Se por um lado diversos segmentos econômicos tentam superar as perdas acumuladas durante a pandemia, crise não é sinônimo de complicação para o mercado dos animais de estimação. De acordo com o Instituto Pet Brasil, o setor deve movimentar cerca de R$ 37,5 bilhões na economia do país até o fim de 2020. O número representa alta de 6% na comparação com o total de 2019.
A elevação do mercado se dá tanto pela abertura de estabelecimentos direcionados aos pets, como pela alta demanda das adoções de bichos de estimação durante a pandemia. Segundo o censo do Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para a Saúde Animal (Sindan), as instituições que atuam no intermédio do processo de adoção de animais abandonados apresentaram aumento de 260% nos acolhimentos entre março e setembro de 2020.
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A adoção de um animal de estimação foi o presente antecipado de Dia das Crianças da assistente financeira Camila Escani, 39 anos, para o filho Miguel. Além de fazer a alegria do menino, a família também acabou com o sofrimento do cão. Caramelo foi resgatado depois de sofrer maus-tratos, ganhou uma casa e carinho. "Achamos a foto do Caramelo em um grupo de adoções do Facebook. Ele sofreu violência e estava em uma casa acolhedora. Falamos com a responsável, respondi algumas perguntas e fomos buscá-lo", conta Camila.
Miguel ganhou a companhia do cão Caramelo durante a pandemia | Foto: Arquivo Pessoal / Camila Escani
Embora Caramelo ainda sobra com os traumas da violência, Camila afirma que a felicidade na relação entre o cachorro e Miguel contagiou a casa toda. "Trouxe mais alegria. Ele espalha brinquedos pela casa toda, é muito carinhoso, o companheiro de todos", exalta a assistente financeira. Ela também destaca o preparo da família para receber o novo morador. O orçamento precisou subir para investir no conforto do animal com comida, acessórios, banhos, passeios e muita diversão. "A partir do momento que adotamos um pet, temos que pensar no bem estar dele", complementa.
Desejo antigo
Já no novo lar de Rafaela Lima, 29 anos, a vontade antiga de ter um bicho de estimação tornou-se realidade há cerca de um mês. Ela decidiu adotar a Milk depois de deixar a casa dos pais e ir morar com o marido, Elcinho, e a filha, Isabella. "Meus pais sentiram muita dor quando perderam o [cão] deles e não queriam passar por isso de novo. Então, eu e meu marido decidimos que quando tivéssemos nossa casa iríamos adotar um cachorrinho", lembra.
Segundo Rafaela, o processo para adoção demorou cerca de 30 dias, e a cadela, enfim, conquistou o coração dos novos tutores. "Fiquei meses seguindo um abrigo de cães de Mairiporã [região metropolitana de São Paulo] na internet, namorava todas as fotos que eles publicavam. Depois que decidimos solicitar a adoção, aguardamos ser aprovados e, quando fomos visitá-los, vimos a Milk. Foi amor à primeira vista", conta.
Rafaela Lima, com o marido e a filha, alegres pela adoção da pet Milk | Foto: Arquivo Pessoal
Segundo Rafaela, que está desempregada, a família despendeu de valores altos na primeira semana pós-adoção. "Gastamos bastante, pois tivemos que comprar casinha, ração, brinquedos, potes de alimentação, shampoo. Ela tomou uma medicação de alergia, vacina. É uma despesa a mais na casa", relata. O financeiro, no entanto, fica em último plano, pois, para a Rafaela, não há dinheiro que pague o que Milk trouxe para a casa. "A energia da casa mudou, ficamos mais felizes, menos estressados e, quando estamos meio para baixo, é só ir até o quintal que todo baixo-astral vai embora", comenta.
Segundo dados do Sindan, tutores gastam, em média, R$ 224 mensais para manter o conforto dos cães.
Análise do mercado
Para Leonardo Brandão, coordenador da Comissão de Animais de Companhia do Sindan, um dos fatores preponderantes para o crescimento do mercado pet é a relação de cuidado dos tutores com os animais, que mudou nos últimos 20 anos. "Temos o segundo mercado pet do mundo, e a tendência é que isso siga dessa forma nos próximos anos", comenta o especialista. "Para o mercado de medicamentos para animais de companhia, nossa expectativa é de um crescimento de 6%. Isso é inferior à média histórica, mas ainda assim é considerada uma perspectiva boa, quando entendemos os desafios que tivemos ao longo do ano", explica.
Ainda segundo Brandão, outra vantagem é que os animais de estimação estão presentes tanto em casas de bairros de elite quanto nos mais pobres. Seja qual for a classe social, os cuidados com os animais são os mesmos. "De modo geral, há pouca diferença na penetração dos pets nos lares em relação às classes sociais. Podemos dizer que os pets já conquistaram os lares de famílias de todas as classes de forma muito parecida", declara.
O censo nacional da Comissão de Animais de Companhia do Sindan, em 2019, apontou que 53% das famílias brasileiras tinha, ao menos, um cachorro ou um gato. Segundo o levantamento, são 54 milhões de cães e 30 milhões de gatos domésticos em todo o Brasil.