno do atentado à Roberta Silva. “A gente tem orgulho de ser quem é, mas é um momento de luta, denúncia e cobrança. O preconceito está longe de ser uma coisa do passado, então a gente tem que estar mais ciente de que precisa coletivizar nossas ideias, angústias e felicidades, porque sozinho a gente não anda. Eu espero que cada vez mais as pessoas LGBTs e aliados estejam conscientes da força que a gente pode ter para mudar e mover a realidade deste país”, acentua.

 

 

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