O Papa Francisco convocou nesta quinta-feira os jovens de todo o mundo a "aderir à revolução da fé", diante de mais de 1,5 milhão de pessoas reunidas em Copacabana, apesar da persistente chuva e de um frio incomum no Rio de Janeiro, cidade que abriga a Jornada Mundial da Juventude (JMJ).
"A fé de vocês é mais forte que o frio e a chuva. Felicitações! (...) Esta semana, o Rio se converte no centro da Igreja", disse o Papa ao dar as boas-vindas aos peregrinos da JMJ, a partir de um enorme altar montado na praia de Copacabana.
"Amigos queridos, a fé é revolucionária. Pergunto a vocês, hoje: está disposto, está disposta a entrar nesta onda da revolução da fé? (...) Põe Cristo em tua vida", pediu o Papa, de 76 anos.
"Temos a tentação de nos colocar no centro, de acreditar que sozinhos construímos nossas vidas, que a posse, o dinheiro, o poder nos traz felicidade, mas não é assim, a posse, o dinheiro, o poder podem apenas nos oferecer um momento de embriaguez", mas "no final nos dominam e nos levam a querer cada vez mais, a não estar nunca satisfeitos".
O Papa pediu um minuto de silêncio em memória da francesa Sophie Morinière, 21 anos, que viajava de ônibus para o Rio e morreu em um acidente na Guiana Francesa, no qual outros cinco peregrinos ficaram feridos.
Diante da chuva persistente que cai no Rio de Janeiro, o Papa disse ao prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paz, que enviasse uma dúzia de ovos às freiras clarissas para colocá-los aos pés de Santa Clara.
"É preciso oferecer uma dúzia de ovos à Santa Clara" para que pare de chover, disse o Papa a Eduardo Paes durante visita ao Palácio da Cidade, sem perceber que o microfone estava aberto.
Francisco voltou a quebrar o protocolo nesta quinta-feira e foi muito simpático e acessível com o público, apertando mãos, beijando crianças, entregando seu solidéu e até bebendo um mate que lhe foi oferecido.
O "Papa dos pobres" visitou na manhã desta quinta-feira a favela da Varginha, no complexo de Manguinhos, zona norte do Rio de Janeiro, onde afirmou que os esforços de pacificação de comunidades carentes só serão permanentes se houver integração e justiça sociais.
"Nenhum esforço de 'pacificação' será duradouro, não haverá harmonia e felicidade para uma sociedade que ignora, que deixa à margem, que abandona na periferia parte de si mesma", ressaltou o Papa em uma comunidade controlada durante anos pelo tráfico de drogas e pacificada há sete meses.
Durante seu discurso, o pontífice também pediu que os jovens não se deixem abater pela corrupção após as recentes manifestações que se espalharam em todo o Brasil exigindo punição aos políticos corruptos, melhorias nos meios de transporte, educação e saúde de qualidade.
"Vocês, queridos jovens, possuem uma sensibilidade especial frente às injustiças, mas muitas vezes se desiludem com notícias que falam da corrupção, com pessoas que, em vez de buscar o bem comum, procuram o seu próprio benefício", disse o pontífice diante de milhares de fiéis que acompanhavam seu discurso.
"A todos vocês repito: nunca se desanimem, não percam a confiança, não deixem que a esperança se apague", acrescentou.
Antes de inciar seu discurso, o Papa recebeu as boas-vindas de um jovem da comunidade que disse que sua visita "tirou a comunidade do descaso".
"Sua visita nos colocou nas páginas dos jornais nacionais e internacionais, que antes só falavam de nós para mostrar o tráfico e as enchentes", afirmou Rangler, o jovem morador da comunidade.
Mesmo com um discurso de forte cunho político e social, Francisco não deixou o bom humor de lado e, brincando, disse que gostaria de 'bater na porta de cada brasileiro para tomar um cafezinho mas não um copo de cachaça".
"Francisco, eu te amo!", entoavam, em coro, os moradores da comunidade que recepcionaram o pontífice e o aguardavam deste o início da manhã. Francisco visitou uma capela da comunidade, onde fez uma pequena celebração. Na saída do local, sob gritos da multidão, falou e abençoou os fiéis.
Durante o caminho, o papa argentino recebeu das mãos de crianças uma bandeirola do time San Lorenzo, clube de Buenos Aires para o qual torce.
Momentos antes de subir ao palco montado especialmente para recebê-lo, o Papa também visitou uma casa da comunidade, que foi escolhida no momento. A residência de quatro moradores e de paredes amarelas era uma das sete casas que disputavam a honra de receber a ilustre visita.
O Papa também se reuniu nesta quinta com milhares de compatriotas argentinos que vieram ao Rio para a JMJ, e pediu aos jovens que façam "bagunça" para levar a Igreja para as ruas.
"O que eu espero como consequência da Jornada Mundial da Juventude? Espero que haja agitação, não só aqui no Rio, mas na diocese", exclamou o Papa diante de milhares de peregrinos argentinos eufóricos, que o receberam aos gritos de "Esta é a juventude do Papa!".
"Eu quero que vocês saiam às ruas, que a igreja vá para a rua", disse o primeiro Papa latino-americano, agitando os braços com entusiasmo ao incentivar os jovens a se mobilizar e mostrar que a Igreja está perto do maior número de pessoas.
"As paróquias e instituições precisam sair ou se transformarão em ONGs, e a igreja não pode ser uma ONG", afirmou, antes de ser aplaudido pela multidão, que agitava bandeiras argentinas.
"Esta civilização mundial foi longe demais porque o culto que fazem ao deus do dinheiro é tão forte que estamos testemunhando uma filosofia e uma prática de excluir os dois polos da vida", disse o Papa, se referindo tanto aos jovens, que não conseguem emprego, como aos idosos, que não são tratados como deveriam.